Com um dos enredos mais celebrados pelo carnaval paulistano em 2023, a Camisa 12 começou o desfile de maneira irregular e teve dificuldades para sair da inconstância ao longo de toda a apresentação. Com destaques positivos para a temática, a boa noite da ala musical e de um casal de mestre-sala e porta-bandeira afiado, a agremiação teve deslizes consideráveis em diversos quesitos ao apresentar o enredo “Da inclusão à superação. Todos somos iguais. Sou um Campeão”, sendo a 11ª (e penúltima) instituição a se apresentar, já na manhã do domingo. Um dos tantos desafios da escola pode ser observado na cronometragem final do tempo: cinquenta minutos e trinta segundos cravados – sem ultrapassar o limite regulamentar por meros trinta e um segundos.

Enredo

O carnaval, tão acostumado a exaltar minorias, deu espaço a um tema semelhante: a inclusão. Já descrita no enredo (intitulado “Da inclusão à superação. Todos somos iguais. Sou um Campeão”), a temática não teve uma linha cronológica, tão comum em desfiles carnavalescos, presentes em todo o tempo. Coube ao experiente carnavalesco Delmo de Moraes referenciar quais inclusões seriam abraçadas na exibição.

Foram possíveis observar várias: deficientes físicos e visuais, transgêneros e afrodescendentes foram alguns deles. Todos bem descritos no enredo, a temática abordada foi bem conduzida ao longo do desfile e, também, no samba da escola.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Tal qual casais tradicionais, Luã Camargo e Mari Santos focaram a apresentação na execução de diversos giros, sem interagir tanto com o samba – atitude que foi feita, mas em menor proporção.

Vale destacar que os giros e o bailado de ambos foram mais cadenciados, sem grande velocidade. Aqui, cabe relembrar que a porta-bandeira está grávida, o que pode ter alterado o ritmo do bailado. A característica se fez presente até mesmo ao desfraldar o pavilhão – o que não fez com que surgissem erros técnicos ao executar o movimento em nem uma das cabines.

O que não foi mudado em nada foi a sincronia de ambos e os largos sorrisos de Luã e Mari, tanto entre si quanto ao interagir com o público.

Samba-Enredo

Sem uma linha cronológica, a canção buscou elencar as minorias citadas no enredo. Com uma importante mensagem final, de superação de toda e qualquer adversidade surgida, a música, bem interpretada por Tim Cardoso e pelo experiente Benson, entretanto, teve pouca aceitação por parte dos componentes a partir do segundo setor – não por conta da atuação da dupla de cantores, afinados e que a toda hora emendavam cacos para chamar o canto da escola.

Também vale pontuar a atuação segura da Ritmo 12, bateria comandada por Mestre Lipe. Com bossas que tentavam chamar atenção de quem estava acompanhando a apresentação, os ritmistas buscaram, à priori, colocar mais ânimo na escola – mas, de toda forma, sustentaram bem a canção.

Alegorias

Se as fantasias tiveram desempenho irregular (leia mais na descrição do quesito), os dois carros alegóricos foram alguns dos destaques estéticos do desfile. O abre-alas, bastante alto e com índios e animais silvestres, tinha belas esculturas. Já o segundo, com representações de afrodescendentes e com visual remetendo à África, também era grandioso e tinha destaques estéticos bastante agradáveis.

Ao verificar os detalhes de cada um deles, entretanto, é possível identificar alguns erros. O pede-passagem do abre-alas, por exemplo, tinha rodas visíveis. Também na primeira alegoria, logo após a passagem pela segunda cabine de jurados, a Pantera, mascote da agremiação, ficou sem se movimentar por um período bem considerável de tempo.

Comissão de frente

Experientíssima e coreógrafa de diversas comissões de frente marcante, Yaskara Manzini apostou em uma coreografia que não se contenta apenas em marcar o samba, mas, também tem interações que independem do andamento da canção.

Também vale pontuar as fantasias dos componentes. Ao todo, eram três: uma delas predominantemente branca, com detalhes em azul e vermelho; outra com cores mais escuras, como vermelho e amarelo, e com costas das máscaras representando animais (uma cobra, um macaco, uma onça e um peixe); e uma única fantasia representando Mogli, o Menino Lobo. A dança do destaque, interagindo com a fauna representada pelas demais fantasias, teve destaque.

Houve, entretanto, um grave problema pouco antes do primeiro setor. O esplendor do destaque, enquanto ele fazia a coreografia, caiu. O staff se apressou para pegar o adorno a pedidos de Yaskara, voltando a completar a fantasia antes do segundo setor e depois de boa parte dos staff do segmento se entreolhar.

Não foram notados erros na coreografia dos componentes ao longo das cabines de jurados.

Harmonia

Assim como diversos segmentos da escola, houve uma clara distinção. No primeiro setor, todos os integrantes cantavam bem a canção, empolgando o público e os próprios componentes, que se retroalimentavam ao executar a música.

A partir do segundo setor, entretanto, houve uma queda bastante destacada do canto dos componentes. Os harmonias presentes no corredor pediam por mais força na garganta, mas, tão logo eles faziam o pedido, a execução caía novamente.

Também era nítida, embora menos preocupante, o desafio do alinhamento de cada ala. Por vezes, um componente avançava ou atrasava muito o passo e logo era chamado atenção. Como tal situação aconteceu com frequência ao longo do desfile, é até certo ponto natural que jurados tenham notado tal desalinhamento.

Fantasias

Mais um quesito que teve atuação bastante irregular no desfile. O começo da escola teve fantasias de ótimo gosto – inclusive com boa dose de tecidos mais caros.

A partir do segundo, entretanto, a queda nos materiais e, até certo ponto, na qualidade estética do quesito foi bastante destacada. Do momento citado até o final do desfile, diversas alas tinham tecidos para vestir os componentes e algum adorno para cobrir o corpo – que, é bem verdade, tinham fácil assimilação para quem estava na arquibancada.

Evolução

Logo no começo da escola foi notada uma situação que não é necessariamente um erro, mas chamou atenção. Em determinados momentos, o espaço entre a comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira se tornava grande, beirando as duas caixas de som do Anhembi. Em outros períodos, ele era bruscamente diminuído – e assim foi durante todo o desfile.

O recuo da bateria foi um primeiro ponto de atenção importante. Adentrando o espaço quando metade do local estava disponível, o movimento não teve grandes percalços. A ala anterior, entretanto, teve evolução morosa para preencher o espaço, apenas com a rainha da bateria sambando para preencher todo o espaço. Na sequência, a agremiação ficou cerca de três minutos parada já com a ala posicionada, sem nenhum motivo aparente.

Se a Evolução da escola não tinha grandes sobressaltos até cerca de 35 minutos, tudo mudou no final da apresentação. O motivo fica evidente ao verificar o tempo em que a Camisa 12 encerrou o desfile: cinquenta minutos e trinta segundos. Sim: por trinta e um segundos a escola não foi penalizada no cronômetro. Para conseguir fechar a exibição dentro do tempo regulamentar, foi necessário apertar o passo nos últimos setores.

Outros destaques

Antes mesmo do desfile começar, a Concentração estava bem animada. Demis Roberto, diretor de carnaval da escola, deu um discurso bastante forte, chamando as minorias presentes no desfile a cantar forte e avisando que todos eram importantes e seriam inclusos na agremiação. Também antes da exibição, uma das músicas executadas no esquenta foi “Minha Fé”, de Zeca Pagodinho.

Composta, fundamentalmente, por torcedores do Corinthians, a Camisa 12 teve participação de baluartes da Gaviões da Fiel. Ernesto Teixeira, intérprete da escola, ajudou os merendeiros a empurrar o carro abre-alas. Buiu, diretor de harmonia do Vai-Vai (outra escola alvinegra), também estava no corredor da agremiação.