Por Gustavo Lima e Fábio Martins

A Dragões da Real realizou na noite do úlitmo sábado o evento de final de samba-enredo para escolher o hino que irá embalar a escola no Carnaval 2024. Entretanto, não houve nenhuma definição entre as duas obras que estavam na disputa. O presidente Renato Remondini (Tomate), fez vários agradecimentos e, quando o intérprete Renê Sobral soltou o grito de guerra, o microfone novamente foi passado ao mandatário, que enfim anunciou uma junção entre os sambas 2 e 3. Porém, a agremiação ainda não tem um hino certo. Destas duas obras, se fará um novo samba que será divulgado em breve. Foi uma disputa bastante intensa na “Caverna do Dragão”. Ambas as parcerias levaram muitos torcedores, bandeiras e bexigas. Há de se ressaltar a apresentação do samba 3, que foi bastante ousada. Houve encenações de personagens sambistas com coroas, uma ‘baiana rainha’ sentada em um trono no meio da quadra e um dançarino simbolizando Exú, que executava danças típicas do continente africano. Os compositores do Samba 2 são: Igor Federal, Vaguinho, Mike Cândido, Afonsinho BV, Luizinho Ramos e Hélber Medeiros. A parceria do Samba 3 é composta por: Thiago SP, Renne Campos, Rodrigo Atração, Darlan Alves, Jairo Cruz, Marcelo Adnet e Tigrão.

Empate entre jurados e decisão conjunta ao presidente

O presidente Renato Remondini (Tomate), falou que foi uma eliminatória complicada desde o início e que foi muito difícil eliminar os sambas durante as semanas. Além disso, houve um empate na comissão julgadora e, segundo o próprio, não quis dar o voto de minerva, e sim achou o justo optar pela junção. “Foi como a Dragões sempre cuida de tudo na sua trajetória, com respeito e muito carinho, compromisso. Compromisso com a nossa escola, foi uma eliminatória difícil, deixar cinco sambas já foi difícil, eliminar três na semana passada foi terrível. E hoje quando fomos para a sala, recebi os votos de todos, vi que deu empate e não achei justo desempatar. Ia ser desrespeitoso com a minha comissão de julgadores, e por que não juntar? A gente teve a campeã ano passado que teve junção. A Mocidade Alegre foi campeã do carnaval com junção de samba. E a gente ouve o pessoal falando tanto do refrão de um, do outro, parte de um e do outro. Então assim, neste momento, graças a Deus temos um maestro dentro da escola que é o Jorge Freitas, tem um mestre de bateria absurdo que é o Klemen e um intérprete, Renê é um cantor. Perguntei na hora, e agora, o que eu faço? E todas as pessoas da questão de melodia, da ala musical, enredo, Rogério, Jorge, René, Klemen e Márcio Santana começaram a se pronunciar, e o René logo de cara falou ‘vamos juntar e vamos ter o maior samba da nossa história’. E aí os outros também foram a favor, falei vamos embora e Deus sabe o que faz”, contou.

Não é a primeira vez que a escola opta por juntar. No ano de 2010 também houve essa escolha. Entretanto, para o presidente, desta vez será diferente. Tomate deu um pequeno spoiler, dizendo que a obra será composta pela metade dos sambas. “A outra foi em 2010, mas a outra, tinham dois sambas muito bons, só que um tinha o refrão absurdo de maravilhoso, e o outro era um samba totalmente completo dentro do enredo. Acabamos juntando, só que da outra vez foi uma parte bem grande de um samba, e uma parte pequena de um outro. Mas funcionou, ficamos empatados em segundo lugar neste ano, não subimos para o Grupo Especial, pois perdemos no critério desempate. Então acho que cada história é uma história, estamos preparados, a ideia já dando o spoiler para vocês, é ter uma junção de samba meio a meio mesmo. Vai ser o refrão de cabeça e a primeira de um samba, refrão do meio e a segunda do outro samba. E aí vamos ajustar só a questão para ter esse casamento perfeito, mas com Jorge, Klemen e Renê vamos tirar isso de letra”, completou.

Sentimento de vencer

O compositor do samba 2, Hélber Medeiros, falou sobre o sentimento de colocar o nome da parceria na história da Dragões da Real. “Primeiramente tenho que falar que é uma satisfação grande do samba 2, da nossa parceria, fazer parte desta grande final da Dragões da Real. Nós cravamos nosso nome aqui, não pela primeira vez, pois já estivemos aqui. Outros sambas lá atrás, depois de muitos anos, é uma satisfação enorme fazer parte desta grande festa. E desta junção dos dois grandes sambas, quem tem a ganhar é a Dragões da Real, fazendo essa grande festa na avenida e pode contar com a gente aí, fazendo essa grande ‘África de mamaê’, de ‘kizomba’, vai ser coroado e com certeza a Dragões será coroada”, declarou.

Hélber contou uma história que teve com o compositor parceiro Vaguinho, onde quase foi para o lixo a letra foi para o lixo e, então, se juntaram com outros dois amigos para sacramentar a obra. “Tem uma história legal deste samba 2. Esse samba começou pelo Vaguinho, nosso parceiro, ele simplesmente, tinha uma parceria e acabamos mudando essa parceria, e o Vaguinho saiu da parceria. Ele disse: ‘Helber, tenho outro samba e não vou entrar’. Ele ia jogar simplesmente esse samba no lixo. E falei assim ‘não Vaguinho, vou acreditar em você e vou chamar dois amigos meu’, que era o Mike e o Luizinho, ele chamou Afonsinho, colocamos a caneta, coisa de quinze dias antes de entregar o samba, conversamos, sentamos e falamos ‘vamos pensar na África, vamos ver a África’. Fizemos o samba simplesmente pensando em diversos dizeres da África, essa negritude, essa África guerreira, começamos e terminamos o samba em praticamente um dia. Mas tudo isso veio partindo do Vaguinho e ele queria jogar no lixo, não deixamos, pelo amor de Deus, não joga isso no lixo, e concretizamos o sonho de ser campeão”, completou.

O compositor citado acima, também conversou com o CARNAVALESCO e enalteceu a junção. O escritor elogiou a obra que estava em disputa e afirmou que sairá um grande samba. “Surpresa foi para todos ver a reação do público. Já aconteceu em 1990 na Unidos da Tijuca e foi uma grata junção. Eu acredito que aqui vai acontecer a mesma coisa. Ninguém esperava, ninguém sabia. Foi merecida para os dois lados. A gente estava comentando que o samba do Thiago SP era uma grande obra e a escola resolveu premiar os dois. Isso é bacana. Quando o presidente disse que houve respeito para com os dois e eu estou imensamente feliz. É o segundo samba que eu venço na Dragões. O primeiro foi praticamente há 20 anos atrás. Eu me considero vencedor por unir com uma grande obra e quem sabe trazer o caneco para a escola”, contou.

Vaguinho ainda deu detalhes de como funcionou a composição da letra. O compositor disse que se tornará um samba ainda melhor. “Quando a gente pegou a sinopse e deu uma lida, eu adoro África. Comecei a fazer a cabeça do samba e mostrei para o Igor Federal. Ele disse ‘samba maravilhoso, arrepiou’. Mas havia essa situação de uma parceria estar chegando, os meninos já haviam chegado há alguns anos, eles dominam a situação musical e é legal isso. Eu estava precisando de uma parceria coesa. Já tinha o Igor, que é um letrista fantástico e a hora que eu mostrei, olhou a primeira e nem precisou mexer. Fiquei lisonjeado. Ele pegou a segunda parte que foi feita pelo Hélber, Luizinho, Afonsinho e transformou em um samba maravilhoso. Eu não sei como vai funcionar essa junção, mas tenho certeza que esse samba já era bom e agora vai se tornar fantástico”, finalizou.

Obra da comunidade

Jairo Cruz, compositor do samba 3, disse ao CARNAVALESCO que o fruto da junção pode acarretar no melhor samba do Carnaval de São Paulo. “São duas obras muito boas onde a comunidade abraçou. Eu acredito que vai sair um grande samba. Eu já falava que seria o samba do Carnaval de São Paulo e vamos em frente. Com certeza, nós que amamos a Dragões, vamos fazer isso acontecer”, declarou.

Como dito anteriormente, foi uma apresentação muito forte da parceria. De acordo com Jairo, isso foi feito devido ao fato de ser o primeiro enredo afro da história da Dragões da Real, e que serve também para mostrar que a escola pode fazer tudo o que quiser. “A ideia é mostrar que a Dragões sabe tratar tudo com respeito. A ideia do Exú era realmente para pedir a bênção e licença que é o tema que nós dominamos. Já a ideia da rainha, muita gente não sabe, mas ela é uma babalorixá. Também queríamos uma bênção dela para levar em frente essa grande obra dessa obra que conquistou a comunidade”, contou.

O time venceu o ano de 2023, onde a escola homenageou João Pessoa. Aquela vitória foi unânime. Além de ter sido campeões em outras oportunidades. Jairo contou o sentimento de como é ganhar duas vezes seguidas. “Ganhar o samba na sua escola é indescritível. Estou muito honrado de a galera ter abraçado e a diretoria ter entendido que é uma ótima obra e espero nos próximos anos a gente possa ganhar mais e mais”, completou.

Complemento entre as obras

O diretor de carnaval da agremiação, Márcio Santana, contou um detalhe importante. Ele disse que ouviu de um integrante da comunidade que uma obra era popular dos componentes e a outra era técnica e, por isso, segundo o profissional, ambas se complementam. “A junção de dois sambas tem que ser vista como complemento. Eu ouvi algo hoje de um membro da comunidade que me disse que a gente tem duas grandes obras, onde uma caminha pela emoção da comunidade e a outra pela técnica, mas as duas já se mostravam complementarem ao enredo. Quando você tem duas preciosidades como essa, nada mais justo do que juntar e tirar o melhor das duas composições. A gente sempre estudou muito as duas obras que vão para final, mas de verdade, a Dragões é uma escola muito franca e sincera com a sua comunidade. A escolha aqui se dá de maneira muito franca e sincera até para nós. Houve efetivamente um empate e o presidente tem o voto de minerva. Ele tem esse voto ou pode jogar para a parte técnica para avaliação. Dentro da avaliação técnica, o melhor foi a junção e fazer uma obra muito grande com a ajuda dos compositores”, explicou.

O fato é que todos vão ansiosos para a final de samba-enredo com a ansiedade de saber o resultado final e sair com a trilha-sonora na ponta da língua. Porém, Márcio disse que será tudo feito com calma e ainda é muito cedo para definir uma previsão de data para colocar a nova obra em prática. “É precipitado a gente falar que vai usar isso ou aquilo. É muito bom a gente ver duas parcerias felizes como a gente viu no palco. Nós precisamos da unidade das duas parcerias para finalizar uma composição maravilhosa para 2024”, completou.

Samba é música

O carnavalesco da Dragões da Real, Jorge Freitas, partiu de outro princípio e já falou sobre a linha melódica. De acordo com o artista, todos os nove sambas apresentados no decorrer das eliminatórias estavam dentro do enredo, mas a música é que cativou a comissão julgadora para fazer tal escolha. “Todas as nove obras que foram apresentadas estavam dentro do nosso enredo. A parte melódica é que estava sendo diferenciada. O samba é música e as duas músicas cativaram a comissão julgadora. Mas a gente tem que lembrar que nós vamos escolher uma obra que vai ser avaliada dentro de um concurso onde pessoas estarão nos julgando. Temos que analisar isso também. A Dragões sempre vem com sambas bons, que sempre cativam o público e a comunidade. É isso que a gente quer e propõe para essa junção. É uma obra em que o componente vai fazer o melhor desfile de sua história”, disse.

Em toda a sua carreira como carnavalesco, é a primeira junção de sambas que Jorge Freitas participa. Porém, o profissional exaltou a seriedade da agremiação. “Nunca aconteceu comigo, mas a Dragões da Real é uma escola muito correta e muito séria. Então quando optou-se por isso, é que houve um respeito muito grande com todas as obras que passaram. Eu faço essa avaliação de que esse vai ser o melhor caminho para um desfile muito forte da Dragões da Real”, comentou.

Novidade de trabalho

O intérprete oficial, Renê Sobral, falou que vai ajudar da melhor maneira possível como intérprete na forma de pegar as partes de um e de outro samba. “Então, gostei muito dos dois sambas que a escola deixou para a final. Realmente estava balançado e a comunidade também vi que o povo cantou bem um e o outro. Eram dois bons sambas e a minha parte agora junto com a escola, vamos sentar e vou colaborar para trabalhar o que nós vamos juntar. O que está bom de um, o que está está mais ou menos, o que foi bom do outro que fez que a escola votasse e empatou.vam Nós vamos pegar as duas partes boas e fazer um só. Agora é sentar, ver a parte de interpretação, o que na junção para ficar bonito, um samba legal para a comunidade poder cantar na avenida”, contou.

Renê exaltou a forma como a Dragões lida com as eliminatórias, dizendo que é diferente das outras escolas em que passou. “Aqui é uma escola que nunca vi assim, a imparcialidade na votação, disputa, é bem legal, isso deixa muito feliz, que você no final, o pessoal aceitando o resultado e todo mundo bem, feliz, não tem briga ou confusão. Então assim, é uma disputa muito legal, e cada com sua obra, se apresenta de uma forma que comece a receber o samba, olha, esse samba aqui, tal, e neste caso, nós recebemos os dois sambas finalistas, tivemos várias obras muito boas. Para escolher os dois foi um pouco difícil. Mas recebemos os dois finalistas e deu essa junção que foi uma surpresa para a escola, pois a Dragões só juntou um samba. Desde que estou aqui nunca juntou samba, sempre dá um samba. Sempre arruma alguma coisinha que dá para limpar, mas estou pegando pela primeira vez. Em outras escolas já trabalhei com junções”, disse.

Estudo aperfeiçoado na bateria

O diretor de bateria da ‘Ritmo que Incendeia’, mestre Klemen, disse que o resultado foi o melhor possível e agora o objetivo é deixar a obra com a cara da escola. “Foi o melhor resultado que a gente poderia ter. Eu acho que os dois sambas seriam bons, mas teria que mudar algumas coisinhas. Optamos por ajudar para ficar perfeito e deixar com a nossa cara. Dragões da Real, ‘lugar de gente feliz’ e vamos trabalhar’”.

O mestre contou que já vem estudando bastante devido ao enredo. “Eu já estou estudando bastante. É uma África realeza. Com essa junção temos partes afros. Palavras como ‘laroyê’ e tudo mais. Agora é dar tempo ao tempo, deixar a escola fluir naturalmente para eu ver o que está pedindo. Eu nunca vou fazer uma coisa a parte na bateria, jogar e ficar uma coisa ‘frankstyle’. Agora é ver o que vai dar, juntar com os meus diretores de bateria para criar bossas, arranjos e passagens”, explicou.