InícioIntendenteLins ImperialDestaques da Lins enaltecem homenagem da verde e rosa a Madame Satã

Destaques da Lins enaltecem homenagem da verde e rosa a Madame Satã

Em meio ao peso de fazer uma releitura do excelente desfile de Madame Satã no Carnaval de 1990, a Lins Imperial buscou contar as fases da vida de João Francisco dos Santos. Nesta pegada, o primeiro e o segundo tripé da escola de samba representavam o primeiro trabalho de João e a incorporação de Madame Satã, respectivamente. Em entrevista ao CARNAVALESCO, os destaques centrais Samille Cunha, Andrea Gaspareli e Meime dos Santos detalharam a importância de trazer esta releitura de enredo.

O primeiro tripé da Lins Imperial representou a Lapa e as casas de tolerância – um tributo às bonecas e às mariposas da região. Ele faz alusão à Pensão da Lapa, onde João conseguiu o seu primeiro emprego e conheceu o mundo boêmio. Nele, Andrea Gaspareli e Meime dos Brilhos vieram como destaque. Meime, que conheceu Madame Satã, falou sobre o sentimento de entrar na Avenida com a responsabilidade de carregar este grande enredo, além da importância de resgatar o nome de Madame Satã.

“Eu me sinto privilegiada, porque eu participei da história da Madame Satã quando trabalhei no Cabaret Casanova, na Lapa, e conheci ela pessoalmente. Por isso, eu me sinto muito honrada de estar aqui representando e fazendo parte deste enredo. Eu realmente fiquei muito feliz. Madame Satã é história. Muita gente pensa que ela foi travesti, mas ela não foi um travesti. Foi um marginal, mas um marginal que depois que saiu da Ilha Grande, se recuperou, fez teatro. Tem todo um legado e uma história. Por isso ela virou enredo”, contou Meime.

Meime destacou que é importante representar o nome de Madame Satã na Passarela do Samba. Ela lembrou que em 1989 a Beija-Flor, de Joãosinho Trinta, fez uma homenagem.

“Para mim, a representatividade de Madame Satã é muito importante. Até acho que as outras escolas bobearam para fazer essa homenagem antes – só Joãosinho Trinta que fez na Beija-Flor de Nilópolis em 1989 uma homenagem. As escolas de samba e os carnavalescos estudam bastante. Eles tinham a capacidade de fazer um bom enredo e uma boa história”, destacou.

O primeiro tripé também é uma homenagem à própria Meime dos Brilhos, que além de ter trabalhado com Madame Satã, foi dona de boate no tradicional bairro boêmio carioca. Destaque e inspiração do carro, Meime comentou sobre a reverência que recebeu da Lins Imperial.

“Como eu trabalhei muitos anos na Lapa, a Lins Imperial está me homenageando dentro do enredo de Madame Satã. Eu sou homenageada pela minha história na Lapa – por muitos anos eu comandei uma casa noturna lá. Por isso, eu me sinto dentro do enredo Eu estou sendo homenageada, então eu criei meu próprio ‘figurino’”, explicou.

Andrea Gaspareli, outro destaque do tripé, falou sobre a importância de Madame Satã para as travestis da época. Andrea representou as transformistas que trabalhavam na Lapa.

“Madame Satã era partideira e defendia todas nós travestis quando a polícia vinha nos castigar. Ela vinha e brigava. Madame Satã era ‘babado’.Hoje eu estou representando as transformistas e as travestis que faziam show na Lapa”, contou Andrea.

Para ela, sempre é importante defender causas. Andrea comentou sobre o papel da escola neste enredo e também lembrou que na época em que Madame Satã, mesmo com um preconceito maior do que o da atualidade, não deixou de lutar pelas minorias e pelos seus sonhos.

“Defesa em alguma coisa é sempre muito importante, principalmente do povo LGBT. Na época em que Madame Satã viveu não era tão liberal como hoje, mas ela já lutava por isso. O nosso grande prestígio e a nossa grande homenagem hoje é para essa grande figura que foi Madame Satã. Ela nos representou muito bem. A escola está completa e esse enredo tem tudo a ver. Vem para destacar que nós temos lugar na sociedade e no mundo, além de reivindicar que queremos carinho e respeito”, explicou.

Andrea destacou que o enredo da Lins Imperial tem o papel de destacar ainda mais a luta da comunidade negra e LGBTQUIA+, trazendo uma mensagem de paz, amor e respeito.. Ela lembrou que ainda há preconceito e precisa ser combatido no dia a dia.

“Acredito que ainda tem o que melhorar. Preconceito existe em tudo o que é lugar, mas, aos poucos, a gente vai chegando lá. Estou vindo com o maior privilégio, como ator e transformista que sou. A mensagem que queremos deixar é paz, amor e muito respeito pelas pessoas. Vivam a vida, porque ela é muito importante”, disse Andrea Gaspareli, que era destaque do primeiro tripé.

O segundo tripé da escola de Lins, “Um padê para Satã, representou as oferendas e incorporou Madame Satã, entidade dos seres das ruas, as bonecas e toda a população negra e LGBTQUIA+. Nele, Samille Cunha e Jorge Medeiros eram destaques do carro. O tripé tem imagens de Madame Satã, além da representação das oferendas. Samille Cunha, em entrevista ao CARNAVALESCO, destacou que o enredo surge em um momento de luta por direitos aos menos favorecidos.

“É um momento histórico não só para a escola, mas para o carnaval carioca. Estamos em um momento que se fala da luta LGBT contra o preconceito e a favor do direito das diferenças. O Edu (Carnavalesco), teve esse achado nessa frase poderosa que é ‘resistir para existir’. A gente traz esse grito que não é somente um enredo, mas um manifesto em favor dessas minorias. Eu me sinto extremamente orgulhosa, porque eu fui orientadora do Eduardo na graduação e ele sempre foi um pupilo. Quando ele falou que me queria representando um grande ebó para Satã, eu vim. A Lins Imperial já fez esse enredo lá na década de 90. Hoje é uma releitura com um olhar mais contemporâneo. Há uma liberdade de reconstrução desta personagem e uma reinvenção de uma tradição dos excluídos, das travestis e das putas da Lapa. No século 21, esse grito de resistência permanece. A gente está aqui para quebrar preconceitos e romper essa barreira”, enfatizou Samille.

Samille Cunha também detalhou o seu papel como destaque neste segundo tripé, além de explicar o que o carro representa no enredo da escola de samba: um padê para Satã.

“Satã, após o período em que esteve preso, vai para Ilha Grande, que está sendo representado no último carro. Mas aqui, neste tripé, está o alimento e o assentamento de Satã. Claro, é carnaval e a gente faz uma referência e uma leitura poética. Ele me pediu para fazer este ebó, que não é, necessariamente, um padê de Exu e sim um padê de Satã. Há uma ironia e um humor meio ácido. A gente traz no ebó de Satã a carne e o peixe, porque ele tinha um restaurante em Ilha Grande e era o alimento que ele servia. Hoje Satã é o nosso alimento e o alimento da Lins Imperial para, praticamente, abrir o carnaval carioca rumo ao especial”, falou.

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