A Unidos de Vila Isabel abriu, na noite dessa quarta-feira, a temporada de ensaios de rua no Boulevard 28 de Setembro visando o Carnaval de 2024. Mesmo debaixo de chuva, os componentes compareceram em peso e mostraram toda a sua força, entoando com vontade os versos do clássico “Gbala – Viagem ao Templo da Criação”. A reportagem do site CARNAVALESCO acompanhou este primeiro treino, sem fazer análise quesito a quesito, e conversou com os segmentos sobre a importância de iniciar essa preparação ainda no mês de outubro, assim como o simbolismo de defender uma obra de autoria do cantor e compositor Martinho da Vila, maior baluarte vivo da agremiação, marcante na história da azul e branca do bairro de Noel e da folia carioca.
“Esse ano a gente começou bem antes, até por já ter o samba há bastante tempo. Ano passado, a gente começou no final de novembro, então a gente está começando com um mês de antecedência. Ou seja, é mais tempo para treinar, aprimorar, botar em prática tudo o que a gente entende que deve ser feito, para corrigir os erros e implementar nossa linha de trabalho. Basicamente, vamos repetir aquilo que a gente entende que deu certo em 2023 e melhorar o que não deu certo. Aqui no ensaio de rua a gente consegue testar quase todos os quesitos. O fato de ser ‘Gbala’ facilita de certa forma esse trabalho, afinal temos um grande samba, um samba antológico que marcou uma era, não só na escola, mas no Carnaval como um todo. Obviamente, esse samba vai ser cantado de uma outra forma, adequada para atualidade, mas a gente acredita muito nele. Estamos muito confiantes e acreditando que vai dar super certo para 2024”, declarou o presidente da Vila Isabel, Luiz Guimarães.
O calendário antecipado da agremiação nos trabalhos para o Carnaval de 2024 não ficou restrito aos ensaios de rua. Um exemplo disso é a bateria “Swingueira de Noel”, comandada pelo mestre Macaco Branco, que iniciou os treinos visando o desfile do ano que vem ainda no mês de junho. Em entrevista concedida para a reportagem do site CARNAVALESCO, o comandante destacou a importância de manter essa rotina de preparação a longo prazo e celebrou a escolha da escola de levar “Gbala – Viagem ao Templo da Criação” novamente para a Avenida.
“É um samba que marcou a história da Vila Isabel como um dos maiores. Para gente é um orgulho poder estar cantando isso outra vez. No meu caso, eu era uma criança em 1993, era pequenininho, então está sendo uma experiência nova. E poder estar representando e cantando uma grande obra do Martinho da Vila, como é ‘Gbala’, é sempre uma honra. E não tem muito mistério, a gente começa até mais cedo os ensaios de rua porque o trabalho já está bem encaminhado. A bateria, por exemplo, começou a ensaiar em junho, então está tudo bem amarradinho com o carro de som. E treinar na 28 de Setembro é maravilhoso, é praticamente um ensaio técnico. A gente faz basicamente como no desfile, na Avenida. É muito legal para gente ter um parâmetro do que podemos fazer, algumas marcações, só agrega”, ponderou Macaco Branco.
O intérprete Tinga está atualmente em sua segunda passagem pela azul e branca do bairro de Noel. Somando as duas, ele fará no ano que vem o seu décimo sexto desfile defendendo o microfone principal, tendo participado de dois dos três títulos da agremiação no Grupo Especial. Com uma trajetória tão extensa e marcada por grandes momentos, o cantor mais uma vez fará história com a escola ao entoar a reedição de um clássico de Martinho da Vila.
“O Boulevard 28 de Setembro é o nosso templo, o nosso lugar de ensaio. A comunidade fica muito feliz sempre quando vem para rua. Chovendo, com sol, aqui é o nosso lugar de qualquer forma. E cantar ‘Gbala’ é uma emoção muito grande, sempre é maravilhoso. É um samba que tive a oportunidade de cantar por muitos anos na escola como intérprete ou como integrante do carro de som em eventos ou em algum esquenta, mas agora poder desfilar com ele é a realização de um sonho Vamos juntos, toda a comunidade. Só temos que agradecer a Deus pela possibilidade de cantar esse grande samba do mestre Martinho”, relatou Tinga.
O cantor Gera foi o responsável por defender o samba em 1993 na Marquês de Sapucaí e também estará presente no desfile de 2024, desta vez como um dos apoios de Tinga no carro de som da Vila Isabel. Na conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, o intérprete veterano ressaltou o clima de felicidade entre os segmentos e torcedores com esta reedição, algo fundamental para o sucesso da empreitada no Carnaval do ano que vem.
“Para mim é uma honra a escola estar reeditando esse grande samba. No dia do desfile, em 1993, choveu muito, mas mesmo assim o samba aconteceu e a escola como um todo funcionou. Acredito que agora em 2024, com toda a tecnologia atual, o clima do samba, a escola cantando, vai ser outra emoção, vai ser muito bacana. A escola está muito animada, muito unida. Isso é extremamente importante quando você bota um samba reeditado. Eu cantei um samba de reedição lá na Portela que foi muito legal, mas tinha gente que não comprou a ideia, o que acaba afetando. Mas tenho certeza que ‘Gbala’ vai funcionar, porque a escola não está dividida em nada, todo mundo apoiou o samba”, garantiu Gera.
O Carnaval de 2024 irá marcar o terceiro ano do casal de mestre-sala e porta-bandeira Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas defendendo o primeiro pavilhão da Vila Isabel. Já familiarizados com a agremiação, a dupla comemorou o atual momento deles e da azul e branca da terra de Noel.
“É um samba emblemático, é um Carnaval muito especial. Apesar do resultado não ter sido o esperado na época, é um desfile muito adorado pela comunidade de Vila Isabel. Eu nasci nesse ano, então estou tendo o prazer de reviver um pouco dessa energia que eu estava lá nascendo e agora vou poder passar na Avenida defendendo esse pavilhão maravilhoso que é do meu coração”, afirmou Marcinho.
“A escola abraçou a gente e poder participar desse momento é uma emoção muito grande. O primeiro ensaio de rua foi lindo e a chuva só veio nos abençoar. Aliás, mais uma vez, né? Afinal, nosso ensaio técnico, nossos ensaios de rua, quase sempre é com chuva. Bom que vem para lavar a alma para gente começar com o pé direito a nossa temporada bem linda”, assegurou Cristiane Caldas.
A chuva também não foi empecilho para a baiana Tânia Machado, de 64 anos. Morada do bairro de Rocha Miranda, a aposentada desfila há cinco anos na Vila Isabel. Em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, ela não escondeu a felicidade de poder defender um samba como “Gbala – Viagem ao Templo da Criação” e avaliou como positivo esse primeiro ensaio de rua.
“A resposta da ala, da escola em geral, foi maravilhosa. Todo mundo está com o samba na ponta da língua. E a gente está com um gás, com uma garra, que nós vamos vir para ganhar. No mínimo ficaremos entre os três primeiros. E essa chuva não atrapalhou em nada. Essa é a nossa marca. Não adianta, toda vez que tem ensaio de rua, tem que chover”, pontuou Tânia.
A presidente da velha-guarda da azul e branca do bairro de Noel, Cheila Rangel, também se disse contente com o resultado do primeiro treino de rua. Benemérita da escola, ela está há 41 anos na Vila Isabel e participou do histórico desfile de 1993, na ocasião como integrante da ala de passistas. No bate-papo com a reportagem, Cheila festejou a possibilidade de entoar “Gbala – Viagem ao Templo da Criação” mais uma vez no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.
“É emocionante. Eu quando escutei o samba gravado novamente, as lágrimas correram. Foi muito bonito, muito importante. E esse primeiro ensaio, como sempre, foi maravilhoso, mesmo com chuva. A 28 de Setembro tem uma energia que só quem é Vila Isabel sabe. É bom demais”, disse Cheila.
Criado e desenvolvido em 1993 pelo carnavalesco Oswaldo Jardim, o enredo “Gbala – Viagem ao templo da criação” terá a assinatura desta vez do multicampeão Paulo Barros. A azul e branca do bairro de Noel será a terceira escola a cruzar o Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda-feira de Carnaval, dia 12 de fevereiro, em busca do quarto campeonato no Grupo Especial.