O quesito comissão de frente é sem qualquer dúvida aquele que sofreu maior evolução na história dos desfiles. Quem assiste a um vídeo de uma comissão nos 80 e vê no que se transformaram nos dias de hoje pode se tratar de algum quesito que foi criado recentemente. As velha-guardas deram espaço a rebuscadas coreografias nos anos 90 e aos imponentes espetáculos quase hollywoodianos dos tempos atuais. A série ‘De olho nos quesitos’ se debruça sobre um dos quesitos mais debatidos pelos sambistas.
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E um dos aspectos que causam mais debates entre analistas, coreógrafos, sambistas e amantes das escolas de samba são os polêmicos tripés que compõem a apresentação das comissões. Para muitos um trambolho desnecessário e inútil. Para outros um apoio importante dentro da logística das apresentações como são nos dias de hoje. Fato é que eles são pivô da maioria das notas abaixo de 10 justificadas pelos julgadores do quesito.
O tripé da comissão de frente está sob julgamento por diversos aspectos. Em primeiro lugar trata-se de uma alegoria como qualquer outra e portanto precisa estar bem acabado, iluminado e com todos os seus efeitos em perfeito funcionamento. Precisa ainda estar adequado à proposta da comissão, não pode ser uma mera ‘coxia’ onde há trocas de roupa e elenco sem uma funcionalidade com a apresentação em si. E ainda não pode atrapalhar a visibilidade da apresentação. Por essa diversidade de nuances, nossa reportagem encontrou citações em 38 justificativas nos últimos cinco anos dos quatro julgadores do quesito em 2024, anunciados pela Liesa.
Apenas 36% de notas 10 no domingo de carnaval
Como já é público e notório, as escolas que desfilam no domingo costumam tirar notas mais baixas que as de segunda. Tal tese encontra eco em uma rápida análise nas 81 notas aplicadas em comissão de frente pelos quatro julgadores do quesito em 2024, de 2018 pra cá. Em apenas 36% dos casos a nota máxima foi aplicada para escolas que se apresentaram na primeira noite. O restante das notas máximas ficaram para a segunda-feira. Como se vê, não se trata de uma perseguição midiática com quem desfila na primeira noite, mas sim de preconceito do próprio corpo julgador.
Os quatro julgadores de 2024 já julgaram o quesito mais de uma vez nos últimos cinco anos. Paola Novaes, que era jurada de evolução, passou para a comissão de frente em 2022 e também julgou ano passado. Raffael Araújo está no grupo desde 2020. Rafaela Riveiro Ribeiro e Raphael David julgam o quesito desde 2019. Paola é quem tem o menor índice de notas 10 dadas. 42% das 24 notas que aplicou. Foram apenas 10, seis delas na segunda de carnaval. Salgueiro e Portela são as únicas agremiações que só tiraram notas 10 com ela. Dentre aquelas que foram julgadas no mínimo duas vezes por Paola, Imperatriz, Tuiuti e Mocidade ainda não conseguiram nenhum 10 com a jurada. Dentre aspectos do sub-quesito de concepção, problemas no tripé foi a justificativa mais usada por Paola. No que tange ao aspecto da realização, falhas de elementos que não funcionaram na comissão é o problema que ela mais citou. É uma jurada bastante focada em elementos objetivos das apresentações.
Vila Isabel e Viradouro gabaritam com jurado
Raphael David julgou nos desfiles de 2019 pra cá. Das 51 notas atribuídas por ele, 26 foram 10, 51% do total. Viradouro e Vila Isabel são as únicas escolas que só tiraram notas 10 com o jurado nesses quatro anos de julgamento. Dentre as agremiações que foram julgadas quatro vezes por ele, todas obtiveram ao menos uma nota 10, casos de Portela, Mangueira e Tuiuti, que obtiveram só uma nota máxima e são aquelas que possuem pior desempenho com o jurado. Apenas 35% das notas 10 dadas por Raphael foram no domingo de carnaval.
Suas justificativas se concentram basicamente em avarias ou problemas de concepção do tripé alegórico das comissões. A indumentária também é motivo de atenção por parte do julgador. No sub-quesito da realização, ele despontuou coreografias segundo ele sem impacto e falhas de acabamento na indumentária dos dançarinos.
Rafaela Riveiro Ribeiro observa bastante a mensagem das comissões de frentes, embora também domine as suas justificativas nos tripés. Foram identificadas sete vezes nos últimos julgamentos dela problemas de leitura e entendimento da proposta dos coreógrafos no aspecto da realização da apresentação.
A jurada possui 51 notas atribuídas entre 2019 e 2023. Apenas 45% delas foram a nota máxima. De seus 23 10, 15 foram aplicados na segunda-feira de carnaval, 65% do total. Mangueira e Mocidade possuem o melhor desempenho com ela, com três 10 em quatro notas possíveis. A Portela é quem precisa melhorar aos olhos da jurada. Não obteve uma nota 10 nesses quatro anos.
Julgador aponta ‘problemas de visibilidade’ para não dar nota 10
Raffael Araújo está no grupo de julgadores de comissão de frente desde 2020. Em três anos julgando o Grupo Especial aplicou 22 notas 10, 58% do total. Do atual grupo que vai julgar o quesito é o mais ‘generoso’ percentualmente. Ocorre porém que 64% de suas notas máximas foram atribuídas na segunda-feira, é quase o dobro de notas 10 se comparado com o domingo.
Beija-Flor e Salgueiro são as escolas que melhor performaram nas notas do jurado, cravando três notas 10. O Tuiuti é quem teve o desempenho mais fraco, anotando duas notas 9,8 e um 10, dado no desfile de 2023. Raffael é o único julgador do atual grupo que anota em suas justificativas a maioria de notas como dificuldades para visualizar a apresentação das comissões. Em seis oportunidades ele apontou que a visibilidade não foi adequada para avaliar o grupo e tirou pontos em virtudes disso. Mais um sinal de alerta para as 12 escolas do Grupo Especial.