Dona de uma das discografias mais sólidas deste século, a Beija-Flor de Nilópolis vem vivendo um jejum de títulos que pode completar seis anos em 2024. Mas se a Deusa da Passarela não é campeã desde 2018 isso certamente não se deve aos sambas-enredo que tem apresentado na avenida. Ao menos se formos usar o critério das notas aplicadas no quesito desde 2018. Levantamento realizado pelo site CARNAVALESCO para a série ‘De olho nos quesitos‘ apontou que a azul e branca só perdeu três décimos com os julgadores escolhidos pela Liesa para analisar o samba-enredo em 2024.

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Foto: Divulgação/Rio Carnaval

O desempenho é tão forte que a média de perda de décimos nos últimos desfiles é inferior a um por ano. Com os julgadores de 2024 a Beija-Flor obteve nove notas 10, um 9,9 e uma 9,8, o que a coloca como a escola de melhor desempenho neste quesito nos últimos anos. Viradouro e Mocidade são outras agremiações com excelente desempenho nas notas. Ambas perderam apenas quatro décimos nos últimos anos. O Salgueiro é quem obteve o pior rendimento, perdendo 16 décimos, uma elevada média de quatro décimos perdidos por ano.

Julgador estreante em 2024

A Liesa optou por um estreante no desfile do Grupo Especial de 2024. Cyro Delvizio irá julgar samba-enredo pela primeira vez. O jurado é violonista, compositor e pesquisador musical. Ele se junta aos já conhecidos Alfredo Del-Penho, que está no júri desde 2019, Alice Serrano, julgando desde 2020 e Alessandro Ventura, que estreou em 2022.

O trio de julgadores aplicou um total de 112 notas desde 2019 no quesito samba-enredo. Foram 52 notas 10 nas obras apresentadas na avenida, uma porcentagem de 46% de notas máximas. O índice de 10 aplicados às escolas da segunda noite de desfiles bateu os 60%.

Alice Serrano é a única que possui um índice superior aos 50% de notas 10 em relação ao total. 19 de suas 37 notas foram 10. Os demais julgadores possuem um desempenho muito semelhante no quesito, demonstrando que pensam parecido, até com justificativas muito próximas entre si. Alfredo Del-Penho deu 22 notas 10 (43%) entre 2019 e 2023 e Alessandro Ventura 11 (46%) a partir de 2022.

Melodia domina justificativas

O samba-enredo é julgado através de dois sub-quesitos: letra, onde o jurado observa a adequação ao enredo, a beleza da letra e se a mesma pode ser vista no projeto apresentado na avenida e melodia, onde se considera se ela favorece o canto e a dança dos componentes, se é criativa e possui nuances melódicas diferenciadas. O samba-enredo é o quesito mais prejulgado do carnaval.

Nas justificativas encontradas pela reportagem do CARNAVALESCO o aspecto melódico domina as pontuações. A principal delas é quando a melodia não favorece o canto da obra no desfile. Pode ser em relação ao andamento adotado no dia do desfile ou pela própria estrutura melódica da música. Outra citação encontrada é quando há uma espécie de desencadeamento melódico entre partes do samba, isto é, há uma ruptura muito radical da estrutura de um trecho para outro da obra. A falta de nuances melódicas em um samba também é motivo de atenção para as escolas, de acordo com as justificativas encontradas.

Em relação à letra dos sambas o julgamento se torna mais factível. O principal fator de desconto é sobre a beleza da letra do samba. Recentemente os julgadores vêm sendo exigentes com a qualidade semântica das composições. Excesso de terminações iguais e classes de palavras repetidas foram citadas mais de uma vez nos últimos anos. A facilidade ou dificuldade de se cantar a letra também é um fator de atenção dos jurados. É sabido que existem samba com termos de difícil assimilação pelos componentes. E por fim a falta de criatividade na construção poética, além da ausência de partes significativas da letra em trechos do desfile, também são motivos para punir as escolas de samba.