É senso comum entre ritmistas, mestres e analistas que o nível das baterias do Grupo Especial está muito elevado. Os responsáveis pelo comando do ritmo se aprimoraram musicalmente nos últimos anos e vêm entregando um desempenho que beira à perfeição na avenida. A distância técnica entre o nível das baterias de hoje e alguns anos atrás é gritante. Tamanha evolução no quesito é acompanhada na opinião dos jurados.

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Foto: Diego Mendes/Divulgação Rio Carnaval

Na série “De olhos nos quesitos” a reportagem do site CARNAVALESCO se debruçou sobre as 162 notas dadas pelos quatro julgadores que irão avaliar o quesito este ano e encontrou uma verdadeira chuva de notas 10. Nada menos que 75% das notas aplicadas por eles nos últimos anos foi a nota máxima. A julgadora Mila Schiavo, por exemplo, que estreou em 2022, de suas 24 notas dadas nos últimos dois carnavais, 22 foram 10. Índice superior a 90%. Do corpo atual de julgadores, Ary Cohen e Philipe Galdino julgaram quatro vezes, Rafael Castro três vezes e Mila duas vezes.

Para os céticos, julgadores que ‘não julgam’. Para os defensores das notas dadas é difícil mesmo não dar 10 para as baterias do Grupo Especial. O site CARNAVALESCO encontrou 40 notas abaixo de 10 nos últimos cinco anos, média de oito por ano. Considerando que em 2018, 2019 e 2020 o desfile contou com mais de 12 escolas, a média de notas totais por ano no quesito é de 51,2. Apenas 15% não foram 10.

Imprecisão rítmica domina justificativas

Embora aos olhos dos jurados poucas baterias tenham cometido falhas relevantes nos últimos cinco anos, a falta de precisão rítmica foi a justificativa mais encontrada pela reportagem de 2018 para cá. Situações como naipes ‘sobrando’ nas retomadas, ausência de ‘peso’ de determinado naipe na apresentação da escola que torna a sonoridade da bateria ‘inconsistente’ e execução mal realizada das bossas podem se enquadrar nesse aspecto e tem sido observada pelos julgadores.

Um aspecto que sempre causou polêmica no julgamento de bateria, por ser um dos quesitos mais objetivos de todos, é o uso da criatividade (no caso a falta dela) para tirar décimos de alguma bateria. É polêmica justamente por ser algo subjetivo. O que seria uma bateria sem criatividade? Essa justificativa praticamente desapareceu nos últimos cinco anos, de acordo com o levantamento realizado pela reportagem do CARNAVALESCO.

Andamento e desencontro musical também citados

Outro ponto que sempre gera polêmica no julgamento de bateria é sobre o andamento. Mestres costumam ficar possessos quando são canetados por conta do número de batidas por minuto de suas baterias. Muitos alegam que julgadores desconsideram as características históricas de determinadas baterias. De todas as justificativas encontradas por nossa equipe e que apontam o andamento como responsável pela nota abaixo de 10, em 100% das vezes a crítica veio por andamento acelerado. Nunca por estar lento. Pode-se concluir com isso que baterias mais ‘na frente’ estão mais vulneráveis nesse aspecto.

De acordo com o manual do julgador não é apenas a precisão rítmica que está em julgamento em um bateria. A harmonia (não o quesito em si, que ainda será abordado nesta série) entre o canto e dança da escola com o andamento da bateria também deve ser avaliado. Nem sempre as falhas nesse aspecto podem ser creditadas aos mestres, pois as falhas no som da avenida comprometem este encontro do canto com o ritmo da escola. Mas a verdade é que encontramos algumas justificativas que alegam desencontro entre canto e ritmo e muitas vezes o vilão apontado é justamente o andamento.