O Tatuapé realizou na noite de domingo o seu primeiro ensaio técnico, no Anhembi, visando o carnaval de 2022. Dentre as escolas que também ensaiaram neste dia, a agremiação azul e branco foi a que mais se destacou. Uma performance fantástica que a comunidade executou na pista. Evolução e harmonia da escola foram os pontos altos no treino. O samba-enredo puxado por Celsinho Mody, colaborou para o ensaio ser produtivo. Do início ao fim. Uma arrancada que levantou o astral dos desfilantes de uma forma sensacional.
Harmonia
Como observado, o canto da comunidade ecoou no Anhembi. A análise feita é que não dá para escolher qual ala cantou mais ou menos. Todas foram impecáveis do início ao fim. O sorriso estampado no rosto dos componentes era nítido. A interação dos integrantes da harmonia com os desfilantes foi de suma importância para essa atuação. Todo o trabalho de canto que estava sendo desenvolvido nos ensaios de quadra, foi colocado na avenida. E até melhor. A harmonia sempre é trabalhada de uma forma densa dentro da agremiação. Os ensaios são levados a muito sério. Aos sábados, por exemplo, que seria um dia para descontrair, os desfilantes comparecem em peso para ensaiar de fato. Vemos isso frutificar dentro da avenida.
Eduardo dos Santos, um dos presidentes e membro da comissão de carnaval, avaliou o ensaio. “Foi muito legal, e para nós, tínhamos uma expectativa muito grande em cima desse ensaio. Primeiro, porque ele foi recheado aí de saudade, de emoção, né? Há dois anos que a gente não pisava aqui no nosso solo sagrado do carnaval de Sâo Paulo. Estava todo mundo com muita saudade, com muita vontade. O povo estava emocionado. A gente concentrou lá debaixo de um temporal, mas acho que isso serviu para animar ainda mais o nosso povo. Nossas alas estão praticamente esgotadas, a nossa quadra está recebendo um número muito legal de pessoas, que era exatamente a nossa expectativa. E nós estamos fazendo sempre nossos ensaios de quadra, ensaios de rua, mas é sempre uma expectativa grande quando a gente vem pra cá, até pra gente sentir, medir se tudo que a gente está fazendo lá realmente confirma aqui. Por ser o primeiro ensaio, depois de dois anos, com essas condições todas, com chuva, apesar de tudo a gente fez um ensaio bom, muito bom. Como primeiro foi muito bom, e dia 10 de abril a gente volta pra cá, e eu tenho certeza que ele vai ser melhor do que foi hoje e dia 22 de abril a gente vem pra cá e eu tenho certeza que será melhor que os dois juntos”, disse o dirigente.
Eduardo também enalteceu a comunidade, que realmente deu um show no ensaio. “Como sempre é a sua comunidade, seu componente. Esses caras que se entregam, que são apaixonados por nossa escola e que mesmo com essa tempestade que caiu aqui vieram pra cá, cantaram como sempre cantaram, evoluíram como sempre evoluíram. Essa é a nossa grande marca. A marca do Tatuapé é a nossa comunidade. Sem o nosso componente, nós não somos nada, e graças a Deus eles estavam aqui hoje como sempre, fazendo seu papel, cantando como nunca, evoluindo como nunca, evoluindo como nunca, trazendo essa energia toda aí e eu tenho certeza que a gente só tem a melhorar”, completou.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O casal Diego do Nascimento e Jussara de Sousa teve um ótimo desempenho no ensaio. A felicidade ao final do treino corrobora com a análise. Mostraram movimentos sincronizados, sorriso no rosto, coreografia leve dentro do samba e de fácil leitura. Ambos ensaiaram vestidos na cor azul marinho e laranja. O mestre-sala avaliou o desempenho no ensaio e se mostrou feliz com a apresentação.
“Superou as nossas expectativas. Nós estávamos confiantes, mas nós tínhamos nossos ensaios específicos, com caixinha de som. Hoje a gente sentiu realmente a energia da escola, porque se a gente for falar do canto da Tatuapé a gente absorve essa energia e não tem cristão que pare um casal de mestre-sala e porta-bandeira quando começa a dançar. Pra mim foi mais do que esperávamos hoje’, comentou.
Jussara completou dizendo que se surpreendeu com desempenho no ensaio. “Fiquei até um pouco emocionada, porque são dois anos que a gente não pisa aqui com a bateria, praticamente dois anos. Claro, com toda a responsabilidade que a gente tem, a emoção não deixaria de estar presente no nosso ensaio. E concordo com o que o Diego falou. Eu até me surpreendi com nosso ensaio. A gente vem ensaiando muito durante a semana, aqui no Anhembi e fora daqui fazendo nossos treinos funcionais, cuidando da máquina que o nosso corpo. Não podemos nos esquecer do corpo. Foi lindo, a escola está de parabéns. Agradecer à comunidade, à nossa diretoria, e dia 10 tem mais”, finalizou a porta-bandeira.
Samba-enredo
O tão aguardado samba do Tatuapé dentro da avenida, pegou. O hino da agremiação, demorou para ser divulgado. Até foi escolhida uma junção. Mas, a escola optou por fazer alguns ajustes e resolveu colocar em público muito tempo depois. A introdução, onde se fala, “toca aí mandingueiro”, foi uma boa sacada da escola e deu um ritmo diferente.
O brilhante Celsinho Mody, que também foi um dos destaques nos ensaios, novamente colocou a comunidade para cima. Desde que chegou, faz isso com maestria e construiu uma identidade enorme com a agremiação. Impressionante como o cantor brinca dentro do samba. O intérprete proporcionou uma arrancada fenomenal, que de longe deu para ver como ele colocou os componentes lá no alto. Vale destacar o refrão do meio: ‘tanacinê, tanasanã, ina inê, tanuotã’. Uma linguagem diferente que é usada especificamente no canto do Preto Velho. Encaixar isso dentro do samba, foi uma bela sacada do Tatuapé.
Celsinho Mody também exaltou o canto da comunidade. “Primeiro que é uma satisfação e eu agradeço a Deus pela oportunidade de cantar nesse palco mais uma vez em um ensaio técnico. O Tatuapé é uma escola linda, né, que tem prazer de cantar, sambar e ser feliz. Eu vi uma escola cantando muito, praticamente berrando o samba, uma evolução linda, uma bateria maravilhosa e eu sou apaixonado por esse samba. Hoje foi um dia de vitória com muita certeza’” analisou.
Bateria
A bateria ‘Qualidade Especial’, regida por mestre Igor, mostrou um desempenho satisfatório. Como de costume, o andamento foi acelerado, o que é a característica da batucada da escola e, a impressão que se passa, é que o samba-enredo foi construído pensando nesse andamento. Sobre as bossas, o destaque vai para a de ‘Aruanda’. Tem duas nessa parte. Mas, a principal é a que interage com a comunidade, onde os componentes cantam a uma só voz. Outra bossa que aparece é no refrão principal. Nessa, os surdos e os agogôs são mais destacados. Aliás, o agogô é um símbolo da agremiação. Está estampado no pavilhão da escola e sempre é enaltecido dentro da batucada ‘Qualidade Especial’.
Mestre Igor, diretor de bateria do Tatuapé, falou sobre o ensaio. “Por ser o primeiro ensaio, foi bastante positivo. Nós temos algumas coisas para corrigir, é natural. Mas poucas coisas, a gente está chegando pertinho do 100% para poder fazer o desfile no dia 23, entramos no dia de São Jorge”, explicou.
Igor também falou das bossas e do ponto alto do ensaio. “Dentro da bateria não tenho como avaliar muito o que aconteceu no ensaio. Mas acho que o canto da escola foi um ponto bastante alto. Da bateria tínhamos algumas coisas a acertar do ensaio que fizemos na quinta-feira. Foi corrigido. Ponto alto é a gente trabalhando para nosso povo cantor. As nossas bossas são todas para nossos componentes cantar, arquibancada cantar. ‘A gente vem com três bossas. Mais um apagão e uma gracinha que tem ali no meio. Vai tudo vir para a avenida, já está tudo certinho para vir”, completou.
Evolução
A evolução do Tatuapé foi perfeita. As alas evoluíram perfeitamente, sambaram no pé e ninguém ficou parado. Os componentes evoluíam de um lado para o outro, sem ficar em linha reta, o que se manda para atingir a nota máxima. As alas coreografadas vinham destacando a época do café, como a plantação. Outra ala de destaque veio com um cajado, fazendo movimento do Preto Velho, se encurvando para trás e para frente.
Toda a comunidade tem algumas coreografias que são padrão em certos momentos. Na parte do ‘Aruanda’, todos levantam o braço para cima. Logo após o primeiro refrão, onde o samba fala ‘incorporei’, os componentes movimentam o corpo para trás e para frente.
Outros destaques
A comissão de frente vem representando o Preto Velho junto aos orixás. Na encenação, tivemos a divindade homenageada, junto com Xangô, Oxóssi, Oxum, Oxalá e todos os divinos orixás. Dava para identificar os orixás pois eles estavam com seus objetos característicos. Xangô de martelo, Oxóssi com arco e flecha, Oxum com seu espelho e Oxalá de cajado. Os movimentos atenderam muito bem o que se pede no manual, que é preencher o espaço e remeter de forma correta e fácil o que a escola quer apresentar na avenida.