Por Gustavo Lima e Will Ferreira
A rainha de bateria é uma figura que ganhou cada vez mais espaço em uma escola de samba com o passar do tempo. Desde quando surgiram e se popularizaram, na década de 1980, elas tornaram-se verdadeiros símbolos de cada agremiação na avenida. Mas, por inúmeros motivos, algumas que estão em tal posto não conseguem se apresentar com tanta frequência à comunidade. Até por isso, a presença de Sabrina Sato no ensaio de quadra dos Gaviões da Fiel, na última sexta-feira, foi destacada pela agremiação. Mais do que isso: ela foi peça importante para o desenvolvimento da dinâmica na quadra da escola, localizada no Bom Retiro, Centro de São Paulo, para o ensaio do enredo “Vou Te Levar Pro Infinito”.
Muito além da artista
Sabrina teve a primeira aparição pouco antes da primeira passada do samba-enredo, sendo anunciada pelo intérprete Ernesto Teixeira, voz dos Gaviões há décadas. Se as levadas iniciais da canção foram à capela, sem instrumento algum performando, a rainha de bateria mostrava-se solícita com os ritmistas e com quem estava na quadra. Com a “Ritimão” a pleno vapor, o que se viu foi uma quadra que respondeu bem ao samba-enredo, muito bem trabalhado pela ala musical.
Tal segmento, por sinal, terá uma grande mudança no julgamento para o Carnaval 2024. Nada que amedronte Ernesto. “Para a gente, a mudança no regulamento com relação ao carro de som não vai mudar nada porque sempre fizemos um trabalho muito profissional nos Gaviões da Fiel. Nos últimos três anos, estamos aprimorando bastante a sincronia da ala musical, ensaios técnicos em estúdio e ensaios na quadra, também. Não vai mudar, vamos continuar com a mesma garra e qualidade. Com certeza vamos trazer uma boa nota”, garantiu.
O samba, por sinal, teve uma pequena modificação em comparação à final do concurso para escolha da canção da escola, destacada pelo intérprete. “O grande trunfo desse samba é ele como um todo. Após a escolha, estudamos a música e já fazíamos algumas análises durante as eliminatórias. E, às vezes, fazemos alguns ajustes para melhor. Foi o caso desse samba, que fizemos uma pequena alteração no refrão do meio: encurtamos uma linha e, no último verso, jogamos o tom mais para o alto, para dar mais brilho, no canto do povo e do couro. É um samba bem melodioso, com arranjos maravilhosos produzidos pelo Rafa do Cavaco. Com certeza vai fazer muito sucesso no carnaval de São Paulo”, afirmou.
A bateria da “Torcida Que Samba”, por sinal, merece atenção. Com um “paradão” que durou uma levada do samba inteira, ela conseguiu sustentar bem o samba-enredo. Também chamou atenção a presença de um pandeirista, atabaques e xequerês – dando uma personalização especial para o segmento. Enquanto Sabrina tirava fotos com diversos componentes (que compareceram em razoável número), os ritmistas executavam o papel com maestria.
Falando em maestria…
Dos grandes destaques dos Gaviões desde 2020, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Wagner Lima e Gabriela Mondjian, também chamaram atenção. Com dança impecável e sempre muito expressivos, eles apresentaram uma coreografia mais do que especial. Aproveitando o clima sideral do enredo, em determinado momento, eles caminharam como se estivessem sem efeito algum da gravidade, em câmera lenta. Com giros plasticamente perfeitos e ótima condução e sustentação do pavilhão, Gabriela brilhou; o parceiro, fez o mesmo, com extremo samba no pé para conduzir a companheira.
Para chegar em tal nível, a dupla teve uma alta na carga de encontros. “A frequência de ensaios mudou. Aumentou, porque a gente é uma máquina e não consegue parar. Está na mesma pegada do ano passado, mas agora ainda mais porque tem a mudança do regulamento”, destacou Gabriela. “A gente está ensaiando desde julho. Pegamos a base do regulamento e fizemos o nosso checklist. Vendo o que pode e não pode e colocando mais tempero na comida”, relembrou Wagner.
Tal qual a parte musical, o regulamento também mudou para os casais de mestre-sala e porta-bandeira. Os novos balizamentos, porém, estão mais do que ensaiados pela dupla. “O regulamento vem com bastante atualização, novas regras, movimentos obrigatórios, mas isso não interferiu em nada no nosso trabalho, porque graças a Deus a gente já fazia, porque nós sempre tentamos manter a tradição da dança desde o início. Para nós não foi tão difícil essa adaptação”, pontuou Gabriela. “A gente queria esse novo regulamento porque somos mais dançantes. Com todo respeito aos outros casais, mas nós somos mais dançantes e a gente defendeu muito essa tradição no regulamento. Não só para os Gaviões da Fiel. Vai ser um marco para os casais de mestre-sala e porta-bandeira”, destacou Wagner.
Chegou a hora de voar
Se o samba dos Gaviões pede para que a escola “voe para o espaço sideral”, a “Torcida Que Samba” destaca que chegou a hora de alçar lugares mais altos na folia paulistana. Quem garante é Marcelo Temporini, um dos diretores de carnaval da agremiação. “A maioria fala que é um trabalho de um ano, mas nós não. Fizemos um trabalho de três anos para chegar nesse carnaval. Os Gaviões são feitos de gestões de três anos. Assumimos nos dois primeiros anos para mirar exatamente nesse carnaval de agora e a expectativa é grande de verdade. Fizemos aquela lição de casa para ver onde a gente estava pecando. Você via os Gaviões em segundo e quando chegava alegoria e fantasia, caía para oitavo, nono. Nós já sabíamos internamente que as dificuldades financeiras e até do trabalho e procuramos acertar esses pontos, estamos trabalhando firmemente nesses quesitos em geral. Temos que melhorar fantasias e alegorias. Não podemos esquecer dos demais, mas no geral é isso”, explicou.
E, se é hora de voar, é necessário não ter peso algum. É tal característica que Marcelo acredita que a escola terá em 2024. “Nosso grande trunfo é a leveza, o colorido que muito cobravam, energia positiva. O tema já é abstrato que é para viajar pro infinito”, ratificou.
Quem também prometeu levar torcedores e fãs além foi Gabriela. “A gente está com a fantasia há três meses em mãos. Não posso dar spoiler, mas garanto que a proposta vai ser diferente e a gente literalmente vai levar vocês para o infinito. A gente não teve a prova com a roupa pronta, mas já iniciamos os trabalhos para se adaptar à roupa por ela ser diferente. Não temos a estimativa, mas o responsável é o Bruno Oliveira e ele é maravilhoso”, prometeu a porta-bandeira.
Samba no pé e história? Tem!
No ala a ala, destaque para um grupo de componentes importantíssimo e que, nos Gaviões da Fiel, ganha merecido destaque: o de passistas. Em grande número, elas mostraram muita empolgação e sorrisos ao longo de toda a noite, ajudando a dar ainda mais volume para o ensaio da alvinegra.
Se o samba já está ensaiado pelas passistas, ele também traz uma doce memória para os componentes. O nome do enredo é um verso do histórico samba-enredo de 1995 da escola, intitulado “Coisa Boa É Pra Sempre”. E tal recordação também foi destacada por Marcelo. “A comunidade recebeu muito bem a música porque se ligaram com o nosso samba do passado. Foi muito legal. Alguns voltaram a desfilar por lembrar o tema da época. Foi muito positivo”, finalizou.