A atual campeã do carnaval, a Mocidade Alegre fez seu segundo ensaio técnico no último sábado, dia 27, e no ritmo do seu enredo “Brasiléia Desvairada: A busca de Mário de Andrade por um país”, agora só volta ao Anhembi no dia do desfile, no sábado, 10 de fevereiro, a terceira escola a desfilar. Neste ensaio técnico com direito a homenagem para Mestre Sombra, pelos 30 anos completos justamente no dia do ensaio, a bateria Ritmo Puro foi um dos grandes destaques, junto com o desempenho da ala musical comandada por Igor Sorriso.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Diego Motta e Natália Lago mostrou muita elegância e um bailado tranquilo perante os módulos dois e três. Realizando os passos obrigatórios, horário e anti horário, conectando os toques com as mãos, que é uma marca registrada deste casal que recém foi formado e é caseiro da Morada. Protegido pelos guardiões que eram membros da ala das crianças, vestiram uma fantasia já no estilo desfile, o que elevou o grau do ensaio e também no nível de elegância. Sincronizados no bailado, deu para sentir que evoluíram em relação ao primeiro ensaio, que já havia sido positivo.
Em relação a ter apenas dois ensaios técnicos, Diego Motta que está estreando como primeiro mestre-sala, relatou para o site CARNAVALESCO: “Falo por mim, pelas experiências anteriores: o primeiro é para quebrar o gelo, entendermos; o segundo é com alguns consertos do primeiro; e o terceiro é valendo. Aqui, no nosso caso, não teremos esse terceiro saboroso, mas essa situação fez a gente despertar uma técnica para ter várias soluções para qualquer tipo de problema. Hoje, testamos uma cabine que a gente ainda não tinha utilizado no último. Tem essa facilidade para experimentarmos algo diferente, mas, no contexto geral, não atrapalha tanto. A gente perde o sabor do último, aquele para lavar a alma. O segundo ainda é meio tenso. Mas estamos preparados, vambora!”.
E a sua companheira, a porta-bandeira, Natália Lago disse: “A gente traça o plano de acordo com o que temos. Se temos, dois ensaios em um, a gente vem testar tudo que a gente preparou e, no segundo e último, solucionamos todos os problemas – já que ele é o mais próximo da nossa realidade. Mas foi muito bom, nada foi prejudicado – e, para o casal, ter um ensaio a mais, ter um momento a mais, é de grande valia”.
A última cabine de jurados tem deixado os casais de cabelo em pé, o mestre-sala da Mocidade relatou: “Para mim, o que dificultou na questão desse jurado é essa mudança repentina muito próxima do desfile. Foi isso que deu um baque. Na teoria, os específicos servem para posicionamento. Preparamos todo o nosso trabalho para um desenho e tivemos que mudar. Uma das vantagens de termos um ensaio técnico a menos fez com que a gente tivesse várias possibilidades. No nosso caso, não interferiu muito ele ser mais acima ou para frente: foi tranquilo. Só experimentamos hoje, de fato, como será no dia – se não mudar de novo”, e a porta-bandeira complementou: “Fomos pegos um pouco de calça curta, está muito próximo do dia do desfile. A gente fica nessa ansiedade de saber o que de fato vai acontecer, onde vai estar, em que altura vai estar. A gente tem que bolar vários planos para, a hora que estiver definido, saber o que vai acontecer”.
Samba-enredo
Um dos destaques no ensaio técnico foi a ala musical comandada por Igor Sorriso, primeiramente pelas vozes femininas, a Talita Padovan, e a novidade que é a Jéssica Américo, que entrada foi feita a dela, já levantando a comunidade antes do samba-enredo ser cantado. Assim como a abertura do intérprete oficial que levanta a comunidade, vai para o povo literalmente. O desempenho na hora para valer, que é dentro do samba, foi impecável, conduziram bem o samba, ajudando a comunidade, é um samba fácil, leve e bem desenvolvido. Mas ainda por parte da comunidade, senti falta de um algo mais que a Mocidade Alegre tem, todas as alas sabiam o samba, cantavam, mas pelos fatores citados antes e também e por ser uma escola que canta muito, atual campeã, sei que pode mais. O intérprete Igor Sorriso conversou após o ensaio técnico, ainda na muvuca após o ensaio.
“Seguimos em evolução, amadurecendo, hoje o meu povo estava mais solto e à vontade. A Mocidade Alegre está muito madura para o carnaval. Eu acho que sempre há ajustes a serem feitos, mas estamos no caminho para fazer um grande carnaval bem competitivo e brigando lá em cima mais uma vez. A gente está 99% pronto. Vamos incentivar ainda mais esse povo e vai ser melhor ainda no dia do desfile, pode ter certeza”.
Harmonia
A harmonia da Morada é sempre um quesito à parte, e a ser destacado, elogiado. De fato, todas as alas cantavam o samba, e em geral, todos os componentes sabiam o samba, o que é um ponto muito importante. Mas como citamos no quesito acima, o samba-enredo, apesar de ver todos cantando, senti que podia ser um tom pouco maior em algumas alas. Em compensação, teve ala como a Família da Morada que cantou muito alto e um astral incrível dentro da pista, mostrando a energia da atual campeã. Uma ala energética é a de passistas, ou melhor, na Morada é chamada de Grupo Miscigenação, que samba muito de fato, e também canta o samba, o que é um fator importante pelo estilo da ala. A bateria é outra ala que canta bastante, e olha que é outro quesito.
Em relação aos dois ensaios, e o fato de não ter um terceiro oficialmente, o diretor de carnaval Junior Dentista fez uma revelação: “Eu vou fazer o terceiro! Vou fazer no dia 08, com o teste de som. É por isso que eu não peguei um terceiro ensaio. Como o teste de som é meu, na quinta-feira, eu faço um ensaio geral. Então, na prática, eu tenho um terceiro ensaio técnico, na verdade”.
Evolução
A agremiação evoluiu com muita tranquilidade, passando pelo Anhembi com leveza. Em determinado momento, quando a comissão de frente estava perto da última cabine de jurado, que está localizada no último setor do Anhembi, e o casal estava próximo do terceiro módulo, a escola segurou um pouco o passo, mas aconteceu devido ao recuo da bateria. O diretor de carnaval da escola, Junior Dentista, conversou com o site CARNAVALESCO e falou sobre não ter tido nenhum problema durante o ensaio.
“Pelo menos no rádio, ninguém me falou. Eu tenho um ponto em cada ala e todo mundo me comunica no rádio quanto a espaçamento e Evolução. Para mim, não chegou nada”.
Outra questão que pode ter assustado quem acompanhou a Morada, foi que a escola fechou o portão 1h06, o que consideraria estouro do cronômetro e perda de ponto. Mas Junior Dentista explicou que na realidade, foi devido a homenagem feita para o Mestre Sombra na concentração.
“A gente não coloca com dez minutos! No zero eu já estou na pista. É que nós quisemos fazer uma homenagem especial para o Sombra, trinta anos dele na bateria… quisemos fazer de portão aberto. Tanto que eu tinha dez minutos para esperar, para não ter problema, eu mesmo pedi para abrir o portão – e, aí, ligaram o relógio. Mas foi proposital, para fazermos uma homenagem para ele de portão aberto, para a presidente falar de portão aberto. Foi isso”.
Deu para sentir que também a escola já tinha passado com 1h05, porém o pessoal de harmonia da Morada costuma se reunir na pista e fechar o desfile com as mãos dadas ou abraçados, em uma forma de apoio. Portanto considerando as explicações, a Mocidade Alegre passou dentro do regulamento no quesito.
Comissão de frente
A comissão de frente teve uma personagem principal de preto e branco, em um ato subiam ao tripé e faziam algo que parecia mexer em um maquinário, seria algo em relação às viagens de Mário de Andrade pelo Brasil? É um mistério, pois o elemento alegórico estava totalmente tampado, entretanto essa parte era móvel e os integrantes da comissão fizeram o ato, só não dava para ver o que estava por baixo. Uma dança em ritmo bem intenso, no estilo do seu coreógrafo Jhean Allex. Já no chão, os grupos eram separados por meninas e meninos, mas que interagiam entre si no bailado. Um dos momentos de interação com o samba é quando cantam ‘sentimento verdadeiro’ e fazem sinal de abraço. Uma dança bem conduzida no ballet. Um dos atos principalmente é quando a menina de preto e branco soma com o grupo, fica centralizada e é a destaque do ato com o grupo dançando em volta dela. Outro ponto é que é uma comissão muito expressiva, com sorrisos, caretas, e também tem um momento que formam casais para dançarem, com provocações, interações, é bem intenso e interativo, claro que ainda estão escondendo o jogo.
Outros destaques
A bateria comandada por mestre Sombra, que foi homenageado pelos seus trinta anos de Mocidade Alegre, em uma concentração que foi bem marcante para a agremiação. E na pista, a Ritmo Puro, que contém o seu filho Sombrinha, sendo o braço direito, herdeiro de todo o dom musical de Sombra, soltou bossas, brincou de caracol em frente ao Monumental, o que agrada muito o público. Faz referências ao público durante toda passagem e sustenta muito bem o samba, em uma das bossas levanta o povo é justamente no trecho do samba: “Na voz da minha Mocidade”, a pausa e jogar para o povo, funcionou muito bem. Sobre a parte da homenagem e do dia que viveu com a sua Morada, ressaltou em papo com o site CARNAVALESCO.
“Primeiramente, tenho que agradecer a Deus por tudo que já aconteceu na minha vida. Lógico que foi importante! Teve uma surpresa, bateria com camisa nova, boné, homenagem… a surpresa é gratificante. Cantaram o samba que eu fiz para a escola no esquenta… é um dia muito especial, que não vai voltar mais. Temos que guardar essa grande recordação, essa grande lembrança. É especial demais. Não tenho palavras para resumir a emoção que se sente na hora, para transcrever isso tudo. É fantástico! Gratidão do início ao fim”.
Em relação ao fato de ter dois ensaios técnicos com a escola, Mestre Sombra ressaltou: “A quantidade não faz a qualidade, é muito relativo. Às vezes, você pode fazer um primeiro ensaio técnico excelente, errar no segundo, fazer um terceiro mais ou menos… é muito relativo. O que não pode mudar é o empenho e o foco, independentemente da quantidade. Tem que procurar a excelência e estar numa crescente. Não existe perfeição, você está a cada dia corrigindo alguma coisa e vendo alguma novidade”.
A rainha Aline Oliveira é um show à parte, interage com o público, samba e dança muito bem. Também tem os passos marcados com a bateria em bossas, e sempre levantam o público. Ou seja, uma marca da Morada do Samba. Assim como as destaques de chão, que em geral, apostam em looks muito bem produzidos e tem um samba no pé a ser destacado. Vale mencionar outra destaque que vem no começo da escola, a Thelminha, que é cria da comunidade, venceu um reality show, e já foi passista, também membro da comissão de frente, agora é destaque logo a frente do logo da Mocidade, onde ficam dois destaques no tripé. A ala Meninos da Morada também mostrou muita dança e também cantaram bastante, é uma ala com uma dança bem intensa, ritmo alto, e somente jovens
As baianas além de uma energia surreal, vale destacar que visual lindo, roubaram a cena, uma parte com o saiote verde e a outra vermelha, mesma coisa no chapéu utilizado, uma parte vermelha e outra verde. O efeito da barra da saia era o que complementava o charme a mais, lindo de ver, quando a baiana rodava, reluzia, ponto alto.