Um excelente desfile. O primeiro treino da temporada na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca, na noite deste domingo, resultou no melhor ensaio de rua do Acadêmicos do Salgueiro neste pré-carnaval. Um dos principais sambas do ano e a explosão da comunidade ressaltaram que a Vermelho e Branco é uma das fortes concorrentes na briga pelo título do Grupo Especial. A apresentação foi encerrada sob gritos de “é campeã”.
Agora, com o apoio massivo do salgueirense, a agremiação retornará ao Morro do Salgueiro nesta quarta-feira para mais um ensaio. Em 2024, a Academia do Samba levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “Hutukara”, do carnavalesco Edson Pereira, e será a terceira agremiação a desfilar no domingo de carnaval. De acordo com o diretor de carnaval, Wilsinho Alves, a escola estava quase completa. Para ele, o ótimo desempenho do chão salgueirense ressalta o bom momento e o favoritismo da agremiação.
“Isso aqui é loucura, é outra energia. Haviam tijucanos e também vieram pessoas de outras escolas e regiões – tem gente da Imperatriz, Viradouro. Parece que a escola sentiu esse gás a mais e fez, disparadamente, o melhor ensaio da temporada. Cantamos e evoluímos muito. Não gosto de falar em perfeição, mas estamos quase lá. Gostei de tudo: o canto da comunidade, a evolução, o andamento da bateria, o casal, Patrick. Todos fizeram o que foi combinado. Acredito que o Salgueiro está vivendo um momento bom que se for levado até o carnaval, vamos disputar”, comenta Wilsinho.
Comissão de Frente
Com onze componentes, a comissão de frente comandada pelo coreógrafo Patrick Carvalho fez uma apresentação repleta de dramaticidade e sincronia, e foi aplaudida pelo público presente. Se o ensaio foi em grande nível, a comissão não fez diferente.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Mais uma vez o casal Sidclei Santos e Marcella Alves, considerado um dos melhores mestres-salas e porta-bandeiras do carnaval, mostrou que o longo tempo de parceria contribui cada vez mais para um ótimo desempenho. A ótima conexão e bailado, somados à firmeza e segurança típica da dupla, resultaram em uma apresentação bastante aplaudida por quem acompanhava o cortejo. A comissão de frente abriu o treino salgueirense em alto nível, e o primeiro casal conseguiu deixar o sarrafo ainda mais alto.
Harmonia
Um verdadeiro show. A comunidade jogou junto com o carro de som e a bateria, e o resultado não poderia ser diferente: uma grande Apoteose na Rua Conde de Bonfim. O samba-enredo foi ecoado com muita força pelos componentes e por quem acompanhava o ensaio. Destaque para as alas 5, 7 e 21, que cantaram em alto nível durante todo o trecho de apresentação. De fato, tem tudo para concorrer como o melhor samba do ano. Um dos membros da comissão de harmonia da Vermelho e Branco, Paulinho Evangelista elogiou o canto da comunidade durante os ensaios, mas destaca que ainda há muito trabalho pela frente.
“Estamos trabalhando semanalmente o canto e a evolução com as alas da comunidade. Os ensaios estão sendo setorizados e conseguimos um ganho muito grande com isso: a cada ensaio a nossa comunidade está subindo de nível. Eles são importantes para que, quando chegar perto do carnaval, a escola esteja em um patamar elevado e, se Deus quiser, pronta para um grande desfile. Ainda tem coisa para melhorar, é o primeiro ensaio na Conde de Bonfim e ainda têm muitos outros pela frente. É um passo a passo. Queremos chegar no carnaval em um nível bem elevado para fazer um grande desfile”, ressalta o diretor de harmonia.
Evolução
Com um ensaio de aproximadamente 1h10 de duração, o torcedor salgueirense pôde aproveitar cada momento de forma alegre e sem pressa. O local de ensaio contribui para o bom desempenho, mas o trabalho realizado pela diretoria da escola foi destaque para o resultado final. Para Paulinho Evangelista, a diferença entre as ruas Conde de Bonfim e Maxwell contribui para a apresentação dos segmentos.
“A pista da Conde de Bonfim é melhor para o ensaio. Ela é mais reta, quase não tem buracos e isso facilita mais na hora do desfile – para a comissão, baianas e o casal. Acredito que o ensaio na Conde de Bonfim é mais produtivo”, conta.
Samba-Enredo
A obra caiu na boca do povo e nas graças do torcedor salgueirense. A comunidade cantou absurdamente forte vários trechos da canção. O hino foi conduzido por Charles Silva, membro da equipe do carro de som comandado por Emerson Dias, que está em viagem. O cantor demonstrou um ótimo desempenho e animou ainda mais o público. Parceiro do intérprete oficial há mais de dez anos, ele diz que a boa relação entre toda a equipe do carro de som e a bateria é um fator que contribui para um resultado positivo.
“Somos como uma família. Por mais que tenhamos algumas mudanças com a chegada de dois novos amigos – que possuem uma extrema qualidade e profissionalismo. Eu, Emerson e Alessandro estamos juntos há mais de dez anos. Já sabemos mais ou menos o que o Emerson gosta e como é o clima. Daí é só dar seguimento no trabalho e manter o mesmo nível para tudo dar certo. A relação com a bateria é excelente. Sempre estamos juntos, conversamos e vemos o melhor para todo mundo. Não adianta ser bom para nós ou para eles, tem que ser bom para a escola inteira. É isso que buscamos e, graças a Deus, tem dado certo”, comenta Charles.
Já o diretor de carnaval da agremiação também falou sobre a importância do quesito samba-enredo para um bom desempenho da Academia do Samba no carnaval. “Hoje, o samba é mais da metade do desfile. O samba-enredo voltou a ter protagonismo no resultado do carnaval – da forma que deve ser sempre. Estamos muito bem servidos de samba, que é um dos melhores do ano. Isso vai impulsionar a nossa harmonia e a evolução. Acredito que ele pode ser, sim, um diferencial para o Salgueiro”, contou.
Outros destaques
A Bateria Furiosa não poderia ficar de fora dos destaques. Com 180 ritmistas e um andamento entre 146 e 147 BPM, os mestres Guilherme e Gustavo ressaltaram, na prática, o bom entrosamento entre o segmento e o carro de som. Segundo Guilherme, as duas ruas de ensaio impõem desafios que, para ele, contribuem no preparo para a Passarela do Samba.
“Como a Conde de Bonfim é diferente da Maxwell, não ensaiamos nas mesmas condições que é o desfile – o que causa algumas dificuldades. Por um lado isso é bom, porque no dia oficial a facilidade da Sapucaí é muito melhor. Aqui tem curvas e tem horas que a bateria fica muito estreita e a bateria fica muito comprida. Isso atrapalha no andamento e na realização de bossas. Vamos jogando com esses obstáculos, e isso é bom. É um ensaio bom para passar as bossas, fixar na cabeça do ritmista o que iremos fazer na Sapucaí e acertar o andamento. Isso faz parte do trabalho para que no dia a gente consiga chegar em um denominador comum”, analisa o mestre de bateria.
Assim como Charles, mestre Gustavo também enfatizou a boa relação e o trabalho coletivo entre os diversos segmentos da agremiação. Para ele, isso resulta em um ótimo resultado para o carnaval da escola. “A relação é sempre a melhor possível. Nós, o Emerson, Alemão e a galera da harmonia trabalhamos com uma tremenda união. Às vezes até comento com o Guilherme que, graças a Deus, temos um ambiente de trabalho muito assim. Todo mundo se ouve, dá opinião, sai junto para almoçar e trocar uma ideia. É jogado em time, e isso facilita muito o trabalho e faz com que a gente apresente não só o melhor para o Salgueiro, mas , também, nos satisfaz”, completa Gustavo.