Em preparação para o desfile onde celebrará seus 50 anos de história, a Barroca Zona Sul realizou no último domingo um ensaio geral com a presença em peso de sua apaixonada comunidade. A quadra da Faculdade do Samba, localizada no bairro do Jabaquara, foi tomada pelos componentes que esperaram pacientemente a conclusão das gravações da vinheta televisiva para iniciar seu treinamento. Uma apresentação alegre e com samba na ponta da língua marcou o encerramento do fim de semana da comunidade Verde e Rosa, que será a segunda a desfilar na sexta-feira de carnaval, dia 9 de fevereiro, pelo Grupo Especial paulistano com o enredo “Nós nascemos e crescemos no meio de gente bamba. Por isso que nós somos a Faculdade do Samba. 50 anos de Barroca Zona Sul”.

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Fotos: Lucas Sampaio/CARNAVALESCO

Dedicação aos ensaios e dieta ‘raíz’: a preparação de Pixulé

A Barroca Zona Sul já está encravada no coração de Pixulé. O intérprete não perde a oportunidade de exaltar a agremiação a qual irá defender pelo sexto carnaval consecutivo sempre que pode, e fala com gosto a respeito da preparação da ala musical da Verde e Rosa para o próximo carnaval.

“Olha, está de vento em popa. A Barroca ensaia todos os domingos. Antes de começar o nosso ensaio tradicional, tem o ensaio de canto com a comunidade, e pasmem: a comunidade está com samba na ponta da língua. Vocês vão conferir isso no nosso ensaio técnico. Vocês vão ver toda a comunidade cantando samba. E detalhe: não é só a comunidade, o mundo do samba em São Paulo estão todos cantando o samba da Barroca Zona Sul”, declarou o artista.

Pixulé afirma que está marcando presença em todos os momentos da preparação da Barroca para garantir que o conjunto esteja afinado no dia da apresentação oficial.

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“A gente está tendo um ensaio intenso. O nosso diretor musical, o Cacá, ele faz um ensaio separado com os músicos para ver, limpar notas, essas coisas assim, e um ensaio separado com todos os cantores também para limpar finalzinho de notas, coisas assim. Depois faz um ensaio com todo o grupo para gente colocar em prática tudo aquilo que a gente vem ensaiando separadamente. E o Pixulé entra nisso aí porque eu tenho que estar nos dois ensaios. Eu vou no ensaio dos músicos e vou no ensaio dos cantores, e quando é o grupo inteiro eu também tenho que estar presente para passar aquilo que eu quero que eles façam durante o ensaio, principalmente durante o desfile da escola de samba”, explicou.

Questionado sobre seu trunfo para garantir as notas que a Barroca Zona Sul almeja no ano do jubileu de ouro, Pixulé reforçou a tese a respeito da necessidade do descanso, além de dar a dica de uma dieta reforçada e peculiar a qual considera sagrada antes de cantar na Avenida.

“O trunfo é o de sempre, né? A arma do cantor é o sono. Ele tem que dormir para descansar suas cordas vocais, para descansar a sua voz. Eu tenho a minha religião de todo ano quando a gente vai para a Avenida: eu bato uma feijoada com mocotó. Aquela descansada, aquela dormida, e à noite eu estou inteirinho para a Avenida. Alguns vão fazer exercício de voz, vão fazer nebulização. O Pixulé tem a religião de comer um mocotó e uma feijoada. Eu chego inteiro, inteirinho na Avenida e com sangue nos olhos. Ainda tem a caipirinha, que não pode faltar a caipirinha”, concluiu.

Dedicação e originalidade na dança de Marquinhos e Lenita

Ao longo do ensaio, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Barroca Zona Sul, Marquinhos e Lenita, demonstrou disposição e originalidade em seus movimentos, participando ativamente de todo o longo treinamento realizado pela escola. A dupla revelou como está o processo de preparação, que do que já está intenso aumentará ainda mais na próxima semana.

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“A gente tem ensaio uma vez por semana só nós dois, fechados aqui, quando vem só o casal e o coordenador para o ensaio, e a gente tem o ensaio de quadra. Fora isso, cada um de nós tem uma rotina de dança que já ajuda na preparação. A Lenita com as aulas de ballet dela, eu com meu programa, que agora começou os ensaios, também está alucinante. A resistência, essas coisas, a nossa rotina acaba ajudando bastante. E quando a gente vem para cá, nesse um dia que a gente vem para cá, a gente costuma dizer que é para otimizar o tempo. É um dia, mas é um dia que a gente consegue fazer ballet no mesmo”, detalhou Marquinhos.

“Mas ele está sendo humilde, porque é um dia agora. A partir da semana que vem começam os ensaios de quarta. Então, quarta, domingo e as terças que nós temos o nosso ensaio específico de jurado, preparação para a Avenida”, comentou Lenita.

“Aqui de agora para frente vai apertando, né? Dezembro aumenta um pouquinho, janeiro aumenta um montão”, acrescentou o mestre-sala.

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As tão faladas mudanças geradas pelo novo regulamento que passará a valer para os casais em 2024 foram defendidas por Marquinhos e Lenita com a propriedade de quem contribuiu para a construção do texto que estará nas mãos dos jurados.

“Eu fui uma das pessoas que ajudou a redigir. Aliás, todos os casais participaram, só que a proposta que serviu como base eu sou uma das pessoas que ajudou a redigir. O novo regulamento nada mais é do que um esclarecimento da fala para os jurados. Não só para os jurados, mas para a gente também porque muitas vezes as pessoas têm um olhar mais crítico quando o jurado é acadêmico. A proposta desse texto novo foi mais para aproximar uma linguagem que o jurado tenha mais esclarecido o que ele precisa ver da nossa dança tradicional. O segundo é resgatar a dança tradicional do mestre-sala e porta-bandeira, porque esse novo critério pede muita coisa da dança tradicional. Ele pede a forma da porta-bandeira segurar o pavilhão, que era em aberto. O trabalho de perna do mestre-sala, o desenho de pista, o casal tem que se desenvolver bem na pista, a questão de abrir o pavilhão. Isso só contribui para que a gente veja danças realmente com um bom material, tanto para o jurado quanto para o público. A questão do pavilhão que aumentou para 1,20m. Não se aumentou, o pavilhão já era 1,20m no passado, nós que fomos diminuindo. Como qualquer mudança, é o primeiro ano, então a gente só vai entender como isso foi olhado depois da apuração, mas eu acho que é um caminho bom porque a gente teve o treinamento dos jurados e até as perguntas dos jurados já estão muito mais pertinentes do que eram em outros anos. Agora não, agora está mais claro”, declarou Marquinhos.

Gestão de crise é o trunfo da direção de carnaval

Para o carnaval de 2024, a Barroca Zona Sul aposta em uma comissão responsável por cuidar da direção de carnaval. Um dos seus membros, Alex Ferreira, falou a respeito do andamento da preparação da Verde e Rosa para o desfile.

“Considerando que eu também sou diretor de alegoria, no que diz respeito a alegoria, fantasias, eu acho que, dentro do que a gente programou no início, a Barroca deu um ‘start’ muito antes. A gente começou já no final de julho a mandar as fantasias para fazer, e a gente começou os carros alegóricos. Hoje, a gente tem parte do carnaval praticamente pronto, acho que uns 70, 80% de tudo pronto. Quanto aos ensaios, uma coisa que a gente tem visto de positivo, pelo menos no nosso carnaval esse ano, é que o samba teve uma boa aceitação, e isso tem trazido até um público diferente pra escola. A gente tem feito também algumas escalas de ala e ensaios específicos com alas também”, declarou Alex.

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Em relação a ajustes que a escola possa vir a fazer até a chegada dos ensaios técnicos, Alex exaltou o retorno do tradicional ensaio de rua como parte importante para analisar os aspectos a serem melhorados. “No que diz respeito às alas, o feedback que a gente tem dos chefes de ala é que a gente está completo. É claro que uma coisinha ou outra, um ou outro departamento ainda precisa ali de público, mas a gente acredita que até o ensaio técnico, a gente tem a média de uns 5, 6 ensaios, e no dia 9 de dezembro a gente vai fazer uma coisa que já faz um tempão que o Barroca não faz, que é um ensaio de rua, e que também vai ser um termômetro para a gente. O carnaval tem se profissionalizado, essa é uma fala que todo mundo faz nos últimos anos, e a gente sabe que, nessa lógica da disputa, se o Barroca se perder a gente, por décimos, pode se prejudicar. Toda a preparação a gente tem feito”, afirmou.

O maior trunfo que a Barroca Zona Sul aposta para garantir uma vantagem no desfile do carnaval 2024 é se antecipar aos problemas. Com as grandes mudanças previstas em diferentes segmentos, principalmente a respeito de concentração, a Faculdade do Samba está preparando uma estratégia para garantir que tudo dê certo. O diretor explicou detalhes do plano em andamento.

“A gente tem feito uma análise principalmente dessas mudanças de regulamento, e principalmente no que diz respeito à organização, a montagem da escola. Esse é o primeiro ano em que as 14, teoricamente, ou pelo menos na lógica do que diz respeito à oferta da Liga, estão no mesmo patamar. Todas estão na Fábrica do Samba, todas terão as mesmas dificuldades de montagem. Todas partem de uma lógica que é nova para todo mundo. No que diz respeito à nossa posição no desfile, a gente é a segunda escola. E aí, dentro desse pensamento, acho que as escolas que vão desfilar primeiro, elas terão que usar como laboratório, pelo menos como observação, o desfile do Acesso 2, que acontece uma semana antes. Eu acho que ali vai ser o grande laboratório para a gente começar a visualizar. ‘Óh, isso deu certo, isso não deu certo. Acho que a gente tem que mudar aqui, tem que mudar ali’, e uma das estratégias que a gente tem pensado é estudar. Olhar para esse espaço e pensar em N possibilidades de dar errado, principalmente, porque se de novo a gente tiver que entrar para desfilar, deixando o pessoal lá embaixo na Praça Campo de Bagatelle, e as pessoas virem andando para montar a escola, se por um vacilo a gente atrasar em meia hora a nossa montagem, a gente vai ter que atravessar no meio das coirmãs. Acho que esse é um dos trunfos. A ideia é de tentar planejar o máximo de erros possíveis que possam acontecer para que a gente consiga chegar bem e fazer um bom desfile com todo mundo calmo, tranquilo, cantando o samba do jeito visto aí, para que a gente tenha sucesso no final”, concluiu.

Retorno às raízes é a aposta da bateria

Mestre Fernando Negão chega para 2024 com a missão de ditar o ritmo das celebrações dos 50 anos da Barroca Zona Sul. O comandante da bateria “Tudo Nosso” falou a respeito de algumas características diferentes que seus ritmistas levarão para a Avenida no próximo carnaval.

“A gente não vai mudar muita coisa. Os outros sambas eram mais afro, e agora é um samba bem raiz mesmo na escola. A nossa bateria vai ser bem forte, bem raiz, bem química, igual era antigamente. Eu peguei algumas características da bateria que eram antigamente e plantei na bateria”, declarou.

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Questionado a respeito de paradinhas e novidades que estão sendo preparadas, Fernando garante que boa parte do repertório já é conhecido da comunidade da Barroca.

“Tenho várias coisas que a gente está preparando. Inclusive, a gente está testando algumas coisas vistas aí hoje. Breque, paradinha, apagão. Olhar onde se encaixa, onde a escola canta mais, onde a escola canta menos. Mas hoje rolou aqui no ensaio praticamente 90% do que vai acontecer na Avenida”, afirmou.

O mestre aposta no conjunto dos instrumentos para garantir o resultado esperado pela Barroca Zona Sul em 2024. “O nosso destaque vai ser o conjunto. A gente não tem nada específico assim. Estamos priorizando mais o conjunto, a força do nosso conjunto para firmar na Avenida”.

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Questionado a respeito da relação com o carro de som diante das mudanças previstas no regulamento, mestre Fernando Negão exaltou os componentes e apontou a importância dos ensaios nesse processo.

“Antes, o carro de som não era julgado, e a partir desse próximo carnaval vai começar a ser julgado. Agora tem mais responsabilidade ainda entre o conjunto da bateria com o carro de som. Tem que estar bem sincadinho, porque senão aí já viu né. O nosso relacionamento aqui é bem bacana. É bem bacana com o Pixulé, o Cacá, que é o diretor musical. A gente ensaia fora da quadra, a gente tem algumas reuniões. Eles ensaiam, a gente ensaia aqui de quarta-feira junto com a ala musical para deixar tudo bem sincadinho, bem legal”, finalizou.

Um ensaio completo, digno de uma escola cinquentenária

Apesar do fato de completar 50 anos ser um marco relevante para qualquer escola de samba, contar a própria história na Avenida tem sido um desafio malsucedido de grande parte das agremiações que fazem essa aposta. Os resultados obtidos pelo Jubileu de Ouro da Mocidade Alegre, o Centenário da Portela e algumas outras apostas passadas fazem qualquer aniversariante pensar duas vezes antes de assoprar as velinhas sob os holofotes de um Sambódromo.

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Geralmente, as coisas começam a desandar quando o samba, razão maior de existir de uma escola, não corresponde às expectativas da comunidade. Mas o que o ensaio da Barroca mostrou no domingo foram componentes felizes por demais em celebrar a bela história da Verde e Rosa. A bela obra definida foi clamada com vigor por praticamente todos os presentes no cortejo circular que ocorreu ao redor da bateria “Tudo Nosso” do início ao fim do longo ensaio.

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Em dado momento, já partindo para reta final, um ciclo de três passagens do samba ocorreu cantado apenas pela comunidade enquanto os ritmistas se hidratavam. Surpreendente: o canto não caiu e o fluxo das alas ocorreu com a mesma desenvoltura dos primeiros minutos do treinamento. A sensação que um desempenho tão positivo de um ensaio de quadra proporciona é que a Faculdade do Samba parece ter superado o primeiro grande desafio que o tema definido precisava vencer: fazer seu povo não ter vergonha de bater no peito e cantar o orgulho de ser Barroca Zona Sul.