A Acadêmicos do Tatuapé realizou no domingo seu terceiro ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi, em preparação para o Carnaval 2023. Com destaque para a ambientação proporcionada por um conjunto homogêneo, a Academia da Zona Leste encerrou sua passagem aos 56 minutos com grande tranquilidade. A Tatuapé será a segunda escola a desfilar no dia 17 de fevereiro, pelo Grupo Especial, com o enredo “Tatuapé Canta Paraty! Do Caminho do Ouro à Economia Azul. Patrimônio Mundial, Cultura e Biodiversidade. Paraty Cidade Criativa da Gastronomia”.
Comissão de Frente
Não é de hoje que a comissão de frente da Tatuapé parece focar apenas no essencial para cumprir os requisitos do regulamento e garantir a nota 10. A escola conseguiu desenvolver um time muito coeso em todos os segmentos ao longo dos anos, priorizando o sucesso do coletivo, mas ao mesmo tempo sem correr grandes riscos em determinados quesitos.
Há uma protagonista na qual a ausência da fantasia dificulta compreender a função dela na história. Quatro dançarinos carregavam leques com uma espécie de véu saindo da ponta deles, e os outros dez carregavam um tipo de capa com hastes nas mãos que davam um efeito similar ao de asas quando os braços abriam. A coreografia ocorre ao longo de uma passagem do samba, e todos os atores interagem entre si fazendo movimentos com esses adereços.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Ensaio técnico deve ser sempre encarado como uma oportunidade de se preparar para alcançar o mais próximo possível da perfeição. O que Diego do Nascimento e Jussara de Sousa apresentaram no ensaio deste domingo foi tão próximo desta utopia que deixou certa sensação de lamento ao vê-los se afastando ao partir para analisar outros quesitos. Uma dança hipnotizante, com movimentos rápidos e muita vontade de fazer a diferença. Diego e Jussara se encaravam como se estivessem conectados um ao outro pelo olhar. Talvez o mais surpreendente não era algo visível, mas sim audível. Em dados giros realizados, a dupla segurava a mão um do outro após um impacto deveras forte. É preciso mais que treino para chegar a esse nível de interação. Confiança no trabalho um do outro é o elemento que define o alto nível do que apresentaram neste último ensaio. O tradicional pavilhão da Academia da Zona Leste parece estar nas mãos do melhor casal possível.
O casal encerrou o treinamento demonstrando orgulho e sensação de dever cumprido. Diego fez uma análise positiva do desempenho da dupla. “Hoje foi o último jogo-treino. Nós estamos saindo muito felizes com o resultado. Não só o nosso, mas como o da escola por inteiro, porque toda a proposta que queria apresentar foi apresenta e agora é partir para a final do campeonato”, declarou o mestre-sala.
A Tatuapé precisou encarar um começo de ensaio ainda com resquícios da forte chuva que caiu sobre a Dragões da Real, mas Jussara demonstrou estar no controle da situação que vier pela frente. “Acho que é uma preocupação de todos os casais. A gente está muito próximo do grande dia e trouxemos o nosso bom e velho All-Star na mochila, porque nessa época é mês de chuva. A gente já vem preparando para isso. Graças a Deus eu nunca peguei a chuva com o pavilhão molhado, mas dá para levar”, disse a porta-bandeira.
Questionados se estão prontos para repetir o grande desempenho do ano anterior, o casal garante que o foco é total para o dia do desfile oficial. “A gente ensaia e se prepara para isso. Ontem, por exemplo, que era o nosso dia de descanso nós fomos ensaiar porque está chegando o grande dia. Acho que está tudo pronto. É vir concentrado, focado, alegre, feliz e entrar para fazer o que a gente sabe e aguardar o resultado dos jurados”, afirmou Diego.
“A gente vem seguidos de ensaios muito intensos aqui no Anhembi, na quadra, fora da quadra, nossos específicos e é justamente para isso. Mais um ano ajudaremos a nossa escola mais uma vez a fazer o maior e melhor desfile das nossas vidas”, finalizou Jussara.
Harmonia
Um cantar, forte e contagiante. Não há nada mais agradável de se presenciar do que uma comunidade enorme tão apaixonada como a da Tatuapé. Todos os componentes parecem querer dar o melhor de si para alcançar os objetivos da escola, e dão o seu melhor na hora de defender o samba. São centenas de atores cantando de forma uníssona, e atuando em suas alas como parte fundamental do espetáculo. Uma saudação especial para a ala das Baianas. As sagradas mulheres da escola cantavam tão vigorosamente quanto todas as demais alas, e encaravam o público como lenda das sereias que seduzem os marinheiros. Foi como se exercessem um campo gravitacional que induzia quem estava de fora a entrar na Avenida e dançar com elas.
Evolução
A frente da escola apenas parou na hora do recuo da bateria, como de costume. No mais, a Tatuapé demonstrou novamente o porquê de a escola possuir uma das mais competentes direções de harmonia do carnaval de São Paulo. Um andamento fluído do início ao fim, com alas compactadas e sem perder o foco do que realmente importa. O fechar dos portões aos 56 minutos, um acima do tempo mínimo previsto de desfile, diploma o trabalho altamente competente de um time entrosado.
Membro da direção de carnaval, Eduardo Santos saiu da Avenida contente com o que viu e com recebeu de retorno do restante da equipe. “Nossa análise é sempre muito prejudicada, pois não conseguimos ver o todo. Não estamos de cima para ver como fluiu a escola, mas vamos nos baseando nos detalhes que vimos, e aquilo que estão comentando com a gente. Até onde conseguimos entender foi um ensaio muito legal, melhor que o do dia 26 de janeiro, e o nosso objetivo era exatamente esse. Sempre comentamos com nossos componentes, nosso povo, que esse ano só iríamos fazer dois ensaios técnicos, e que no dia 26 teria que ser um ensaio muito bom, e foi. No dia 5 de fevereiro teria que ser melhor, e foi. E agora queremos que nosso desfile oficial no dia 17 seja melhor do que os dois juntos. E se Deus quiser vamos conseguir fazer, estamos trabalhando muito para isso. Nosso componente, nosso povo, está muito ciente da necessidade que temos de fazer um grande desfile, um grande trabalho e certeza que iremos conseguir”, declarou.
Ao avaliar as melhorias realizadas em relação ao outro ensaio, Eduardo acredita que as falhas observadas foram sanadas neste domingo. “Pequenos ajustes, mais ali de harmonia do que qualquer outra coisa. Mas pequenos ajustes que funcionaram, vimos pelo menos isso que procuramos corrigir, pequenas falhas que aconteceram, dessa vez não aconteceram mais. É assim que é, nome disso é ensaio, ensaio é isso, para a gente corrigir, treinar o que vamos apresentar no dia do desfile, para corrigir pequenas falhas e estamos felizes da vida, pois conseguimos fazer um ensaio muito bom”.
Ao falar a respeito do ponto chave do ensaio, o diretor citou uma justa homenagem realizada pela escola a um dos fundadores da Acadêmicos do Tatuapé, Álvaro Casado.
“Nos emocionamos o desfile todo. Cada ala que passa cantando muito, se dedicando a nossa escola, evoluindo bastante, fazendo o tapete das alas. Tudo isso é muito emocionante. Hoje tivemos uma emoção especial aqui, lá na concentração. Passamos a faixa de baluarte da nossa velha guarda, para o Seu Álvaro Casado, que é uma pessoa super importante para nossa escola. É um dos fundadores, foi casado com a irmã do Osvaldo Vilaça, o Mala que foi o fundador da escola. Hoje conseguimos passar essa faixa para ele, baluarte da velha guarda, foi muito emocionante, todo mundo ficou bastante comovido. Seu Álvaro já tem mais de 90 anos, e veio para cá, foi muito bacana, legal. No todo da escola procuramos manter esse equilíbrio, Tatuapé sempre vem com um desfile muito equilibrado, não tem um ponto alto, um ponto baixo, a gente procura ter equilíbrio em tudo que estamos fazendo”, concluiu.
Samba-Enredo
Os sambas escolhidos pela Tatuapé são fruto de um concurso com regras rigorosas de composição. Com a liderança de Celsinho Mody, um dos melhores intérpretes em atividade no Brasil, as obras ganham uma vida radiante, sempre se destacando nas safras anuais, e desta vez não foi diferente.
O samba funciona perfeitamente na proposta do enredo de servir como uma espécie de guia turístico ao longo de uma viagem por Paraty. Causa uma imersão que leva o imaginário a viajar pela cidade histórica, conhecendo suas belezas naturais, história e demais atrações turísticas. Está na ponta da língua de todos os componentes e funciona de forma irretocável como trilha sonora para um desfile como o que ocorrerá no dia 17.
Sempre recebendo com muito carinho os vários pedidos de fotos dos fãs ao final dos ensaios, Celsinho mais uma vez saiu satisfeito da Avenida e avaliou positivamente o desempenho do quesito no ensaio.
“Estou muito feliz. Nós melhoramos pelo menos uns 150% em relação ao outro ensaio. Nós estabelecemos um padrão ainda mais técnico para essa interpretação, e conseguimos cumprir com a nossa meta. Sempre trabalhamos com metas de determinados aspectos de ajustes. Conseguimos enquadrar todos, e estou muito feliz. Quero agradecer a todos os integrantes da minha ala. Dos cantores aos músicos de harmonia. A nossa diretora musical, ao nosso consultor técnico, Fernando Baggio. Agradecer a todos eles, eu estou muito feliz mesmo e satisfeito. Estou tranquilo, a voz está inteira. Graças a Deus, um passeio”, declarou.
Em relação as melhoras observadas se comparado com os ensaios anteriores, o cantor ressaltou os acertos preparados para serem aplicados na Avenida no domingo. “A escola cantou mais. Tínhamos alguns ajustes técnicos, mas muito mais pelo nosso gosto musical, preciosismo entre o canto e a bateria, e o canto da escola conseguimos ajustar. Ajustamos na quadra e testamos aqui, e deu tudo certo. Do que a gente precisava melhorar 150% conseguimos, e agora buscaremos 300% pela equipe”.
Celsinho Mody é uma das grandes estrelas da atualidade e não é por acaso. Se não bastasse o talento que possui para cantar, o artista é um apaixonado pelo Carnaval que reconhece a importância das pessoas para fazer da festa o que ela é. Ao citar o ponto chave do último ensaio, Celsinho destacou justamente este elemento do espetáculo.
“O que eu mais gostei é o seguinte. Carnaval é alegria, e a Tatuapé está conseguindo aliar a técnica com um povo desfilando solto, sambando dentro das alas e cantando livre. É o que a gente quer, queremos ver as pessoas felizes. Dentro do critério de julgamento, viremos buscar o campeonato, mas as pessoas estão felizes. Se o povo está feliz, nós estamos felizes”, concluiu.
Outros destaques
A ambientação proporcionada pelo conjunto do ensaio da Acadêmicos do Tatuapé permite não apenas o componente na pista, mas também o público se sentir imerso na história que a escola está propondo. A bateria “Qualidade Especial” novamente apostou em várias bossas impecáveis, e os apagões na primeira parte do samba ecoam como um grito de celebração.
A Acadêmicos do Tatuapé demonstrou nesta temporada de ensaios técnicos que o susto ocorrido durante o desfile de 2022, e que quase custou a presença da escola no Grupo Especial, está superado. Seria loucura imaginar um time tão competente e determinado fora da elite do carnaval paulistano. Se o enredo for bem contado e a plástica cumprir seu papel, a comunidade da Zona Leste poderá chegar na terça de carnaval com o otimismo do tão esperado resultado nas alturas.
Colaboraram Fábio Martins, Gustavo Lima e Will Ferreira