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Após pancada de chuva, Dragões canta em alto e bom som no último ensaio técnico no Anhembi

Diz a mitologia que dragões são criaturas de aparência reptiliana e imponente que, dentre diversos poderes especiais, dominam o e lançam fogo. Como será que eles, então, reagem à chuva? Ao menos a Dragões da Real, no domingo, no segundo e último ensaio técnico da agremiação no Anhembi visando o Carnaval 2023, teve desempenho bastante satisfatório: a água que caiu do céu nos primeiros vinte minutos da apresentação, além de não apagarem o fogo da Dragões, tornou-se combustível para que os componentes cantassem ainda mais forte o enredo “Paraíso Paraibano – João Pessoa, A Porta do Sol das Américas”.

Harmonia

O primeiro setor da escola, que por vezes acaba focando em coreografias diversas e não no canto, já se destacava também na condução do samba. Tal situação foi se repetindo a cada ala – e, logicamente, em cada setor. Não faltou, em momento algum, força da comunidade ao colocar o samba para frente.

Tal força do canto também foi reconhecida pelas arquibancadas, que cantaram a canção com força. Nas últimas grades do corredor, um reforço de peso para que os componentes seguissem engajados: Renato Remondini, popularmente conhecido como Tomate, sempre pedia mais força no canto para os integrantes – sendo que eles, como já dito, não deixaram de cantar em momento algum.

No corredor da avenida, entretanto, os staff tinham uma preocupação: o alinhamento das alas. Como o canto não era um problema, eles tinham outras situações para prestar atenção. Já no final da apresentação, por sinal, eles se organizaram para buscar algumas placas colocadas ao longo do Anhembi – leia mais na seção “Outros Destaques”. Curiosamente, uma das alas que menos cantou foi, justamente, a bateria.

Escola que costuma executar diversos sambas para esquentar os componentes na Concentração do Anhembi, Renê Sobral explicou como a agremiação lida com tais canções do passado e como utiliza tal situação para motivar os desfilantes: “Eu sou sempre a favor de cantar coisas da escola, como sambas antigos. A Dragões é uma escola jovem ainda, mas ela se renova. Tem muito samba bom que acaba caindo no esquecimento porque não é cantado. Tem sambas-exaltação, tem hino da bateria, das baianas… o que fazemos é elencar algumas coisas que são legais, que o povo vai cantar no esquenta, para a avenida, no dia do desfile. O tempo é curto, mas conseguimos colocar alguns sambas históricos da escola. Na quadra, já fazemos uma grande festa: cantamos coisas de São Paulo, Rio de Janeiro, bloco, folia, tira uma onda e, depois, fazemos o ensaio sério. É mais ou menos essa mesclada que a gente faz”, ratificou.

Klemen também destacou que o ensaio técnico foi bastante produto: “Deixamos o clima e o ritmista mais leves. Já ensaiamos o tempo inteiro, fizemos o primeiro. Então, tudo que tinha para consertar e ensaiamos já ensaiamos. Hoje foi, praticamente, foi um pré-desfile. No dia, esperem muito ritmo, muitas bossas, um show de carnaval e um show de ritmo”, destacou.

A chuva também não assustou Márcio Santana, diretor de carnaval da agremiação: “Primeira fomos premiados com um banho logo na largada. Em muitas situações, isso tiraria um pouco do ânimo dos componentes, mas para a nossa surpresa não. Acho que a água estava tão fria que eles se motivaram a pular e cantar, evoluir ainda mais para se manter quentinhos também”, relembrou.

Samba-Enredo

Bastante leve, a canção escolhida pela Dragões da Real foi, de imediato, abraçada pela comunidade. Mais do que isso: conforme o tempo passa e o carnaval vai se aproximando, ele parece render ainda melhor. Seja graças aos ajustes feitos pela ala musical da agremiação, seja pelo quanto os integrantes respondem a ele.

Mesmo elogiando a canção, Renê Sobral, intérprete da escola, pontuou que ainda podem ser feitas alterações: “Sempre tem algum detalhe que a gente sempre faz uma limpeza ou aprimorando. Nunca está 100%. Alguns erros que foram cometidos, alguns detalhes dos outros ensaios a gente tenta corrigir, porque ensaiar no Anhembi é bem diferente. Hoje, porém, a gente já vem com uma pressão de desfile oficial. Testamos o que a gente quer fazer, porém, se tivermos que fazer alguma limpeza, iremos fazer para desfilar com um grande espetáculo”, deixou no ar.

O rendimento da canção melhorava ainda mais quando a Ritmo Que Incendeia executava alguma convenção: a comunidade comprava a ideia dos ritmistas comandados por mestre Klemen Gioz e subia o som. O ritmista-mor, por sinal, gostou do que ouviu na passarela: “A chuva veio para abençoar, graças a Deus não atrapalhou em nada. Deu mais um gás na escola, a chuva é boa por causa disso. Como toda a bateria, toda escola, faz um primeiro ensaio técnico prontos para errar, acertar, e tudo mais. E conseguimos acertar uns detalhes que ficaram no primeiro, estamos prontos para o grande dia”, pontuou.

Mestre-sala e Porta-bandeira

A exibição de Rubens de Castro e Janny Moreno pode, tranquilamente, ser dividida em duas partes – cada uma com a apresentação em duas cabines de jurados. Nas duas primeiras, a dupla teve giros mais lentos, além de girar um pouco menos que o normal. O motivo era a chuva, forte e que caía insistentemente nos primeiros vinte minutos do ensaio técnico. Ambos, por sinal, estavam dançando bastante próximos mesmo no começo da exibição.

As dificuldades iniciais foram retratadas por ambos em entrevista ao CARNAVALESCO logo após o encerramento da apresentação do casal. “Vou falar uma coisa para quem está lendo a matéria: a única coisa que a gente arrumou foi o sorriso na chuva. Sabe por quê? Foi perfeito. Eu sou chato, ela é chata, mas nós conseguimos executar, com inteligência emocional, todos os movimentos obrigatórios e pré-dispostos para a gente. Então, o único momento que tivemos que arrumar foi o sorriso na chuva, já que eu engasguei com a água”, pontuou Rubens, com um bom humor que se repetiu ao longo de toda a entrevista. Janny aproveitou para relembrar outros trabalhos realizados: “Nós ensaiamos na última quarta-feira e tivemos algumas coisas para arrumar. E, também, tivemos ensaios específicos – foi lá que nós arrumamos tudo. Hoje, enfrentamos um pouco de chuva e dificuldade, mas deu para corrigir”, destacou.

Vestidos majoritariamente de pretos com alguns detalhes em prateado, uma das características mais marcantes dos primeiros momentos de Rubens e Janny foi o spray d’água que saía do pavilhão, sobretudo quando ele era girado. Tal curiosidade, entretanto, em nada atrapalhou a apresentação.

Quem mais sofreu com o spray, por sinal, foi Rubens, que divertiu-se lembrando de um momento curioso: “Não atrapalha! Houve um momento engraçado em que um desses sprays d’água entrou direto na minha garganta. Pela primeira vez na minha nova parceria com a Janny, eu venho cantando e interpretando o samba o tempo todo. E eu tive que parar em uma passagem do samba para desengasgar. Eu sou assim, nós somos assim, somos o Casal Sorriso, casal da melhor idade, dos quarenta anos”, riu. Janny continuou no momento leve: “Para mim foi tranquilo, já que eu não sinto, eu jogo o spray d’água”, riu.

Exibição que, por sinal, ficou ainda melhor a partir da terceira cabine. Bem mais soltos, sem chuva e com a passarela cada vez mais seca, o casal teve ainda mais destaque – incluindo uma apresentação perfeita quanto à sincronia, giros, desfraldamento de pavilhão e graciosidade no quarto setor.

Há uma explicação: com a chuva, a fantasia ficou mais pesada – e, com a chuva parada, pouco a pouco, o tecido foi perdendo peso e o próprio corpo adaptou-se. “Com a chuva, o pavilhão molha e fica mais pesado. Roupa, pavilhão… tudo pesa mais. O vento te faz perder o controle, tem que ter o controle das rajadas de vento, paradas mais leves. O que mais mudou na chuva é a questão de dar um giro e pegar o pavilhão. Não fizemos isso com a chuva: Paramos e nos concentramos antes de pegar. Com a chuva, tudo muda: o peso do pavilhão, da saia, da nossa roupa, os movimentos para ter cuidado com o chão. Essas foram as únicas mudanças”, pontuou Janny, comparando os efeitos da água e das rajadas de vento.

Rubens também teve que fazer adaptações na dança por conta da chuva: Vou complementar com uma mudança particular minha: eu voltei a dançar com ela como se ela estivesse com a fantasia. A saia dela estava tão pesada que causou isso, então eu esperei a saia dela se movimentar para poder sair rodando e fazer os movimentos de perna, giro e etc. Quando eu falo de inteligência emocional, eu falo disso: respeitar o nosso limite, do parceiro e das questões técnicas da dança. E, da minha parte, o empecilho é uma obrigação: passa a ser minha obrigação tomar cuidado com o giro dela. Estar pronto para pegar na mão dela caso seja necessário, para dar uma sustentação necessária. Afinal de contas, eu sou o cavalheiro da dança”, explicou.

De quebra, Rubens e Janny interagiam em diversos momentos com o samba, fazendo passos e movimentos conforme determinados versos eram executados.

Comissão de Frente

Tradicionalmente com coreografias bastante longas e tripés grandiosos, ao menos nos ensaios técnicos esse segmento da Dragões da Real veio bem mais compacto que em anos anteriores. Com uma coreografia simples, marcando cada verso em uma única passada do samba, os integrantes fizeram algo que poucas comissões de frente fizeram nos ensaios técnicos: um ato especial ao chegar nas cabines de jurados.

Também é interessante destacar as roupas utilizadas pelo segmento. Ao todo, foram três combinações diferentes, sendo que nem uma delas era utilizada por um único componente – ou seja, eram sempre por dois ou mais. Fica a dúvida se as fantasias serão distintas também na noite do desfile.

Em determinado momento da coreografia, todos os integrantes ficam paralisados por alguns segundos, algo bastante raro em comissões de frente. Também é importante destacar que eles, curiosamente, também encerraram o desfile, já que os bailarinos voltaram para brincar no final da exibição da Dragões.

Evolução

A imensa pancada de chuva que caiu nos primeiros vinte minutos da apresentação da Dragões da Real, como não poderia deixar de ser, impactou no andamento de toda a escola. No primeiro setor, focado em coreografias, o cuidado para evitar quedas ou escorregões, como não poderia deixar de ser, foi o principal foco – o que, é claro, impacta na cronometragem.

Houve um detalhe entre o casal de mestre-sala e porta-bandeira e a ala subsequente que chamou atenção: por vezes, abria-se um espaço considerável entre eles – que perdurava por um tempo, sumia e, depois, voltava. Fica a dúvida se tal espaço se deu por conta de alguma surpresa que será instalada no local, mas é necessário relatar o que foi visto.

O recuo da bateria, se não foi perfeito, foi algo próximo disso. Vindo logo atrás do carro abre-alas, os ritmistas adentraram o espaço logo na primeira fresta possível, em movimento bastante rápido e claramente bem ensaiado. A corte da bateria soube ocupar bem o espaço deixado até que a ala seguinte chegasse. Foram cerca de oitenta segundos para que todo o processo acontecesse – número bem mais em conta quando comparadas a outras coirmãs, mas, ainda assim, bastante respeitável.

Renê destacou que a chuva também obriga mudanças também no carro de som: “Automaticamente, a chuva atrapalha o folião em si por conta do peso da chuva. Para nós, que cantamos e já temos experiência, não atrapalha muito. Porém, tentamos dar uma pressão a mais porque o barulho da chuva abafa o canto da escola e abafa o barulho da bateria. Temos que, realmente, dar uma pressão a mais para ele entender que colabora e é importante para o desfile da escola”, pontuou.

Tais ajustes já estão na mira de Márcio Santana: “É claro que é sempre possível aprimorar a técnica, mas eu acho que aquilo que era o objetivo principal nós alcançamos, que é a chegada ao ápice do envolvimento da imersão da comunidade para com o samba e para o enredo. Quando você tem uma comunidade envolvida, todo mundo imbuído do mesmo sentimento, vivendo e vestindo o samba, é tudo mais fácil. Acredito que estamos 90% prontos. Os 10% são sempre aqueles ajustes finos finais”, comentou.

Outros destaques

– Em alguns lugares do Anhembi, sobretudo em um espaço destinado a um dos camarotes, diversas frases motivacionais foram colocadas para que os componentes se motivassem. Elas também tinham um motivo mais do que especial: desejar forçar para Tia Cidinha, baluarte da escola que está hospitalizada.

– Sobre Tia Cidinha, Márcio Santana também demonstrou imenso carinho: “Falar da Cidinha é difícil, porque ela é um pouco mãe de todo mundo. A voz até embarga, não tem como. Ela é mãe de uma comunidade inteira, não apenas do presidente. Sem dúvida nenhuma, a comunidade se vestiu ainda mais forte, se colocou ainda mais guerreira, porque sabia que desde o nosso esquenta o céu também estava chorando a ausência dela hoje. Mas não vai chorar no dia do desfile, porque ela estará com a gente”, emocionou-se.

– Durante a pancada de chuva citada no texto, o volume de água era tão grande que a água não escoava. Tal qual uma pista de automobilismo, as pessoas planavam na passarela.

– Um dos destaques da Ritmo Que Incendeia foi uma alteração na bateria, explicada pelo próprio mestre Klemen Gioz: “Foi uma parada da segunda bossa, a bossa lá de baixo. Fizemos um acerto para ficar mais tranquilo de execução. Os ritmistas executarem melhor. E não vamos ter problema com nota ou jurado”, comentou.

– O espírito de fraternidade entre as escolas tomou conta de Márcio Santana ao falar do ponto-chave do ensaio: “Vou falar especificamente da Dragões. O envolvimento, comprometimento de uma comunidade inteira. Sabemos as grandes dificuldades que estamos vivendo no pós-pandemia. Inúmeras quadras de coirmãs vazias, o samba tendo que ser resistência porque ainda fomos apedrejados. Enquanto comunidade, eu fico muito feliz que eu estou vendo meu povo junto. Minha comunidade é chamada de “Gente Feliz” e é uma família muito unida, e sem dúvida nenhuma a gente tem mostrado isso. De modo geral, dos ensaios técnicos, eu acredito que a Liga teve um desafio gigantesco porque esse efetivamente é o nosso primeiro Carnaval pós-pandemia. O Carnaval de Abril fechou um ciclo, ele não pode ser considerado efetivamente o carnaval que desejávamos. Este sim é o carnaval do renascimento, do ressurgimento do samba como modus culturais que move essa cidade. Sem dúvida nenhuma estamos no caminho certo, vamos nos fortalecer cada vez mais e daqui a pouco tem um lindo espetáculo representado por todas essas comunidades, não só a da Dragões. Com certeza mostraremos ao mundo que São Paulo tem muito samba. Que a gente se empenha, se dedica e que a gente vive isso aqui o tempo todo. É paixão demais”, finalizou.

Colaboraram Fábio Martins, Gustavo Lima e Lucas Sampaio

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