A Grande Rio, que será a segunda escola a desfilar no domingo de carnaval, abriu os trabalhos para a busca do bicampeonato, com um empolgado ensaio de rua, na noite de domingo. Com o canto da comunidade afiado, a escola viu a avenida Brigadeiro Lima e Silva encher de caxienses para vê-la passar. O samba, que caiu nas graças do público, foi o ponto alto do “evento”. Nem oito meses completos do desfile consagrador de 2022, lá estavam todos de novo para iniciar mais uma empreitada.

Sim, o ensaio desta noite virou um evento. O domingo foi de sol e tudo o que faltava era um bom samba, enquanto o público podia degustar uma cerveja gelada, adquirida com poucos reais de um dos vários ambulantes presentes ao longo da pista. Ou seja, um dia bem a cara do enredo que a Grande Rio levará para o Sambódromo: “Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, pra te ver, pra te abraçar, pra beber e batucar”. Resumindo, era a melhor pedida para os que gostam de esticar o final de semana ao máximo, em um ensaio que deu sua partida às 21h16, quando Evandro Malandro bradou “é isso”.

E quando o cantor começou, aí ninguém segurou mais. Os componentes cantaram para valer. Se era uma comunidade já conhecida por honrar o quesito harmonia, agora, com o título do carnaval 2022, eles estão ligados no 220V. E sobre o último carnaval, o diretor Thiago Monteiro, respondeu sobre ter ou não algo a consertar do desfile passado: “Não”.

Ele completou, cheio de orgulho, dizendo que eles ganharam dez em tudo (a Grande Rio só perdeu um décimo em samba-enredo. Mais dois décimos perdidos no mesmo quesito foram descartados). E acrescentou:

“A gente tem que manter o que foi feito no último carnaval e é daí para melhor. Com uma nova linguagem, um novo discurso e com uma roupagem daquilo que a gente vem cantando. O que me deixa muito feliz é que eu sinto que a comunidade já comprou e entendeu a ideia de que ela não tem que bater no peito e nem colocar dedo na cara de ninguém. Esse ano, a gente tem que comemorar e levar com alegria. E essa será a nossa força sempre”.

Harmonia

Cantando como sempre, felizes como nunca. Os jurados podem não encontrar dificuldades para encher a tricolor de notas 10. À frente do carro de som, Evandro Malandro tem a maestria de conduzir a comunidade e ditar o tom alegre do ensaio.

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“Essa alegria vem com o cantor brincando com a comunidade. Aquela senhorinha, que já deu a volta na quadra e cantou muito, quer olhar para o cantor e sentir uma energia boa. Então, eu consigo passar isso, modéstia parte. Também para chegar nesse ponto, é preciso ter um carro de som bem preparado. E a gente consegue tudo isso trabalhando com foco”, disse o cantor.

Ao percorrer as alas, não foi possível encontrar queda do canto. Os diretores de ala estavam atentos para puxar a voz de cada um. Percebe-se que estão todos focados no balancê da quintandinha de erê. No verso “Zeca, levante o copo para o povo brasileiro”, tem praticamente uma coreografia obrigatória. É muito difícil alguém, incluindo os que não bebem, ainda que involuntariamente, não levantar o braço nessa hora.

Mestre-sala e porta-bandeira

Daniel Werneck e Taciana Couto apresentaram uma coreografia de quadra. A oficial do desfile, que está pronta, ainda vai ficar guardada, uma vez que os dois preferiram sentir o clima e o andamento da escola neste primeiro ensaio. E, nem por isso deixaram de ser precisos nos movimentos. Ato sublime, a apresentação do casal foi leve e tão sincronizada que até no pulinho aterrissaram juntos.

A respeito da coreografia para 2023, Daniel explicou um pouco da montagem em relação ao samba: “Cada ano é uma proposta diferente. No último carnaval, falamos de Exu e no próximo serão os erês, São Jorge… Então, temos um samba mais solto e mais divertido, o que ajuda no nosso trabalho, por tirar um pouco da nossa zona de conforto”.

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Taciana completou dizendo que o casal faz uma preparação física específica para cada trabalho. “Esse samba realmente puxa um pouquinho mais, mas a gente faz uma preparação para conseguir levar a nossa coreografia. Então, se tiver um cansaço maior, será trabalhado cada vez mais o nosso preparo físico”, explicou a porta-bandeira quando o assunto abrangia o peso de sua roupa.

Samba-enredo

Mas, que bela quitanda é esse samba. Foi o primeiro ensaio de rua, e todo mundo estava com a letra na ponta da língua. O ritmo ajuda na evolução dos componentes que dão ao refrão do meio o seu ápice, e o andamento deixa a melodia suave que permite cantar balançando com a escola. Quem pensa que a Grande Rio vai deixar o “jeito Fafá de tocar” se enganou. É 142 BPM (batidas por minuto) e não se fala mais nisso.

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“As pessoas acham que, para o samba funcionar, a bateria tem que acelerar o ritmo e tocar para frente. Eu discordo. E a Grande Rio foi campeã com um samba que todo mundo achava que deveria tocar muito para frente e eu vim na nossa pegada. A escola respondeu muito bem, pulsou muito bem e cantou muito”, disse o mestre de bateria.

Para finalizar a questão do andamento, Evandro Malando respalda os 142 BPM do Fafá: “Alegria nunca virá com correria. Ela vem com a comunidade aguerrida, com o chão bom, com os componentes focados e com a bateria no lugar certo, com bossas que encantam”, completou o cantor.

Assim como os dois últimos sambas da Grande Rio, este também tem uma melodia que possibilita cantar por muitas horas sem pensar em enjoar. Com a diferença do atual ser mais empolgado, pode se esperar uma escola mais saltitante entre as alas. Mas, isso não é uma crítica às belíssimas canções passadas, embora Exu tenha perdido três décimos dos jurados (2, do 9,8, foram descartados). O cantor falou dessa perda:

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“Foi parte de letra. Um samba que a gente trabalhou muito, assim como foi no pedra preta. Não é achar nada de jurados, mas infelizmente acontece de há mais de 10 anos, ter julgador alfinetando a Grande Rio. Então, tem que ser um pouquinho melhor visto. O músico, músico, que julgar aquele quesito tem que olhar com mais carinho para um trabalho sério que a gente vem fazendo”.

Evolução

Escola pulsando, diretores de ala fazendo tudo andar como o previsto e nenhum incidente. Assim que se resume o quesito evolução deste ensaio de rua. Como eles já sabem o que dá certo, é só repetir o desfile de 2022, que a nota está garantida.

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“Vamos celebrar a vida de Zeca Pagodinho e a escola vai brincar um pouco mais na avenida. Primeiro, a comunidade precisa entender o que ela está cantando. Então, nesse ano tem que ter mais sorrisos, mais alegria de quem tirou o peso das costas. Não é um samba linear, possui muitos pontos de explosão, que nos permite trabalhar esses trechos”, comentou Thiago Monteiro sobre a forma como a escola vai evoluir na avenida.

Bateria

O “Fafazismo” segue na tricolor de Caxias. Já falado do andamento, o perfeccionista mestre de bateria vai para o terceiro carnaval sem nunca ter perdido um décimo. Com tempo menor de preparação para o próximo desfile, ele vê vantagem na concentração de seus ritmistas:

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“Foi praticamente um carnaval em cima do outro. Passou o carnaval de abril e a gente já teve que começar a ensaiar de novo. Agora, a gente começa o ensaio de rua e vai aprimorando até o carnaval”, contou Fafá.

A bateria apresentou bossas e coreografias ao longo do ensaio, em alguns momentos, os componentes se abaixavam e subiam junto com o samba. Evandro Malando contou que está por vir um movimento, que vai levantar a Sapucaí e o mestre não deixou dúvida de que virão surpresas. E, no início dessa preparação, Fafá avaliou o ensaio:

“Foi um ensaio muito produtivo. Temos testados algumas coisas bateria, algumas surpresas que levaremos para o desfile. Espero que, com o passar do tempo vá melhorando. É um ensaio. Teremos muitos erros e muitos acertos. A tendência é só evoluir. Às vezes, eu fico ouvindo as pessoas apontarem erros, mas é um ensaio. Eu erro aqui para acertar no desfile”.

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Agora, está aberto o engradado de preparações definitivas para o desfile de 2023, pelos lados de Caxias. “No primeiro ensaio a gente observa as coisas para organizar. Eu gostei. Mas, a gente tem que acrescentar outras coisas e algumas ideias que vão surgindo. Para o primeiro está muito bom. Mas, a gente tem um longo caminho a percorrer de uma escola que vem se aprimorando. Acho que o samba rendeu muito bem, a bateria também foi bem, o Evandro… Só que, claro que a gente tem muitas coisas a resolver”, avaliou Thiago Monteiro, diretor de carnaval.

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A partir de janeiro, os ensaios da escola serão aos sábados, na expectativa de que o componente vá com mais garra e o público compareça em maior número do que aos domingos. A tricolor quer pista cheia de ponta a ponta.

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A Grande Rio entrará na avenida, com Zeca, depois de Arlindo Cruz com o Império Serrano, um presente para os sambistas, mas há quem reclame da posição (segunda de domingo). Para ficar de patuá para o torcedor, a Viradouro foi campeã nesta posição, em 2020. Da tricolor, já vimos as fantasias, já ouvimos o samba e já conhecemos a equipe. Agora, é esperar para ver o resultado lá no carnaval. Antes, tem o ensaio técnico para os sambistas falarem mais um pouco. E foi isso: 22h20, fim do ensaio.