Sétima e última escola a desfilar na primeira noite de desfiles da Série Ouro, a São Clemente apresentou o enredo “O Achamento do Velho mundo”, desenvolvido pelo carnavalesco Jorge Silveira. Após mais de uma década no Grupo Especial, a Preta e Amarela não perdeu o porte da elite do carnaval e realizou um desfile leve e bem humorado, com destaque para a Comissão de Frente, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira e o bom desenvolvimento e clareza do enredo. A agremiação da Zona Sul mostrou um reencontro com suas características e se colocou na briga pelo título. A irregularidade no canto em alguns momentos pode ser o único senão na apuração. A escola terminou sua apresentação com 55 minutos de duração, já ao amanhecer. * VEJA FOTOS DO DESFILE DA SÃO CLEMENTE

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No esquenta, o intérprete Leozinho Nunes e seu carro de som cantaram o samba-hina da São Clemente. Como curiosidade do desfile, a Preta e Amarela começou a cantar o seu samba do carnaval de 2023 antes da abertura dos portões da pista da Marquês de Sapucaí.

Comissão de Frente

Comandada pelo coreógrafo Lucas Maciel, que também exercerá a função no Paraíso do Tuiuti, a Comissão de Frente da São Clemente, intitulada “De alma leve e de corpo quente”, representou o encontro entre a cultura nativa da fictícia Pindorama com a cultura do Velho Mundo. Para a apresentação do grupo de bailarinos, a escola trouxe um elemento cenográfico (tripé), que trazia de um lado o cenário de Pindorama e do outro o cenário do Velho Mundo.

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Na avenida, a Comissão de Frente abusou do bom humor e da irreverência. 14 dançarinos, 13 homens e 1 mulher, a personagem principal da cena, desenvolveram uma coreografia com muitos elementos da cultura latina, como passos de funk, gestos que remetiam a arco e flecha, entre outros. Em dados momentos, a coreografia casava com a letra do samba , como no “Oi, sumido” e “Flecha que incendeia”. No rumo da trama, os habitantes de Pindorama partiam rumo à Euroca com suas pranchas, que os bailarinos jogavam no chão para simbolizar a chegada.

Quando os nativos chegaram à Euroca, a dança mudava de cena e o tripé virava. Ali, era revelada a presença do “europeu”, representado por Marcelo Adnet. Na dança, ele era colonizado pelos nativos e o ponto alto se dava, quando ele dançava como os outros, “sambando de ladinho” e com passos de funk, os nativos tiraram sua roupa e era formado o baile funk da “Tupinacã 2000”, em referência a uma famosa produtora de funk carioca. A coreografia provocou aplausos do público nos setores em que passou, sobretudo quando aparecia a figura do famoso humorista.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Após um período afastados da Marquês de Sapucaí, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Alex Marcelino e Raphael Caboclo voltou a dançar juntos na São Clemente. Representando “Jaci e Guaraci”, Alex vestiu uma roupa de Sol (Guaraci), em amarelo e Raphaela de a Lua (Jaci), em um figurino todo preto. A lua e o sol eram considerados divindades pelos nativos.

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Na avenida, o casal se mostrou mais uma aposta certeira da escola da Zona Sul. Com uma coreografia muito bela e sincronizada, a dupla se apresentou de maneira segura nos três módulos de julgadores. A dança do casal tinha referências claras a letra do samba-enredo da escola em diversos momentos, como no da “Flecha Certeira”, em que Alex apontava a flecha que carregava na fantasia para sua parceira. Em um momento de muita delicadeza da dança, o mestre-sala jogava diversos beijos a sua porta-bandeira. Raphaela Caboclo se destacou também por fortes giros na pista.

Harmonia

No quesito harmonia, a São Clemente apresentou o único senão do seu desfile, que pode vir a ser seu calcanhar de aquiles na disputa pelo título na apuração. Apesar não passar com alas sem cantar a totalidade do samba, o desempenho da escola apresentou uma certa irregularidade, com alguns componentes de alas cantando somente os refrões do Samba-enredo, sobretudo nas alas 4, “Turispajé” e 13, “Respeito às matas”. De positivo, o forte canto apresentado pelas Alas 1, “Canoas ao mar” e as duas últimas alas da escola, 19, “Um baile pra Jaci” e 20, “A pajelança assim se fez”. O refrão da samba escola, sobretudo a parte do “samba de ladinho”, era bem cantada pelos componentes e “pegou” no público da Sapucaí, com muitos realizando coreografias nesse momento.

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Enredo

Em resgate às características irreverentes da São Clemente, o enredo “O Achamento do Velho Mundo” propôs uma subversão do Descobrimento do Brasil. Na história, os povos originários do continente americano partiram rumo às terras europeias para descobri-las. Na avenida, o carnavalesco da Preta e Amarela, Jorge Silveira, realizou uma grande viagem lúdica e divertida que se passou em um período de um dia começando na manhã, com os indígenas partindo para o mar com 13 canoas assim que o Sol aparece, e terminando em uma grande festa à noite, nas novas terras chamadas de Euroca, em vez de Europa. Durante o desfile, a diferença entre as culturas dos dois povos foi bem explorada de maneira leve e bem humorada.

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O enredo da São Clemente foi contado em três carros e 21 alas, ao todo. A história foi dividida em três setores: O primeiro, “Porto de Pindorama”, com a partida dos tupis em treze canoas a partir da Praia de Botafogo, bairro da escola; O segundo, “Espelho d’agua se abriu, já serenou, partiu”, com a chegada ao Velho Mundo, batizado de Euroca; e o terceiro, “Valeu, meu irmão, por chegar de peito aberto”, com o festejo dado em Pindorama, com um baile funk pelo congraçamento dos dois povos, como uma mensagem de tolerância e respeito às diferenças.

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A leitura do enredo da São Clemente se mostrou de maneira bastante clara na avenida. As fantasias e alegorias da escola possuíam leitura clara e evidente aos olhos, como por exemplo na ala 8, “ Nativos embrulhados como frutas”, que possuíam uma banana em suas fantasias e no carro 3, “Vem pro Batidão”, como esculturas de índios portando headphones e os famosos paredões de bailes funks na frente da alegoria.

Evolução

Leve, fluida, divertida e bem humorada, como pede o enredo, assim pode ser definida a evolução da São Clemente na avenida Marquês de Sapucaí. Ao longo dos 55 minutos de desfile, os componentes da escola evoluíram de maneira brilhante na avenida, com muita interação com o público, brincadeiras e coreografias espontâneas, como no “samba de ladinho, vem pro batidão” da letra do samba-enredo da escola. A ala de passistas da São Clemente, vestidos de “Embaixadores de Pindorama”, em tons de verde e amarelo, foi destaque no quesito pela alegria, samba no pé e desenvoltura ao longo da pista.

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Alegorias e Adereços

A São Clemente levou para a avenida três carros alegóricos, além do elemento cenográfico da Comissão de Frente. De modo geral, as alegorias da escola cumpriram o papel de passar de maneira clara a história contada no enredo e não apresentaram graves problemas de acabamento. O abre-alas da escola, o “Porto de Pindorama”, utilizou primordialmente o amarelo da escola, em tons bem cítricos, com um grande letreiro com o nome da escola à frente e uma escultura com um óculos de sol no rosto, para representar Pindorama, de onde partiu os nativos para descobrirem o Velho Mundo.

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A segunda alegoria, “Euroca”, apostou em estética diferente do primeiro carro da escola para abordar o Velho Mundo. Com elementos que remetiam ao luxo, como lustres nas laterais e cores mais frias, a alegoria também ganhou destaque na avenida. A terceira e última alegoria, “Vem pro batidão- Um baile para Jaci”, representou o baile funk dado pelos nativos para Jaci, ao estilo do verão de Botafogo. O carro passou a mensagem de maneira bem clara, com componentes vestindo shorts jeans, bonés e tops estilizados e um grande paredão de baile funk à frente da alegoria.

Fantasias

No quesito fantasias, o carnavalesco Jorge Silveira seguiu a tônica do desfile e do enredo da São Clemente, de fácil leitura e entendimento e referências claras. As fantasias da escola apresentaram bom gosto e clareza. No primeiro setor, a aposta do carnavalesco foi por cores mais quentes, com predominância de tons de amarelos cítricos para representar Pindorama, com destaque para a ala de baianas , de “É verão em Pindorama”, em uma fantasia bem tropical amarela. No segundo setor, para entrar na representação do Velho Mundo, as fantasias da escola começaram a ganhar tons mais frios, com muito verde, porém sem perder a clareza na leitura. Já no terceiro e último setor, quando Pindorama e o Velho Mundo se encontram, as cores das fantasias da escola ganharam maior diversidade, com destaque para a ala “Cacique recebe a chave do Velho Mundo”, em um belo figurino e uma chave de acessório de mão. O amanhecer ao final do desfile da escola comprovou a aposta acertada do carnavalesco na escolha de cores dos figurinos da escola.

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Samba-Enredo

Composto por Marcelo Adnet, André Carvalho, Gustavo Albuquerque, Pedro Machado, Fabiano Paiva, Luizinho do Méier, Gabriel Machado, Baby do Cavaco e Hamilton Fofão, o samba-enredo da São Clemente se provou um acerto na avenida, sendo muito funcional para a proposta da escola de um desfile leve e animada. Como referências claras do enredo para o público, o refrão principal do samba foi a parte mais cantada pelos componentes da escola e pelo público nas arquibancadas. O desempenho do carro de som clementiano, comandado por Leozinho Nunes, que se vestiu de indígena na avenida, foi fundamental para o bom desempenho da obra, animando os componentes das alas da Preta e Amarela.

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Outros Destaques

Comandada pelo experiente Mestre Caliquinho, a “Fiel Bateria” veio fantasiada de “Cacique” no desfile da São Clemente. A rainha de bateria da escola, Raphaela Gomes, representou “A mais bela filha do Cacique”. Raphaela é filha do presidente Renato Almeida Gomes, o “cacique” da São Clemente. Ao longo da avenida, os ritmistas da escola apresentaram bossas que se mostraram coerentes e de boa aceitação pelo público, além de sustentar com primor o andamento do samba da escola.