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Baterias e intérpretes cariocas conquistam público da Festa das Campeãs na Mocidade Alegre; organização e receptividade são elogiadas

Intercâmbio entre escolas de samba do São Paulo e do Rio de Janeiro é muito valorizado por segmentos de Unidos do Viradouro e UPM em evento na Mocidade Alegre

Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Às 05h10 de um domingo, São Paulo costuma estar vendo uma série de jovens saindo de bares, baladas e festas por meio do metrô, dos trens (que já estão em funcionamento no horário) e dos ônibus – que são gratuitos no primeiro dia da semana. Neste dia 28 de abril, entretanto, ninguém que estava no Limão e na Freguesia do Ó, na Zona Norte da cidade, queria sair de onde estava. Na Arena Morada, quadra da Mocidade Alegre, acontecia a Festa das Campeãs, organizada pela escola anfitriã e com a presença de diversas agremiações – duas delas cariocas: a Unidos de Padre Miguel e a Unidos do Viradouro – juntamente com a instituição paulistana citada, a Estrela do Terceiro Milênio e a X-9 Paulistana, todas elas vencedoras dos grupos nos quais estavam.

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No exato minuto destacado no começo deste texto, ouviu-se a já histórica introdução de “Arroboboi, Dangbé”, samba da Unidos do Viradouro que sagrou-se campeão do carnaval do Rio de Janeiro de 2024. Absolutamente todos os presentes na Arena Morada cantaram junto de Wander Pires, intérprete da escola niteroiense, do “Ê alafiou, ê alafiá” até o final do refrão da canção em uníssono. Tal momento é apenas um dos tantos nos quais as escolas do outro lado da Via Dutra encantaram quem lotou o espaço da atual bicampeã de direito do carnaval paulistano.

Musicalidade em evidência

Para boa parte dos foliões entrevistados pelo CARNAVALESCO, o grande destaque das agremiações cariocas estava na ala musical – ou seja: sambas-enredo, bateria e intérpretes. Residentes em Piracicaba (cerca de 170 quilômetros distante), o casal Henrique (43 anos, vendedor) e Milene Becaro (42 anos, comerciante), ambos torcedores da Mocidade Alegre, se surpreenderam com os ritmistas das agremiações do Rio de Janeiro: “Dá pra sentir que a bateria deles é diferente, tem uma energia especial. A primeira batida é diferente, tem pegada e sentimento”, descreveu Milene. Já Henrique fez um elogio para a Guerreiros, bateria da UPM: “Achei muito top, não conhecia e gostei muito do que ouvi”.

Os ritmistas também foram a principal diferença sentida por Rodrigo Maciel (26 anos, engenheiro civil) e Leandro Leal (27 anos, dentista), ambos também torcedores da atual bicampeã de direito do carnaval paulistano: “Eu não sou ritmista, mas senti muita diferença no surdo de segunda das baterias cariocas”, destacou Rodrigo. Leandro completou: “Acho que as duas baterias são bem completas, me parece que dá pra ouvir melhor cada um dos instrumentos – e, aí, dá pra sentir melhor a bateria que as paulistanas”, destacou – citando, também, a Furacão Vermelho e Branco, da Viradouro.

Torcedor do Vai-Vai, Rafael Lopes, que tem 20 anos e trabalha no Instituto Dante Pazzanese, se atentou para outro dos grandes destaques das escolas de samba cariocas ao falar sobre as diferenças entre as apresentações: “Sei que cada escola tem o seu show, gostei do que vi e ouvi da Unidos de Padre Miguel, mas a Viradouro tem o Wander Pires… não tem como, ele é o homem”, afirmou, fazendo referência ao intérprete da agremiação niteroiense – que também já cantou na própria Saracura, Acadêmicos do Tatuapé e Unidos de Vila Maria em São Paulo.

Músicos em pauta

Citado por um folião, Wander Pires destacou o quanto o intercâmbio entre escolas de samba paulistanas e cariocas ajuda o carnaval como um todo: “A gente acaba se tornando mais conhecido, dá mais experiência para a gente – que se reformula a cada ano, já que temos que fazer um bom trabalho em diversos locais. São Paulo tem um grande carnaval, assim como o Rio de Janeiro e outras localidades”, destacou.

Intérprete principal da Unidos de Padre Miguel no evento (o oficial da agremiação, Bruno Ribas, se recupera de uma cirurgia), Juan Briggs “Hoje em dia é bastante normal esse intercâmbio entre intérpretes – o próprio Igor Sorriso cantará a Mocidade Alegre e os Acadêmicos do Salgueiro em 2025. É só a gente se cuidar direitinho, fazer o trabalho certinho, ver o sorteio, que dá tudo certo”, pontuou.

Evento de sucesso! Casa cheia e espetáculos das escolas marcam Festa das Campeãs na Mocidade Alegre

Principal comandante da Guerreiros, Mestre Dinho também acredita que o intercâmbio é benéfico para todos os envolvidos: “Acho que é um privilégio muito grande, já que o samba não tem fronteira e nem uma única raiz. Essa junção de Rio de Janeiro e São Paulo, além de outros estados, é importantíssimo para todos. Venho sempre para São Paulo, tenho amigos aqui, e a porte está sempre aberta. Temos que ter essa sincronia e essa harmonia entre todos os segmentos em todos os sentidos”, comemorou.

Dos mais experientes e admirados comandantes de ritmistas do carnaval brasileiro, Mestre Ciça, da Furacão Vermelho e Branco, concordou com Dinho: “O intercãmbio é maravilhoso, São Paulo está em um patamar muito elevado também em baterias, com ótimos mestres. Não deve nada a ninguém do Rio de Janeiro. Estamos sempre aprendendo, de um lado e de outro. Essa amizade não pode parar nunca, essa troca de mensagens entre baterias é muito importante”, destacou o profissional que foi muito apupado e aplaudido pelos presentes quando teve o nome anunciado.

Os sambas-enredo também tiveram destaque quanto à comunicação com o público presente na Arena Morada. Além dos sambas campeões em 2024, cabe destacar o canto forte da quadra na execução de “Viradouro de Alma Lavada” (que rendeu o segundo dos três títulos da agremiação, em 2022″, “E a Magia da Sorte Chegou” (Viradouro 1992) e “Ossain: O Poder da Cura” (UPM 2017).

Duplas afinadas

Os dois shows das escolas de samba cariocas também tiveram a presença do pavilhão oficial de cada uma delas. A Unidos de Padre Miguel trouxe o principal casal de mestre-sala e porta-bandeira do Boi Vermelho, Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira, que também destacaram o quanto o intercâmbio entre os duos também existe – e é muito bom para todos os envolvidos: “É muito bonito de se ver essa união, é importante até para a progressão da nossa arte e da cultura dentro do carnaval. Essa parceria e troca de experiências existe (eu, particularmente, tenho muitos amigos em São Paulo e Brasil afora) e todo conhecimento é muito válido”, destacou Vinícius. Jéssica pontuou o peso que ambos carregam para fins de apuração: “Também acho essa união muito importante, já que nós somos um quesito inteiro composto por duas pessoas apenas. Quanto mais a gente se unir e se falar, é importante”, afirmou.

A Viradouro chegou a São Paulo com Thiaguinho Mendonça e Amanda Poblete, segundo casal da agrmeiação – e que, por dois anos, foram os principais guardiões do pavilhão da União da Ilha do Governador. E, para eles, a troxa de experiências vai além do profissional – quando a reportagem chegou para entrevistá-los, ambos estavam conversando com Diego Motta, primeiro mestre-sala da Mocidade Alegre: “Eu e o Thiago temos bons amigos em SP, principalmente do nosso segmento. Vejo esse intercãmbio da melhor forma possível, é maravilhoso estar interagindo com eles. Gostamos de vir para cá também para curtir, mas também para dar aula – recentemente, estivemos aqui dando uma aula intitulada ‘Bailado em Conexão’, com mais de quarenta alunos. É algo muito interessante, já que é a mesma arte vista e executada de formas diferentes, então sempre buscamos entender como funciona aqui – buscando algo para levar para o Rio de Janeiro”, contou.

Thiaguinho também deu um importante testemunho sobre o tema: “É importante termos essa relação não apenas com os casais, mas com todos de São Paulo. Quando cheguei ao Grupo Especial do Rio de Janeiro, em 2017, [na Imperatriz Leopoldinense], depois de entender meu lugar na escola, eu vim para São Paulo fazer aula com muita gente daqui, quis aprender como acontece o bailado aqui. Nesse período, começou uma amizade muito forte – que dura até hoje. Trocamos vídeos e mensagens, tento entender tudo que acontece e vamos trocando ideias. Acho importante a ligação com o carnaval de São Paulo”, refletiu.

Shows completos

Outro ponto muito elogiado pelos paulistanos foi a magnitude de cada uma das apresentações cariocas. Mestre Dinho destacou que tal situação é normal para a Unidos de Padre Miguel: “Onde a UPM passa, ela faz um grande show. A gente tem uma bateria sólida, um canto muito bom, ala das baianas, ótima Harmonia. Podem ter certeza que fizemos o nosso melhor”, pontuou.

Jéssica concordou com o mestre de bateria da própria agremiação: “Encantamos do começo ao fim. Foi tudo muito pensado com muita cautela, atenção a cada detalhe, cada paradinha na bateria, cada coreografia de passistas, roupas… tudo para que a gente conseguisse interagir, convidar, brindar esse público”, rememorou.

Juan preferiu focar na força da comunidade da Vila Vintém: “Trouxemos uma quantidade bacana de gente, a gente veio pesado. Tem algo que encanta muito no nosso show que é o samba de Ossain. Todo mundo conhece, todo mundo canta, todo mundo pula. E o Boi Vermelho, que, em qualquer lugar que a gente vai, é um estouro”, disse.

Ao ser perguntado sobre a apresentação da Viradouro, Mestre Ciça exaltou a unidade niteroiense: “O samba desse está sendo bem cantado, também teremos o samba da carta [“Não há tristeza que possa suportar tanta alegria”, 2022], esse é um samba que mexe muito com as pessoas da escola e com quem gosta de carnaval. A Viradouro é o todo, trouxemos tudo”, pontuou.

Amanda concordou com o mestre de bateria: “O nosso show é super completo, ele por inteiro é fantástico. Tem vários momentos, cada samba tem um momento diferente para chamar atenção. A cereja do bolo, porém, é o nosso samba campeão, que eu acho que vai levantar todo mundo”, disse, antes de ser complementada por Thiaguinho: “Essa é a energia de Niterói, meu parceiro. A gente atravessou a Dutra não à toa, a gente trouxe uma energia para contagiar todo mundo que estiver assistindo”, energizou.

Organização, feijoada e receptividade elogiadas

Realizada em uma das quadras mais novas do carnaval de São Paulo (inaugurada em setembro de 2022), a Festa das Campeãs também chamou atenção dos cariocas pela dinâmica do evento: “Até a nossa chegada aqui, foi tudo perfeito. Eu só tenho elogios a fazer por onde passei”, enfatizou, também citando a recepção que teve.

Ao contrário do que pensava Nelson Rodrigues (que, certa vez, afirmou que “Não há pior solidão que a companhia de um paulista”), a hospitalidade da cidade também foi elogiada: “Fui muito bem recebida, antes daqui passamos na Fábrica do Samba e comemos uma feijoadinha deliciosa, todos estão muito carinhosos com a gente. Está tudo maravilhoso”, revelou Jéssica. Vinícius assentiu: “O pessoal foi muito receptino, externo aqui meu agradecimento em nome da Unidos de Padre Miguel e também da Unidos do Viradouro. Está sendo tudo muito legal, até tomei um susto com a casa tão cheia, o pessoal batendo foto com a gente”, surpreendeu-se.

Outro a citar a feijoada na Fábrica do Samba foi Mestre Ciça: “Está tudo ótimo, não está faltando nada para a gente. A estrutura é bacana para caramba, a rapazeada jantou a feijoada e elogiou bastante. O meu caso é diferente já que eu cheguei aqui na quinta-feira para passear um pouquinho, foi tudo muito bom”, comentou.

Juan foi na mesma linha: “A qualidade do evento é fantástica, desde a recepção e a estadia para as outras quatro campeãs do carnaval. É a primeira vez que a UPM está saindo do Rio de Janeiro e a experiência está sendo maravilhosa. Estão todos de parabéns”, finalizou.

Ao citar momentos nos quais sentiu a quadra com mais energia, Wander se alongou: “Eu fiz um teste na hora do meu grito de guerra e a galera veio junto – tanto que eu fiz duas vezes. Tiveram outros: a hora que a gente cantou a introdução do samba de 2024, o pessoal foi ao delírio, a Morada veio junto com a gente. Também fiquei feliz quando a presidente Solange [Cruz Bichara Rezende, da Mocidade Alegre] anunciou a escola e me anunciou, senti a emoção das pessoas. Tenho uma gratidão muito grande por momentos assim com os meus fãs e escolas que passei. É o meu povo”, tocou-se.

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