A Beija-Flor escolheu na madrugada desta sexta-feira o samba-enredo da parceria de Léo do Piso, Beto Nega, Manolo, Diego Oliveira, Julio Assis e Diogo Rosa para o Carnaval 2023. Vice-campeã de 2022, novamente, a azul e branco prepara um enredo de forte apelo popular e com pegada crítica. A escola pretende levar para a avenida um novo olhar sobre a Independência do Brasil, através do enredo: “Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência”, de autoria dos carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues. * OUÇA AQUI O SAMBA-ENREDO CAMPEÃO
“É uma coisa muito significante esse título aqui pela Beija-Flor, nós tivemos uma safra muito boa, 23 sambas na disputa, chegamos com três maravilhosos sambas e qualquer um deles que fosse escolhido a escola iria estar muito bem representada. Fico muito honrado, foram muitas noites de sono sem dormir, muita luta, muito cansaço, para que a Beija-Flor tivesse o melhor hino para o carnaval 2023. Ela escolheu nosso samba que agora é da comunidade nilopolitana, deixa Nilópolis cantar. Virei bicampeão nesse solo sagrado”, comemorou o compositor Léo do Piso.
“Ganhar um samba na Beija Flor é uma emoção muito grande e uma responsabilidade desde o início da feitura do samba até depois do resultado. O resultado é isso aí, “deixa Nilópolis cantar”. É minha sétima vitória na agremiação e o diferencial que nos levou à essa conquista é o pensamento da escola e comunidade na história do povo sofrido e guerreiro”, contou o compositor Diogo Rosa.
Diretor de carnaval da Beija-Flor, Dudu Azevedo disse que após o vice de 2022 a preparação será ainda maior para conquista do título. “Em 2022, nós perdemos pontos em dois quesitos que foi alegoria e comissão de frente. Para o próximo carnaval, vamos buscar esses pontos. Em alegorias, foram perdas de ponto por erro nosso. Estamos em cima disso. Do lado de cá, fizemos algumas alterações do time e vamos trabalhar pesado nesse aspecto para o próximo ano. Vamos fazer nosso primeiro ensaio de quadra na próxima quinta depois da gravação do CD, que será dia 27. Dia 3 de novembro começam os ensaios de quadra e a expectativa é de que no último sábado do próximo mês vamos para a rua pela primeira vez. E aí após o final do ano, seguimos direto até o carnaval”, explicou.
O carnavalesco André Rodrigues, que assina o desfile com Alexandre Louzada, revelou o queo nilopolitano pode esperar do desfile do ano que vem. “O nilopolitano pode esperar um carnaval que fale sobre as lutas diárias do povo que representa essa comunidade. Eu diria que o desfile em seu conjunto de alegorias e fantasias será petulante, como disse a tia Débora, presidente da velha guarda. Petulância da estética e dos signos que serão representados. Estamos focados e trabalhando para entregar um carnaval de alto nível e que seu discurso reverbere por muito tempo”.
Louzada completou: “A Beija-Flor é uma escola representada pelas suas diversas vivências por meio de projetos sociais de cada um que faz parte dessa comunidade. E levantar essa criticidade é uma característica da escola já muitos anos, sempre foi crítica. Eu julgo o segredo do sucesso do enredo pela paixão mesmo de cada componente pela escola e do orgulho que sentem. Dessa forma conseguimos desenvolver um trabalho super empolgados. É a vez do André Rodrigues, me sinto super confortável. Respeitando a ideia do autor eu proponho as minhas sugestões, discutimos e encontramos a melhor maneira de inserir. Ele fez a proposta do enredo e agora estamos trabalhando para entregar o melhor”.
Mestre Rodney fez um balanço da bateria no desfile de 2022 e projetou o ritmo da “Deusa da Passarela” no ano que vem.
“Em 2022 fizemos um carnaval maravilhoso. A escola toda, para falar a verdade, tanto que conquistamos um vice campeonato. Agora é intensificar os trabalhos para em 2023 e chegarmos mais uma vez fortes. Em time que está ganhando não se mexe. É manter o trabalho e buscar trazer o caneco para Nilópolis”.
Rodney falou também da mudança à frente bateria com a saída de Raissa e a entrada de Lorena.
“A Raissa fez um trabalho maravilhoso na frente da nossa bateria. Mas agora a Loreninha está chegando com força total. É cria nossa. Nasceu aqui na quadra A Lorena já sabe o que fazer, sabe cultuar nosso pavilhão e nosso chão. É uma menina iluminada”.
A porta-bandeira Selminha Sorriso conversou com o CARNAVALESCO sobre o enredo de 2023, a parceria com Claudinho e revelou que o casal nilopolitano ainda estuda seu posicionamento no desfile.
“Quando eu conheci o enredo, eu pensei que tinha muito para estudar. Eu só não sabia que seria tão rico. É inacreditável a quantidade de lutas, histórias mulheres de destaque que foram invisibilizadas. Sobre minha parceria com o Claudinho, não temos acomodação, buscamos trabalhar diariamente para defender a ancestralidade de mestre-sala e porta-bandeira. Para 2023, ainda estamos estudando nossa posição no desfile, a fantasia está em processo de produção, e sabemos que é leve”, garantiu.
O mestre-sala também falou sobre o enredo e a parceria com Selminha. “A Beija-Flor tem a característica de gritar o povo. É só ver como nossos enredos são ao longo dos anos. Temos esse traço de dar dignidade e esse ano não vai ser diferente. O segredo da parceria com a Selminha é humildade. Mas também é preciso ter foco e estar com a família Beija-Flor. São todos juntos e unidos com garra e determinação”, garantiu Claudinho.
Show em Nilópolis
A Beija-Flor montou uma estrutura especial para a final, um grande palco foi instalado no centro da quadra, nele todos os segmentos da escola se apresentaram, durante mais de uma hora vários sambas históricos da agremiação foram cantados. Claudinho e Selminha Sorriso bailaram com a garra de sempre e arrancaram muitos aplausos de todos os presentes.
Após o show da escola, foi a vez da coroação de Lorena Raissa como rainha de bateria da Soberana. Vencedora do concurso “rainha da comunidade”, ela foi coroada por sua mãe, Aline Souza, e por Raissa de Oliveira, que deixou o posto.
Aieny Mendes e Flávia Custódio, finalistas do concurso, foram coroadas princesas da ala de passistas. Nesse momento grandes musas do carnaval carioca subiram ao palco. Quitéria Chagas e Evelyn Bastos entregaram a faixa para Aieny Mendes, enquanto Bianca Monteiro e Mayara Lima entregaram para Flávia Custódio, todas foram aclamadas pelo público.
“Foi incrível ser coroada pela Raissa recebendo a bênção da minha mãe. Para mim, ser rainha da bateria é apresentar a bateria, samba no pé e o amor que temos pelo nosso pavilhão. E que eu consiga ajudar a conquistar mais pessoas para o nossa escola, Beija-Flor”, disse Lorena.
O momento de maior surpresa ficou reservado para o final já que ao longo da semana Neguinho da Beija-Flor informou que faria um grande anúncio durante a final. O mistério foi revelado quando o intérprete convidou a cantora Ludmilla para subir ao palco e cantar com ele. Ela agora faz parte do carro de som da escola e desfilará ao lado de Neguinho no próximo ano.
Ao CARNAVALESCO, Neguinho da Beija-Flor falou sobre a parceria com Ludmilla para o desfile do ano que vem.
“A participação das vozes femininas no carnaval começou com Elza Soares na Mocidade Independente de Padre Miguel, aí depois foi sendo banido, foi sumindo a voz feminina do carnaval. A Beija-Flor tem sambas que pedem a voz feminina, de repente uma nota aguda que pode ir lá pra baixo, a voz feminina segura os graves. A Ludmilla negra, veio também da origem do samba, das comunidades, favelas, hoje é a rainha, o motivo desse convite é que eu tenho certeza que ela como rainha do funk e do pop, agora também no samba, vai acrescentar positivamente com a participação dela no carnaval”.
Análise das apresentações dos sambas
Parceria de Junior Trindade: o primeiro samba a se apresentar teve no carro de som um trio de peso, Wantuir, Igor Sorriso e Igor Vianna. Do início ao fim foi uma apresentação impressionante, a torcida tomou conta da quadra e cantou o samba a capela antes da apresentação começar. Durante todo o tempo a obra foi cantada a plenos pulmões, não só pela torcida, mas também por todos os presentes na quadra. Os refrões eram cantados com tanta força que em alguns momentos os cantores não eram ouvidos. A parceria apostou também no uso de bastante pirotecnia para engrandecer ainda mais o show.
Parceria de Theo M. Neto: o segundo samba a se apresentar contou com Emerson Dias no comando do carro de som. Em comparação com a parceria anterior, foi possível perceber um número menor de torcedores, mesmo assim o início da apresentação foi bem satisfatório, porém, com o passar do tempo a obra perdeu força e não conseguiu sustentar o canto do início. Vale destacar que a parceria levou vários personagens da história do Brasil para o palco, fazendo uma alusão ao enredo.
Parceria de Léo do Piso: o último samba da noite teve como intérpretes Tinga e Pitty de Menezes. Foi sem dúvida a parceria com o maior número de torcedores e desde a entrada na quadra já estavam com o samba na ponta da língua. Durante os 20 minutos de apresentação o que se viu foi pura catarse, além da torcida, outros presentes na quadra também cantavam com muita empolgação, a parte que diz “deixa Nilópolis cantar” foi gritada a plenos pulmões. O canto se manteve extremamente vigoroso do início ao fim, foi uma apresentação fortíssima.