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Artigo: ‘Vejo alguns sambistas que apontam excesso de enredos com temáticas afro, indígena ou nordestina; Em que mundo estão?’

Alberto João, responsável pelo site CARNAVALESCO, aborda o comportamento de alguns sambistas nas redes sociais sobre as temáticas dos enredos nos últimos anos

Confesso que tento entender pessoas que apenas curtem carnaval de escola de samba falarem em enredos repetitivos, desfiles iguais e outras narrativas que desfavorecem os artistas e a cultura popular. Agora, o que me revolta é ler opinião de “gente nossa” com as mesmas asneiras.

Fotos: Riotur/Divulgação

Quando vejo essas pessoas escrevendo que não aguentam mais temática afro, nordestina e indígena, eu penso como elas descobriram essa paixão que dizem ter pelas escolas de samba. Não cabe gostar de carnaval e achar essas temáticas repetitivas e que deveriam ficar fora dos desfiles.

Desde que meu pai me apresentou ao mundo das escolas de samba, lá pelos meus 10 anos de idade, que aprendo constantemente com os enredos e desfiles. Como branco, privilegiado, fui criado no catolicismo, e, pela vivência no mundo do carnaval, sempre confrontei preconceitos sobre religião de matriz africana e escolas de samba. A minha infância e adolescência foi baseada nos ensinamentos dos artistas das escolas de samba. Agradeço e muito aos meus pais.

A minha formação adulta ainda recebe cada vez mais estimulos culturais e educacionais vindos dos saberes das escolas de samba. Acima de tudo, respeito e celebro, tudo que aprendi assistindo na Avenida aos desfiles ou vivendo nas quadras.

Por isso, fico revoltado, triste e decepcionado quando leio comentários absurdos de sambistas (não sinto bem em julgar quem é ou não sambista, aliás, eu detesto quem faz isso) que não entendem que o discurso de uma escola de samba está 100% baseado na cultura preta, popular, nos saberes e ensinamentos das religiões de matriz africana.

Melhor momento artístico do carnaval?

Não vejo problema na sinergia com a Academia e os intelectuais, pelo contrário, esse encontro gera conhecimento para os acadêmicos e para os componentes. Oportunidade de fazer o trabalho educacional, pouco valorizado, que acontece dentro das quadras. A escola de samba é tão forte que comporta gera saberes para todos. O repúdio fundamental é ao preconceito e aos malfeitos de quem tenta destruir nossa cultura.

Estamos aprendendo, como nunca, nos enredos propostos por Leandro Vieira, Gabriel Haddad e Leonardo Bora, Tarcísio Zanon, Jack Vasconcelos, Annik Salmon e Guilherme Estevão, André Rodrigues, entre outros. Certamente, o momento dos artistas que produzem os desfiles é um dos melhores da história do carnaval. Posso colocar no momento patamar dos artistas que chegarem nos anos 1960.

Aqui, eu deixo um pensamento, que pretendo abordar em outro texto, não esperem de mim o cancelamento de ninguém, seja por questão política ou por falta de educação social. Como citei acima, cresci louvando os artistas do carnaval e minha memória afetiva ultrapassa limites que não são toleráveis para outras pessoas. É pessoal, e, como vivo no mundo político profisionalmente, também sei que muitos idolatrados, não “rezam a missa” como seus fãs de carteirinha acreditam.

Sinal de mudança 

É bom perceber que os presidentes estão “comprando” os enredos com discursos. Sinal de mudança. Acredito que não seja tão racional e mais passional, ou seja, estão percebendo os resultados e dando corda aos artistas. Não sei se a liberdade é 100%, mas isso agora não vem ao caso. Necessário é notar o entendimento que a sinalização de um grande enredo, pode gerar um grande samba e quem sabe um ótimo desfile.

Assim, eu torço e celebro que tenhamos mais e mais enredos de temáticas afro, indígena e nordestina. É a formação do povo brasileiro. Aliás, viva o povo! Ele é o dono do espétáculo!

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