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Artigo: ‘Está faltando carreteiro em baterias?’

Excessos de frases musicais, por vezes, encobrem o valor da sustentação musical

Sabe aquele ritmo irresistível, quase afrodisíaco, feito pelos tamborins e acompanhado de forma luxuosa pelo tilintar agudo dos chocalhos? O nome dele é carreteiro. Seu poder de encantamento musical é simplesmente incalculável, principalmente para quem nunca pisou em uma escola de samba.

Foto: Alexandre Macieira/Riotur

O modo de tocar o carreteiro de forma contínua no tamborim pode variar entre duas formas: 3 x 1 (três por um) ou 2 x 1 (dois por um), graças à flexibilidade das baquetas. Historicamente, por exemplo, as alas de tamborim da Estácio de Sá, Viradouro, Tijuca e Mocidade sempre apresentaram ritmistas de tamborim com execução diferenciada do carreteiro 2 x 1. Cabe ressaltar, que essa forma de tocar tamborim é genuinamente carioca, sendo inclusive repelida culturalmente e vítima de certa desconfiança musical em outras cidades com universo rítmico de baterias, como no carnaval paulista.

Hoje em dia, os desenhos de tamborim têm evoluído a um nível de pontuar musicalmente praticamente cada trecho melódico do samba-enredo. Isso com um acompanhamento cada vez mais presente do próprio chocalho, que quando não segue o que faz o tamborim, busca as brechas e espaços deixados por ele para executar suas convenções rítmicas.

Tal fato permitiu consistência musical notável, tanto no entrosamento entre os dois naipes, como em evolução rítmica individual e/ou coletiva. Quanto mais os desenhos rítmicos se aprofundam tecnicamente, mais a qualidade musical de quem os executa tende a subir. Como consequência imediata, isso proporcionou um rejuvenescimento das alas na última década. O volume de ensaios, aliada a cobrança de modo contínuo por excelência rítmica também contribuiu, mas isso está longe de ser o cerne principal desse texto.

A questão aqui é puramente musical. Pontuando todo trecho melódico não há praticamente um momento de respiro. O excesso de floreios, muitas vezes desnecessários, também pode se tornar prejudicial à sonoridade, de forma geral. Os naipes agudos precisam sempre ter a consciência musical que nasceram para acompanhar as alas da bateria e não tentar brilhar além das demais. Nada deve ferir o intuito principal que é fazer prevalecer o conjunto em perfeito equilíbrio, além da plena execução dos naipes, com fluidez. Com floreios demasiados se afeta diretamente exatamente a fluência.

A lacuna auditiva atual provocada pela sensação de pouco carreteiro acaba coincidindo com desenhos rítmicos com excesso de informação musical. Reside aí, portanto, a explicação de sua origem. O carreteiro, seja tocado com 3 x 1 ou 2 x 1, é um importante meio de sustentação musical. Alas de tamborins e chocalhos com carreteiros firmes são capazes de proporcionar um encantamento rítmico que se torna, sobretudo, uma experiência sensorial. Por razões meramente técnicas estamos deixando espectadores, foliões e desfilantes menos hipnotizados e inebriados pela inexplicável ausência do Pacaticapá ou Tagaragadá sem fim. O que seria das baterias, sem a união do carreteiro entre o chocalho e o tamborim?

Freddy Ferreira é colunista de bateria do CARNAVALESCO
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