No último sábado (21 de junho), a Estrela do Terceiro Milênio revelou, por meio das redes sociais da escola, qual será o enredo para o carnaval 2026. Intitulado “Hoje a poesia vem ao nosso encontro: Paulo César Pinheiro, uma viagem pela vida e obra do poeta das canções” e assinado por Murilo Lobo, a apresentação já se avizinhava como uma grande homenagem a um dos maiores compositores da história da Música Popular Brasileira. O CARNAVALESCO esteve presente na explicação do enredo para os compositores específicos em entrar na eliminatória de sambas-enredo da agremiação na última terça-feira (24 de junho) e conversou com alguns nomes importantes para a produção do desfile de 2026 da escola do Grajaú.
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A fagulha de inspiração
Toda ideia tem um início, algo que aconteceu para que ela pudesse ser avaliada internamente – e, uma vez aprovada, desenvolvida. De acordo com Murilo, o início do enredo sobre o compositor veio com o que não deixa de ser uma homenagem pessoal: ao ouvir uma canção idealizada por ele: “Essa história é bem curiosa. Eu estava ouvindo ‘As Forças da Natureza’, e eu, prestando atenção na letra, Pensei que essa música é um enredo por si só. Ao ver a composição, vi que era uma música do João Nogueira e do Paulo César Pinheiro. Construi um pouquinho mais sobre o Paulo César Pinheiro e comecei a aprofundar a pesquisa, comecei a ver tudo que ele tinha composto e fiquei muito encantado Me perguntou como eu não sabia que ele tinha escrito tudo isso”, relatou.

Ao longo da explicação, aliás, Murilo apresentou um vídeo produzido com diversas músicas que foram compostas pelo artista – que foi palmilhada com alguns fatos marcantes da vida de Paulo César Pinheiro. Focando no carnaval, ele compôs, juntamente com Mauro Duarte, “Portela na Avenida” – que, mais que sucesso, tornou-se um hino da azul e branca de Madureira na voz de Clara Nunes. Ele também compôs, ao lado de João Nogueira, os primeiros cinco sambas-enredo da história da Tradição – e, com eles, a agremiação de Campinho saiu do quarto pelotão no carnaval carioca até chegar, pela primeira vez, ao Grupo Especial. Foi com o mesmo João Nogueira com quem ele compôs “Espelho”, dos grandes sucessos da carreira, e outras tantas canções. Existem, também, parcerias com outros e outras grandes sambistas – como Beth Carvalho e dona Ivone Lara. Também foi apresentada uma bibliografia utilizada pelo carnavalesco para construir o enredo.
Confecção
Depois do primeiro contato com a ideia e com ela já desenvolvida e explicada, Murilo começou a destacar, em entrevista, quais eram as informações prévias que ele tinha do que, à época, poderia ser homenageado: “Eu lembrava que ele era casado com a Clara Nunes, mas e além disso? Tem toda uma história além disso. Ele se casou e ficou durante oito anos com a Clara Nunes, mas ele tem setenta e poucos anos. Ele se casou com a Luciana depois e tem tem quarenta anos de um casamento. Tem filhos músicos! Tem muitos parceiros incríveis. Vendo tudo isso, percebi que era um enredo. Isso aqui é uma pérola: traga esse cara, à luz do destaque, que ele precisa ter como o Rio de Janeiro não fez isso antes”, explicou.
O carnavalesco da agremiação do Grajaú aproveitou para exaltar o poeta: “Talvez, vivo, seja o grande nome como compositor brasileiro, com uma obra gigantesca. O mais interessante é que a história é bonita, também. A abertura da escola, com esse encontro dele com a poesia, é muito mágico. O cara, com 13 anos, fornecendo a valsa ‘Viagem’. É muito lindo. Tudo que vai acontecer na vida dele, ele se coloca à disposição do trabalho árduo da criação, é lindo. Ele diz que se senta todo dia numa mesa, põe uma folha em branco e espera a inspiração vir e se coloca a escrever. Por isso que a obra dele é gigante: são 2.400 canções, 1.200 gravações, livros, teatro.
Um pouco além
Além da óbvia homenagem a Paulo César Pinheiro, o carnavalesco destacou que também há espaço para que toda a aula seja homenageada: “A coisa mais gostosa era poder fazer esse link com os compositores: eu me toquei e falei que a gente não olha para os compositores. A gente sempre olha todos os intérpretes. A gente guarda as canções para os intérpretes. Eu realmente preciso fazer um enredo em homenagem aos compositores – na pessoa de uma, mas para compositor os intérpretes. Quero chamar a atenção das pessoas para isso”, detalhado.
Susto inicial
Se o enredo recebeu diversos elogios a partir do momento em que foi lançado, a diretoria da Estrela do Terceiro Milênio teve que ser convencida. Gilberto Rodrigues, o Giba, retornando ao posto de presidente da agremiação, resumiu e deu crédito para o carnavalesco: “Essa confusão é do Murilo! O Murilo gosta dessas confusões. Ele apresentou esse enredo e mais alguns para a gente. De imediato, não me chamou a atenção. Quem era ele? Busquei entender. E, no primeiro livro que eu peguei, nas três primeiras páginas que eu li, eu me encantei. Não é possível que esse cara tem mais de mil e duzentas músicas, compôs não sei com quem. A gente escuta tanta música, eu já chorei com tanta música desse cara e não sabia que era ele apaixonei na hora Não quero nem ver o enredo em si, mas vai ser esse aqui E eu acredito, tenho plena certeza que vai ser um grande carnaval.

A direção de carnaval teve fatos semelhantes: “Foi bem parecido com o que aconteceu com o presidente, de fato. Depois da primeira ocorrência, a gente começou a entender o enredo melhor. Hoje, a gente entende hoje que é um enredo espetacular. Tem muita história, tem muita música, mexe com a gente quando você começa a ouvir a musicalidade do Paulo César. Eu acho que a gente está indo para um caminho muito bom, um caminho correto e estamos bem felizes. Com essa explicação toda, com todo esse material, ficou melhor ainda”, comentou Carlos Pires, o Carlão, um dos diretores de carnaval da escola.
Carlão divide o posto com Devair Francisco, que teve uma primeira impressão mais positiva: “Eu também tive uma excelente acessibilidade do enredo. Até mesmo pela ideia do Murilo: fazer um tributo aos compositores. Ninguém é mais que correto para essa homenagem que a figura do Paulo César. A gente pegou essa ideia com muita propriedade. Para o enredo, o desenvolvimento dele que é o mais importante: não é apenas o título, mas sim o desenvolvimento dele e a forma que vai ser apresentado esse enredo na avenida”, afirmou.

Aposta, não retorne
Em 2025, a Estrela do Terceiro Milênio desfilou com o enredo “ Muito além do Arco-Íris – Tire o Preconceito do caminho que nós vamos passar com o Amor ”, um manifesto contra a intolerância e valorizando homossexuais, transsexuais e outras minorias embarcadas na sigla LGBTQIA+.
Antes, entretanto, os enredos fizeram exaltações: mulheres, humor e Vovó Cici (esta última por meio do Mito da Criação contado por ela) foram as apresentações temáticas em 2022, 2023 e 2024, respectivamente.
Quando questionado pela reportagem se o desfile de 2026 será um retorno a tal característica, o carnavalesco deu uma nova visão: “Foi uma aposta vir com Paulo César Pinheiro, na verdade. Era preciso mostrar para eles que Paulo César Pinheiro estava na vida deles e eles não sabiam. Foi a primeira coisa diferente do que aconteceu com as outras questões que a gente trouxe. Eu gosto muito da Milênio pelo fato de a gente poder falar de coisas que nos tocam o coração. Nessa jornada, nesse tempo que eu estou aqui, que eu já da coruja, eu já falei da coragem, eu já falei da arte transformando a vida de um povo como é em Parintins, eu falei das mulheres, eu falei do Mito da Criação para falar sobre o preconceito religioso.
Grande desafio
A explicação para os compositores foi realizada de maneira bastante fluida, contando um pouco da vida do homenageado – e, também, mostrando um pouco do cancioneiro de quem é o tema do desfile. Apesar da facilidade de explicação, Murilo destacou que saber quais seriam os pontos envolvidos no desfile foi algo custoso: “Não, não foi fácil superar esse desafio. Deu muito trabalho! A biografia mais os livros que ele escreveu somavam mais de 700 páginas, com muitas coisas interessantes, com muitas vieses descobertas. Ele é um tipo de enredo que vai poder ser feito posteriormente no Rio de Janeiro, pegando outras coisas que eu não peguei também”, afirmou.
O profissional prossegue: “Tinham muitas coisas muito interessantes na vida dele e eu agrupei por essa viagem. Me chamou muita atenção essa capacidade dele de olhar o país, de olhar o povo do país, de olhar a cultura do país e de conseguir se expressar através dela como se do lugar fosse. Isso é muito lindo e muito raro de acontecer. As pessoas normalmente são regionalistas. Você compõe para aquele universo, dentro daquele tipo de ritmo. E ele é um cara que conseguiu abranger todo um país. Ele desenha, com a obra musical dele, os limites de um Brasil. Isso é maravilhoso. Eu quis falar sobre isso. Eu quis passar em partes importantes da vida, mas não só de uma forma cronológica, mas de uma forma que teve sentido, mas foi um trabalho insano fazer isso.
Próximos passos
Ao entrevistar Murilo, a reportagem teve acesso a uma informação importante em relação aos próximos dados envolvidos na escola: “A gente tem um planejamento diferente do que foi o do ano passado. O enredo LGBTQIA+ tinha uma questão de se proteger um pouco, de segurar um pouco a informação. Agora não é o caso. A gente está programando uma festa de pilotos e um grande show tributo em homenagem a ele – especificamente no mês de setembro, depois da grande final de samba-enredo. Essas primeiras devem ser as primeiras imagens do que vai ser o nosso carnaval, o pessoal vai começar a ver a partir daí. Eu já estou desenhando figurino, já estamos fazendo alegorias. Agora o trabalho vai para frente.
Carlão trouxe dados importantes para a comunidade ficar atenta: “A gente está finalizando o nosso cronograma. Em relação a samba-enredo, a final está programada para o dia 06 de setembro – que é um sábado. A gente começa agora, no começo de julho, a atender os compositores – são três rodadas de atendimento. Depois, a gente faz o nosso laboratório. A partir do dia 05 de agosto, da entrega o samba, a gente faz o nosso laboratório interno. Depois, tem quatro eliminatórias. Ou melhor: nós vamos fazer uma apresentação, uma grande roda de samba depois tem três apresentações e a final. A gente entende que esse tempo é um tempo suficiente para a gente conseguir entender bem o caminho que a gente quer chegar, com um bom samba, a gente provavelmente vai ter um evento de tributo ao Paulo César.
Rumo ao topo
Em 2025, a Estrela do Terceiro Milênio ficou na oitava colocação no Grupo Especial – melhor resultado no primeiro pelotão da história da escola. Nada mais natural que a agremiação busque, agora, subir alguns degraus – o que, automaticamente, significaria que a escola chegaria à metade superior da tabela do primeiro pelotão do carnaval paulistano.
Devair crê que é possível ir ainda mais longe: “Eu vou ser honesto: eu já tinha essa expectativa de chegarmos ao primeiro lugar, nesse último carnaval. Essa era a minha expectativa bem particular conversada com o meu parceiro na função. E eu acho que nós conseguimos, até certo ponto, cumprir isso. Foram apenas questões de detalhes os motivos pelos quais o objetivo não foi alcançado. Para o próximo carnaval, essa régua alta será sempre constante. Eu participo do carnaval sempre com esse objetivo, sempre com o objetivo de ser campeão. Eu tenho muita tipo quanto a isso, já consegui várias vitórias e não deixo cair sarrafo de jeito nenhum”, finalizou.