Os Gaviões da Fiel fizeram seu primeiro ensaio técnico na tarde do último domingo (13), no Sambódromo do Anhembi. Se preparando para o desfile oficial, a “Torcida que Samba” será a segunda escola a se apresentar no dia 23 de abril. Quesitos muito fortes da agremiação, a bateria Ritimão ditou a trilha da marcante dança do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Wagner Lima e Gabriela Mondjian. Por outro lado, a Harmonia precisará trabalhar nos componentes das alas a intensidade da transmissão do recado que seu forte enredo exige.
Apostando em uma composição de alas mais convencional, houve um grande esforço dos diretores em alavancar os ânimos dos desfilantes, que em geral pouco cantaram e atendiam a comandos, ao mesmo tempo que se preocupavam em não desacelerar a evolução. A ala “Luta Indígena” se destacou positivamente, com pessoas cantando forte e bem animadas por todo percurso. Será importante para a escola dar uma chacoalhada no seu pessoal para o próximo ensaio.
Thiago Dionísio, diretor de carnaval dos Gaviões, fez uma análise do ensaio. “É o carnaval da vida, é um ano atípico e está bem diferente. Foi difícil trazer o componente, apesar de toda essa fase de pandemia. Hoje, trouxemos quase 700 componentes e, com chuva e todas as barreiras, fizemos um ensaio limpo. A gente espera na semana que vem fazer um ensaio melhor para 2022, passar muito bem”, disse.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Falando em chuva, a mesma não foi capaz de tirar o brilho do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira dos Gaviões. Com roupas deslumbrantes e muita disposição, Wagner e Gabriela deram grande mostra de vigor e entrosamento em sua dança magistral, e saíram muito satisfeitos do ensaio. Os guardiões do pavilhão alvinegro não esconderam a satisfação com seu desempenho na avenida.
“Como teve a pandemia, a gente vem em um trabalho árduo desde outubro. Pela volta do Anhembi, emoção, psicológico, a saudade do Anhembi, acho que foi a nossa volta, foi mais que a nossa expectativa. A gente supriu tudo, nosso desenho de pista foi perfeito e só tende a melhorar. O clima do Gaviões também ajudou. Foi perfeito nosso rendimento”, disse Gabriela.
“Mesma opinião da Gabi. É difícil vir nesta pista quando tá molhado, é perigoso. A gente deu uma economizada, mas a emoção tira o que se tem de segurança, e deixa o coração levar. Mas foi um ensaio bem produtivo. Tirando depois de um tempo enorme da pandemia. Conseguimos o desenho que a gente colocou no papel, desenhamos na pista. Estamos felizes neste primeiro ensaio”, completou Wagner.
Sobre acertos a serem feitos, a dupla apontou pequenos detalhes a serem aprimorados. “Coisas mínimas, coisas que todos os casais passam. Questão mais de limpeza de movimento, mas coisa muito pouca. Como a gente já está em reta final do carnaval, nosso trabalho já está pronto. Só limpar uma coisa ou outra, mas não é nada grave não”, analisou a porta-bandeira. “A gente é chato, somos dança. Para nós nunca está perfeito tudo, mas de 100%, a gente está 9,9 de se acertar algumas coisas, é tudo detalhe, dança é tudo detalhe. Então esse detalhe a gente deixa que teve surpresinha. Nem tudo que está papel a gente desenhou na pista”, ressaltou o mestre-sala.
Contagiados pela alegria de estarem de volta ao Anhembi, o casal apontou seus momentos preferidos do ensaio. “(A arquibancada) Monumental com certeza. É onde a gente pega energia da nossa torcida. A energia corintiana. A gente bota na pista, em cima do trabalho”, exaltou Gabriela. Tirando o monumental que é a nossa raiz, a gente saiu da torcida. Então a gente vê a festa na arquibancada, a festa nos nossos corações a mil. A volta de tantos, amigos e familiares que se foram nesta pandemia, mas está de volta aqui com saúde, fazendo o que ama e ver nosso pavilhão tremular é uma enorme satisfação”, completou Wagner.
Samba-enredo
O samba, que é a trilha sonora do enredo tão marcante da Fiel Torcida, casou perfeitamente com o gabaritado time de canto. Uma união primorosa de samba e bateria se fez presente. Considerado por muitos um dos melhores sambas do ano, esse deve ser um quesito com o qual a escola não precisará se preocupar.
Lenda viva do carnaval de São Paulo, o intérprete Ernesto Teixeira avaliou positivamente o desempenho do samba dos Gaviões. “Da onde estou ali, foi tudo maravilhoso. É claro que iremos ver as gravações agora para analisar direitinho o canto da escola, que eu acredito ser tudo 100%. Mas tenho que falar ali do ambiente que eu vivo, que é a bateria e as alas que passam na frente da gente, próximo ao recuo. Gaviões vem para fazer um grande desfile. E a gente foi muito feliz no enredo. O enredo é atual, é o que enredo que o povo tá clamando, a gente está caminhando para uma guerra. E a gente tem que protestar contra tudo isso. O carnaval é uma fonte para a gente mudar o mundo”, exaltou o cantor.
Sobre os pontos a serem acertados, Ernesto explicou as diferenças entre ensaio e desfile oficial para valorizar o desempenho da escola. “De som a gente precisa esperar. Aqui é um ensaio técnico, é só um carro de som, como eu disse, a gente precisa pensar tudo com positividade. Hoje todo mundo estava aqui depois de anos, com todo mundo parado, sem poder pisar no Sambódromo. Não tem nada para melhorar. Hoje aqui foi aquele 100%, positividade total, a gente analisa e para o próximo vê como vem”.
Sobre o que mais gostou de ver nesse ensaio, a voz dos Gaviões exaltou a presença da comunidade. “Presença do povo. Ver gente na rua, bateria tocando. E esse carinho do povo no final, abraçando, tirando foto”, concluiu.
Bateria
A Ritimão mostrou no Sambódromo que nem mesmo os dois anos longe da avenida foram capazes de comprometer um dos melhores quesitos historicamente dos Gaviões da Fiel. Com uma apresentação irretocável, repleta de bossas de alto nível, as chances de alcançar os 40 pontos na apuração são muito boas. Grande destaque para o retorno poderoso e sem desandar no momento em que os ritmistas param de tocar nos versos finais do samba. Se bem trabalhado, levantará o público no dia do desfile principal ao som dos seus 220 comandados. Encarregado de liderar essa respeitável equipe, mestre Ciro Castilho falou da importância de se tirar o peso da ansiedade das costas ao falar de suas impressões sobre o ensaio.
“Gostei bastante. Todos nós estávamos ansiosos depois de tanto tempo sem vir pro Anhembi. Acho que foi bom pra tirar a ansiedade. E agora semana que vem fazer o nosso último (ensaio) que será o segundo último geral. Acertar alguns detalhes e se Deus quiser vir bem pra avenida pra trazer a nota”, disse.
Projetando o segundo ensaio no Sambódromo que será já no próximo sábado, Ciro demonstra despreocupação com acertos a serem feitos. ”Sempre dá pra melhorar alguma coisa. Acredito que tenham algumas coisinhas pra melhorar. Mas no geral foi bacana, foi importante esse ensaio depois de tanto tempo. Semana que vem vamos com tudo. O ponto alto é a garra de sempre dos Gaviões. Esse casamento com a ala musical que a gente está achando bem interessante esse ano. Estamos com uma expectativa boa pro desfile”.
Evolução
O quesito que é bastante técnico teve uma atenção especial dedicada de toda equipe da escola. O rigor foi explícito, com comandantes das alas observando cautelosamente os espaços entre cada conjunto de alas. A rigidez das exigências pode garantir uma evolução nota 10, mas por outro lado pode ter influenciado o pouco vigor visto em boa parte das alas dos Gaviões. Deixar o componente mais solto, curtindo o desfile, é algo que pode ajudar a dar aquele gás que se faz necessário na hora de se apresentar para valer. A ala da Luta Indígena, citada no começo do texto, pode ser um bom exemplo a ser seguido por toda escola.
Os passistas e destaques de chão da escola mostraram a determinação que se espera desse enredo tão esperado que será apresentado no Anhembi. Uma observação interessante a ser feita é o número expressivo de componentes dentro dos espaços delimitados para os dois primeiros carros alegóricos da escola. Seria uma herança deixada por Paulo Barros, que iniciou o projeto? Eis um mistério a ser desvendado até o grande momento de cruzar a passarela do samba.
Outros Destaques
A comissão de frente é um quesito que nos últimos carnavais tem sido grande destaque da escola pelo impacto causado em todos que assistem. Com um enredo tão poderoso é de se esperar que não seja diferente, e nesse ensaio tivemos uma amostra do que será apresentado. Ainda será preciso aprimorar o encaixe que cada elemento cenográfico usado pelos dançarinos fará, mas não parece ser algo com o qual a escola tenha que se preocupar. Na dramatização está explícito o esforço dos componentes em transmitir o recado do enredo, podemos esperar um grande desempenho vindo por aí.
Os Gaviões da Fiel têm tudo para fazer uma excelente apresentação. Os pontos negativos são solucionáveis e, conforme a hora for chegando, a disposição de toda comunidade tende a aumentar. O grito de “Basta!”, que é o enredo da escola, tem tudo para ser cravado nos corações de quem comparecer ao Anhembi no dia 23 de abril. A hora da luta está chegando, e é o momento certo de fazê-la sair do papel.