Por Lucas Santos

Os ensaios de rua realizados na Estrada do Portela são um espetáculo à parte. Sempre muito cheios e com uma grande interação entre escola e os moradores da região. Os testes também servem para aproximar a Portela da comunidade de Oswaldo Cruz e Madureira. O destaque deste domingo ficou para a cabeça da escola com a comissão de frente de Carlinhos de Jesus, arrancando aplausos do público, e as alas coreografadas presentes de forma mais expressiva no início.

O nível alto de outros ensaios em quesitos como harmonia, bateria e samba enredo foi mantido. A evolução em alguns momentos foi um pouco prejudicada pela grande quantidade de pessoas na via que em alguns momentos dificultava a passagem da escola. Mas isso não preocupa.

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Dando prioridade para o treino do canto e para o desenvolvimento da bateria, a escola deixou quesitos mais técnicos como evolução para o ensaio na Estrada Intende Magalhães que possui uma via em melhores condições. O ensaio durou cerca de pouco mais de uma hora. Com o mestre-sala Marlon Lamar fora do Rio, a escola optou por colocar na frente o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira Yuri Souzah e Camylla Nascimento.

Comissão de frente

O que se pode perceber na comissão de frente de Carlinhos de Jesus a partir do ensaio é a busca por uma coreografia bastante indígena, como pede o enredo, em vários momentos dialogando com o samba como no momento do refrão principal em que os bailarinos realizavam um passo marcado indígena como se estivessem em deslocamento para a guerra. Algumas surpresas que Carlinhos de Jesus deve preparar para ser o ponto alto da comissão podem estar vinculadas com alguns momentos chaves desse ensaio como quando os componentes se reuniam bem juntos como que protegendo alguma coisa. Em outras ocasiões houve pequenas rodas e grandes saltos de alguns integrantes localizados no meio.

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Harmonia

A escola mais uma vez cantou como um todo, com os componentes bastante animados e em algumas alas fazendo questão de berrar o samba. O número expressivo de alas coreografadas no início não tirou a espontaneidade da escola. Do meio para o final, as coreografias ficaram mais simples como na parte do samba que diz “clareia o céu” quando os componentes levantavam as mãos para cima como um sinal de reverência. Há uma visível alegria da comunidade em cantar este samba e o andamento da Tabajara também contribuiu para o melhor canto dos componentes, além de mais um grande desempenho de Gilsinho.

“Tivemos um rendimento muito bom. A escola está cantando. Rindo bastante, brincando carnaval, esse é o nosso espírito, nosso objetivo. Portela tem mais um ensaio na semana que vem. Estamos aguardando o dia para a Portela fazer um grande carnaval”, completou o diretor de harmonia Júnior Escafura.

Evolução

Durante grande parte do ensaio, a escola veio evoluindo bem, com os componentes animados, sem correr, mas com dinâmica. Destaque para o início do desfile em que a escola coloriu de forma muito animada e coesa o chão da Estrada do Portela. A comissão de frente e as alas puxavam um ritmo de desfile um pouco mais acelerado mas sem correr ou desconectar as alas.

Quando a bateria saiu, por conta também da rua não ser tão larga em alguns trechos, algumas pessoas invadiam a via e acompanhavam a Tabajara atrapalhando um pouco o deslocamento mas sem comprometer a evolução da escola que não deixou buracos e realizou de forma tranquila a entrada e a saída da bateria no recuo.

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O vice-presidente da Portela Fábio Pavão deu a sua avaliação do quesito evolução e a escola com um todo no ensaio.

“Um ensaio muito positivo. Aqui na Estrada do Portela a gente basicamente ensaia o canto, o entrosamento do carro de som com a bateria. A estrada tem forma de curva, tem subida e descida, muita gente. Então é isso que a gente pode avaliar aqui. Aqui é o coração da Portela, a alma da escola está aqui, então a gente faz alguns ensaios aqui em respeito a nossa comunidade para reencontrar a nossa força e na Estrada Intendente Magalhães nós fazemos ensaios mais técnicos, privilegiando a evolução”.

Samba-enredo

O samba de 2020 elogiado pela crítica desde a sua escolha foi bastante cantado pela escola em um andamento bem entrosado com a bateria que deixou a obra com bastante cara de Portela. A letra ao mesmo tempo bastante inspirada e dentro da temática do índio não possui grandes dificuldades de palavras para os componentes e a melodia pra frente ajuda bastante no rendimento dos ensaios levando os componentes a um estado de muita garra. O trabalho de Gilsinho há duas semanas do desfile parece já pronto para a Avenida. O cantor falou do rendimento da obra no ensaio.

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“O samba sempre funcionou desde o início. A gente está fazendo só os ajustes finais para o carnaval e aí já estaremos prontos para a Avenida. A comunidade sempre cantando bastante, mostrando que o samba tem força e que nós podemos fazer um grande desfile com um samba bom. A resposta do samba nos dá certeza que será um grande carnaval”.

Bateria

A tabajara do samba veio com um andamento de 145 segundo mestre Nilo Sérgio, bem típico da escola e foram realizadas três bossas explicadas pelo próprio comandante dos ritmistas.

“O andamento é para samba de enredo mesmo. Andamento de 145 BPM (batidas por minuto), que é o andamento da Portela. Eu acredito que essa cadência está confortável para escola. Faremos três bossas. Uma na cabeça, outra no meio e uma no finalzinho. A gente colocou uma cabula para o nosso padroeiro Oxóssi, o único orixá brasileiro, e é indígena. Botamos uma cabula para fazer reverência a ele justo no trecho que o reverência “Okê Okê Arô”. Graças a Deus tivemos uma interação total com o carro de som e a gente sempre tem que se cobrar mais para que no dia desfile a gente possa estar em um alto nível. Mas foi um grande ensaio”, explicou mestre Nilo Sérgio.

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Destaque para um parada bastante ligeira no momento do trecho “índio pede paz mas é de guerra” que parece convocar os componentes a cantarem com mais força na dinâmica da crítica política que vem logo a seguir na obra.

No mais, um samba muito bom que é tocado pela tabajara bem a feição do que é a Portela, valorizando as características e a tradição da Tabajara, e principalmente a própria obra.

Outros destaques

A maioria das alas tinha algum elemento de enfeita na cabeça que trazia um colorido bonito e diferenciava uma ala da outra. Claro que era algo de temática indígena. Algumas das alas traziam algumas pequenas bandeiras da Portela.

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A rainha da Tabajara do Samba, Bianca Monteiro, sambou muito de frente para a comunidade e em alguns momentos com a ala de passistas que vinha logo a frente da bateria.

Por fim, o intérprete Gilsinho, enquanto a bateria estava no recuo, interagiu com componentes das alas que vinha a seguir cantando no meio destes segmentos da escola.

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