
Por muitos anos, a Estação Primeira de Mangueira, uma das escolas de samba mais tradicionais do carnaval carioca, tem encantado o público com seus desfiles grandiosos e sua bateria de ritmo inconfundível. No coração dessa batucada contagiante está uma figura que personifica o glamour, a paixão pelo samba e a tradição da escola: a Rainha de Bateria, Evelyn Bastos.
A trajetória de Evelyn é marcada por muito talento, samba impecável e símbolo de força feminina. “Ela representa tudo, ela é o símbolo, ela e o coração da escola. Sem ela ali, a escola não anda’’, declara Elizangela, componente da mangueira desde 2006, em entrevista ao CARNAVALESCO. A atual Rainha, que estreou em 2014 e se consolidou como uma das representantes mais queridas da comunidade, é nascida e criada no Morro da Mangueira e simboliza o espírito forte, engajado e orgulhosamente raiz da escola.
O senso de pertencimento e representatividade também é um dos pontos fortes que Evelyn reflete como rainha da bateria da Mangueira. ‘’Eu desfilo desde os 15 anos de idade e para mim ter uma mulher negra, que não é atriz, não é blogueira, a frente da bateria, para mim é tudo. Eu deixei de desfilar na escola do meu bairro, que é Vila Isabel, e passei para a Mangueira porque na minha opinião é a escola mais negra do Rio de Janeiro’’, conta a componente da escola há 3 anos, Mônica, de 57 anos.
“É muito mais que ser rainha de bateria, é usar esse posto para empoderar mulheres a acreditarem que todos os espaços são delas, dentro dos seus sonhos, das suas perspectivas, que podem ser tudo e não precisam se privar, se bloquear para chegar em determinado local’’, afirma Evelyn Bastos. O empoderamento feminino ganha um recorte racial quando a rainha de bateria cita o enfrentamento ao desrespeito e a pluralidade da mulher negra. ’’Elas podem ser elas em todos os lugares e que todo desrespeito perante a mulher negra não é um problema nosso, é um problema do outro. O que a gente precisa é enfrentar esse preconceito, cada mulher negra do seu jeito porque somos plurais, temos jeitos plurais. Nunca desistir, e sim, acreditar nos seus sonhos, acreditar em quem você é e passar esse respeito’’.
Além de seus samba sincronizado e energia contagiante na Sapucaí, a majestade da verde e rosa também se destaca por seu ativismo social, sua conexão com a comunidade e sua voz ativa pela preservação das tradições culturais do Carnaval . Desde 2024, à convite do Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, Gabriel David, ela está à frente da Diretoria de Cultura da Liesa. “Eu aceitei esse desafio do meu presidente Gabriel David porque a gente sempre teve muitas ideias semelhantes em outros trabalhos e recebi esse convite muito surpresa esse convite’’, diz Evelyn ao CARNAVALESCO.

A liberdade para executar o seu trabalho como Diretora Cultural, foi o ponto-chave para aceitar o cargo, sobre isso ela diz que ‘’foi a primeira coisa que o Gabriel me garantiu. Inclusive, só aceitei ser diretora cultural na Liesa porque eu tenho autonomia e está sendo mágico. Todo lugar que a gente entra, a gente aprende muito, principalmente quando existe uma equipe muito boa e é um lugar onde estou me descobrindo cada vez mais e podendo expor todas as minhas ideias, as minhas crenças, o que eu acredito para a cultura da nossa gente e do Brasil’’.
O legado da Rainha de Bateria não se limita apenas ao desfile da Mangueira. Com passos firmes e o coração dedicado, Evelyn Bastos se destaca como uma verdadeira defensora do futuro do Carnaval, garantindo que o samba continue vivo e pulsante nas próximas gerações. O seu trabalho com as escolas mirins, não é apenas simbólico, ele tem impacto direto na formação cultural e social das crianças da comunidade .
Em 2025 os desfiles mirins tem o apoio da Liesa, e Evelyn ressalta a importância desta parceria. ‘’É o abraço e o carinho que a gente sempre precisou e que em algum momento foi esquecido, foi deixado para trás. É um resgate, é a gente esperançar e entender que o samba ele é perpétuo, entender essa perenidade é fundamental para gente, para Liesa e que bom a gente está vivendo esse momento’’.

Uma realeza apaixonante, é assim que seus súditos mangueirenses se referem a ela. ‘’Falar da Evelyn é muito fácil porque a minha rainha é de se apaixonar. Ela é muito simpática, é uma pessoa que tem um entendimento racial fora de sério e especificamente esse ano, eu tenho admirado muito a entrega dela nos ensaios, como ela começa na pegada e ela termina da mesma forma. Tenho muito orgulho de ser um súdito da rainha Evelyn Bastos’’, declara Rosembergue, ritmista da bateria da Mangueira desde 2023.
Para o Carnaval 2025, a satisfação toma conta de Evelyn em representar à frente da bateria da verde e rosa por mais um ano, com um sentimento de felicidade carregando um legado repleto de identidade e ancestralidade. ‘’A cada ano eu me sinto presenteada. É uma satisfação tremenda, eu amo isso aqui e sempre friso que é um lugar onde minha mãe já passou, eu sempre fui muito feliz dentro da Mangueira que é um lugar onde estou desde que me entendo por gente. Eu me sinto contemplada pelos deuses, por Cartola, por Carlos Cachaça, por Zé Espinguela, por dona Neuma, dona Zica, por grandes nomes da mangueira, alguns que eu pude acompanhar, que eu pude dar um beijo na mão, pedir uma bênção e outros não mas que estão guardados na minha história porque sem eles a gente não teria como dar o primeiro passo’’. ressalta Evelyn, com brilho nos olhos.