Não há leão na Amazônia, mas na abertura do desfile da Estácio de Sá tem. E é um leão colorido, indígena e que, segundo sua comunidade, resiste assim como a escola e a floresta amazônica.
O abre-alas intitulado “O Rei Do Samba Engerado e os Encantos da Floresta Amazônica” trouxe o leão estanciano, símbolo maior da escola, como o “Leão Guarani”, sendo um guerreiro e protetor da Amazônia. O leão veio ao meio de muito verde simbolizando a flora amazônica e esculturas de animais, como a fauna nativa da floresta.
Compondo a abertura da escola chamada “O Ritual: Pajelança, Engerando o Rei do ‘Berço do Samba’”, a alegoria traduziu a conexão entre o Leão da Estácio e o universo amazônico.
A responsável pela abertura da escola, a diretora Patrícia Brasil, explicou ao CARNAVALESCO a importância e a relação do abre-alas com a escola e com o enredo.
“O leão é a força da Estácio de Sá, e quando unimos o leão estaciano com a floresta amazônica, fica excelente. Temos a potência do leão, com ele rugindo na Avenida e abrindo tudo. Ele vai ser engerado, pois, na verdade, não existe leão na Amazônia. Estamos fazendo com que ele esteja lá, já que a Amazônia é uma floresta que resiste a todos os males e ataques há tempos, assim como a Estácio de Sá é uma escola de resistência”, explicou a diretora Patrícia Brasil, de 52 anos, dos quais 45 são dedicados ao carnaval.
Entre os componentes da alegoria, a conexão entre a resistência da floresta amazônica e a da Estácio de Sá foi um dos temas mais comentados. O Leão Guarani, vibrante e colorido, simbolizava essa força, destacando a luta e a perseverança da escola na Avenida.
“Quem me trouxe hoje foi a minha avó, ela ama a Estácio de Sá, ama o samba e o carnaval. Aprendi a gostar de samba com ela. Estou muito feliz de estar como composição nesse abre-alas tão lindo, achei esse leão maravilhoso. Quero muito ajudar a Estácio a voltar para o Grupo Especial. Se depender de mim ela volta, pois vou gritar, vou cantar, vou fazer tudo que eu puder. Sou torcedora da Imperatriz, mas vou representar a resistência amazônica e honrar a resistência estaciana pela minha avó”, contou a advogada, de 25 anos, Sofia Nunes.
A raiz estaciana também compôs a alegoria. Duas amigas de uma vida toda e componentes da escola do Estácio ficaram emocionadas ao estarem no abre-alas e contaram sobre a relação do leão guarani com a escola.
“O carro está maravilhoso, além de lindo e forte, esse leão vai rugir muito alto. A Estácio é uma escola resistente. Temos resistência e perseverança para voltar para um lugar que nunca deveria ter saído, o nosso lugar é ali no Grupo Especial. Somos o berço do samba, apesar de muita gente não concordar, está nos livros que nós somos o berço do samba. Por isso, a gente vem todo ano tentando levar ela lá para cima, de vez em quando a gente consegue, às vezes derrubam a gente, mas no chão, o leão não fica. Mas esse ano nós vamos subir e vamos ficar um tempinho lá. Tenho certeza”, afirmou Paulina Gomes, costureira, de 61 anos, que desfila há 50 anos pela Estácio de Sá, bairro de onde é moradora.
“Eu desfilo desde os meus sete anos e é a segunda vez que eu venho no abre-alas, que está lindo. Esse leão representa muito o que a Estácio é, forte e guerreiro. Esse leão na Amazônia é um sinal de luta, e a Estácio é uma escola que luta muito. Desde que a minha mãe me levou para a Estácio, eu lutei muito desfilando por essa escola. O estanciano, igual à Amazônia, resiste!”, disse Conceição Gomes, de 63 anos, do lar.
Entre rugidos e cores, a escola traduziu no abre-alas a luta da Amazônia e de sua própria história, conectando passado, presente e futuro. Celebrou e simbolizou a garra de quem nunca deixou de lutar pelo seu lugar.