A Independente Tricolor reuniu sua equipe no dia 7 de outubro para a gravação do projeto audiovisual da Liga-SP para o álbum oficial dos sambas-enredo do carnaval de São Paulo de 2025, lançado nesta semana nas principais plataformas digitais. O trabalho da escola se destacou pela qualidade técnica e comprometimento da comunidade presente no coral para clamar a obra assinada pelos compositores André Diniz, Evandro Bocão, Mirandinha Sambista, Rodrigo Peçanha, Fábio LS e o intérprete Chitão Martins. A Maior Família Tricolor do Brasil será a terceira agremiação a desfilar pelo Grupo de Acesso com o enredo “Gritos de Resistência”, assinado pelo carnavalesco André Marins.

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Buscando o retorno ao Grupo Especial após a queda em 2024, a Independente Tricolor renovou parte de sua diretoria e começa a colher os frutos. A técnica da ala musical aliada ao bom trato dos representantes da comunidade presentes no coral, que se sentiram parte do processo e cantaram de forma espontânea e animada o samba, mostram que a escola está levando a sério o principal objetivo para o ciclo do próximo ano. A equipe do site CARNAVALESCO conversou com diferentes lideranças dos segmentos da Independente para saber mais sobre a preparação realizada para a gravação.

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Foto: Igor Souza/Divulgação Liga-SP

Identidade Independente com essência carioca

Estreando na função de diretor musical, Digo Sá foi o encarregado pelos arranjos da faixa da Independente Tricolor. O diretor exaltou o comprometimento da comunidade ao longo dos ensaios e detalhou qual foi o plano elaborado para a execução musical da gravação do samba, que é assinado majoritariamente por compositores do Rio de Janeiro.

“Viemos com o arranjo pensando nas características da escola. A Independente todo ano tem uma característica de um samba que é polivalente, com as introduções que marcam, e procurei trazer isso sem mexer na essência da escola. A gente procurou manter essa essência de uma introdução bem melodiosa, pesada e do samba que veio do Rio de Janeiro, um samba bom que agradou muito a comunidade. Procurei deixar o samba mais com a essência do pessoal mesmo do Rio, sem mudar muito o arranjo. O samba já veio praticamente pronto, a gente trocou uma palavra ou outra. Em termos de cordas coloquei uns arranjos um pouco mais ousados, os ataques de cordas e os contratempos de cordas. E em relação aos instrumentos, a gente vai com o time da escola, que é o meu time de cordas. É meu primeiro ano, confio muito no meu time. Senti isso nos ensaios, o pessoal está bem determinado e a gente está muito focado em voltar para o grupo Especial do carnaval. Mantive muita essência, procurei não sair tanto, pensando na escola. Não polemizando, mas a gente vê muitos arranjadores que procuram deixar a marca deles, mas esquecem que a gente tem que trabalhar para a escola. Eu pensei nisso e falei: ‘eu vou trabalhar de uma forma que eu tenho que agradar a minha bateria, que eu tenho que agradar meus diretores, meu pessoal’. A essência foi essa”, explicou.

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Diretor musical, Digo Sá

Para o samba de 2025, a Independente optou por seguir uma abordagem mais conservadora, focando na identidade do gênero musical e sem adicionar instrumentos que não sejam os tradicionais.

“Priorizei muito as características de samba-enredo mesmo, com cavacos e violões, apenas isso. Como o samba pede um ato de resistência, preferi deixar a resistência do carnaval mesmo. Os cavacos na cara, violão na cara, os solos ali naqueles momentos e priorizando principalmente a escola. Evitei teclados, evitei sopros, o que eu quero é mostrar a resistência do carnaval”, afirmou Digo.

Um rebaixamento é sempre doloroso, mas a Independente está disposta a dar a volta por cima. O diretor demonstrou confiança com o trabalho realizado pela escola e afirma que o foco é na família tricolor.

“A Independente virá forte. Estamos com um samba bom, que agradou muito a comunidade e que é um ato de resistência. Tenho certeza que de a gente virá para um Carnaval muito bonito. A escola está trabalhando muito. Já nos primeiros dias a gente sentiu que a comunidade, pelo fato do que aconteceu em 2024, está um pouco ainda com o coração ferido, mas tem uma garra. Eu senti nesse meu primeiro ano que a escola tem muita garra e está com muita vontade de voltar para o Especial. A gente vai trabalhar só nisso, o samba vai ser para a escola. Não para mim, que sou o arranjador. Não para o mestre Cassiano, não para o Luiz, que é o diretor. O samba é para a escola e a gente vai trabalhar para isso”, concluiu.

Todos os setores representados na gravação

Outra novidade para a equipe da Independente, o diretor de carnaval Ronny Potolski comemorou o retorno das gravações ao vivo para o álbum oficial do carnaval de São Paulo ao falar das expectativas para o trabalho realizado.

“É um grande produto o samba ao vivo, ainda mais no formato que a Liga-SP está propondo. Voltando, principalmente no pós-pandemia, é mais um sinal de que o carnaval está firme e forte, e a Independente vem aí dando seu grito de independência”, declarou.

Ronny contou que a ideia ao montar a equipe que esteve presente na gravação da Independente Tricolor foi a de garantir que todos os componentes da escola se sentissem representados de alguma forma nos diferentes segmentos da gravação.

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Ronny Potolski, diretor de carnaval

“A gente apresentou uma ideia de todos os setores estarem representados pelo menos com algum componente. Lógico, não dá para vir a escola toda pela limitação física, mas todas as alas estão presentes. São chefes de alas de alguns componentes, trouxemos o casal oficial representando o quadro de casais, a comissão de frente está presente, musas e passistas também, baianas, harmonia, alegoria. São vários setores. Ala musical, é claro, bateria, vários setores que participaram dessa pré-produção nossa. A gente fez alguns ensaios anteriores à gravação, e hoje é transformar isso em um grande produto para o carnaval de São Paulo”, explicou.

O diretor citou os elementos do samba da Independente que mais lhe agradam. “É um samba que acho que tem nuances melódicas muito bonitas, mas a saída da segunda, depois do refrão de meio, que fala da causa praieira e dos pontos do candomblé, eu acho que é a parte que mais me toca por ser melodicamente bonito e de ter palavras de resistência cultural no meio da letra do samba. Tem uma parte histórica e também uma parte cultural muito legal”.

A relação do momento da escola com a situação do Brasil tem um significado especial para Ronny Potolski na missão de comandar a equipe da Independente Tricolor nos trabalhos da gravação do samba.

“Acho que para a escola é grito de resistência mesmo. A escola vem de um resultado de descenso, então é um enredo que tem a ver com ela, tem uma característica dela. O momento do país também pede isso, um grito de resistência em várias frentes da sociedade. Particularmente para mim, estar esse ano à frente da escola junto com a diretoria, liderando o projeto, é um desafio bem legal. Sempre difícil, mas acima de tudo prazeroso”, afirmou.

Foco na correção de erros e valorização da comunidade

Responsável direto pela preparação do coral da Independente, o diretor de harmonia Ulisses Ozzetti falou sobre as expectativas para a gravação da faixa da escola para o álbum oficial do carnaval de 2025.

“Eu espero que a nossa comunidade arrebente, que nós venhamos com esse propósito. Fizemos ensaios na quadra, durante três semanas, para o pessoal pegar bem o samba e para a gente fazer a gravação o mais rápido possível, porque a ideia não é ficar muito tempo gravando. A gente faz os ensaios já para isso, para quando chegar aqui já matar de uma vez. Espero que a escola faça uma gravação maravilhosa como faz os ensaios”, declarou.

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Ulisses Ozzetti, diretor de harmonia

Ulisses gosta do samba da Independente como um todo e valorizou as características da obra ao falar qual parte mais lhe agrada. “Acho que o samba inteiro conta uma história, o samba inteiro é legal e é um samba fácil. Ele não é um samba longo, não tem palavras difíceis. É um samba fácil que acaba virando um ‘chicletinho’, esse é o bom do nosso samba desse ano. Para o nosso trabalho de pista, de chão, facilitou muito e a gente já percebeu nesses ensaios de coral”, opinou.

A Independente Tricolor focou em consertar os erros cometidos no passado aliado às características da comunidade para reverter os resultados do carnaval de 2024, de acordo com o diretor.

“A escola já tem o pessoal da gente, já tem a nossa comunidade. Nós estamos só reforçando o trabalho em cima dos erros que a gente teve no último carnaval para melhorar, para consertar os erros e a comunidade vir com aquela alegria que vem sempre. Nossa comunidade tem uma pegada forte por ser oriunda de torcida. Já tem uma pegada, uma vontade diferente então a gente está usando isso”, afirmou.

Ulisses valorizou a oportunidade de mostrar ao mundo do samba os frutos do trabalho realizado ao falar do sentimento de participar das gravações do projeto audiovisual da Liga-SP para o carnaval de 2025.

“A importância para mim, por exemplo, é que é o primeiro passo. Você constrói um samba, você trabalha em cima do samba. Essa gravação, o audiovisual, é a primeira vez que a gente vai mostrar o nosso trabalho para fora. Essa é a importância para nós, é fazer um trabalho legal para mostrar para fora a força da nossa comunidade”, disse.

Amor ao samba na voz da emoção

Em seu segundo ano na Independente, o intérprete Chitão Martins falou sobre a preparação que fez para participar da gravação do samba que defenderá no Anhembi no próximo carnaval.

“Primeiro, o prazer é sempre nosso de estar falando com vocês. A preparação é a normal do dia a dia. A gente descansa bem, chega aqui e faz um bom aquecimento vocal, ainda mais hoje que está um ventinho gelado. A gente se prepara bem para estar com a voz bem aquecida para poder fazer um grande trabalho lá dentro”, disse.

Como a ideia do álbum oficial do carnaval de 2025 é passar a sensação de estar ouvindo o samba na Avenida, Chitão acredita que a abordagem tem que ser equivalente.

“Hoje como é uma gravação diferente, um lance ao vivo, eu procurei trazer a emoção como se fosse na Avenida mesmo. Procurei transmitir bastante emoção e alegria, que é a minha característica. Geralmente, quando é gravação no estúdio, a gente procura pôr um pouco mais de técnica e trazer a emoção na segunda parte do samba, para trazer aquela garra, mas aqui, um clima de ao vivo, a gente tentou trazer a emoção no samba inteiro”, explicou.

O intérprete exaltou a confiança da escola e o trabalho dos compositores ao falar sobre o sentimento de cantar o samba de 2025 na gravação do álbum oficial.

“Sentimento maravilhoso de paixão ao pavilhão e de amor ao samba, de amor à música. Graças a Deus, sempre consegui cantar na Avenida bons sambas e esse ano mais uma vez é um bom samba. Eu só tenho que ser grato à Independente por confiar no meu trabalho e grato aos compositores, apesar de eu estar assinando a obra também, mas grato aos compositores por me dar essa obra maravilhosa”, celebrou.

Para Chitão Martins, o trecho do samba que mais lhe chama atenção está na parte final da obra. “O samba todo é legal, mas aquela finalzinha ali do samba… ‘Jovem, olhar da esperança pintando a cara, na rua, favela a gente não para, pois o samba é revolução’, acho que isso é uma parte forte do samba”, opinou.

Valorizar a letra do samba é prioridade da bateria

Realizando a preparação da bateria “Ritmo Forte” para a gravação, o mestre Cassiano Andrade falou sobre a estratégia planejada de andamento do samba.

“A gente pretende colocar 146 bmp. Acho que é a nossa proposta para a escola, de um andamento um pouquinho mais para a frente do que a gente costuma fazer, mas está dentro ainda do que a gente já faz em ensaios. Vamos ver a energia, que às vezes pode ser um pouquinho mais para trás. Tudo depende de como começa, é só na hora de gravar que a gente vê o que tem de necessidade mesmo”, contou.

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Mestre Cassiano Andrade

Na visão do mestre, a prioridade da gravação está em destacar a letra do samba, o que o faz preferir uma abordagem mais simples quanto a aplicação de bossas no samba.

“Eu vou colocar uma bossa afro no refrão do meio que é ‘picotadinha’, bem legal, dentro da melodia do samba, na introdução e no final. A gravação valoriza mais a letra, não cabe encher de muitas bossas não. Uma bossa só está bom”, explicou.

Cassiano Andrade falou sobre o sentimento de comandar a “Ritmo Forte” em mais uma gravação para o álbum oficial do carnaval.

“O sentimento é mais que um dever cumprido. A gente imprimiu o que ensaiamos há tantos meses aí. É chegar e fazer o que tem que ser feito bem feito com o que está sendo ensaiado junto com a ala musical. A gente vai dar o nosso melhor para fazer uma boa gravação. Se Deus quiser, vai dar tudo certo”, concluiu.