A noite de 8 de outubro, na Fábrica do Samba, foi marcada pela gravação da bicampeã, Mocidade Alegre, para o projeto audiovisual da Liga-SP para o álbum oficial dos sambas-enredo para o carnaval de São Paulo de 2025, lançado nas principais plataformas digitais. A participação especial do cantor Eder Miguel marcou os trabalhos da escola do Limão durante os registros da obra assinada pelos compositores Aquiles da Vila, Fabiano Sorriso, Marcos Vinicius, Marcio André, Salgado Luiz, Daniel Goulart, André Aleixo, Fabian Juarez, Leandro Flecha, Tomageski, Beto Colorado e Chico Maia. A Morada do Samba será a terceira agremiação a desfilar no sábado pelo Grupo Especial com o enredo “Quem não pode com mandinga não carrega patuá”, assinado pelo carnavalesco Caio Araújo.
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Os componentes da Mocidade realizaram um cortejo do barracão da escola em direção ao Espaço Cultural Octávio da Silva, onde as gravações do álbum ocorreram. Com as bençãos de Pai Tinho à frente da procissão, a comunidade cantou sambas históricos e chegou aquecida para os trabalhos. Convidado para fazer uma participação na introdução da obra de 2025, Eder Miguel cantou versos do samba-exaltação composto por Mestre Sombra acompanhado pelo coral. A equipe do CARNAVALESCO conversou com pessoas ligadas à Morada para conhecer detalhes do processo de preparação para esse momento.
Confiança no trabalho reconhecido pelo público
Após fazer parte da junção do samba campeão de 2023, a parceria do compositor Aquiles da Vila venceu o concurso realizado pela Mocidade Alegre para o carnaval de 2025. O artista falou sobre a importância da obra para sua trajetória, destacando a busca da escola pelo tricampeonato consecutivo.
“É uma honra, especialmente por ser Mocidade Alegre. Nos últimos 20 anos é a escola que mais venceu, é a escola que vai brigar pelo tricampeonato, então é uma responsabilidade absurda, uma responsabilidade muito grande. Em 2023, com o samba do ‘Yasuke’ que é nosso em uma junção com outro samba, mas a escola foi campeã, em 2024 foi campeã novamente e agora vamos fazer parte desse cortejo que vai brigar pelo tricampeonato. Desde o início eu sabia que esse enredo poderia gerar um grande samba. A parceria se reuniu um bom tempo antes, pelo que se ventilava por aí. ‘Pô, acho que o Mocidade vem com afro’, e é uma coisa que a gente tem acertado bastante, então sou muito grato por isso. Acho que o peso, se tem alguma coisa especial, é de estar na Mocidade e de defender o tricampeonato”, declarou.
O compositor confia na popularidade que o samba conquistou entre os apaixonados por carnaval e na forma como a Mocidade lida com suas obras para que atinja o rendimento desejado na Avenida.
“Eu espero muito e acho que o samba já tem dado retorno. Todas as enquetes, desde a época das eliminatórias, já colocavam ele como um grande samba. Junto a alguns outros das corimãs, ele está muito bem cotado entre os grandes sambas do ano. Acho que também é mérito da escola pelo grande enredo e como ela conduz. Espero tudo de melhor, e se puder ser tricampeão junto com a escola vai ser muito maravilhoso”, afirmou.
Assinando quatro sambas que desfilarão no Anhembi em 2025, Aquiles da Vila vive um ano dourado como compositor. Antes do início das gravações, o artista testemunhou o cortejo feito pela Mocidade Alegre e falou do sentimento de ver uma obra de sua autoria sendo gravada pela atual bicampeã do carnaval.
“Acabei de deixar o carro aqui e falei: ‘deixa eu dar uma sapiada na gravação, no audiovisual da Liga’, e me deparei com os componentes que hoje vão gravar fazendo um mini desfile, um cortejo, vindo do barracão para cá, cantando todos os sambas à capela. Harmonia, baianas, rainha de bateria, o próprio cantor, a presidente na frente com o pai de santo da escola. São essas coisas que emocionam a gente. Eu vivo um momento muito especial como compositor e poder estar aqui, ver essa situação, só me emociona”, disse.
Para Aquiles, as partes do samba da Mocidade Alegre para 2025 que mais mexem com o coração são os refrões. “É difícil definir. No de 23 eu tinha a minha frase preferida, mas aqui, se eu puder escolher, eu acho que os dois refrões, acho que são muito fortes. Um, com uma energia mais afro, que manda o recado, cara da Mocidade Alegre, e o refrão de meio eu acho que é uma forma espetacular de conseguir representar uma coisa dançante, que retrata tudo aquilo que precisa desse enredo. Acho que os dois refrões. Parece meio clichê, mas às vezes nem sempre. No de 23 eu ficava com a frase ‘pode ter fé que todo preto pode ser o que quiser’, e nesse eu fico com os refrões, tanto em letra quanto em melodia”, opinou.
Batucadas e surpresas para samba pegar na veia
Integrante do time de cordas da Mocidade Alegre, Jr. Denden também é o arranjador do samba da Mocidade Alegre para a gravação oficial. O violonista de sete cordas falou sobre a estratégia adotada pela escola para os trabalhos realizados e afirmou que a participação especial do cantor Eder Miguel foi a pedido do próprio mestre Sombra.
“Teremos uma atração surpresa, que já não é mais tão surpresa, de um amigo muito querido que vai emocionar a todos, que é o Éder Miguel, que tem aquela voz maravilhosa. O Éder dispensa comentários, foi uma escolha do Mestre Sombra para cantar o alusivo do samba, que é o samba do Mestre Sombra inclusive. O samba começa com toda essa parte da emoção através da voz, através do encantamento, desse chamamento, para posteriormente entregar para a presidente Solange que vai ter uma fala também em forma de agradecimento pelo nosso bicampeonato. Aquele abraço coletivo e aquele chavão dela: ‘Vamos embora turma, bora comunidade!’. Está tudo rodeando para ser esse caminho, e em seguida vai ser entregue para o Igor Sorriso, que é o nosso intérprete. Eu sou suspeito de falar do Igor porque é um cara sensacional e que tem uma entrega nota um milhão. Vão ter muitas emoções. Sobre o arranjo, é um samba que fala da mandinga, então tem muita batucada. Tem batucada na introdução, as bossas criadas pelo Mestre Sombra estão muito envolventes também e a gente interage com as cordas juntamente com o arranjo que foi feito da bateria, fazendo esse meio caminho entre a envolvência da batucada, o canto e as cordas”, detalhou o artista.
Jr. Denden afirmou que o samba da Mocidade Alegre para o carnaval de 2025 tem características que permitem ao samba conduzir o enredo através da emoção.
“Temos um enredo valente, um samba que vem para causar na Avenida. A gente costuma falar, harmonicamente, que é um samba em tom menor. Quando ele pega na veia, é aquele que emociona. Esse é um samba em tom menor que tem uma explosão, que tem uma garra e vai vir para causar sim. Estamos aí para isso”.
Estilo afro para se destacar no audiovisual
Um dos principais veteranos da equipe da Mocidade Alegre com mais de duas décadas na escola, o diretor de carnaval, Junior Dentista, falou sobre o retorno ao formato de gravações ao vivo do álbum oficial dos sambas-enredo para o carnaval de 2025
“Não é uma novidade, a Liga já fez isso em 2019 e 2020. Espero que dê o resultado que a Liga espera de divulgação. As escolas se prepararam para isso, está na cara. A gente olha pelos clipes, todo mundo se preparou. Mesmo que a gente já tenha feito antes, é um diferencial para o carnaval”, disse.
Fortemente ligada à religiosidade de matriz africana, a Morada do Samba apostou em uma estética alinhada ao enredo da escola, com roupas características. O diretor detalhou a respeito.
“A gente sabe que o Mocidade vem muito organizado. A gente está fazendo uma maquiagem nas mulheres, uma maquiagem meio afro, turbante na mulherada, vestimenta impecável, e um arranjo surpresa que a gente vai fazer para emocionar”, explicou.
Mais que um diretor, Junior Dentista é um apaixonado pela Mocidade Alegre. Mesmo após tantos anos participando de gravações de álbuns oficiais com a escola, o diretor demonstrou que o sentimento segue forte para mais um ciclo.
“Tudo que faz parte da história do Mocidade Alegre para mim representa tudo. Tudo, cada degrau que a gente passa rumo ao carnaval é um desafio, representa tudo. A gente faz com muito amor e tudo que a gente faz com amor o resultado é fantástico, representa tudo para a gente”, declarou.
A trajetória de Junior Dentista na Mocidade Alegre envolve também, ano após ano, acompanhar a forte emoção que a presidente Solange Cruz passa a cada apuração das notas dos desfiles. O samba de 2025 da Morada faz referência a esse momento, e para o diretor essa é a parte do samba que mais mexe com seu coração.
“Sou suspeito para falar. Eu gosto do samba todo, até pelo próprio enredo ele é emoção, que é o DNA da Mocidade. Mas a segunda do samba, ainda quando vem falando da fé, do 10, porque essa parte é a parte da apuração, é a parte que a Solange está com o terço na mão, é a parte que arrepia”, afirmou.
Técnica movida a emoção de uma escola de samba
Igor Sorriso personifica como poucos as características latentes da escola a qual defende. Dono de uma voz potente e de um estilo irreverente, o intérprete da Mocidade também é um profissional rigoroso quando se trata de preparação para suas atuações.
“Uma preparação sempre para cantar, independente do que seja, gravação, ensaio, desfile. Dormir, se hidratar, os exercícios de voz e estar disposto para poder cantar junto com a minha comunidade”, detalhou o artista.
O intérprete leva as características que definem uma escola de samba a sério, acreditando que a emoção é fundamental sem abrir mão da técnica na hora de atuar mesmo na gravação para o álbum oficial.
“A técnica é importantíssima sempre, mas a emoção não pode faltar até porque é uma escola de samba. Escola de samba é movida a emoção, então não pode faltar. A gente tem que sempre colocar a emoção na faixa do nosso CD, com certeza”, afirmou.
Em 2025, Igor Sorriso defenderá o pavilhão da Mocidade Alegre pela nona vez, sendo a voz de três sambas campeões do carnaval de São Paulo. Questionado sobre o sentimento de cantar o samba do próximo desfile da Morada do Samba para o álbum oficial, o intérprete afirmou que a obra se destaca na história da escola.
“É bacana você perguntar isso porque a Mocidade Alegre é uma escola que tem uma discografia incrível. Muitos sambas de qualidade, muitos sambas inesquecíveis que foram para a história do carnaval, mas esse samba de 2025 é um samba que tem uma força muito, muito singular. Estou muito feliz de poder dar voz a esse samba, de poder cantar esse samba. A minha comunidade já abraçou o samba e eu tenho certeza de que vai ser mais uma faixa incrível. Mais um samba incrível, e o samba é o combustível para uma escola de samba. É escola de samba, o samba é o combustível, então a gente está bem servido e vamos fazer esse samba acontecer se Deus quiser”, declarou.
Em plena sintonia com o samba da Mocidade para 2025, Igor gosta da obra como um todo, mas tem uma parte que bate mais forte no coração do intérprete.
“Um trecho só é bem complicado porque é um samba bem completo, é um samba com uma musicalidade incrível, com uma melodia linda, com uma letra muito forte, mas eu vou ficar com o refrão principal. ‘Firma o batuque, ecoa um canto de fé! Mocidade é negritude, axé!’. Isso é muito forte, eu acho muito bacana”, opinou.
Simplicidade e carinho no trabalho de mestre Sombra
Completando 30 anos à frente da bateria “Ritmo Puro”, mestre Sombra falou sobre o planejamento para andamento e bossas planejadas para a gravação da faixa da Mocidade Alegre para o álbum oficial de 2025.
“A gente está estudando trabalhar com o andamento em 140 bpm, 142, mais ou menos. Vamos colocar a bossa que a gente já está ensaiando. Assim que escolhemos o samba, colocamos algumas bossas. Vamos fazer um esquenta ali e sentir que tem várias bossas, então vamos ver qual que fica melhor no ambiente para a gente colocar”, afirmou.
Vivendo um ciclo especial comandando os ritmistas da Mocidade Alegre, mestre Sombra é conhecido pela simplicidade em todas as atividades atreladas à escola. O artista falou sobre o sentimento de participar mais uma vez das gravações para o álbum oficial do carnaval de São Paulo.
“Para mim é normal. São tantos anos, eu estou há 30 anos fazendo isso, não tem uma novidade, uma particularidade assim, não tem alguma coisa assim que eu possa falar. O que tem de grande é o carinho com o trabalho, com a escola, tentar fazer o melhor possível para a escola e esperando que agrade ao público. Isso é fator natural de todo trabalho que a gente faz, essa é a grande expectativa”, declarou.