Quando o Acadêmicos do Tatuapé desfilar em 2025, o intérprete Celsinho Mody completará dez carnavais à frente da ala musical da escola. Mesmo que não sejam desfiles consecutivos, dez também são os anos que o artista completará desde que retornou para a agremiação da Zona Leste em função de um ano sem apresentações.

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Celsinho, Tatuapé e o dez

Após estrear em 2006, foram dez anos passando por outras agremiações até retornar em 2016 naquele que foi o melhor resultado da escola até então, o vice-campeonato com o enredo em homenagem à coirmã Beija-Flor de Nilópolis. Logo nos dois anos seguinte, obteve as notas dez que deram ao Tatuapé seus dois títulos do carnaval paulistano.

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Fotos: Felipe Araújo/Divulgação Liga-SP

Todo apaixonado por carnaval almeja o dez quando pisa na Avenida. Mais que a nota máxima atribuída pelos jurados, o número é um símbolo para metas alcançadas e marcas memoráveis. Conquistar as notas dez sempre foi a missão de Celsinho Mody ao longo da carreira, mas o artista admitiu ao CARNAVALESCO que a nova relação com o dez tem um significado especial.

“Para mim é muito reflexivo. Toda vez que falo isso eu fico criando essa nostalgia porque eu jamais imaginei que fosse chegar a isso. Para mim, todo mundo fala assim: ‘pô, eu quero ser eterno numa escola de samba, eu quero fazer o que eu faço eternamente’, e eu não penso em nada disso. Eu penso em fazer um grande trabalho, o máximo que eu puder naquele ano, para fazer as pessoas felizes e a escola ganhar. Ganhar não só no resultado de carnaval, mas ganhar em felicidade. Hoje eu cheguei, já estava rolando o show do Juninho, um show espetacular no palco, eu demorei 50 minutos da porta da quadra até aqui na minha sala. Abraça um, abraça o outro, as pessoas perguntando. ‘Celsinho, me convida para ir em casa’, ‘vamos tomar um café lá em casa’, ‘tem uma foto sua na minha casa’, ‘estou rezando por você, todo dia minha mãe reza pela sua voz’. Que preço que isso tem? E pensar que hoje consegue multiplicar isso em dez anos só cresce. É muito forte”, declarou.

‘Sou um grão de areia no deserto’

Celsinho precisou de alguns instantes para continuar a conversa. A emoção era forte demais, e clara desde o momento em que pisou no palco na festa de lançamento do décimo samba que defenderá pelo Tatuapé. O intérprete cantou alguns dos principais sambas imortalizados na sua voz ao passarem pelo Anhembi. Seu retorno à escola em 2016 marcou também o início da fase que ascendeu a tradicional Academia da Zona Leste de quase 72 anos ao status de uma das maiores potências carnavalescas da atualidade. Por mais que os destinos de Tatuapé e Celsinho tenham se cruzado para formar os melhores momentos de suas histórias no carnaval, o artista credita a Deus os frutos colhidos em todos esses anos.

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“Primeiro quero dizer que eu sou um grão de areia no deserto. Quero frisar muito isso, eu sou um grão de areia no deserto, uma gota d’água no oceano. Sou uma peça muito pequena nessa engrenagem, sou apenas o cantor da escola, mas tenho certeza de que esse período que a Tatuapé vive é uma bênção de Deus. Deus abençoou, Deus que colocou pessoas trabalhadoras e focadas para desenvolver um trabalho, que estão sendo conduzidas mesmo pelas mãos d’Ele, que traçou esse tempo todo. Uma grande parte de tudo que a gente vê é uma grande bênção. É conjuminar as pessoas certas no momento certo e na hora certa. Eu tenho certeza de que isso aconteceu com a Tatuapé esses anos todos. Você vê que tem grandes sambas no meio disso tudo. Teve samba que eu via na internet que era criticadíssimo, mas depois que passava o carnaval a mesma pessoa que criticou, falou: ‘mas o samba da Tatuapé foi tão legal, pessoas cantavam’. Isso é a mão de Deus, que toca no coração das pessoas, faz com que eu tenha inspiração para a música, inspiração do carnavalesco de criar o carnaval, inspiração do diretor de harmonia de conduzir as pessoas bem. Eu caracterizo isso aí, é a mão de Deus que uniu pessoas trabalhadoras em prol de um projeto”, afirmou.

Personagens que fazem de cada samba único

São dez sambas defendidos pelo Tatuapé, mas por mais que alguns deles se destaquem, a forma como Celsinho trata cada um deles torna impossível escolher um que se destaque. Mais que cantar, o artista tem uma característica em seu trabalho que faz com que cada obra se torne única.

“Para cada samba eu crio um personagem. Mesmo que o enredo não tenha um personagem, eu crio um personagem para caracterizar a minha voz. Tem sambas que eu canto com a voz mais aguda, tem sambas que eu canto com a voz mais pesada, mais intensa, tem sambas que eu canto com a voz mais leve. Eu crio um personagem para esse samba e me aproprio dele tanto que eu me apaixono linha por linha, letra por letra, e tem vezes que até me confundo com o próprio autor. Tem vezes eu penso que criei aquela música de tanta propriedade que pego, então é muito difícil, não consigo escolher um. O que sei é que o samba da África (2017) foi muito cantado, é muito cantado até hoje. O samba do Maranhão (2018) é muito cantado até hoje. Esse samba da Bahia (2024) está sendo muito cantado. Deu para ver hoje, quando a gente começou a cantar, as pessoas dançaram, criou um momento apoteótico no desfile, um momento de muita alegria, muita interação. É por isso que não consigo escolher um”, detalhou.

Honra em defender o Tatuapé há dez carnavais

Na matéria sobre a festa de lançamento do samba-enredo do Tatuapé para 2025, Celsinho Mody agradeceu à escola, a Deus e celebrou a marca dos dez carnavais defendidos à frente da escola.

“Para mim é uma honra muito grande falar com vocês mais um ano pela Acadêmicos de Tatuapé. O décimo ano defendendo, dez sambas cantando nessa escola. Eu estou muito emocionado, muito honrado, feliz, primeiro com o presente que Deus me deu e com a honra que essa diretoria da escola, com a presidência e toda a comunidade me deram de viver dez anos tão felizes, com a aceitação altíssima da comunidade, com respeito da minha parte para a diretoria, da diretoria para a minha parte e cumprindo com o meu trabalho. Aqui é uma empresa, e eu estou prestando um serviço, mas eu presto um serviço com emoção, com amor, com a veia de samba e coloco meu coração aqui, e eu coloquei meu coração com a voz dez vezes. É muito emocionante, muito mesmo, ver uma festa como hoje, tão linda, com as pessoas felizes, esperando o resultado do samba, e eu senti as pessoas emocionadas também. Eu estou muito feliz, e quero agradecer, deixar meu agradecimento para Deus, em especial para Deus. Agradecer aos presidentes do Acadêmicos do Tatuapé, os que já passaram e os que estão por esses dez anos, e dizer que podem contar comigo para esse carnaval de 2025 com toda a minha energia, com algo a mais do que o meu coração, porque está pedindo isso, muito emocionado e vou cantar esse samba como o maior samba da minha vida”, disse na ocasião.