Dudu Azevedo é diretor de carnaval da Beija-Flor de Nilópolis desde 2020, quando a escola desfilou com o enredo “Se essa rua fosse minha…” e voltou para o sábado das campeãs. Outro sucesso seu foi o vice-campeonato em 2022 com o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”. O jeito de comandar o carnaval é inspirado no presidente de honra Anísio Abraão David e no presidente Almir Reis. Para 2023, ano em que a Beija-Flor vai apresentar mais um enredo político, na esteira do ano anterior, o diretor busca acertar erros de outros anos e planejar os riscos. O site CARNAVALESCO conversou com Dudu Azevedo para ouvir o que ele tinha para dizer sobre seu jeito de liderar, como ele solucionou alguns problemas e a entrada da Ludmilla como intérprete.

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Foto: Matheus Vinícius/site CARNAVALESCO

Você sente dentro da Beija-Flor um novo caminho com os enredos que dialogam mais com o dia a dia da sociedade?

Dudu Azevedo: “Não vejo como um novo caminho, porque a Beija-Flor já trouxe vários enredos críticos e sociais. A era Joãosinho Trinta falou muito disso. Depois também com ‘Saco vazio não para em pé’ e tem uma série de enredos que trazem essa parte social e política. Eu não vejo como um novo caminho, mas a gente vem de dois anos com enredo que coloca a sociedade para pensar e provoca a sociedade a ver história, a ver o seu dia a dia. Acaba que o componente se vê dentro dessa história. Isso é legal. Isso para a gente que trabalha esse nosso chão que é espetacular de estrelas é muito importante”.

É falado que vocês estão recuperando o jeito Beija-Flor de desfilar. Para você, o que é esse jeito da escola?

Dudu Azevedo: “Eu cresci vendo a Beija-Flor desfilar e tudo que eu queria era estar dentro para participar daquilo que eu via na Avenida. Em algum momento, depois da saída do mestre Laíla, que foi só um carnaval, começaram a deixar em dúvida esse chão da escola. Como eu já falei, são 3000 desfilantes, 3000 artistas. Quem veste a camisa da Beija-Flor leva no sangue, no peito e na raça o amor pela escola. A escola tem duas pilastras que a sustentam que são ensinamentos do Anísio [Abraão David] e, hoje, seguidos pelo Almir [Reis], nosso presidente: muito amor que a gente tem, nós derramamos muito amor, e muito respeito. Quem está aqui dentro tem isso por essência, são as pilastras que carregam a Beija-Flor. A Beija-Flor se encontra, como diz o samba de 2020, ‘Eu me encontro nos seus braços, Beija-Flor’. Ela se encontra nela mesma. Nosso papel é colocar essa energia por igual, equilibrar tudo isso trazendo grandes enredos, grandes sambas e fazendo esse show pulsar na Avenida”.

Foi pressão demais entrar na escola após resultados ruins e saída do Laíla?

Dudu Azevedo: “Eu vim um ano depois da saída do Laíla. A pressão da Beija-Flor é por títulos, está acostumada a ser campeã. Ela é a maior detentora de títulos da Marquês de Sapucaí, então vamos estar sempre nos cobrando para ser campeã. E está certo. Escola grande tem que ser campeã. Vamos trabalhar para ganhar títulos”.

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Como é trabalhar com o Alexandre Louzada, tão campeão, e com o André Rodrigues que é da nova geração?

Dudu Azevedo: “[O Louzada] é o maior campeão junto com a Rosa Magalhães da era Marquês de Sapucaí. Eles estão maravilhosamente bem na sintonia deles. É importante para nós esse trabalho do dia a dia. A gente sempre teve em mente que o Carnaval é uma obra coletiva, tudo é debatido, tudo é conversado. Eu os vejo o tempo todo conversando e chegando no entendimento. Eu nunca tinha trabalhado com dois carnavalescos e está sendo surpreendente. Eu estou gostando muito da construção coletiva”.

Doeu em você ver a escola entrar sem as pessoas na alegoria no desfile de 2022?

Dudu Azevedo: “Foi muito ruim, né. Nós fazemos planejamento de carnaval, colocamos diretores para cuidar das alegorias e profissionais que montam as alegorias no barracão. De repente, a gente se viu em um beco na nossa comunicação na Avenida. O carro ainda não estava montado já na curva e decidimos levar o carro sem as pessoas. Entendíamos que, lá em cima, nós conseguiríamos arrumar as pessoas que não aparecessem. Acabou não rolando. Uma composição que poderia dar um passo para o lado colocaria a gente em um outro patamar. Isso fez a gente, esse ano, treinar bastante a subida e a descida das meninas e dos meninos dos carros, colocarem os diretores com toda programação e planejamento novamente nas mãos. Já ensaiamos duas vezes subidas e descidas, tem mais um ensaio no sábado [11 de fevereiro]. Acredito que a gente vai reparar esse erro que aconteceu no último ano”.

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Qual é o seu desfile inesquecível no carnaval e por qual motivo?

Dudu Azevedo: “Eu coloco como meu desfile inesquecível meu primeiro ano de Beija-Flor: 2020. Gosto muito da letra do samba. Eu estou nessa batalha de Carnaval, eu falo, desde a barriga da minha mãe, mas tem 44 anos. Estou fazendo 10 anos de direção de carnaval, fiquei quase 10 como diretor de Harmonia. Quando você chega em uma Beija-Flor, é inesquecível o primeiro desfile. Entrar a primeira vez na Avenida e falar: ‘Caramba, cheguei na Beija-Flor de Nilópolis’. Não tem mais para onde subir. É uma escola de excelência. Eu cresci ouvindo o nome do Anísio, trabalhei ouvindo o nome do Almir. Quando você entra com essas duas pessoas e conversa de Carnaval, a gente vê o quanto aprende todo dia. O Anísio é uma entidade do carnaval e o Almir é uma enciclopédia. O dia a dia da Beija-Flor é uma coisa maravilhosa pela parte coletiva e vem desses ensinamentos, dessas pilastras que erguem a escola”.

Você vem mudando os concursos de samba. O que ainda pensa em fazer que não conseguiu colocar em prática?

Dudu Azevedo: “Eu já tentei uma vez Copa do Samba, que foi legal para caramba. Já fiz uma final com dois sambas só. Eu acho que é um momento muito importante para a escola. Eu respeito muito a ala de compositores. A ala de compositores é segmento da escola e temos que respeitá-los. Eles fazem uma canção que eleva o desfile. Eu acredito que 60% ou 70% do desfile é você ter um um grande samba-enredo. Já vi escolas campeãs passarem na Avenida com problemas e até erros, mas o samba te emociona. Eu sou do tempo que o samba era cantado no Maracanã. Para mim, samba tem que ser cantado em plenos pulmões, em coro, por muita gente. Na disputa de samba-enredo, você cria personagens dentro da escola de samba. Tem personagens que você só encontra nas disputas de samba-enredo e integrantes seguem essas pessoas para torcer pelo samba e depois ficam na escola. Eu vejo como um momento muito importante a disputa de samba-enredo. Por muitas vezes, eu tento tirar dos compositores aquela coisa do investimento para você mostrar sua grande obra. É claro que se me colocar para cantar ‘Parabéns’ é muito diferente do Roberto Carlos. Investe em cantor, investe em palco. Eu tento diminuir algumas ali no dia a dia. Só que é uma disputa e, como toda disputa, quem tem garrafa para vender acaba elevando o nível. Eu não gosto da palavra proibir, mas você orienta não ter bandeira, não ter alegoria, aí o cara vem com lencinho, bolinha, chuva de papel picado, tem sempre uma estratégia para abrilhantar uma disputa. Por isso, a gente está sempre se perguntando como deixar a vara bem baixa, para sempre fomentar novos compositores e grandes compositores a estarem na escola. É o desafio de todo ano. Na Beija-Flor, vai ter sempre disputa de samba-enredo, porque nós temos uma ala de compositores maravilhosa e nos brinda todo ano com grandes sambas. A gente não pode deixar de fazer isso todo ano”.

O que pensa sobre a posição do casal no desfile volta para cabeça da escola?

Dudu Azevedo: “Eles voltam para atrás da comissão de frente. A gente tentou um outro local, mas cria uma tensão, cria um planejamento de desfile que não há necessidade”.

Para você, hoje, qual é a principal função de um diretor de carnaval?

Dudu Azevedo: “Eu falo que eu sou um diretor de carnaval que eu gosto de trabalhar com os melhores. Eu não quero saber tudo, não tenho essa pretensão. Eu não digo: ‘Coloca a escultura assim que vai ficar bonito’. Não! Eu digo: ‘Você que é escultor, como que a gente coloca para ficar bonito’. Ele é o profissional. Eu não falo para o Rodney e Plínio para tocar assim. Eu quero saber como eles colocam 260 pessoas para tocar à vontade. Eu faço sempre um diálogo e um debate. Os melhores profissionais vão me dizer o que é melhor para aquilo ali. Eu tento equilibrar todas essas energias e essas sabedorias deles. Eu acredito que o bom diretor de carnaval tem que passear por todos os segmentos, entender de tudo e saber que precisa trabalhar com os melhores para que os melhores saibam tudo. Eu só preciso entender, mas quem tem saber são eles. Aí põe tudo isso unificado para passar na Avenida”.

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Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação

Em termos plásticos, qual é o caminho da Beija-Flor? É realmente impossível alguma escola de samba repetir um desfile como Áfricas em 2007 em termos de alegorias?

Dudu Azevedo: “Isso tem que perguntar para os carnavalescos [rindo]. Eles fazem alguma coisa, eu falo ‘bonito’, ‘maneiro para caramba’, ‘isso funciona’, ‘vambora’, ‘isso não é legal’, ‘isso não é maneiro’. Nós dialogamos, debatemos e achamos o caminho. Tem tanto material hoje diferente de 2007, a gente pode buscar volumes e riquezas diferentes de 2007 e de repente olhar falar que a escola está rica para caramba. Acho que cada carnaval é um carnaval. Eu acho que esse ano está rico para caramba, mas nem de longe se gastou o que se gastava naquele tempo”.

O falado gigantismo nas alegorias é um caminho sem volta?

Dudu Azevedo: “Eu prefiro falar de volume. O gigantismo às vezes te leva a planejamentos e risco de erro. Você ter volume é diferente. Eu adoro carnaval volumoso. Tem que ter volume. Nem sempre é uma escultura grande que faz você ser grandioso. De repente, você coloca 10 esculturas médias no carro e deu volume. Acho que volume é um caminho sem volta. Hoje, quem assiste quer se ver naquilo ali. Já foi se o tempo em que se fazia uma fantasia branca e falava: ‘representa a paz’. Hoje, a gente vive no mundo da imagem. Instagram, Facebook, tudo tem imagem. Quando você fala que aquilo ali é paz, você quer ver uma pomba da paz, por exemplo. Quando você vê, você interage com aquilo ali. Você está desfilando na Avenida, a pessoa está te apontando, está vibrando com você. Essa interação eu busco todo ano. Eu vejo como volume e imagem com essa troca de sedução de dentro para fora e de fora para dentro”.

Os componentes em todas escolas praticamente não sambam mais. Como melhorar o quesito Evolução?

Dudu Azevedo: “Realmente, quando a gente pega a década de 1980, é todo mundo sambando no meio da ala. Nós passamos por um período com o lance do desfile técnico. Eu gosto de fazer desfile para o povão, só que eu tenho que saber que eu sou julgado. Então nós temos o mínimo de organização e eu tento deixar o povo solto para andar para um lado, para o outro, abrir os braços. Tem uma palavrinha no quesito Evolução que pouca gente bate e aqui a gente brinca muito e cobra muito essa palavra: espontaneidade. Tem que ser espontâneo. Eu não posso ficar pedindo para todo mundo sambar, todo mundo abrir os braços. Tem que ser espontâneo. A melodia tem que te embalar de uma forma que você tenha espontaneidade de abrir os braços, de andar de um lado para o outro e sambar. É o que a gente tenta convencer o nosso componente a fazer”.

Com a entrada da Ludmilla, a Beija-Flor terá duas mulheres no carro de som. Como você aproveita as vozes femininas na tua harmonia?

Dudu Azevedo: “Hoje, o quesito Harmonia está sendo julgado por excelentes profissionais de canto, músicos, cabe a nós tentar entregar para quem vai nos julgar um equilíbrio de vozes, sustentação de vozes, não perder emissão de voz. E, nesse equilíbrio de um coro, eu tenho que ter voz masculina e feminina. Ano passado colocamos a Jéssica [Martin]. Esse ano, a gente tem a Jéssica e a Ludmilla ensaiadas, todas no seu timbre, fazendo um conjunto bem legal para dar cama ao nosso intérprete maior, a voz do Carnaval, Neguinho da Beija-Flor. Essa direção musical fica com o Betinho [Santos] ensaiando com eles. A gente confia muito no nosso carro de som”.