Conhecida nacionalmente como “Terra da Garoa”, a cidade de São Paulo teve, ao todo, quatro ensaios técnicos no domingo. Um deles foi da X-9 Paulistana, com ótimo desempenho do canto da comunidade da Zona Norte paulistana. Com um samba bastante simples, funcional e inspirado, a agremiação fez uma apresentação com diversas semelhanças com a primeira visita ao Anhembi para apresentar o enredo “Dona Ivone Lara, Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço?”.

Harmonia

Tal qual no primeiro ensaio técnico xisnoveano, chamou muita atenção o quanto a escola cantou o samba-enredo escolhido pela agremiação. Mais do que isso: os componentes estavam bastante leves, com a voz tranquila e bastante alta. Também é importante destacar que não foram percebidos grandes problemas com a sincronia entre o carro de som e o restante da escola – problema crônico do Anhembi.

X9 et InterpreteDarlan

A situação é ainda mais especial porque, durante o ensaio, a garoa foi e voltou cerca de duas vezes. Se não tinha muito volume, houve a insistência da precipitação – incapaz de tirar a empolgação dos componentes, afiadíssimos e com o samba na ponta da língua. Os integrantes cantaram em todos os setores da instituição e do próprio Anhembi.

A Pulsação Nota Mil sustentou muito bem o samba-enredo, e apostou em uma grande bossa, que marcou, com a execução de vários naipes distintos, boa parte da canção entre o refrão do meio e o principal.

Curiosamente, uma das raras exceções (se não a única) sobre o canto da escola foi, justamente, a bateria. Se garantiu a sustentação necessária para a canção, os ritmistas pouco cantaram na passarela.

Samba-Enredo

Elogiado por muitos, não falta inspiração para o samba-enredo. Grande baluarte do samba da Império Serrano, do Rio de Janeiro e do Brasil, dona Ivone Lara é o tema de uma canção que, claramente, foi muito bem recebida pela X-9 Paulistana.

X9 et Baiana

Com letra bastante simples, a canção remete a alguns sucessos da carreira da baluarte, que também tem prolífica carreira-solo. Também é exaltado o histórico enredo “Cinco Bailes Tradicionais na História do Rio”, composto por ela, Silas de Oliveira e Bacalhau para o Império Serrano em 1965.

É, entretanto, impossível não destacar os dois refrãos, extremamente simples, populares e de canto altíssimo por parte dos componentes: “Um sorriso negro, um abraço negro/Traz felicidade/A Zona Norte hoje canta/O seu canto que encanta/Dona Ivone que saudade” e “Meu amor por você é joia rara/Eu te amo dona Ivone Lara/Essa homenagem pra você vai ecoar/Dona Ivone Lara iá”.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Tal qual a comissão de frente, o casal de mestre-sala e porta-bandeira da X-9 Paulistana veio bastante segura e sem muitas ousadias. Gabriel Vullen e Joice Prado executaram menos giros que outros casais, mas interagiam bastante com o samba, entre si e com o público presente no Anhembi. A dança de ambos, por sinal, chamou atenção pela qualidade. Também estiveram presentes muita simpatia e sorrisos da parte de ambos.

X9 et PrimeiroCasal

A reportagem observou a apresentação do casal nas segunda e terceira cabines de jurados e verificou uma dança sem erros e giros seguros. Se as condições climáticas eram instáveis, com uma passarela ainda úmida e rajadas de ventos esparsas, Gabriel e Joice foram impecáveis.

Comissão de Frente

Bastante expressiva, a comissão e frente xisnoveana, mais uma vez, cumpriu o papel de apresentar o que viria pela frente com bastante galhardia. Com uma coreografia curta, os integrantes executavam sempre os mesmos passos de acordo com a execução do samba. Com uma dança que lembrava o samba de gafieira, tão tradicional no Rio de Janeiro, homens e mulheres contracenavam com muitos sorrisos e ginga.

X9 et ComissaoFrente

Ao menos nos ensaios técnicos, a X-9 não levou tripés – e, pela marcação na passarela, nada dá a entender que levará. Vale destacar, também, que os componentes não fizeram grandes saudações às cabines de jurados – algo bastante tradicional. Sem grandes ousadias, os integrantes, certamente, contam com a nota máxima pela segurança na execução dos passos – que foi confirmada no ensaio técnico deste domingo.

Evolução

Bastante leve, a escola apostou em diversos adereços (como bexigas e fitas) para ajudar no quesito. Sempre era possível verificar algo além da roupa se movimentando, criando um belo efeito no Anhembi.

X9 et Comunidade

Alguns staffs, entretanto, não pareciam muito satisfeitos com a apresentação da X-9 Paulistana. No corredor lateral da pista, eles chamavam os componentes e faziam cobranças, sobretudo, de responsáveis pelas alas. Ao menos em dois segmentos da instituição (as alas logo depois do segundo casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira e depois do penúltimo carro), as cobranças foram mais fortes – e, em uma delas, um staff saiu do corredor para ajudar a coordenação na passarela. Pelo observado, algumas alas abriam alguns espaços para o segmento que estava à frente, o que estava desagradando os staffs.

X9 et Destaque

Calcanhar de Aquiles de muitas escolas nos ensaios técnicos, a entrada da bateria no recuo foi bastante rápida, segura e sem contratempos. A ala seguinte à Pulsação Nota Mil, de passistas, merece elogios: além do samba no pé em dia, souberam evoluir com celeridade para impedir o aparecimento de buracos, mas sem configurar uma quebra na Evolução por ritmo acelerado.

Outros destaques

– Quando o cronômetro já estava girando, a escola estava executando um dos seus sambas alusivos. O ensaio técnico começou, de fato, com cerca de quatro minutos, com a execução dos primeiros versos do samba desse ano. A comissão de frente entrou na passarela na segunda estrofe da canção.

– A reportagem estava em frente ao carro de som da X-9 Paulistana e flagrou Darlan Alves, intérprete da escola, cantando alguns refrãos antigos de sambas históricos da agremiação junto com staffs e integrantes do carro de som. Eis que a mesma sequência foi executada na concentração – de acordo com o próprio, criada naquele momento.

X9 et MestreBateriaPresidente 2

– Um pede-passagem foi colocado na frente do espaço destinado ao carro abre-alas.

– Ao discursar na concentração, Mestre Adamastor, que também é presidente da escola, chamou diversos diretores e até mesmo integrantes de diretorias antigas. No discurso, ele destacou que é para mostrar a união da agremiação.

– Ao encerrar o desfile, a Pulsação Nota Mil tinha agogôs no final da bateria – instrumento que costuma ficar à frente em tal setor de escolas.

– A bateria, por sinal, voltou para o Anhembi à frente de um carro alegórico e de três alas, não encerrando a apresentação – o que é bem comum no carnaval de São Paulo.