Na noite do último domingo, em sua tradicional feijoada para São Jorge, a atual vice-campeã do Grupo Especial, Unidos do Viradouro, apresentou oficialmente sua equipe rumo ao carnaval de 2024. A estrela da noite foi o intérprete Wander Pires, principal novidade da escola na busca pelo tão sonhado campeonato, que escapou por um décimo no carnaval de 2023. A Vermelha e Branca de Niterói levará para a avenida no próximo carnaval o enredo “Arroboboi, Dangbé”, desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon.
Além da apresentação da equipe, na feijoada de São Jorge, a Unidos do Viradouro também anunciou novidades voltadas para sua comunidade. Antes da apresentação da equipe do carnaval 2024, o presidente de honra da escola, Marcelo Calil, anunciou a retomada do Instituto Viradouro Pedro Leon Monassa Bessil, com atividades voltadas para a comunidade e a escola mirim da Vermelha e Branca, que desfilará no próximo carnaval.
Marcelinho Cali fala sobre chegada de Wander Pires: ‘O maior cantor do Grupo Especial’
Presidente da Viradouro, Marcelinho Calil abordou a chegada do intérprete Wander Pires, a principal contratação da escola para o carnaval de 2024. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, Calil destacou a vontade de Wander no retorno ao microfone principal da Vermelha e Branca de Niterói.
“O Wander é um cantor que dispensa comentários, estreia em 94 na Padre Miguel, faz 30 anos cantando ano que vem. Um cantor com uma qualidade absurda, um cara extremamente experiente, vivido e que está com um tesão enorme de cantar na Viradouro. É um casamento perfeito, tivemos um cantor de muito sucesso por aqui por 9,10 anos, uma pessoa muito querida, pelo qual temos muito carinho, que agora a gente abriu essa parceria, ele segue na Mocidade e a gente vai fazer nosso trabalho com o cantor que, para mim, é o maior cantor do Grupo Especial do Rio de Janeiro”, afirmou.
A chegada de Wander Pires à Unidos do Viradouro também representou o fim da parceria da escola com o cantor Zé Paulo Sierra, que ocupou o posto de cantor da escola por 10 anos. A saída de Zé, porém, se deu em comum acordo, com o desejo de sucesso mútuo de ambos os lados, como destaca o presidente da Viradouro, Marcelinho Calil.
“Eu não tenho problema nenhum em falar, o Zé é uma pessoa muito querida, um amigo, um profissional maravilhoso e eu desejo todo o sucesso do mundo para ele. Foi uma questão profissional, de trabalho e nós entendemos que seria melhor para escola e para ele seguir por outro caminho. Desejo todo o sucesso do mundo, é um amigo, uma pessoa por quem tem muito carinho e respeito, assim como tenho pelo Wander, uma pessoa que se tornou amiga, para mim, é o melhor cantor do Grupo, técnicamente, de voz e tenho certeza absoluta que com essa vontade que ele está aqui, com o compromisso que ele está com a Viradouro, a gente vai ter um caminho de muita alegria, de muita felicidade no próximo carnaval”, ressaltou.
Para o carnaval 2024, a Unidos do Viradouro apostará no enredo “Arroboboi, Dangbé”, sobre a energia do culto ao vodum serpente, desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. O enredo é tratado pela escola como uma forma de apresentar na Marquês de Sapucaí uma parte ainda pouco retratada da África.
“O Tarcísio é um cara calmo, mas acho que ele já merece estar como um dos grandes carnavalescos do Grupo Especial, apresentou um carnaval incrível no ano passado, esse ano, junto ao João Gustavo Melo, nos propuseram o desfile do ‘Arroboboi, Dagbé’. A gente tem um desfile afrão, mas com uma vertente tão linda quanto a nagô, tão linda como os orixás, mas voltada para os voduns, especificamente para o vodun Dagbé, a serpente sagrada e seu legado, através de Ludovina Pessoa que, na transição atlântica África-Brasil, ela aqui instaura e como legado, o jeje, que é um candomblé mais fechado, um pouco menos conhecido, mas não menos importante. A gente vem com o respeito a essa representatividade, com a busca pela pluralização africana, a história nos mostrou sempre uma demonização de tudo que era afro e uma unificação de tudo que era afro. Um continente absurdamente grande e se fala que afro é tudo orixá, mas com todo o carinho e respeito aos orixás, obviamente não é. Buscamos trazer uma outra linhagem, outra etnia, que traz através dos voduns, um culto a essas divindades, com tanta beleza e admiração quanto os orixás. No final, vamos fazer uma grande homenagem, mas é importante para nós trazer essa mensagem de pluralização, de carinho e respeito a toda essa energia africana que vem nos abençoando. Muito carinho e respeito por esse enredo e tenho certeza que a escola fará um grande carnaval em 2024”, ressaltou Marcelinho Calil.
Rumo ao segundo carnaval solo na Viradouro, Tarcísio Zanon tem a missão de retratar uma ‘África diferente’ na Avenida
Responsável pela nota máximo nos quesitos que defendeu no carnaval de 2023, o carnavalesco Tarcísio Zanon segue na Viradouro para 2024. Com a missão de desenvolver o enredo “Arroboboi, Dangbé”, Zanon terá a missão de apresentar ao grande público, segundo ele, uma África diferente das que já foram retratadas na Sapucaí.
“Esse enredo tem a missão de trazer uma África diferente, que pouco foi retratada na avenida, tratando da religiosidade vodu mais especificamente. O enredo tem essa missão de desdemonizar essa religião, de desdemonizar a figura da serpente, justamente porque a gente sempre quando fala vodu, tem a imagem daqueles bonecos furados, que na verdade não são para o mal e sim para cura. Nós aprendemos lá no terreiro de Bogum, com o primeiro ogã da casa, que a palavra vodun significa ‘tudo de bom para você’. Nós temos essa missão de transformar as pessoas e trazer um novo olhar para essa religião e para essa divindade, que é a serpente adorada por esses povos, assim como em outros povos, outros animais são adorados”, contou.
A ideia do enredo da Viradouro para o carnaval de 2024 surgiu ainda durante a pesquisa da obra de Rosa Maria Egipcíaca, enredo da escola no último carnaval. O carnavalesco Tarcísio Zanon revelou que foi apresentado a história ao pesquisar sobre a religiosidade da homenageada no carnaval de 2023.
“A ideia do enredo nasce intuitiva com uma pesquisa que estava fazendo sobre o acotundá, que era a religiosidade de Rosa no Daomé, com um livro do Aldair Rodrigues e do Moacir Maia (“Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário”), de Minas Gerais, que traz as sacerdotisas voduns e me dá inspiração para pesquisar esse assunto. Nós fomos à Bahia, conhecemos o terreiro de Bogum, um terreiro centenário, trazido por Ludovina e a partir daí, começamos a desenvolver esse enredo”, disse.
Além da história de Dagbé, o enredo da Viradouro também abordará a saga de Ludovina, africana que parte rumo ao Brasil em uma missão espiritual. A história foi apresentada ao carnavalesco da Viradouro, Tarcísio Zanon, durante sua viagem à Bahia.
“A figura da Ludovina, que eu não conhecia, uma mulher para época, conhecida como de partido alto, que veio para cá com uma missão espiritual de abrir três casas e veio como uma rainha também, consegue cumprir parte da sua missão, deixando para suas ancestrais outras partes. Uma mulher que veio com uma missão e conseguiu realizar, dentro de toda dificuldade. A sinopse vai revelar mais, porém é uma parte bem emocionante que descobrimos lá na Bahia”, revela Zanon.
Diretor de carnava, Alex Fab aposta no entrosamento entre Wander Pires e Ciça
No carnaval de 2023, um dos quesitos em que a Unidos do Viradouro foi descontada pelos julgadores foi Harmonia. Justamente pensando nisso, a escola promoveu mudanças em seu carro de som para 2024, com a chegada de Wander Pires. Para o diretor de carnaval da Vermelha e Branca, Alex Fab, o talento individual da dupla será potencializado pelo coletivo da escola.
“O Ciça é um ícone do carnaval, é uma resenha muito agradável, muitas histórias, tem uma qualidade técnica indiscutível e Wander da mesma forma. A gente tem dois grandes astros do Carnaval, e aí Deus nos dê a sapiência para que a gente possa trabalhar. É esse grande encontro, a gente vai trabalhar muito pra essa sintonia para que nos permita uma harmonia nota dez, tanto no quesito propriamente dito harmonia quanto na no dia a dia, no trabalho, como um todo. A gente caminha muito bem porque são dois grandes profissionais desprovidos de vaidades, no sentido de ter o bem comum, o bem maior. A Viradouro potencializa o potencial de cada um, mas sempre pensando na coletividade”, comentou.
Com o enredo “Arroboboi, Dagbé”, a escola espera repetir o sucesso do carnaval de 2023 no quesito samba-enredo, no qual garantiu a nota máxima. O diretor de carnaval Alex Fab revela, em entrevista ao CARNAVALESCO, que a disputa de samba para 2024 sofrerá alterações, em busca da melhor decisão.
“No dia 2 de maio, nós vamos estar na quadra da Viradouro para recebermos os compositores para entrega da Sinopse com as primeiras explicações. A gente vai trazer pessoas que nos ajudam e nos ajudaram na pesquisa, tem o Gustavo, tem a direção da casa, a presidência da casa, que mergulha também muito forte na questão do nosso enredo. Nós trazer algumas pessoas também que tem esse fundamento porque esse enredo também é para quebrar alguns paradigmas. Vamos anunciar nesse dia algumas alterações no concurso e é interessante que todos os compositores estejam presentes, até aqueles que entregam o samba no dia, é importante que estejam aqui porque nós vamos anunciar algumas mudanças pontuais da disputa de samba-enredo pra sempre melhorar para eles o processo e também melhorar pra escola”, ressaltou Alex Fab.
Wander Pires se emociona na ‘maior homenagem de sua vida’
Sem sombra de dúvida, a noite de domingo, na quadra da Viradouro foi dele, Wander “A voz” Pires. Em sua apresentação oficial como intérprete da escola, o cantor recebeu diversas homenagens pelo público presente. Em entrevista ao CARNAVALESCO, Wander comentou sobre o sentimento de retorno à escola de Niterói.
“O sentimento é muito grande, estou maravilhado, ocorreu tudo bem, como pedimos a Deus. Estou muito feliz, nossos diretores fazendo por onde para tudo dar certo. É uma das maiores emoções que já tive em toda minha vida, até comparei com o momento que fui escolhido como intérprete oficial da Mocidade, na época, ou quando eu voltei para a Mocidade. Foi uma das maiores emoções da minha vida, inigualável. Me sinto em uma equipe de campeão, é muito orgulho para mim ser chamado para trabalhar nessa equipe de vencedores, guerreiros, espero um dia me tornar um deles”, salientou o cantor.
No carnaval de 2024, Wander fará uma inédita parceria com o experiente mestre Ciça, comandante da Furacão Vermelho e Branco. Para Wander, a parceria será ‘maravilhosa’. O sentimento é compartilhado por Ciça.
“A parceria vai ser maravilhosa, pois era um sonho trabalhar com ele. Uma vez nós quase trabalhamos juntos na Grande Rio, mas não aconteceu, pois eu já estava fechado com a Imperatriz, não deu. Agora, nós conseguimos estar juntos aqui na Viradouro para fazer um carnaval maravilhoso e vamos buscar o título”, disse Wander.
“O Wander é um craque, um ícone, vai ser muito fácil trabalhar junto dele”, concluiu Ciça, que já iniciou os ensaios de bateria rumo ao carnaval 2024. “A gente vai reduzir a bateria mais ainda, queremos fazer uma seleção mais elaborada, mais profunda para termos uma bateria com um pouco mais de qualidade, que é o nosso dever fazer isso. Eu gosto de trabalhar cedo”, explicou.