A Unidos de Vila Isabel irá levar para a Marquês de Sapucaí uma reedição no Carnaval de 2024. O enredo que será revisitado trata-se de “Gbalá – Viagem ao templo da criação”, apresentando originalmente em 1993. O desfile na ocasião foi desenvolvido por Oswaldo Jardim, a partir de uma ideia do próprio carnavalesco, e contou com um samba assinado pelo cantor e compositor Martinho da Vila, considerado o maior baluarte da história da agremiação. Três décadas depois, caberá ao multicampeão Paulo Barros a responsabilidade de recriar. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, o artista comentou sobre o desafio e exaltou o simbolismo de refazer este tema.
“O ‘Gbalá’ é um desfile simbólico para a Vila e para mim. Eu presenciei, vi de perto aquele Carnaval de 1993. O Oswaldo Jardim, há trinta anos, era uma das maiores referências. Ele fez trabalhos inesquecíveis. Inclusive, eu desfilei como componente em carnavais do Oswaldo Jardim. E agora estar tendo a oportunidade de reeditar um enredo que foi criado pela cabeça dele, é algo único. Ainda mais se tratando de ‘Gbalá’, que foi uma coisa que meio que mudou um pouco do conceito estético de alegoria. Muitas inovações vieram daí, vieram do Oswaldo, vieram do Fernando Pinto, e eu acho que bebi um pouquinho dessa fonte. A procura deles por essa característica de tentar trazer uma estética, não revolucionária necessariamente, mas diferenciada para o carnaval. A gente tem carro alegórico, seguido de carro alegórico, que passam e no final poucos ficam na memória. Vai ser uma oportunidade de ter uma estética diferenciada outra vez”, garantiu Paulo.
Antes de bater o martelo por “Gbalá”, a azul e branca do bairro de Noel cogitou também a possibilidade de refazer “Raízes”, desfile de 1987 assinado por Max Lopes, que rendeu uma quinta colocação. Ao ser questionado sobre como foi o processo de definição, Paulo Barros disse não ter tido participação, mas se declarou contente com a decisão da diretoria da agremiação.
“Eu não participei do processo de escolha. Foi uma decisão da escola. Particularmente, estava torcendo para que fosse ‘Gbalá’, até porque ‘Raízes’, que também seria um belo enredo, está escrito. ‘Gbalá’ não, é algo imaginário. Tudo que está dentro pode sair da minha cabeça. Afinal, estamos falando de um reino da criação, que eu vou dar vida de acordo com a minha estética. A escolha, para mim, foi muito acertada e estou muito animado com isso”, afirmou.
E a reedição de “Gbalá” no Carnaval de 2024 contará com a participação ativa do autor do samba, Martinho da Vila. O carnavalesco da escola do bairro de Noel relatou que pretende se reunir com o baluarte, mas não quis entrar em muitos detalhes.
“O Martinho, para mim e para todo mundo, é um cara fora da curva. O samba que ele fez para esse enredo, ‘Gbalá’, é uma obra extremamente descritiva. O que não me impede de criar a minha versão dentro do samba dele. Mesmo assim, pretendo sim me reunir com ele, mas por outros motivos. Hoje, eu tenho uma ligação com o Martinho que é segredo, mas que daqui a pouco vocês vão descobrir”, disse Paulo Barros, em tom de mistério.
Momento atual com a Vila Isabel
Paulo Barros está em sua terceira passagem pela azul e branca do bairro de Noel. Na primeira, no Carnaval de 2009, ele assinou junto com Alex de Souza o enredo “Neste palco da folia, minha Vila anuncia: Theatro Municipal, o centenário maravilha”, que obteve um quarto lugar. Já na segunda, no ano de 2018, o artista desenvolveu sozinho “Corra que o Futuro vem aí” e, apesar de todo o investimento, o resultado não foi muito feliz para a escola, que terminou a apuração na nona colocação.
Nesta terceira passagem, Paulo Barros estreou levando para Avenida o enredo “Nessa Festa, Eu Levo Fé!” e alcançou até aqui a sua melhor classificação na Vila Isabel: um terceiro lugar. Na entrevista ao site CARNAVALESCO, o artista falou sobre o atual momento dele com a agremiação e a diferença para os anteriores.
“A diferença principal é administração. A escola, para ir bem e ter resultado, depende disso. Se engana quem acha que o Carnaval ainda é feito nas coxas, não é mais. A Imperatriz é um exemplo disso. Não estou lá dentro, mas a gente ouve falar, a gente escuta. A imperatriz fez uma gestão empresarial da escola que foi excepcional, vimos o reflexo disso na Avenida. Tudo que a escola faz durante o ano se reflete no desfile. Obviamente, existem coisas que estão acima do nosso controle. A Vila teve a infelicidade de ter um problema no carro abre-alas. O problema foi resolvido parcialmente e a gente perdeu um décimo em três jurados de Alegorias e Adereços por conta dessa infelicidade. Foi falta de gestão? Não. Foi uma fatalidade, mas que a gente conseguiu dar uma solução rápida. Não foi totalmente resolvido, tanto que os jurados perceberam e corretamente descontaram um décimo. Eu espero que a gente continue nessa mesma pegada administrativa para que façamos de novo um grande Carnaval”, avaliou.
São Jorge na Cidade do Samba
Considerada a imagem do Carnaval de 2023, a alegoria da Vila Isabel que trazia um São Jorge todo em ferro e estilizado arrebatou o público presente na Marquês de Sapucaí e faturou o prêmio Estrela do Carnaval na categoria Originalidade. Agora, após o fim da folia, a escultura ganhou uma sobrevida.
Ela ficará exposta para quem quiser conferir de perto na Cidade do Samba, localizada na Zona Portuária do Rio. Durante o bate-papo com o site CARNAVALESCO, o criador da peça, Paulo Barros, respondeu sobre a sensação de ver a obra ganhar esse novo espaço.
“Chega a ser algo engraçado. Tentei de algumas maneiras e de algumas formas que esse trabalho não virasse lixo. Até para Miami eu tentei levar essa escultura do São Jorge. Só que a gente sabe que essa logística é complicada, que depende de várias coisas, principalmente financeiramente. Não seria um projeto barato. Porém, no frigir dos ovos, acho que ele veio parar no lugar certo, que é onde a gente produz e contempla o Carnaval. Que o São Jorge seja muito bem-vindo ao seu devido lugar”, declarou o artista.