Por Luan Costa, Allan Duffes, Maria Clara Marcelo, Matheus Morais e fotos de Nelson Malfacini

A Unidos do Viradouro foi a segunda escola a pisar na Marquês de Sapucaí neste domingo para realizar o seu ensaio técnico. Para aqueles que tiveram o prazer de acompanhar a temporada de ensaios de rua que a escola realizou no centro de Niterói, a noite de hoje foi apenas a coroação de um pré-carnaval perfeito, já para aqueles que ainda não tinham visto, a escola deixou o melhor para o final. A apresentação da vermelha e branca foi avassaladora do início ao fim e presenteou o público com um espetáculo completo, tanto sonoro, por conta do belíssimo samba conduzido de forma sublime por Wander Pires, acompanhado de uma bateria em estado de graça, quanto visual, já que a agremiação levou alguns elementos cênicos decorados e alas com vários detalhes para a avenida.

Uma determinada parte da letra do samba deste ano diz que o ninho da serpente está preparado para lutar, a ver pela força com que o componente entrou na avenida, eles realmente estão pronto para a batalha que será conquistar o tão sonhado campeonato. Dentre os vários destaques do ensaio, o maior de todos foi a comunidade, o canto foi impressionante, mas acima de tudo a garra de cada desfilante merece todos os elogios.

Em 2024 a Viradouro levará para a avenida o enredo “Arroboboi, Dangbé”, sobre a energia do culto ao vodum serpente. Criado e desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. Assim como no último carnaval, a escola terá a missão de encerrar os desfiles pelo Grupo Especial na segunda noite de espetáculo.

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“Na verdade a única coisa que a gente pode analisar é cara de satisfação, rosto de satisfação das pessoas. Porque cada um tem um lugar pra ficar, eu vou aí na bateria, Alex vem puxando a escola, daqui a pouco a gente faz um compilado de informação e fazemos a análise mais criteriosa, mas há sete anos na escola nós já conseguimos saber o termômetro pelo rosto do componente, o componente tá superfeliz, bateria feliz, carro de som feliz, mestre-sala feliz, porta-bandeira feliz a escola feliz, então significa que fez um um ótimo teste, um ótimo ensaio e agora é dar uma olhada com mais critério, mais calma, vem a transmissão, vê o que vocês vão postar, e aí chegar na segunda de carnaval fazer o nosso ápice, nosso melhor mesmo e tentar esse título que a escola tanto almeja”, explicou Dudu Falcão, diretor de carnaval.

Comissão de Frente

A comissão de frente coreografada pelos talentosos e campeoníssimos Priscilla Mota e Rodrigo Negri deu a tônica de como seria o ensaio da Viradouro neste domingo: forte, emocionante e avassalador. O casal é conhecido como “casal segredo” e o que vimos no ensaio foi apenas uma esquenta do que veremos na segunda-feira de carnaval, porém, o nível de entrega dos bailarinos foi espetacular, a caracterização também foi um dos pontos altos. A dança foi a grande protagonista da comissão neste ensaio, os componentes se apresentaram com muita intensidade e movimentos rápidos, o destaque ficou por conta de uma mulher que representou o próprio espírito da serpente, a expressão corporal dela deixou o público vidrado, já o ápice da apresentação foi quando uma grande serpente surgiu, vimos também o uso da iluminação cênica da Sapucaí no final.

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“Eu estou exausta, me acabei, eu me acabei. Que energia maravilhosa! Que público, que escola, que comunidade, que comissão! Muito bom, muito bom. Alma lavada. A gente está trabalhando muito, com certeza essa é uma das comissões mais elaboradas que a gente já fez até hoje. Acho que também muito fruto do nosso amadurecimento profissional, da gente pensar carnaval, entender o que vem funcionando, o que as pessoas estão gostando de ver. Como a gente pode servir ao enredo da melhor forma. E eu acho que esse é o trabalho, a nossa comissão de frente ela trabalha muito, ensaia muito e ainda falta uma semana e a gente vai trabalhar mais ainda”, citou Priscilla Mota.

“O ensaio foi maravilhoso. O ensaio técnico serve para isso para a gente testar essa energia, não só dos bailarinos, mas também da comunidade, do público. E foi maravilhoso, estou muito feliz com o resultado. Pode esperar essa energia que a galera veio hoje. Uma comissão que tem muita força, tem o encantamento do enredo e tem um toque especial que é a nossa marca. A magia, uma coisa que vai estar inserida nesse trabalho”, garantiu Rodrigo Negri.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Julinho e Rute fazem parecer que o bailado do casal de mestre-sala e porta-bandeira é algo fácil, no ensaio desta noite a dupla realizou três apresentações incríveis e arrebatou o público, ambos vestiram roupas predominantemente brancas e com muita renda. Toda a apresentação do casal merece atenção e aplausos, porém, a entrada no módulo de julgamento foi de arrepiar, Rute deu incontáveis giros, enquanto Julinho riscou o chão da avenida, vale lembrar que a pista estava molhada, mas nem isso tirou o brilho da apresentação que foi extremamente vigorosa.

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“Eu achei maravilhoso. Tem aquela ansiedade, aquela tensão normal, mas a satisfação de ter passado na avenida, cumprindo o que tem que cumprir no ensaio técnico. Mas a gente sai daqui com a sensação de que estamos no caminho certo e agora com os ensaios que a gente já começou a fazer essa semana anterior com fantasia, que a gente vai intensificar essa semana, é para melhorar, para passar daí para mais. A sensação para mim, eu saio maravilhado com o nosso ensaio. Sempre há algo o que aperfeiçoar, aqui é um termômetro, como eu disse. Aqui a gente sente como dosar a emoção, apesar que a emoção de hoje é uma emoção diferente do dia do desfile, mas é uma emoção chegar aqui e saber que é o povão que está assistindo o ensaio na Sapucaí, que às vezes nem todo mundo que está aqui hoje vai ter condições às vezes financeiras de assistir. Mas a gente sempre tem alguma coisinha. A Juliana, com certeza, ela é muito exigente, muito exigente. Ela quer que a gente se divirta, entre aspas, dançando, que a gente se curta, namore. Mas sempre ela tem uma coisinha, vamos melhorar aqui a mãozinha ali, o dedinho aqui, mas assim, saímos daqui com a certeza de que estamos faltando subir só um degrau para a gente atingir o êxodo, que é o que a gente quer e planejou”, disse o mestre-sala.

“Eu faço ensaio técnico desde a época que as seis primeiras colocadas do ano anterior faziam três ensaios técnicos e hoje eu descobri um negócio, que a gente faz uma marcação, aliás, voltando, eu sempre usei esse ensaio e final de samba como meu carnaval. Final de samba e esse ensaio sempre foi para eu brincar, para eu me divertir, eu fiz isso hoje sim, brinquei, dancei, a gente fez passo ao longo da avenida, fora das cabines. Nada tem a ver com a nossa dança, mas eu também aprendi que certas marcações que a gente faz, quando a gente vem para cá às seis da manhã, a gente não pode fazer, porque realmente as pessoas ficam ali e meio que atrapalham. O mais importante é que independente de eu considerar, hoje o meu carnaval, eu venho também com a responsabilidade para ensaiar, aprimorar, ajudar a minha escola, fazer um excelente ensaio técnico, porque já que criaram os rankings, a gente quer participar e quer ficar lá na ponta. A gente vem para cá com essa responsabilidade também, mas também brincar”, completou a porta-bandeira.

Samba-enredo

Um dos grandes destaques da noite foi o samba composto por Claudio Mattos, Claudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson Lemos, Vinicius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno. O hino da escola passou de forma avassaladora e permaneceu assim durante todo o ensaio, em nenhum momento o samba diminuiu seu ritmo ou cansou quem acompanhava, várias são os momentos que causam conforto para que ouve, a letra apesar de algumas palavras mais complexas consegue passar todo sentimento que o enredo pede, por exemplo, no verso “Num Brasil mais africano, outra areia, mesmo mar” boa parte do enredo é sintetizado.

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Harmonia

Não é segredo para ninguém que a comunidade da Viradouro está acostumada a defender seus sambas com unhas e dentes, não foi diferente dessa vez, a garra presente em cada componente foi fundamental para que o grande destaque do ensaio fosse justamente o canto, destacar uma só ala seria injusto, a escola gritou o seu samba de forma contínua por toda a avenida, até mesmo no final quando já não havia mais cabine de julgamento foi possível observar o alto padrão. A bateria furacão vermelha e branca comandada por mestre Ciça deu o ritmo e engrandeceu ainda mais o conjunto harmônico da escola, não teve quem ficasse parado com as diversas bossas realizadas, o entrosamento com o carro de som também foi nítido.

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“O rendimento foi maravilhoso, a gente estava super feliz. Rolou melhor do que a gente esperava. A gente se doou bastante, se entregou. É só um pouco da entrega que a gente vai fazer na segunda-feira de carnaval. Temos, tem mais uma coisinha ou outra. Eu me cobro muito, mas aos poucos é só questão realmente técnica, mais fôlego e isso aí, eu consigo nadando na piscina e a fono me ajuda também. Fiquei muito feliz, o mestre Ciça ficou feliz, ele ficou realizado. Eu rendi para ele, ele deu para mim e eu reverenciei para ele e ele para mim. Ciça é um fenômeno”, comentou o intérprete Wander Pires.

Evolução

Outro ponto de muito destaque foi a evolução fluída, organizada e vibrante da agremiação, todas as alas estavam extremamente compactas, organizadas e leves, o componente da Viradouro entrou na avenida sabendo exatamente o que fazer, engrandeceram o espetáculo de forma orgânica, espontânea e natural, um show de evolução. Até mesmo as alas coreografadas, que exigem um pouco mais de atenção, evoluíram com precisão. Para demarcar o espaço dos carros alegóricos no desfile oficial, a escola levou tripés representando alguns enredos da escola, algo simples, mas muito bem feito.

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Outros Destaques

A Viradouro presenteou o público com um verdadeiro espetáculo, pensado com muito carinho e realizado com muito carinho, em várias alas vimos adereços de mão elaborados e algumas carregaram até ervas, o nível de apresentação foi altíssimo, digno do que todo sambista merece prestigiar.

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Outro destaque do ensaio foi a presença da rainha Erika Januza magistralmente à frente da bateria “Furacão Vermelho e Branco”, nem mesmo o chão molhado fez com que ela diminuísse a empolgação e o samba no pé, mestre Ciça realizou inúmeras bossas e ela participou ativamente de todas.

“Para mim, foi excepcional e aquilo que eu esperava. A bateria está pronta e não cometeu nenhuma falha. O andamento, que era a preocupação, foi sustentado até o final. As vossas se encaixaram e ficou tudo muito dentro do enredo. Estou feliz da vida! Os atabaques são o foco dos naipes de 2024. Que eu percebi que não estava na altura que eu queria e vamos melhorar. De resto, são as caixas. Aqueles toques fortes, que fazem parte da minha vida. O nosso entrosamento da bateria com o carro de som é excepcional. Ensaiamos e conversamos muito, porque a bateria da Viradouro toca na frente. Tivemos a proposta da escola de colocar um andamento mais confortável. E ficou para trás demais. Conversamos e vimos que precisava ficar bom para o ritmista, que toca há 15 anos na mesma pegada chegar e mudar radicalmente, eles cedem. Ajustamos para ajudar a rapaziada da Viradouro. A fantasia é bonita”, garantiu mestre Ciça.