Por Luan Costa, Gabriel Gomes, Isabelly Luz e fotos de Nelson Malfacini
Movida pela força e energia de seu enredo, a Unidos do Viradouro escolheu já na manhã deste domingo o samba que vai representar a escola no Carnaval 2024. Dos 24 sambas inscritos no concurso, três chegaram na final e realizaram uma disputa equilibrada, decidida nos detalhes. Após o suspense, foi definido que a obra da parceria de Claudio Mattos, Claudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson Lemos, Vinicius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno será o hino oficial da agremiação. Antes da apresentação dos sambas finalistas a escola realizou o seu habitual show, contratado esse ano, o intérprete Wander Pires demonstrou total entrosamento com a bateria de mestre Ciça e contribuiu para mais uma noite memorável na vermelha e branca de Niterói. Foi uma final que entrou para a história com uma das melhores da agremiação.
No próximo ano a Viradouro levará para a avenida o enredo “Arroboboi, Dangbé”, que fala sobre a energia do culto ao vodum serpente. O tema desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio busca falar sobre a força que se manifestou desde épicas batalhas na Costa ocidental da África e que influenciou as lutas das guerreiras Mino, do reino de Daomé, iniciadas espiritualmente pelas sacerdotisas voduns, dinastia de mulheres escolhidas por Dangbé. Assim como no último carnaval, a escola terá a missão de encerrar os desfiles pelo Grupo Especial na segunda noite de espetáculo.
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“É uma emoção muito grande vencer novamente. A última vez em que eu havia ganho samba aqui foi no ano do ‘ensaboa’, onde a escola foi campeã e o samba foi um grande sucesso na avenida. Como o próprio presidente falou, foi a disputa mais forte da escola, fico muito feliz de ter vencido diante de outros dois sambas muito bons também. Eu gosto do samba por inteiro, mas acredito que o pré refrão seja o ponto alto do samba, já que prepara o público muito bem para o refrão principal”, explicou o compositor Claudio Russo.
“O sentimento é muito bom. São dois anos batendo na trave aqui e agora um samba lindo desse, maravilhoso que a Viradouro escolheu pra desfilar no Carnaval de 2024. Coisa mais linda, foi muito bom. Estou realizado. Minha parte favorita é o refrão principal, coisa linda”, comentou o compositor Júlio Alves.
“É a maior emoção do mundo ganhar mais um samba na minha escola de coração. Quem me conhece sabe que tudo que eu faço pra disputar, faço com muito amor, muita dedicação. Eu tenho duas paixões na minha vida, que é Viradouro e o Flamengo. Quando quando fala de Viradouro, pode perguntar meus parceiros, perguntar a minha família, tem que ser impecável. Começando do samba até a apresentações. Graças a Deus, papai do céu nos abençoou e a gente conseguiu trazer esse título. Conseguimos ser campeão. Graças a Deus. Temos só tenho só a agradecer essa comunidade linda. Agradecer os meus parceiro e agradecer a minha família que sempre esteve comigo me apoiando. Minha parte preferida é o “Ê Alafiou”, vai explodir na avenida”, garantiu o compositor Anderson Lemos.
Maior final da gestão Calil
Desde que agestão Calil assumiu a Unidos do Viradouro, a escola coleciona grandes enredos e sambas na avenida. Segundo o diretor executivo, Marcelinho Calil, porém, a final de samba para o carnaval de 2024 pode ser considerada a maior da história de sua gestão à frente da Vermelha e Branca.
“Todo ano é a maior, sem dúvida, o que a gente vem tentando manter tudo de bom que a gente fez no carnaval anterior e sempre acrescentar alguma coisa. É emocionante entrar na quadra e principalmente fazendo uma retrospectiva na nossa história aqui, como a gente pegou e como a gente tá conduzindo, nos deixa orgulhosos, muito felizes e a quadra do jeito que tá”, afirmou.
Para o carnaval de 2024, no qual apresentará o enredo “Arroboboi, Dangbé”, a Unidos do Viradouro recebeu 24 obras concorrentes em sua disputa de samba-enredo, sendo a escola com maior número de concorrentes no Grupo Especial. Para o diretor executivo da Vermelha e Branca, a marca é um feito importante para a escola, em meio a outras tradicionais no Grupo Especial.
“Foi muito legal porque a gente tem escolas gigantes no Carnaval, umas até mais antigas, com mais tradição, mais títulos talvez, mas você ver uma viradouro fazer a maior safra, acho que junto com a Mangueira, 24 sambas, sendo 20 da casa. Isso é um dado muito importante, mesmo ela sendo aberta, a gente tem sambistas da casa, muitas parcerias jovens de idade também, ou seja, acho que é uma continuidade do trabalho que tem dado resultado, a credibilidade da disputa tem dado resultado e acho que o momento que a Escola vive contribui pra que a gente tenha um número alto. Feliz, não é algo que passou desapercebido não, tô muito feliz”, comemorou.
Em meio a uma disputa com um grande número de sambas, diversos fatores são levados em conta na hora de decidir o hino da escola. Na Viradouro, Marcelinho Calil explica o processo de tomada de decisão. “Acho que é um conjunto de coisas, um conjunto de avaliações que termina hoje. Desde o início do tira as dúvidas, já vem fazendo essa sensibilidade de apurar e de entender o que que é melhor. Obviamente, a gente tem o que a gente pode aprender, que é o samba enredo, se baseia em letra e em melodia, mas a decisão da escolha de samba não é só pro samba enredo, ele vai proporcionar a escola um grande desfile”, disse.
Sensação de dever cumprido com a safra de sambas
Para o carnaval de 2024, a Unidos do Viradouro foi a escola do Grupo Especial com mais sambas concorrentes, com 24 obras. Segundo o carnavalesco da escola, Tarcísio Zanon, a safra proporcionou uma sensação de dever cumprido em seu trabalho. “Estamos aqui na quadra, com o coração assim na boca, porém muito tranquilos por saber dessa safra, desses grandes sambas que eles estão preparando pro próximo carnaval. A gente tem certeza de um dever cumprido e agora que papai do céu ilumine pra que a gente possa escolher o melhor”, disse.
No carnaval de 2024, a Viradouro levará para avenida o enredo “Arroboboi, Dangbé”, do carnavalesco Tarcísio Zanon. Para Tarcísio, o enredo terá a missão de desdemonizar o culto ao vodun serpente. “O enredo nasce de uma missão, acho que mais do que uma mensagem, é uma missão de desdemonizar a figura da serpente vodun. A religiosidade significa tudo de bom pra você, é uma religiosidade que traz inclusão, habita na natureza, habita na água, habita nas folhas e habita no bem da cultura brasileira. Nosso enredo vai muito além do que é só a mensagem, mas sim desconstruir e refazer o imaginário brasileiro, principalmente dessas culturas”, ressaltou.
Com o anúncio do enredo e a definição do samba da Viradouro, aumenta-se a expectativa pela parte plástica da escola para o carnaval de 2024. Segundo o carnavalesco, Tarcísio Zanon, a abertura da escola no carnaval deste ano, onde homenageou Rosa Maria Egipcíaca, será o parâmetro para o conjunto de alegorias e fantasias de 2024. “A gentees tá tratando da serpente sagrada do infinito, podem esperar uma Viradouro muito próxima do que foi a abertura desse ano da Rosa Maria, mas dessa vez uma explosão de cores maiores, já que a gente tem o arco-íris como referência da nossa serpente sagrada”, afirmou.
Andamento confortável
Em entrevista ao site CARNAVALESCO, mestre Ciça elogiou a safra de sambas e a final realizada pela Viradouro, além de exaltar o intérprete Wander Pires. “É inegável que tivemos três sambas maravilhosos na final. Tudo isso só mostra o nível que estamos. Trabalhar com o Wander Pires tem sido algo novo. A partir de segunda começaremos a ensaiar para valer juntos, mas ele é um excelente e consagrado cantor, não tenho dúvida de que dará muito certo”.
Ciça falou sobre a decisão de parar a bateria na frente dos módulos dos jurados, que não é necessário pelo regulamento, mas que vem sendo erradamente assinalado nas justificativas ou feito de uma forma subentendida. Além disso, o comandante da “Furacão Vermelho e Branco” citou o andamento de 2024.
“Em 2024 vamos parar e se apresentar em frente a todos os módulos de julgadores, pode ter certeza. Meu andamento para 2024 será o mais confortável possível. O Wander é um cantor que canta mais grave, precisamos acompanhar. O Zé também era um excelente cantor, trabalhávamos bem juntos, mas a proposta da escola agora é outra. Eu não poderia estar mais feliz com o momento da escola. Minha bateria está excepcional”.
O furacão Erika Januza continuará brilhando à frente da bateria de mestre Ciça em 2024, em pouco tempo a rainha já caiu nas graças da comunidade e está cada dia mais integrada à escola, com o carisma e beleza de sempre, ela esteve presente na final e falou sobre o entrosamento com a bateria, o momento atual das rainhas, relembrou as homenagens que prestou recentemente e prometeu surpresas para o próximo carnaval.
“A relação com o Ciça é maravilhosa, ele me ensina muito, aprendo com ele o tempo todo, até quando ele não está diretamente falando comigo, como às vezes também ele para e me dá orientações e me chama, eu tô aprendendo constantemente, estou há três anos na Viradouro e aprendendo ainda todos os dias, é uma honra. Além de tudo, grandes nomes, grandes rainhas que tiveram ao lado dele, então eu estar ao lado dele pra mim também é uma honra, já tô com ele querendo preparar coisas pra esse carnaval”.
Hora de focar nos ensaios
Uma das grandes contratações da Unidos do Viradouro para o carnaval 2024 é o intérprete Wander Pires. O cantor, segundo um dos diretores de carnaval da escola, Dudu Falcão, fará um dos maiores desfiles de sua carreira no próximo carnaval.
“É um baita de um cantor, não tem como como não agradecer a oportunidade de trabalhar com o Wander. O cantor que estava aqui é um grande amigo, um grande profissional também, mas estamos agora trabalhando com Wander, um cara que tem escutado muito o que a gente tem pra falar, ele tem aproveitado muito o talento dele e que as pessoas podem ter certeza que o que vai ser entregue esse ano é algo de uma performance que, talvez, nem o próprio já projetou isso, de tão feliz que ele tá. A entrega vai ser algo muito acima até do esperado”, afirmou.
A partir da escolha do samba da Unidos do Viradouro, o período de ensaios de canto da escola começam. O diretor de carnaval da escola, Dudu Falcão, fala sobre o calendário de ensaios. “Dia 10 nós estaremos aqui nessa quadra fazendo o nosso ensaio de canto e é uma sequência de de eventos que vocês já conhecem. É muito ensaio pra gente chegar bem preparado lá no carnaval”, revela.
Mais de 10 anos de Julinho e Rute
Juntos há mais de uma década, Julinho e Rute estão construindo uma história longa e vitoriosa na Viradouro, eles defendem o pavilhão da vermelho e branca desde 2018 e já conquistaram dois títulos. No último carnaval, novamente a dupla arrancou aplausos do público, Julinho faz um balanço do desfile que levou a Viradouro ao vice-campeonato e já projeta o próximo carnaval.
“Tivemos êxito no Carnaval de 2023, foi maravilhoso, mas a gente quer mais, a Viradouro quer mais. E estamos trabalhando já há três meses para que ocorra tudo da melhor forma. Minha expectativa para 2024 é a melhor possível, esse hino maravilhoso, esse enredo fantástico, eu acho que tá em boas mãos o encerramento do Carnaval 2024”, pontuou Julinho.
O dia já havia nascido e Rute ainda estava com todo gás, esbanjando carisma e seu bailado ao lado de Julinho pela quadra, perguntada de onde vem a energia, ela pontuou que além do amor, é por conta também do respeito e confiança que a escola deposita neles, cabe a eles retribuírem com muito vigor e dedicação.
“A energia vem do amor pelo que se faz. Amor pela arte e respeito. Respeito a todas as pessoas que lá atrás cuidaram e sonharam como Viradouro que é hoje, com essa potência. Então, a gente não tem que entregar, amor, energia, garra, gana, lutar, ganhar, fazer o melhor, porque lá na quarta-feira de cinzas isso tudo vai contar pra gente trazer a terceira estrela para Niterói”, disse Rute.
O carinho que sentem um pelo outro é nítido, eles se entendem apenas pelo olhar e tudo parece ser muito fácil, Julinho falou sobre as principais virtudes de Rute e agradeceu pela parceria que já dura 17 anos.
“A maior virtude da Ruth são várias, ela é sincera, é guerreira, emotiva demais, é coração demais, é paixão. Eu costumo dizer que a Ruth é o meu combustível que me impulsiona, ela me traz pra onde eu preciso ir. E assim, é uma irmã que eu tenho há 17 anos, eu não sei o que Deus nos reserva, mas eu sei o que ele está nos reservando, e o que ele está nos reservando é tudo de bom e do melhor”, disse Julinho.
Já Rute destacou o caráter de Julinho e aproveitou para dizer que tem o melhor mestre-sala ao lado. “Como ser humano é uma pessoa do caráter mais idôneo que eu conheço. A palavra do Júlio basta, ele não precisa ter papel assinado. E como mestre-sala, como respeito a todos os outros, mas eu tenho o melhor”, disse Rute.
Análise das apresentações das parcerias na final
Parceria de Claudio Mattos: iniciando a sequência de apresentações, o primeiro samba da noite foi assinado por Claudio Mattos, Claudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson Lemos, Vinicius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno. A parceria contou com uma equipe de peso no comando da obra, coube aos intérpretes Tinga e Pitty de Menezes conduzirem o samba, ambos pareciam estar em transe, esbanjaram entrosamento e muito vigor no palco. A apresentação foi inesquecível, durante as 10 passadas a obra mostrou suas credenciais para ser o hino oficial da escola, antes mesmo do início oficial a torcida ocupou todo o espaço destinado a ela e cantou o samba à capela. A torcida abusou do uso de balões coloridos e bastões coloridos. Nem mesmo as palavras consideradas difíceis no samba foram capaz de diminuir a empolgação do público, adesão na quadra foi unânime, todos os harmonias, componentes, diretoria e pessoas nos camarotes embarcaram no samba, inclusive a rainha Érika Januzza caiu no samba junto com a bateria. O nível da apresentação se manteve alta durante todo momento, mas no pré-refrão a quadra pulsava de uma forma diferente, foi uma verdadeira avalanche.
Parceria de Dudu Nobre: A obra assinada por Dudu Nobre, Samir Trindade, Victor Rangel, Deiny Leite, Valtinho Botafogo, Fabrício Sena, Felipe Sena e Jeferson Oliveira foi a segunda a se apresentar e contou com Gilsinho e Guto como intérpretes, a dupla foi fundamental para que o samba passasse bem durante a apresentação. A torcida também foi fundamental para a boa execução do samba, bastante numerosa, eles investiram em bandeiras, coreografia, papéis picados e até mesmo componentes fantasiados de uma grande serpente passearam pela quadra, as iniciativas causaram um impacto positivo na apresentação. Porém, o desempenho do canto ficou abaixo da apresentação anterior, na comparação foi possível perceber uma queda de rendimento e empolgação, alguns segmentos da escola cantaram o samba em alguns momentos, mas sem muita garra. No geral, a apresentação foi boa, com todo destaque para o verso “Se me desafiar é guerra”, presente no refrão, nessa parte o samba crescia e empolgava todos os presentes.
Parceria de Lucas Macedo: O terceiro e último samba a passar na final foi o da parceria de Lucas Macedo, Diego Nicolau, Richard Valença, João Perigo, Cadu Cardoso, Marquinhos Paloma, Orlando, Ambrósio, Lico Monteiro e Silas Augusto. Coube a Zé Paulo Sierra ser o intérprete oficial do samba, a forte ligação do cantor com a Viradouro transformou a apresentação em algo poucas vezes vistas, a simbiose de Zé, somada a força da obra fez com que os 20 minutos de apresentação fossem espetaculares. Não teve uma só pessoa parada na quadra, segmentos, harmonias, passistas, diretoria, todos cantavam com enorme facilidade e intensidade. A torcida foi outro ponto de destaque da apresentação, extremamente numerosa eles cantaram o samba a capela antes mesmo do início da apresentação e sustentaram do início ao fim, o efeito visual foi completo, teve bandeiras, papéis picados e fumaça. Extremamente melodioso, a obra se mostrou valente e com capacidade de ser o hino oficial da escola, foi uma belíssima apresentação, carregada de emoção e energia.