Quinta escola a passar pelo Sambódromo do Anhembi, a Unidos de Vila Maria exalou positividade ao abordar o enredo “O Mundo precisa de cada um de nós. A Vila é porta-voz”. Propondo uma reflexão após as adversidades causadas pela pandemia da Covid-19, a agremiação exaltou os bons ensinamentos deixados pela humanidade de diferentes formas, para que o público possa entender que sim, todos podem fazer a diferença por um mundo melhor. * VEJA FOTOS DO DESFILE
O desfile foi marcado por problemas desde antes mesmo do seu início, com direito a uma espera de quase uma hora para que a limpeza da pista pudesse ser concluída, após problemas mecânicos justamente do veículo de limpeza. Com os portões abertos, a escola teve um início de desfile forte, com destaque para a comissão de frente e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, mas começaram a acontecer problemas em sequências em diferentes elementos e colocam a Vila Mais Famosa em situação delicada para a apuração.
Comissão de Frente
Cada componente da comissão de frente vestia uma fantasia diferente, mas que podem ser divididas em três tipos. As primeiras simbolizam anjos que representam diferentes profissões essenciais para a humanidade. O segundo grupo conta com dançarinos representando as principais religiões existentes no mundo. O terceiro veio vestido como povos espalhados pelo mundo. Por fim, um componente segurando um globo terrestre representou o Jovem Sambista do Futuro.
A apresentação foi impecável. O Jovem Sambista interagiu diretamente com os profissionais da educação e ciência, este último que veio o tempo todo bailando com um grande arco. Com duração de duas passagens do samba, conseguiu passar uma mensagem marcante e foi o ponto alto da escola no desfile.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal da escola, Edgar Carobina e Laís Moreira, deu prosseguimento para o excelente começo da escola ao executarem uma dança muito sincronizada e com giros rápidos. A interação com o público foi constante e as arquibancadas corresponderam com muitos aplausos.
Harmonia
O canto da Vila Maria apresentou andamento correto e constante por todo o desfile. A bateria procurou não se arriscar em muitas bossas, mas com uma comunidade bem ensaiada, a escola conseguiu se manter animada e passou boa impressão no quesito.
Enredo
Baseado em um samba composto por Dudu Nobre durante a pandemia, o enredo sai em busca de bons ensinamentos deixados pela humanidade desde tempos antigos, passando pelo Império Romano, até as religiões predominantes nos dias de hoje. Os exemplos de vida das pessoas comuns, como trabalhadores da área da saúde, empresários e idosos, e o amor em diferentes formas de expressão tiveram setores próprios dentro do desfile.
Alguns segmentos tiveram dificuldade em passar a clareza da proposta da escola. As alegorias foram de fácil leitura, mas a história contada no geral foi de difícil compreensão com o andar das alas.
Evolução
O quesito foi um dos pontos delicados do desfile. Após o recuo da bateria, a parte da frente da escola começou a andar em um ritmo que as alas que vinham atrás demoraram em dar conta de preencher. Em outros momentos a evolução apresentou falhas sensíveis, como a ala Islamismo que causou efeito “sanfona” em alguns momentos. O quarto carro da Vila Maria apresentou problemas e derrubou algumas das grades laterais da avenida, comprometendo ainda mais a passagem da escola.
Samba-enredo
Apesar do próprio samba ser baseado na obra “O mundo parou” de Dudu Nobre, as letras apresentam grande distinção, e da adaptação para o enredo nasceu uma música de qualidade duvidosa. Não há momentos marcantes, e a composição possui andamento pouco convidativo para animar um bom desfile.
Muito mais ousada nos ensaios, a bateria passou bastante conservadora, com poucas bossas, e nem mesmo contando com a grande estrela Wander Pires no time de canto a escola conseguiu fazer o samba render na avenida. Com uma letra que não ajuda, a leitura do enredo acabou ficando muito nas mãos dos elementos visuais. Nem parece que o enredo foi baseado em torno de uma música.
Fantasias
A apresentação contou com um conjunto de fantasias nas quais, em sua grande maioria, são de leitura fácil. As roupas se encaixam no samba como se fossem uma representação visual do próprio, o que ajuda inclusive a enriquecer a frágil obra da escola. Uma ressalva pode ser feita quanto as alas “Cavaleiros Medievais”, que ficou com simbologia deslocada e só foi inserida para não deixar o setor carente da representação do cristianismo após a entrada no recuo da bateria, que veio caracterizada como São Francisco de Assis, e “Destemidos Empresários”, cuja roupa não ajudou a diferenciar esses profissionais da visão pejorativa de vilania normalmente associada a eles.
Alegorias
Os carros da Vila Maria tinham tudo para ser o ponto alto do desfile. Ricas e de fácil leitura, foram fundamentais para a compreensão do enredo da escola. A Abre-alas representou com muita qualidade o Império Romano. O segundo carro, “Em sua luz divina a fé nos guia”, conseguiu apresentar uma rara visão harmoniosa do encontro de diversas religiões. A terceira alegoria retratou as dificuldades encontradas pelas comunidades pobres das cidades, mas que mesmo assim conta com pessoas destemidas e dispostas a superarem seus problemas. Por último, quarto carro representou a biodiversidade e procurou passar uma mensagem de como o mundo precisa de cada um de nós.
Tinha tudo para ser um quesito gabaritado. Porém, o Abre-alas, que já havia sofrido dificuldades para ligar seu sistema de iluminação na concentração, voltou a se apagar na segunda metade do desfile. O quarto carro da escola passou totalmente apagado na pista, e com problemas para se locomover, quase causou um acidente grave, a ponto de grades laterais terem sido arrancadas. Preocupante sinal para a escola.
Outros destaques
Antes mesmo da escola entrar na avenida, um problema inesperado ocorreu após a passagem da escola anterior. Um dos caminhões-aspiradores responsáveis pela limpeza da pista começou a vazar óleo, obrigando toda equipe a fazer uma limpeza mais rigorosa com serragem.
O imprevisto causou um atraso tão longo que foi preciso apelar para alguns improvisos na apresentação da Vila Maria. Wander Pires tentou manter os ânimos dos componentes cantando alguns sambas e conversando com a imprensa. A rainha de bateria, Savia David, fez a sua parte e andou pelos setores da escola para encorajá-los. Por fim, um problema na manobra do carro Abre-alas fez com que o gerador se quebrasse e causasse um grande susto na equipe. Faltando menos de cinco minutos para abrir os portões, o gerador foi enfim religado, mas infelizmente voltou a apresentar problemas já na pista conforme dito anteriormente.