Por Rafael Soares, Luan Costa, Maria Clara Marcelo, Lucas Santos e fotos de Allan Duffes

A Unidos de Vila Isabel foi a terceira e última escola de samba a se apresentar na noite deste sábado em mais um dia de ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí. A agremiação teve que atrasar o início de seu treino por conta de um defeito no carro de som, que precisou ser trocado. Mesmo com a demora, quando o ensaio começou, por volta de 23h20, a Vila já mostrou toda sua força. A branca e azul estabeleceu um padrão alto de desfile e consegue repetir em todos os treinos que realiza. A defesa de quesitos é exemplar. A começar pela harmonia, que foi de grande volume e constante por todo o cortejo. Na evolução, vimos uma verdadeira aula. Um ritmo muito fluido e agradável para que os componentes desfilassem com tranquilidade para brincar. O aclamado samba-enredo, de autoria do gênio Martinho da Vila em 1993, e reeditado em 2024, teve mais um ótimo rendimento. Muito impulsionado por mais uma atuação de gala de Tinga e seu carro de som, sempre passando bastante energia aos desfilantes. E também por um desempenho formidável da bateria do mestre Macaco Branco, que impôs uma cadência perfeita para a execução da obra, além de bossas de qualidade musical e muito adequadas.

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A comissão de frente chamou a atenção pela representação de Oxalá em uma coreografia cheia de significado, embora com movimentos mais tranquilos. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcinho e Cris Caldas, dançou novamente mostrando muita beleza e segurança, apesar de um pequeno erro do mestre-sala na segunda cabine ao tentar pegar a bandeira. Mas isso não apagou o brilho da atuação, que ainda teve um belo momento de interação com crianças no final do número.

A Vila Isabel levará para a Sapucaí a reedição do enredo “Gbalá – Viagem ao templo da criação”, de autoria do saudoso carnavalesco Oswaldo Jardim em 1993. Neste ano, o carnavalesco Paulo Barros será o responsável pelo trabalho. A branca e azul será a terceira escola a desfilar na segunda-feira de carnaval, dia 12 de fevereiro.

“Foi um ensaio muito positivo na nossa avaliação. Ao meu ver fizemos ótimos ensaios na Boulevard 28 de Setembro, e o reflexo, obviamente, aqui no ensaio técnico, e esperamos que seja no desfile oficial.Gostaria de agradecer a todos o segmentos. E tenho que agradecer a comunidade que vem cantando muito, evoluindo muito. É um trabalho que a gente fez desde lá de trás,em outubro. E temos que valorizar, não só os ensaios de rua, mas os ensaios de setor que a gente fez fora dos ensaios da 28, dentro da quadra. E com tudo isso, a comunidade vem passando. Estou muito feliz e com a certeza de dever comprido. E o que a gente almeja, ansia é campeonato, único sentimento que a e gente têm, ser campeões de 2022”, explicou Moisés Carvalho, diretor de carnaval da Vila.

Comissão de frente

O grupo de bailarinos, comandados pelos coreógrafos Alex Neoral e Márcio Jahú, realizou uma apresentação com bastante significado. Quase todos eram homens, vestidos com roupas brancas, empunhando escudos e espadas. Um deles estava caracterizado como Oxalá. A única mulher estava vestida em cores verdes e representava a mãe natureza. Esses dois personagens tiveram grande destaque no número. De forma geral, os movimentos continham giros e pulos, bem sincronizados, embora mais simples. Em determinado momento, os guerreiros se reuniram em torno da bailarina e puxaram uma rede de dentro de sua bolsa levada nas costas. O dançarino que representava Oxalá se encaminhou para baixo dessa rede e começou a ser carregado por outro integrante.

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“Eu me emocionei em vários momentos. Tinha umas crianças atrás também com um casal, que eu achei lindíssima a relação delas com o casal. Acho que os meninos da comissão estavam lindos, interpretando muito bem o que vieram fazer, o oxalá, a dança. Achei muito lindo, daqui da frente foi muito bonito”, disse Márcio Jahú.

“Tem elementos, certamente. Porque também a gente tem que fazer de todo esse esforço do ensaio ser proveitoso pra gente. Então assim, logicamente a gente guarda os elementos surpresas, o que a gente tá realmente trabalhando a sete chaves, mas é sempre bom estar aqui, experimentando um pouquinho das ideias que a gente vai trazer”, completou Alex Neoral.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vila Isabel, pode ser considerado uma das melhores duplas da atualidade no quesito. Em mais uma ótima apresentação, os dois mostraram uma dança bem clássica, sem muitos momentos coreografados, embora com alguns movimentos mais ousados. Cristiane exibiu toda sua leveza característica ao bailar na avenida, parecendo levitar. Marcinho, sempre muito expressivo, mostrou sua habitual segurança e destreza. Os pontos de interação entre os dois foram muito belos, com uma sintonia que chamou a atenção. O mestre-sala fez duas pegadas de costas na bandeira, movimento sempre bem arriscado. Na segunda cabine de jurados, entretanto, Marcinho acabou deixando escapar, o que representa um ponto de atenção para o casal.

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“A gente estava ensaiando, teve alguns erros, mas nada que daqui para frente a gente consiga consertar. E acho que foi um ensaio lindo. Espero que a Vila também tenha feito um ensaio lindo. Teremos duas fantasias, talvez. Dei um spoiler”, revelou a porta-bandeira.

“Treino é treino, jogo é jogo. Claro que a gente treina como se estivesse jogando, mas o treino serve para gente não repetir os erros. Então, a gente trabalhou muito e hoje foi ótimo para gente perceber algumas coisas e fazer diferente. Fazer tudo certo, tudo, tudo, tudo, tudo certo na segunda-feira. A nossa coreografia é ousada. Eu acho que a gente tentou, pelo menos, manter o nível de ousadia e de criatividade do ano passado. Porque a gente sabia que o efeito não podia se sobressair a nossa dança e aí a gente tentou manter o nível e a gente até talvez tenha elevado um pouquinho. Então, assim, a gente está trabalhando muito para poder fazer, sustentar esse nível e fazer a ousadia que a gente está pretendendo. Sobre a fantasia: Uma frasezinha, luz da esperança”, completou o mestre-sala.

Samba-enredo

A Vila Isabel escolheu reeditar um clássico samba de sua grandiosa história. De autoria do gênio compositor Martinho da Vila, “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação” ainda é muito atual, possuindo alta qualidade de letra, que é muito poética, e melodia, com suas belas variações. O enredo é facilmente entendido através da obra musical. Seu rendimento, mais uma vez, se mostrou excelente. Através do forte canto da comunidade, impulsionado por atuações exemplares do intérprete Tinga e da bateria de mestre Macaco Branco.

“Maravilhoso nosso ensaio, a comunidade está muito feliz com o samba, com o nosso enredo, e vamos com tudo. Vila Isabel está vindo aí com força total para buscar esse título. Respeitando a todos, mas a gente vai vir para ganhar, se Deus quiser. Só que 100% nunca está, a gente vai procurar melhorar sempre até o dia de entrar na avenida. Mas esse foi o nosso último ensaio e espero que agora a gente consiga fazer um grande desfile. Eu converso muito com o Macaco Branco para a gente botar o samba no lugar, no andamento certo. Então, toda a bateria, toda a comunidade está de parabéns. Foi um grande ensaio, e se Deus quiser, também faremos um grande desfile”, prometeu o intérprete Tinga.

Harmonia

Mais uma ótima apresentação de canto da comunidade de Vila Isabel. Todas as alas cantaram a obra musical com muita facilidade, mostrando ter o samba na ponta da língua. Foi uma harmonia muito consistente, que pode ser ouvida desde o começo do cortejo até o seu final, mesmo sem ser explosiva. O ponto alto certamente é o refrão principal “Gbala é resgatar, salvar/E a criança, esperança de Oxalá/Gbala, resgatar, salvar/A criança é a esperança de Oxalá”, cantado com um volume incrível. Mas as demais partes também foram entoadas em ótimo nível. Talvez seja repetitivo falar do desempenho de Tinga, cantor principal da escola, mas é a pura verdade. Sua atuação foi fantástica do início ao fim do cortejo. Com uma voz limpa, o intérprete adicionou a sua já conhecida energia para embalar os componentes.

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Evolução

Grande apresentação da escola no quesito. Imprimindo um ritmo fluido de desfile durante todo o ensaio. O desfile foi constante, sem qualquer pausa mais longa ou aceleração indevida. Nenhuma espécie de buraco foi observada entre suas alas. Esse padrão de evolução se tornou uma marca da agremiação. E ela consegue repeti-lo com muita naturalidade, mostrando um ótimo trabalho dos profissionais envolvidos. Essa cadência perfeita de cortejo permitiu com que os desfilantes brincassem bastante seu carnaval, exibindo muita animação e espontaneidade. Os balões e pompons que carregavam deram um efeito a mais, além de deixar ainda mais marcante a felicidade dos componentes.

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Outros destaques

Como já se tornou costumeira, atuação de excelência da bateria do mestre Macaco Branco. Os ritmistas impuseram uma cadência muito adequada para o rendimento do samba-enredo na voz dos intérpretes e dos componentes. Todas as bossas foram de muita qualidade musical, bem adaptadas à obra, impulsionando ainda mais seu desempenho. Em uma delas, todos os instrumentos pararam de ser tocados, o famoso ‘apagão’. Isso deixou ainda mais nítido o grande nível de canto da Vila Isabel.