As baianas da Unidos de Bangu no desfile que conta a história da qualidade do Xangô menino, apresentando os festejos de Aganju, reservou para as baianas, matriarcas do samba e bastiões das religiões de matriz africana, uma parte central. Em “Awá Dupé… a roda de Xangô”, nome do figurino produzido para as guardiões do samba e religião, nos ritos Nagô, Ketu, Efon, Awá Dupé é um agradecimento a presença do rei de Oyó, o orixá Xangô.
A presidente da alas de baianas da Unidos de Bangu, Teresa Cristina, esclareceu mais sobre a fantasia, seu valor dentro do enredo e da religiosidade do tema, além de contar como as componentes ficaram felizes com o figurino.
“Fiquei muito feliz com a fantasia, com a escolha do tema do figurino e com o enredo. As baianas estão adorando, estão amando, vamos arrebentar na Avenida, mostrar a força que Xangô tem. Elas vem representando o Xirê de Xangô. É a força da escola, o orixá traz essa força. Todas adoraram porque todas adoram Xangô. Vai trazer uma grande energia, ainda mais que dessa vez não viemos abrindo a escola, deixando uma surpresa”, contou com alegria a presidente da ala.
Componentes da ala das baianas da Bangu, Maria Inês e sua irmã Maria Nazaré, falaram um pouco sobre a importância do figurino das matriarcas do samba apresentarem uma temática ligada ao afro e sua ancestralidade.
“Eu acho muito importante a gente não perder as nossas raízes,, as baianas em cada escola representam realmente a ancestralidade , na realidade partiu de Tia Ciata, então eu acho muito importante essa ala nunca acabar e a gente ter essa representação para os mais novos e que eles saibam contar a nossa história. Os novos não sabem mais , a gente se sente muito importante dentro dessa roupa, ainda mais com esse enredo”, conta Maria Inês.
A médica Maria Nazaré, irmã de Maria Inês, além de exaltar a fantasia e todo o seu significado, fez questão de ressaltar a valorização da cultura africana e das religiões de matriz dentro das escolas como um brado contra a intolerância.
“Em um momento que a gente vive tanta polarização religiosa, a demonização da cultura africana. Para as religiões de matriz africana, as escolas resgatam essa história da nossa ancestralidade, do povo preto que veio para ser escravizado e passa sua religiosidade de maneira bonita, alegre e não de forma como se fosse demoníaca. Respeito. As escolas de samba estão aqui representando uma religião que tem muita ancestralidade. É um brado contra intolerância, a gente tem que lutar até que todos nos ouçam. Temos terreiros de umbanda sendo destruídos e as pessoas que professam essa fé tem sido impedidas até de falar alguma coisa. Eu acho que isso tem que acabar”, acredita a baiana.
A baiana Valdemira Sacramento, aproveitou a importância da fantasia e do tema para lembrar de como as baians são importantes para as agremiações.
“É um resgate também do valor que as baianas tem. Tem muita gente que não valoriza a gente, mas na escola de samba a baiana não dá ponto, mas tira. Temos nossa importância no desfile porque somos ancestralidade das escolas, temos que ser valorizadas. Mas tem muita gente que não repara nisso. E além do desfile somos as pessoas que sempre ajudam nas escolas, na comida, barracão, fantasias”, completou a componente.