Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins

A Unidos de Vila Maria realizou na noite de domingo seu desfile no Sambódromo do Anhembi no carnaval de 2024. Os quesitos técnicos foram o grande destaque do desfile da agremiação, mas diferentes problemas, em especial com fantasias e em uma alegoria, comprometeram a passagem da comunidade da Zona Norte. A Mais Famosa foi a sexta escola a se apresentar pelo Grupo de Acesso 1, fechando os portões após 57 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente intitulada “Gira de Ogum” se apresentou em dois atos marcados por passagens do samba. O grupo era dividido em três, sendo um ator caracterizado como um Orixá de roupas vermelhas segurando correntes e os demais atores divididos em metade caracterizados como Ogum e a outra metade como São Jorge.

No primeiro ato ocorre muita interação entre os Oguns e os santos, enquanto na segunda parte a corrente do Orixá solitário é utilizada para uma interação entre eles. A dança foi marcada pelo vigor explícito. Os agrupamentos, empunhando espadas, arrastavam elas pelo chão e trocavam golpes, fazendo barulhos chamativos. Foi observado que ao longo do desfile a corrente passou a apresentar um nó, que pode ou não ser apontado pelos jurados.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal da Vila Maria, formado por Mauro César e Geisle Siqueira, desfilou com fantasias nomeadas “Energia do Irin”, e foi acompanhado de um grupo de guardiões chamados “Sabedoria”. O desempenho da dupla no desfile foi irregular. No primeiro módulo, o mestre-sala derrubou o adereço de mão (lenço) o qual é obrigado a carregar durante a apresentação. Nos módulos dois e três houveram falhas de sincronismo dos movimentos, com o mestre-sala parando giros antes da porta-bandeira em diferentes oportunidades. O quarto módulo foi o mais correto da dupla, mas a porta-bandeira girou em falso para um lado no início da coreografia.

Enredo

O enredo da Unidos de Vila Maria em 2024 foi “Forjados na luta, guiados na coragem e sincretizados na fé: a Vila canta Ogum!”, assinado pelo carnavalesco Fábio Ricardo. A proposta da Mais Famosa foi falar de Ogum através das diferentes manifestações do Orixá guerreiro. A luta cotidiana da vida das pessoas é refletida nas armas de Ogum e de São Jorge, sua representação na umbanda. A ideia foi, ao final dessas diferentes retratações, Ogum é coroado o “Rei do Irê” após uma apresentação tomada pela fé o sincretismo religioso.

A leitura do desfile da Vila foi fácil ao longo de toda a Avenida. As alas se comunicavam com as alegorias dentro da proposta do enredo e contribuíram positivamente para carnavalização da proposta da escola.

Alegorias

A Mais Famosa se apresentou com três carros alegóricos. O Abre-alas foi intitulado “Agbará de Ogum”, enquanto a segunda alegoria recebeu o nome de “Tem Festa no Xirê” e a terceira foi nomeada de “Salve Jorge”. As alegorias tiveram como representação a força das manifestações do Ogum, destacando na primeira alegoria a figura de Ogum no candomblé, na segunda os diferentes Oguns nas rodas de evocação dos Orixás e por fim a presença de São Jorge, santo católico ao qual o Ogum é atribuído na umbanda.

O conjunto de alegorias da Vila Maria foi belo, bem acabado e marcante, a destacar especialmente o segundo carro com a grande escultura em ferro representando Ogum. Os carros contribuíram positivamente para a leitura da narrativa no geral, porém, a terceira alegoria passou pela Avenida com a iluminação totalmente apagada.

Fantasias

As fantasias da Vila Maria formaram a composição do sincretismo religioso proposto pela escola. As primeiras alas faziam referência a Ogum e seus diferentes elementos, como seus ritos, chegando na parte final com a passagem às referências a São Jorge.

A vestimenta da escola foi capaz de permitir uma leitura bem clara do enredo ao longo de toda a Avenida, mas alguns segmentos apresentaram problemas com a peça da cabeça. Em dois diferentes módulos, o chapéu de um dos guardiões do primeiro casal caiu, algumas baianas também tiveram problemas com o adereço e a queda do adereço também foi percebida na ala “Salve São Jorge”

Harmonia

Um dos quesitos fortes da Vila Maria no desfile, o canto da comunidade se destacou em todo o desfile. O samba foi clamado pelas alas com clareza e desenvoltura pelos componentes, que em algumas alas demonstravam muita empolgação. Destaque especial para a ala “Ritual de Axexê”, que continha desfilantes especialmente animados.

Samba-enredo

O samba da Unidos de Vila Maria foi composto por Véia, Roberto Garcia, Martins, Zeca do Cavaco, Didi Pinheiro, Maradona e Dão, e foi defendido pela ala musical liderada pelos intérpretes Royce do Cavaco e Nêgo. Um samba funcional, capaz de narrar o enredo com clareza e que costurou bem com as representações das alegorias e fantasias, e que foi clamado animadamente pela comunidade da escola.

Evolução

O quesito mais forte da Vila Maria. A escola conseguiu fluir com tranquilidade por toda a Avenida, fazendo o recuo com segurança e dando liberdade para a comunidade brincar o carnaval, fechando os portões após 57 minutos de desfile.

Outros Destaques

A bateria “Cadência da Vila” esteve em grande noite sob comando do mestre Moleza. Bossas criativas e bem executadas, pensadas para enriquecer o andamento do samba, se destacaram no segmento musical da escola. A Rainha Savia David reinou soberana diante dos ritmistas com uma bela fantasia chamada “Me Visto de Mariwo”.