Com a mudança no regulamento, a única comissão de frente nota 40 do Grupo Especial de São Paulo em 2024 foi a Dragões da Real do coreógrafo Ricardo Negreiros. Com um tema afro, a comissão trouxe elementos de uma tribo africana, e tinha uma equipe de 33 pessoas para desenvolver o trabalho no enredo: “África – Uma constelação de reis e rainhas”. Em conversa com o site CARNAVALESCO, o coreógrafo Ricardo Negreiros contou bastidores sobre o trabalho desenvolvido no carnaval de 2024, na qual foi nota 40 e ajudou a escola no vice-campeonato.
“Foi um projeto muito bacana, inicialmente íamos ter 22 pessoas no projeto, migrou para 33 pessoas, só de elenco, sem contar time de alegoria que deu suporte. Pesquisamos alguns recursos, que a tribo africana tinha conexão com universo, o que podíamos fazer e identificamos uma tribo chamada Dogon, de uma religião específica da África, que eles estudavam o universo e falamos é isso, é isso que vamos fazer. Tentamos unir todos os elementos do enredo ali na comissão, trazendo esse estudo, essa conexão com o universo, mais os reis e rainhas que já foram, tentamos criar uma história em cima daquilo, fictícia, mas com uma proposta de unir tudo. A comissão veio para contar todo enredo”.
Com um grande elenco para apresentação, e em dois grupos, o coreógrafo contou sobre os desafios para trocas de elenco, e toda sincronia na pista: “No começo foi bem difícil, tivemos que fazer uma conversa com o time de alegoria. Para a gente conseguir fazer isso acontecer de fato e a galera do elenco tinha que decorar pela música. Então nos primeiros ensaios do Anhembi tivemos dificuldade de fazer sincronismo. Mas depois entramos em um acordo, deu tudo certo, era bem complexo e muita gente para sincronizar. Não tinha conversa, não conseguíamos conversar com o time de cima e o time debaixo, então foi bem difícil, mas no final das contas deu tudo certo”.
Há muito tempo na Dragões da Real, Ricardo Negreiros contou sobre a relação com a agremiação na qual não iniciou como coreógrafo, mas sim em outros setores da escola até chegar na comissão de frente.
“De coreógrafo é o quarto carnaval com coreografia de fato, pois tivemos a pandemia, onde não teve desfile, mas tinha o projeto desenhado. É o quinto ano, quarto como comissão, senão me falha a memória. Foi o Sorriso, Adoniran, João Pessoa e esse ano. A relação é muito bacana, muito positiva, a escola é muito acolhedora, estou no carnaval da Dragões desde 2016, eu vim para a escola com uma proposta de um enredo, a escola abraçou meu enredo, e no final das contas passei por alas, alegoria, e vim para a comissão, me identifiquei, deu tudo certo”.
Mesmo jovem, Ricardo Negreiros já tem uma história no carnaval de São Paulo e vai construindo em diferentes frentes, além de coreógrafo, também é carnavalesco na UESP, que são as divisões de bairro. Sobre sua trajetória nas escolas de samba, nos contou desde o início até o momento de sua carreira.
“Tudo começou quando eu era criança e queria muito fazer carnaval, me identifiquei muito com a figura do criativo do carnaval, e fui brincando. E quando fui crescendo, não muito, mas cresci, de estatura não sou alto, enfim… Comecei a me envolver com as escolas de samba para tentar entender e aprender. Principal objetivo era aprender, foi aí que me envolvi no Barroca Zona Sul, na Rosas, na Dragões cheguei com essa de aprender ao fazer carnaval e a escola me deu muito espaço para aprender, e isso foi muito bacana. E assim aprendi um pouco de alegoria, documentar o carnaval, as pastas que vão para os jurados. Aos poucos fui aprendendo e hoje ajudo, dou suporte nas escolas em todos esses sentidos. Nos últimos dois carnavais ajudei uma escola que hoje está no Grupo de Acesso de Bairros II, que é a Acadêmicos do Butantã, que ali tive oportunidade de fazer algo, mostrar de fato a minha criação, lógico que com suas dificuldades pelo grupo. Mas tudo foi muito bem e adorei isso”.
O quesito comissão de frente passou por mudanças, e para conquistar a nota dez, precisavam de um diferencial para conquistar o décimo complementar, além de garantir o 9.9. Pois a Dragões da Real do coreógrafo Ricardo Negreiros foi a única escola do Grupo Especial que conquistou a nota dez nas quatro cabines de jurado.
“Quesito comissão de frente veio com uma proposta diferente com aquele décimo complementar, que foi muito diferente para alguns quesitos que tiveram esse décimo. Achei bastante desafiador, esse ano foi de aprendizado, queria entender o que o jurado ia entender, o que era esse décimo complementar como isso ia funcionar e felizmente fomos 40, a única 40 do Grupo Especial. Isso me fez entender como isso vai funcionar, se vai acontecer no próximo carnaval? Não sei… Mas acredito que conseguimos trabalhar com o regulamento debaixo do braço, acompanhar bem as reuniões, prestar atenção nos detalhes e foi isso que fez que o projeto cumprisse essa nota máxima”.
Para 2025, a Dragões da Real tem como enredo “A Vida é um Sonho Pintado em Aquarela!”, e que na apresentação do tema já emocionou a comunidade presente no seu barracão próprio na Fábrica do Samba. Inclusive com apresentação da comissão de frente, onde a escola falará sobre os ciclos da vida humana através da música Aquarela e com direito a homenagem ao Jorginho Freitas, netinho do carnavalesco Jorge Freitas, que faleceu aos oito anos em abril.
Para o desafio, Ricardo Negreiros revelou que é um processo em construção: “Estou tendo alguns insights de como vamos fazer esse projeto e vamos ver no que vai dar, é muito novo, muito diferente. É uma proposta muito diferente, então precisa entender ainda como vai funcionar, conversar com o carnavalesco (Jorge Freitas), com a diretoria e ver como podemos fazer de fato. Pois se fizemos um projeto que impactou em 2024, temos que fazer algo que supere, esse é o grande desafio”.
A Dragões da Real será a terceira agremiação a desfilar na sexta-feira de carnaval, dia 28 de fevereiro, e em busca do primeiro título. Foram três vices, em 2017, 2019 e 2024, esse no último ano com “África – Uma constelação de reis e rainhas”.