O carnavalesco Wagner Santos é um dos artistas que está mais tempo no mercado do carnaval paulistano, com trabalhos consecutivos e entregando resultados importantes para suas agremiações. Desde o fim dos anos 90, Wagner Santos passou por Mocidade Alegre, Vila Maria, Tucuruvi, e está indo para o sexto carnaval consecutivo na Tatuapé. Em conversa com o site CARNAVALESCO, o artista falou sobre a carreira, momento e deu recados importantes.

Foto: Fábio Martins/Site CARNAVALESCO

Primeiramente, Wagner Santos refletiu sobre o carnaval como um todo, e a importância da formação artística que acontece no mundo das escolas de samba. Mas demonstrou receio em relação ao futuro.

“Carnaval é sempre um desafio. Não importa o ano, a data, você cada vez que passa, ano que passa, fica mais difícil se fazer o carnaval. Porque está tendo uma mudança cultural muito grande no povo, na população. Hoje em dia as pessoas não querem mais. As formações artísticas são tudo através de computadores, muita tela, programas, mas na verdade, as pessoas, o espetáculo tendem a ter dificuldade no futuro. Pois não vamos ter artistas para trabalhar na confecção e realização deste espetáculo”.

Em relação ao que abordou acima, Wagner complementou falando também da maneira que o carnaval é julgado e refletiu sobre a maneira que leva em seus enredos.

“O carnaval ainda é uma vertente que conseguimos formar diversos artistas, pois se não existisse o carnaval, a cultura estaria mais desfalcada ainda, pois temos uma deficiência grande na cultura. As gerações, cultura é só teclado, fica muito difícil cada vez mais concluir um espetáculo, carnaval, levar arte para avenida, levar cenografia, carnaval não é simplesmente luxo. As pessoas tem que entender que carnaval não é um luxo, carnaval é um espetáculo, onde você tem que retratar aquela história que você se propôs, não é sua história, seu desejo, sua vaidade de apresentar um carro bonito. Mas aquele carro não conta história e informação. Carnaval é cultura e informação, só que para quem leu a sinopse, para quem tem o entendimento, quem tem esse acesso, para quem não tem esse acesso fica muito difícil, por isso que as pessoas julgam o carnaval totalmente diferente. Pois poucas têm acesso à informação que é a sinopse”.

Carreira e os desafios

Wagner Santos está em atividade no carnaval paulista desde 1998, mas contou seus primeiros passos como um artista, e foi na sua infância no Maranhão.

“A minha história começou na arte muito cedo. Eu sou artista desde muito cedo, desde que me conheço por gente, já era um admirador de arte. Era do tipo de pessoa, criança, que ia muito na igreja, era admirador de peças religiosas, e sempre fui frequentador de procissões, manifestações folclóricas sempre estive presente. Nasci em São Luís do Maranhão, nasci em uma ilha, repleta de folclore, cultura, tradições, diversos tipos de tradições, desde africanas, folclóricas, religiosas, vivi muito isso. Tenho um aprendizado desde criança. Adoro ter a possibilidade de ter sido parte da modificação de todo esse espetáculo que é o carnaval de São Paulo. Faço parte do carnaval de São Paulo, desta história. Sou um dos carnavalescos que mais tempo está no carnaval de São Paulo e passei por todas as transformações, ficar no carnaval é muito difícil”.

Complementando, o carnavalesco deu recado importante sobre toda a criação e a essência da parte artística: “Não é qualquer pessoa que põe e que ganha o carnaval, o carnaval não é um espetáculo que as pessoas ganham, porque apresentou um carro alegórico bonito, não é a beleza, é a informação artística que o enredo leva. É assim que o jurado julga o carnaval, informação que está contida, se você trouxe informações naquele carro. Não é um espetáculo fácil de criar, as pessoas estão viajando muito só pelo lado bonito da coisa, mas não é, é a informação que você tem que passar”.

Sexto carnaval consecutivo na Tatuapé

Quando conversamos com algum carnavalesco chegando em uma casa nova, é falado sobre o tempo de adaptação, conhecimento da escola, e tudo mais. Wagner Santos vai para o sexto carnaval consecutivo na Tatuapé, e explicou um pouco deste processo.

“Quando o carnavalesco fica muito pouco tempo na escola, o primeiro ano é muito difícil, quando chega em uma agremiação. Pois quando chega em uma agremiação, você primeiramente precisa saber onde você está pisando, quem são as pessoas que você está trabalhando, como é aquela escola. Você tem que fazer o carnaval de acordo com as condições daquela agremiação. Não é o carnaval dos seus sonhos, é o carnaval do bolso da escola, do sonho da escola. A agremiação está colocando aquilo que ela tem condição de botar na avenida”.

Importância do trabalho de reciclagem

O enredo da agremiação da Zona Leste de São Paulo será Mata de São João, cidade baiana, e logo vieram comparações com o enredo de 2023 que foi Paraty. Ao ser perguntado sobre alegorias, estruturas e conceitos, Wagner Santos foi enfático e deu um recado sobre reciclagem e material.

“Ideia do ano passado não, cada carnaval é um espetáculo diferente. Não existe carnaval do ano passado, existe sim, se estiver falando sobre isso, existe reaproveitamento, no Rio de Janeiro já é uma lei dentro dos barracões. Aqui em São Paulo ainda existem agremiações que todo ano desmontam seus carros alegóricos, desmancham suas estruturas, e fazem outro carnaval novo. O carnaval já começou um espetáculo se aproveitando materiais, reciclando, eram de tampinhas, hoje em dia existe um desperdício e jogam os trabalhos do último carnaval, como se não fosse nada. Muitas pessoas não sabem reaproveitar o material, hoje em dia, se não souber trabalhar com material, não consegue desenvolver nada, tem que saber trabalhar. Material está muito caro, vai chegar uma época que as pessoas não terão condições de comprar material. Material cortado, isopor, tudo muito caro, não é pouco”.

A Tatuapé foi campeã com Wagner Santos em 2018, depois teve um 7ª lugar em 2019. Já em 2020 e 2023 ficou no 4ª lugar, voltando no desfile das campeãs. Em 2022 acabou ficando na 12ª colocação devido a utilização de um maquinário.