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Técnica irretocável e samba contagiante são destaques no terceiro ensaio técnico da Mocidade Alegre

A Mocidade Alegre foi a terceira escola a passar pelo Sambódromo do Anhembi neste sábado de ensaios técnicos, em preparação para o Carnaval 2023. Com destaque para o desempenho impecável dos quesitos técnicos, a chuva temeu o poder do samurai que homenageará e deu passagem para o espetáculo proporcionado pela comunidade do Limão. A Mocidade será a quinta agremiação a desfilar pelo Grupo Especial no dia 18 de fevereiro com o enredo “Yasuke”.

Comissão de Frente

A comissão de frente se apresenta ao longo de duas passagens do samba. Um tripé oculta parte dos dançarinos ao longo da encenação, permitindo explorar diferentes cenários na trama proposta. Manipulando pedaços de bambu como se fossem espadas, homens representam samurais, enquanto mulheres com leques em mãos atuam como gueixas. Um homem negro de aparência mais madura inicia a encenação em torno dos demais atores, dando lugar a outro, mais jovem, iniciando o segundo ato onde os samurais sobem na alegoria por escadas laterais. Os dois personagens distintos dos demais parecem representar a mesma pessoa em fases diferentes da vida, como se o primeiro iniciasse o conter de uma história. Provavelmente a pessoa em questão é o protagonista do enredo, o samurai Yasuke.

A apresentação é feita de uma forma que qualquer pessoa com mais afinidade com a cultura oriental irá se identificar. O clima que a atuação transmite é uma clássica retratação da saga de um herói que lembra enredos de animações japonesas. Funcionou como uma espécie de “live action carnavalizado” do anime que possui o mesmo nome do enredo. Fácil leitura e muito bem encenado do início ao fim. Seguindo dessa mesma forma, o desfile da Mocidade Alegre começará com o pé direito, de pisar equivalente à força dos passos do Yasuke visto na Avenida.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

A chuva que caiu forte durante o ensaio do Águia de Ouro cessou assim que a Mocidade Alegre entrou na Avenida. Mesmo assim, Jefferson Gomes e Natália Lago optaram por ensaiar sem calçados, e evoluíram vestindo apenas meias nos pés. O que poderia ser uma oportunidade de treinar uma dança para condição adversa do desfile oficial parece que foi abortada pelo casal, que praticamente não dançou durante o período em que foram observados. Muitas apresentações do pavilhão ao público seguidas, poucos giros mesmo para uma dança mais focada na técnica. Não foi um ensaio bem aproveitado pela dupla.

Ao avaliar o desempenho do quesito neste ensaio, Jefferson citou o estado da pista do Sambódromo, tão ruim que nem os calçados especiais foram capazes de ajudar.

“Foi um ensaio muito bom pelas condições. A gente não pegou a chuva para descer, mas pegamos muita chuva na concentração, que molhou a roupa. Como o piso está inadequado, não é o piso do desfile, nosso antiderrapante não funcionou. A gente optou por vir com uma meia e, dentro das limitações, foi excelente”, disse o mestre-sala.

Natália fez uma observação curiosa quanto ao pavilhão, e que faz sentido do ponto de vista da física: objetos pesados sofrem menos com o vento do que objetos leves.

“O pavilhão chegou a pesar um pouquinho, porque justamente a gente pegou um pouquinho de chuva na concentração. Por conta do vento, é até melhor ele estar molhado e não seco, mas isso foi de menos. O que a gente tomou cuidado mesmo foi a questão do chão. De não escorregar”, completou a porta-bandeira.

Harmonia

Uma aula de quesito Harmonia em forma de ensaio técnico. A sensação que fica é que que a Mocidade Alegre está um nível acima das adversárias em um elemento tão importante para um desfile de sucesso. A comunidade parece atuar como se fosse um gigantesco time profissional de algum esporte. Cumprem seu papel, ao mesmo tempo que estão atentos às instruções dos diretores de harmonia, que também são um show à parte. As instruções são fáceis de serem entendidas até por quem observa de fora, sendo possível até estimar os momentos que a escola irá realizar bossas e apagões. Um desempenho impecável de toda a equipe.

Evolução

Outro quesito que teve uma atuação na qual é possível definir como didática. A Mocidade veio compacta do início ao fim, como se fosse um enorme tapete humano, não se vendo brechas amplas entre as alas em nenhum momento. A estratégia de recuo da bateria “Ritmo Puro”, mantendo chocalhos na pista antes de entrarem por completo, além de belo foi brilhante.

Também se trata de um quesito que está aos cuidados da direção de harmonia de uma escola, e nas mãos de Magno Oliveira, o que parece ser apenas técnico se torna uma autêntica orquestra. O diretor gostou do que viu, mas acredita que a Morada do Samba pode ainda mais.

“Ensaio bom. Tomamos uma bela chuva durante a montagem e ficamos preocupados, mas a nossa comunidade é muito forte e pesada, chegou com vontade de fazer. Hoje fizemos algumas correções, mas temos trabalho ainda para fazer, não estamos zerados. Mas eu acredito que o canto melhorou bastante hoje, e trabalhamos bastante em nota de Harmonia. Eu acredito que demos mais um passo, mas precisamos ainda nos acertar e se alocar, para chegarmos do jeito que queremos, bem redondo”, avaliou Magno.

O andamento da Mocidade no ensaio foi tão imponente que toda a escola terminou de passar com 54 minutos sem apresentar aumento ou queda no passo ao longo de todo treinamento. Um minuto abaixo do tempo mínimo regulamentar? Nada disso. Como tem se tornado quase um ritual a cada ensaio técnico, após todos os componentes da Morada cruzarem a faixa amarela, ficando apenas a equipe de Harmonia, Jefferson e Natália voltaram para a pista com o pavilhão principal seguidos da bateria. Entraram por completo, curtiram mais um pouco o momento e saíram pisando juntos com o pé direito no final da Avenida, fechando o portão com incríveis 59 minutos. Magno Oliveira citou a importância de manter ensaios constantes com toda a comunidade.

“É ensaio. A gente passa dias e dias ensaiando, onde você imaginar que a escola estiver, ela está ensaiando. Graças a Deus a nossa comunidade realmente abraça a causa, e conseguimos trabalhar com eles tranquilamente. Claro que chegam aqueles foliões de última hora, mas um vai ajudando o outro. Fizemos um trabalho na concentração mesmo antes da chuva. A chuva nos atrapalhou um pouquinho, mas no contexto foi legal. Então a gente consegue fazer essas coisas graças a Deus. Trabalhamos com um pouquinho de gordura realmente, então quando dá para a gente voltar, fazer e tal, a gente trabalha com isso. Quando não dá, segue o jogo. A gente trabalha muito para isso. É realmente um trabalho de barracão, com os diretores de alegoria, então é um contexto geral. Não sou só eu ou só o Junior Dentista. É todo mundo que abraça realmente a causa e trabalha. Acredito também que as outras escolas estão se preparando, e quem ganha é o público”, celebrou.

Um elemento que chama bastante atenção da atuação da direção de harmonia é a facilidade de compreender o significado dos sinais feitos pelos componentes do corpo técnico. Com uma passagem do samba de antecedência, toda a escola se comunica por gestos ao longo dos corredores, fazendo com que os diretores de ala transmitam o comando para os desfilantes e preparem a bateria para o que a escola pretende fazer naquele momento. Magno Oliveira novamente destacou a importância de todos os ensaios realizados ao longo da preparação da escola.

“Isso é baseado em ensaios. Ensaiamos incessantemente, principalmente os sinais. É para toda a escola saber o que estamos fazendo, e os sinais não são só para a diretoria ver. Toda a escola sabe exatamente quais são os sinais que fazemos. Fazemos isso no ensaio de domingo, no ensaio de sexta, fazemos nos ensaios específicos, e graças a Deus a gente consegue ter essa comunicação com o pessoal”, explicou.

Diante deste verdadeiro elenco de centenas de jogadores, Magno Oliveira exalta mais uma vez a comunidade da Mocidade Alegre como ponto mais alto do último ensaio técnico geral no Sambódromo do Anhembi.

“O que eu mais gostei, volto a dizer, é a nossa comunidade. Essa comunidade é incrível. Caiu o mundo, nos assustamos, e do nada começaram a brotar. Os ônibus chegaram, mesmo com o trânsito ruim, então eu dedico esse ensaio à nossa comunidade com certeza”, concluiu.

Samba-Enredo

Fruto de uma junção de duas obras finalistas, o samba da Mocidade Alegre caiu nas graças da comunidade e é um dos mais ouvidos da safra de 2023 de acordo com a plataforma de streaming Spotify. Uma obra de concepção simples, seguindo uma estrutura tradicional de samba-enredo, mas que funciona e levanta o público graças ao potente coral da Mocidade Alegre. Como o enredo traz uma proposta de temas que mistura o afro com o oriental, o que se vê na bateria é uma interação com o samba na forma de uma mistura exótica, porém contagiante de ritmos que levantam o público em bossas bem caprichadas e uma interpretação irretocável da ala de canto liderada por Igor Sorriso. O intérprete saiu da Avenida em êxtase, e falou com muita empolgação sobre o desempenho do quesito no ensaio.

“Meu povo canta demais. Minha comunidade canta muito, fica fácil. Sério, de verdade. É que eu não quero perder esse privilégio de ser cantor da Mocidade Alegre, mas todo mundo que não teve a oportunidade, tinha que ter a oportunidade de ser cantor da Mocidade Alegre por um dia para entender o que estou falando. É muito bom, é muito fácil, o povo canta demais. Fica fácil conduzir o samba. Eu sou apenas o porta-voz. Eu direciono, dou o caminho e o povo canta. Fica fácil”, comemorou.

Ao apontar o que melhorou em relação aos outros dois ensaios, que foram feitos em um espaço de tempo muito próximo um do outro, Igor citou a importância de se ambientar com a Avenida.

“É claro que quando a gente vem para a pista, para o campo de jogo, todo mundo fica tenso. No primeiro ensaio, está todo mundo tempo e aí vai se acostumando, o povo vai ficando mais à vontade, mais seguro, e consequentemente o ensaio vai evoluindo. Eu acho que do primeiro para o terceiro ensaio, fomos evoluindo progressivamente e o caminho é esse. E agora temos o quarto ensaio, que é grande dia, no desfile, que será ainda melhor, pode ter certeza”, declarou.

A ala de canto da Mocidade Alegre possui a presença de duas vozes femininas que estão se destacando nessa preparação para o Carnaval de 2023. Igor Sorriso falou sobre elas e exaltou a importância que possuem no desenvolvimento do trabalho.

“Talita Padovan e Didi Gomes, minhas duas meninas do carro de som, cantam demais. Auxiliam naquelas notas mais agudas, dão aquele brilho, aquela leveza ao samba, aquela qualidade vocal, isso é bacana. Tem a voz dos homens, aquele peso, mas tem a voz das mulheres também, para dar aquela leveza, que é o equilíbrio que a gente busca”, concluiu.

Outros destaques

Da comissão de frente até a última ala, passando por destaques de grande brilho, como a médica campeã do BBB Thelma. O brilho da Rainha de bateria Aline Oliveira se destaca em meio a essa constelação chamada Mocidade Alegre, com a bateria “Ritmo Puro” tendo novamente uma atuação fantástica liderada por Mestre Sombra.

O que se viu no Sambódromo do Anhembi neste sábado foi um conjunto geral do mais alto nível. Há elementos que ainda podem ser polidos, mas na essência é inegável que a Morada do Samba mais uma vez é candidata forte ao título do Carnaval de São Paulo. Com a temporada de ensaios técnicos quase acabando, o patamar do Carnaval de 2023 está especialmente nivelado para cima, e a Mocidade Alegre tem papel fundamental nas expectativas elevadas que a festa deste ano proporciona aos que estão acompanhando os preparativos desde o começo.

Colaboraram Gustavo Lima e Fábio Martins

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