Um dos sucessos do pré-Carnaval é Eduarda Apolinário, de 18 anos, passista plus-size do Salgueiro. A jovem dançarina começou no samba na ala de passistas mirins da Imperatriz, em 2015, mas o seu sonho já era desfilar pelo Salgueiro. Hoje, na sua escola de coração, emociona e inspira com seu talento outras mulheres a serem felizes com seus corpos.

duda1
Fotos: Matheus Vinícius/site CARNAVALESCO

“Eu sempre quis ser do Salgueiro, mas, para mim, era muito difícil chegar lá por causa de falta de recursos. Em meados do ano passado, eu fui procurar se já estava aberta a inscrição para a ala e vi que tinha o projeto [Samba no pé]. Fui fazer a inscrição e já fiquei”, disse Duda.

Infelizmente, a passista já sofreu gordofobia, nome dado ao preconceito com as pessoas gordas. Como é comum associar as passistas a um padrão de beleza específico, a presença dela já causou reações negativas no seu passado. Muitas pessoas já declararam vergonha de dividir ala com Eduarda.

“Quando eu era da Imperatriz, mães de passistas mirins falavam para minha mãe que, se tivessem uma filha gorda, teriam vergonha de ter na ala de passista. Olhares também, às vezes não precisa ser dito. Muita coisa. Falavam que ser passista gorda é uma vergonha”, relatou ela.

Nesses casos, a forma de resistir é o conhecimento. Apesar da dor que essa discriminação já lhe causou, Eduarda comenta que se sustenta na luta das pessoas gordas que vieram antes dela. Hoje, é ela quem abre caminhos e acredita que seu exemplo vai encorajar futuras gerações. A partir da repercussão que vem tendo nas últimas semanas, mulheres gordas já a contataram para falar sobre seus próprios casos.

duda2

“Depois que meu vídeo repercutiu bastante, muitas meninas vieram falar que eu sou inspiração. Uma menina falou que na cidade dela não aceitam passistas plus e falei para ela vir para Rio para sambar e ser passista comigo. Saber que sou uma inspiração para elas me dá mais força para continuar todos os dias. É mostrar que o samba não tem corpo e ele pode ser para todos e para quem quiser. As pessoas têm que entender que o samba é para todo mundo e não tem padrão”, contou a passista.

O reconhecimento veio pelas mãos de Carlinhos Salgueiro. Coreógrafo e responsável pela ala coreografada Maculelê da vermelho e branco, ele viu o potencial de Duda Apolinário no projeto Samba no pé. A passista fica grata por seu caminho ter cruzado com este professor.

“Ele é um mestre! Para mim ele é a maior influência, porque ele acreditou muito em mim e no potencial. Quando eu entrei no projeto, eu tinha muita coisa para melhorar. Ele me chama de ‘diamante bruto’ e ele está me lapidando. Graças ao trabalho que ele vem fazendo comigo e venho tendo essa repercussão”, agradece Eduarda.

duda salgueiro

O Salgueiro, 5º a desfilar no domingo, vai para a Marquês da Sapucaí com um enredo sobre liberdade de expressão a partir das interpretações de Paraíso e Inferno. Com um tema desse, a escola pede o fim de qualquer tipo de violência, intolerância e opressão por meio de seu desfile. Alinhada a isso, Duda Apolinário acredita que o carnaval do futuro será para qualquer tipo de corpo.

“Eu espero que o carnaval venha aceitando todo mundo, com todo mundo curtindo e aceitando o outro, apesar da competição. Muitos enredos estão falando de aceitação, o Salgueiro é um exemplo disso. Que no próximo carnaval tenha mais aceitação, mais liberdade! Que não tenha muito padrão”, projetou Eduarda.