Enredo: “Ilú-ọba Ọ̀yọ́: a gira dos ancestrais”

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Òrun e Àiyé. Céu e Terra. Lugares onde homens livres e divindades conviviam em harmonia, circulando, nos mesmos universos, dividindo suas existências.

Um dia, um homem tocou o Òrun e maculou o Céu dos Orixás. Irado com o descuido dos mortais, Olorum, criador do Universo, separou Céu e a Terra com um sopro e dividiu, para sempre, os dois mundos.

Os Orixás ficaram isolados e se entristeceram. O Deus maior, Olodumaré, então, consentiu que retornassem à Terra, mas somente se incorporados nos humanos preparados para esse fim. Ordenou que Oxum cuidasse para que eles recebessem os Orixás. E assim foi feito.

Com oferendas, os homens convidaram os Orixás a voltarem à Terra. Tocaram tambores, batás, xequerês, agogôs e adjás. Cantaram e bateram palmas para receber suas divindades, que felizes, religaram o Òrun ao Àiyé.

O tempo passou e, em seu horizonte infinito, o continente africano presenciou muitos amanheceres. Mas também foi testemunha, da triste partida de navios tumbeiros, na corrente que levou homens e mulheres da Costa da Mina – região habitada pelos povos de Ifé, Oyó, Owu, Daomé e Ila, entre outros – para a escravidão no Brasil.

Em meio à brutalidade enfrentada no novo mundo, iniciou-se o processo de resistência negra, movimento que se deu de várias formas. Uma delas foi a rica herança espalhada em terras brasileiras pela oralidade de nossos ancestrais. O culto aos Orixás reapareceu e se fortaleceu na Bahia. E foi na Gira dos deuses que a união entre homens e Orixás renasceu e foi ressignificada em forma de Candomblé.

Como em todo ritual, o Xirê também respeita uma ordem. Inicialmente, convoca-se Exú, o mensageiro. É a Ele que se pede licença para a Gira começar.

Tem Gira no Terreiro!

O templo religioso é o local onde toda a ancestralidade africana é revivida. Onde os Orixás reencontram seus filhos, descendentes de todos os reinos que, um dia, formaram o grande Império de Ilú-Obá Oyó na África Ocidental. É na Gira que as divindades se manifestam.

A Gira vai começar. O tambor é tocado para que os Deuses Supremos do Candomblé sejam invocados. Um a um, na ordem a ser respeitada, os iniciados, em transe, entram na roda. Para cada Orixá, uma cor, um toque, uma dança, uma música, uma saudação…

Ògún ieé, meu Pai OGUM (Ògún), Senhor dos caminhos;

Okê Arô, OXOSSI (Òsóòsì), Rei da mata;

Atotô Ajuberô, OBALUAYÊ (Obalúaiyé), divindade da saúde e da cura;

Ewé Ó, OSSAIM (Òsanyìn), sacerdote das folhas;

Arroboboi OXUMARÊ (Òsùmàrè)”, Deus do arco-íris, símbolo da continuidade;

Kawó Kabiesilé!, XANGÔ (Sàngó), Deus da Justiça;

Ora yê yê ô!, OXUM (Òsun), Soberana das águas doces;

Obà Siré, OBÁ (Obà) Guerreira e protetora;

Eparrei!, OIÁ IANSÃ(Oya Iyà Yánsàn), Senhora dos ventos e tempestades;

Logun ô akofá! LOGUN EDÉ (Lógunède), Orixá da riqueza e da fartura;

Ri Ro Ewá! EWÁ (Yewa), Deusa da intuição e da vidência;

NANÃ (Nàná), Saluba, Vovó! Senhora da criação;

Erù-Iyá, Odó-Iyá, IEMANJÁ (Yemoja), Senhora de todas as águas;

Epa Bàbá, OXALÁ (Òrìsàlufan) Senhor da criação.

Gira completa. Orixás saudados. A festa vai encerrar. Fecha um ciclo para outro começar. Pedimos proteção e justiça.

De Ilú-Obá Oyó à Serrinha, Impérios ligados por laços ancestrais. Bênçãos para o nosso Império Serrano, lugar de luta e de fé. De quem pode perder uma batalha, mas não perde a guerra.

Cujos domínios estão no samba de raiz.

Da força  que vem de seus fundadores, imortalizados no panteão do carnaval.

Salve Vovó Maria Joanna, Tia Ira benzedeira, Dona Eva, Elói Antero Dias, o Mano Elói.

Salve o Santo Guerreiro, nosso padroeiro.

Salve o Império Serrano.

Salve a Gira dos ancestrais!

Axé!

Carnavalesco: Alex de Souza
Colaborador: Paulo Cesar Barros