Enredo: ‘Chão de Devoção: Orgulho Ancestral’
Apresentação
Ao passar pela Passarela do Samba, a Estácio de Sá, consciente do seu papel sociocultural, procura evidenciar a cultura do povo preto em um espaço de resistência, que buscou, no período sombrio da escravatura, o livre-arbítrio ao se manifestar por direitos, primordiais, a favor do mínimo de dignidade humana e da legitimação de origens e traços culturais. Na África, meninas, mulheres, guerreiras, princesas e rainhas, orgulhosas de seus corpos, sua pele, e seus cabelos. Donas das próprias vidas. Rainhas da liberdade. Rainhas da natureza seriam muitas delas no outro lado do oceano, em um futuro distante, seres iluminados. A cultura ancestral, seus mitos e seus rituais passam a se revelar no canto e na dança ao som dos tambores.
É importante afirmar que a cultura do povo preto é extremamente rica e diversa, e as religiões de matrizes africanas desempenham um papel fundamental na sua expressão. Infelizmente, essa cultura muitas vezes é marginalizada e subestimada pela sociedade em geral. Para demonstrar e valorizar a cultura do povo preto e suas religiões, a Estácio de Sá entende que é importante reconhecer e respeitar suas tradições, histórias e práticas, enfim, sua própria ancestralidade. Isso inclui aprender sobre a história das nossas irmãs e dos nossos irmãos vindos de regiões da África, cuja, cultura culminou em solo brasileiro em diáspora africana.
Salientar a história de duas mulheres pretas escravizadas, arrancadas de suas terras natais e de seus seios familiares. Ainda em suas infâncias em uma brutal travessia pelo atlântico, elas obtiveram aprendizagem mesmo com todas as mazelas do ambiente em um meio de convivência doloroso. Mas, que ainda assim, contava com o doce matriarcado, sendo mães biológicas ou não, as mulheres desse espaço manifestavam afeto em meio uma situação de clausura. Tais narrativas são de extrema importância para entendermos a história do Brasil e do povo preto que em nosso solo chegaram. E foi com a chegada desse povo em terras brasileiras que a magia africana se infiltrou nesse solo, criando raízes profundas carregadas de fé, cultura e arte mostrando o poder do renascimento e da transformação. Essa força e magia vieram guardadas no coração dessas mulheres, pretas mães, nossas mães, tias, avós, nossas sementes, nossas raízes.
A escravidão foi uma das maiores violações de direitos humanos da história, e as mulheres pretas foram algumas das maiores vítimas desse sistema opressivo. Ao trazer à luz a história dessas mulheres, podemos entender as dificuldades que elas enfrentaram e como a escravidão as afetou de forma específica. Além disso, podemos aprender sobre as estratégias de resistência que elas utilizaram para enfrentar aquela realidade, mesmo diante de tantas adversidades, e, com isso, objetivamos combater o apagamento das histórias de vida e suas identidades.
O apagamento das histórias e identidades dos pretos e pretas escravizados no Brasil é um fenômeno que ocorreu ao longo de séculos e que tem consequências até os dias atuais. Durante o período da escravidão, as pessoas pretas eram tratadas como propriedade e tinham seus direitos negados, inclusive o direito à identidade e à sua própria história.
Desde então, a história oficial do Brasil não tem tentado notabilizar a contribuição dos povos pretos na construção do país, o que mais se faz é invisibilizar suas histórias e lutas, como também maximizar aspectos do racismo estrutural na vida dessas pessoas. Esses fatos têm gerado uma série de desigualdades e injustiças que ainda persistem em nossa sociedade. Contar tais histórias é o primeiro antídoto para combater os males do apagamento histórico e cultural dos nossos heróis e heroínas pretas. E, é nesse contexto que a Estácio de Sá vem dar visibilidade aos aspectos sociais, culturais e identitários do nosso povo que em solo brasileiro chegou, nasceu, morreu e espírito de luz se tornou.
De forma poética numa livre adaptação artística, e, também, baseado em lendas e em ricas oralidades, nossas duas mulheres pretas guerreiras serão “chamadas” com seus possíveis nomes de suas terras natais, ainda livres dos horrores que mais tarde as assolariam. As meninas “Kianda e Mwana ya sanza”, Cambinda e Maria Conga. Vale salientar que a escolha dos nomes para as mulheres das regiões do Congo-Angola, com origens por volta do século XVI, não devem ser vistas como algo genérico ou padronizado, mas sim, como algo que faz parte de uma cultura rica e diversa, que deve ser valorizada e respeitada, para os povos de suas regiões, com base na língua Lingala que foi derivada da Bangi, uma língua Banto, que também é uma das Línguas maternas do Congo-Angola, o que justifica a intenção da agremiação.
Assim, tentamos trazer dignidade e visibilidade as histórias do nosso povo através das mulheres aguerridas “Cambinda e Maria Conga”, ainda em suas liberdades, as violações, a trajetória, as lutas, os saberes e suas espiritualidades. Tudo isso, em tempos que ainda existem racismo e intolerância, a agremiação traz, para Avenida Marquês de Sapucaí, e acende na história escrita, cantada e festejada, os ideais de duas mulheres lutadoras e solidarias, que idealizavam igualdade e liberdade para o seu povo em corpo e espirito.
A Estácio de Sá que tem em seu chão de fundação a devoção e o respeito da sabedoria ancestral desde a “Deixa falar”, vem chegando com o seu balancear e afirma que ainda que memoráveis por trajetórias de lutas, do sonho de liberdade e igualdade, a biografia dos afro-brasileiros em muitos aspectos se faz inviabilizada nos registros dos anais brasileiros. Nessa ambiência, “Kianda e Mwana ya sanza”, que tiveram as suas vidas norteadas por tais ideais apesar de todas as adversidades e sofrimentos, terão suas histórias contadas, em verso e prosa, baseada em fatos livremente adaptados. Nesse sentido, as personagens serão alçadas à luz com suas histórias de vidas e espiritualidade com vistas no reconhecimento heroico nesse enredo.
Testemunhas da passagem do tempo, as vovós são a memória viva da raça. O corpo curvado carrega o peso de tanta sabedoria, tanta bondade, tanto sofrimento, tudo misturado. Cada palavra traz um saber imemorial. Que vem lá da África e liga o passado e o presente. Cada palavra traz uma verdade tão profunda que só o coração pode entender. Suas bênçãos e rezas tem o poder de toda a ancestralidade.
Sinopse
Livres como a brisa costeira que acaricia a pele e os ventos das savanas No continente africano, nas regiões de Cabinda e do Congo, os festejos com canto e dança, característicos das aldeias e tribos dessas localidades, acontecem para receberem os nascimentos de duas meninas, “Kianda e Mwana ya sanza”, uma na tribo dos Cabindas, um distrito angolano e outra na tribo congolesa, as duas em área costeira, o que mais tarde selaria seus destinos. Para as mulheres a apreensão para uma boa hora no parto, para os homens é noite de festa.
Povo Cabinda de Angola – O nascimento e a homenagem
Os sábios e sábias da tribo Cabindas preparam o local do parto para chegada da sua menina em uma cabana toda enfeitada com cauris (búzios) para representar a riqueza da época, conchas do mar, contas azuis claras e transparentes para representar os seres místicos marinhos e trazer boa sorte, fartura e fortuna para a recém chegada, que ao nascer recebeu o nome da maior divindade desse místico, “Kianda” um belo ser encantado das águas dos rios e oceanos para que em troca a menina, entregue para homenagem, estivesse sempre protegida conforme as crenças dos costumes local.
Povo da Costa do Congo – O nascimento e a apresentação
É o nascimento da primeira! Na tribo congolesa a primeira filha e princesa da aldeia e cercania, também está de chegada. Festa, canto e dança, com muita fartura, para receber a princesa que nascia sob a luz do luar para o batismo nominal da pequena alteza. Apresentada sob a luz da grande lua cheia que, em um sopro do vento, teve seu nome revelado como reza a lenda dos costumes local. Erguida para ser banhada com a luz da grandiosa lua cheia, teve seu nome falado três vezes em voz alta por seu pai para que não restasse dúvidas: “Mwana ya sanza”, que significa filha da lua, homenagem em referência ao belo luar da sua noite de nascimento. Livres como a brisa costeira e os ventos que cortam os campos e acariciam os rostos felizes dos locais. As Tribos próximas festejam as boas chegadas das suas belas meninas de acordo com seus traços culturais particulares
Festejos nas aldeias: No povo de lá e de cá, cabindas e congoleses
As tribos próximas de região costeira do continente africano, Cabinda de Angola e da Costa do Congo possuem tradições culturais ricas e distintas, e seus festejos são marcados por muita alegria, música, danças e fartura. Entre os Cabindas, o nascimento é um dos eventos mais importantes. Toda a tribo celebra a hora do nascimento ritmado ao som de cantigas ancestrais, decorados com motivos que revele algumas características do nome escolhido com as homenagens ancestrais e espirituais, as riquezas das águas e das florestas sempre estão representadas. Durante a festa, os habitantes se vestem com roupas tradicionais e participam de números de danças marcadas, acompanhadas por músicas tocadas com instrumentos como o tambor. Já entre as tribos da Costa do Congo, a festa é mais importante, que marca a iniciação de um novo ciclo familiar e a continuação da dinastia tribal. Durante a celebração, que pode durar vários dias, dependendo do tempo em que se dará a hora da chegada da recém-nascida, onde é submetida a rituais de chegada que são com base em cantos e danças sobre a história e a cultura de seu povo. Há muita música e dança, com destaque para o som dos tambores que são acompanhadas por instrumentos artesanais. Em ambas as culturas, a comida também é uma parte importante dos festejos. Pratos como as carnes de caças regionais, de peixe da região costeira das aldeias das tribos e os vegetais, são servidos em grandes banquetes, regados a bebidas.
Escravizados em noites sombrias
Durante as noites, para surpreendê-los, sem chances de defesa, em um ataque planejado e brutal, uma nova forma de comércio, coibir a liberdade em diversas regiões do continente africano, a escravização de pessoas de pele preta. Toda alegria de dias e noites fartas e felizes, por volta dos sete anos depois dos nascimentos, termina com a brutalidade dos mercadores de escravos. As aldeias das tribos felizes dos Cabindas e dos Congoleses foram agressivamente aprisionadas em correntes para serem escravizados. A menina “Kianda” de Cabinda junto com seus familiares e pares foram empilhados em condições desumanas, piores que as de outras mercadorias para serem transportados, sem ao menos saberem seus destinos. “Mwana ya sanza” sofreu o mesmo evento que se espalhou por todas as regiões vizinhas. A escravidão foi uma das maiores atrocidades já cometidas na história da humanidade, pessoas foram capturadas e forçadas a trabalhar em condições desumanas, sem direitos ou liberdade. A travessia pelo Atlântico foi um dos momentos mais terríveis e traumáticos da experiência dos escravizados.
A dor e o destino cortam o mar
A maioria dos escravizados das referidas aldeias tribais foram transportados em navios apinhados e insalubres, onde foram obrigados a permanecer acorrentados por meses a fio. As condições eram extremamente precárias, com pouca ventilação e nenhuma higiene, o que levava a doenças e mortes em massa. “Kianda e Mwana ya sanza” vivenciaram todo o horror nos porões com outras crianças que tinham na doçura do matriarcado, sendo mães biológicas ou não, a única representação de afeto enclausuradas em meio aos horrores causados pelas doenças, a fome e as mortes na travessia do atlântico. As crianças ganhavam as abayomis, um tipo de boneca feita com retalhos das barras das saias com nós, sem costuras, para distração e porque as mulheres e mães acreditavam que trariam proteção, sorte e alegria para suas meninas, com a chegada ao destino final, os escravizados eram vendidos em leilões como mercadorias e forçados a trabalhar em plantações e outros locais com exploração e violência.
O Destino, o apagamento cultural e o novo batismo
Em terras brasileiras, em navios distintos, por volta de 1804, no Porto de Salvador – Bahia, o destino das pequenas meninas, a primeira filha agora órfã, pois, seus pais morreram na travessia por fome e doença, e a princesa da aldeia congolesa separada de seus pais ao chegar no Brasil, mudariam novamente. Vendida para seus senhores que as rebatizou, “Kianda” agora se chamaria Cambinda, por ser da região de Cabinda e é levada para uma fazenda de cana de açúcar no nordeste brasileiro. A menina “Mwana ya sanza” foi renomeada como Maria da Conceição, e foi levada inicialmente para uma fazenda de cana e café e depois vendida a um fazendeiro alemão, dono de uma fazenda de farinha. Seus nomes, culturas e histórias são completamente negadas e, agressivamente, apagados por seus novos proprietários.
Plantaram suas sementes e tem até hoje suas histórias mantidas pela oralidade
Rebatizadas e rebatizados, submetidas e submetidos aos opressores que as fariam esquecer seus nomes para sempre, até mesmo oprimirem suas representações de cultura e fé, em meio as fortes vigilâncias ao trabalho exaustivo e mortal e aos castigos, os escravizados e as escravizadas criavam suas estratégias contra a proibição do cultivo de suas culturas e religiosidades. Plantaram suas sementes e, mesmo num solo adverso, puderam florir entre dores e lágrimas. E tem até hoje suas histórias mantidas pela oralidade.
Os griôs relatam que ao chegarem por aqui, a magia africana se infiltrou na terra brasileira, criando raízes profundas carregadas de fé, cultura e arte mostrando o poder do renascimento e da transformação. Usavam as representações culturais e religiosas dos seus violentadores e perseguidores (senhores brancos) para infiltrarem as suas próprias manifestações culturais, religiosas e, também, sua culinária natal. Doutores em suas oralidades, contam os griôs, que os escravizados geralmente viviam em senzalas, que eram grandes construções de madeira que abrigavam muitos escravizados em condições precárias. Era a partir dali que as estratégias eram traçadas e surgiram manifestações culturais hibridizadas com as dos brancos para que pudessem ser manifestadas ou praticadas sem os castigos habituais. Os velhos sábios contam em detalhes minuciosos, típicos de suas falas carregadas de saberes das vivencias e dos fazeres, que o Caxambu e o Jongo foram manifestações culturais dos pretos e pretas iniciadas nas senzalas. As duas representações podem se confundirem em algumas regiões do país, porém distintas em algumas regiões. De modo que no Caxambu um cantador fazia um canto de louvação aos antepassados enquanto uma roda de escravizados se move em passos leves e ritmados, em sentido anti-horário. Diz o afro-brasileiro que era ambiente sério e ritualístico, mas se modificava quando alguém lançava um canto desafiante e todos o repetiam. A cantoria seguia noite adentro, com diferentes vozes que se alternava em novos cantos decifrados.
A coreografia começava em roda, mas, partia para desafios de bailado no centro da senzala, entre um homem e uma mulher, mostrando-se um ao outro por meio de requebros corporais ágeis e leves. Com a mesma destreza oral, descreve as articulações para manterem suas origens culturais vivas. O Jongo também foi uma estratégica dança trazida pelos escravizados africanos bantos do Congo-Angola para o Brasil, conta o velho, que se manteve presente entre aqueles que trabalhavam nas lavouras de café e cana-de-açúcar. Os escravizados dançavam Jongo nos dias dos santos católicos, em uma linguagem cifrada, onde protestavam contra a escravidão, zombavam dos patrões, combinavam festas de tambor e fugas. A dança é uma homenagem aos ancestrais, aos pretos-velhos escravos, que remete ao povo do cativeiro.
Dentre as danças e as manifestações veladas, da Capoeira dos escravos que fugiam, correndo pela mata rasteira, surgiu a arte da resistência dos primeiros capoeiristas que com destreza e astúcia enfrentavam a repressão. No período colonial, pretos espertos e sagazes disfarçavam sua arte, com mímicas, danças e cantos, lutando pela sua liberdade, contra os seus algozes. Relata que foi proibida por tanto tempo, mas a Capoeira resistiu até se tornar um dos símbolos da identidade brasileira, a roda de capoeira ecoa o som e a dança em contato direto com as nossas terras.
O Batuque de Umbigada, seguindo em relatos dos sábios oradores, foi uma dança originária, também, da África, trazida ao Brasil por nossos ancestrais. Essa manifestação cultural foi preservada e transmitida por gerações de escravizados. A dança foi uma forma de celebrar a fertilidade, e, consistia em duas filas de dançadores, homens e mulheres, que se encostavam pelos umbigos como parte da coreografia. Os instrumentos que eram utilizados incluíam bambus, quinjengues, matracas e guaiás, sendo que todos os instrumentos que levavam couro eram afinados em uma fogueira para tornar o ritual mais característico em um horário avançado na madrugada para não serem impedidos.
Ainda em relatos, o movimento da Umbigada tinha como origem as danças e cerimoniais de fertilidade da região Congo-Angolana, para celebrar o momento em que dois corpos se tocam, agradecendo ao dom da concepção em uma ação rápida e mágica materializada através da dança. Dentro das relações ricas e floreadas pelo velho orador, a culinária afro-brasileira originada pelos escravizados na busca dos sabores próximos das lembranças de suas terras natais, que tiveram que recriar seus pratos com ingredientes locais. E, também incorporaram receitas dos índios e dos portugueses, criando pratos típicos variados, como a feijoada entre tantos mais. Além da necessidade diária, a cozinha africana está ligada à religião e é reproduzida nas casas de candomblé e umbanda. O acarajé, como tantos outros, é um exemplo de quitute que saiu dos terreiros e se tornou uma das identidades culinárias da Bahia e do Brasil conforme os ricos relatos dos nossos griôs afro-brasileiros.
Os dons das curas naturais também compõem fortes relatos, a exemplos de Cambinda e Maria que tinham os dons da cura pelas plantas e ervas para cuidar dos males de seu povo, causados pelos castigos dos seus senhores, do esforço excessivo do trabalho, da fome, do corpo e da alma. Além do trabalho pesado, os escravizados também eram submetidos a punições severas, como açoitamentos, tortura e até mesmo a morte. Eles não tinham direitos ou liberdade, sendo considerados propriedade dos donos das fazendas.
Além dos cuidados com as ervas e rezas, nas histórias relatadas, Cambinda se valia de sua posição, por estar dentro da fazenda, para levar mais um pouco de comida para seus pares na senzala e também algumas informações importantes para os melhores momentos de fugas. Castigada quando descoberta, mas, mesmo assim, não parava de ajudar a todos como podia. Cambinda morreu escravizada após seus 90 anos. Maria, sempre se rebelando, com discursos para todos durante as noites, nas senzalas, ganhou sua liberdade após anos de trabalho escravo e tentativas de fugas. Acabou por convencer seu senhor que a libertou. Livre, então, ela exigia ser chamada de Maria Conga, fundou o Quilombo. A guerreira, líder, passou a maior parte da vida com suas atuações no leste metropolitano que inclui, possivelmente, Tanguá e entorno, e, nas matas de Magé́/Guapimirim, onde morreu no final do século XIX, já idosa.
Orum, o reino das almas
A finitude é um recomeço, é nessa passagem, divisão entre corpo e espírito, que os espíritos bondosos e evoluídos são guiados por outros espíritos de luz ao seu plano astral evolutivo. Recebidas e consagradas por Oxalá, coroadas por Zambi, as missões com seu povo continuam no mundo espiritual, agora, como entidades anciãs que carregam a sabedoria para os cuidados do corpo e da alma e, principalmente, a sabedoria passada pela oralidade para seus seguidores.
A Estácio de Sá que tem em seu chão de fundação a devoção o respeito a oralidade da sabedoria ancestral desde a “Deixa falar”, nesse sentido, exalta a cultura afro-brasileira e as personagens serão alçadas à luz com suas histórias de vidas e espiritualidades com vistas no reconhecimento heroico nesse enredo. Sendo elas, testemunhas da passagem do tempo, as vovós deixam a memória da raça viva. O corpo curvado carrega o peso de tanta sabedoria, tanta bondade, tanto sofrimento, tudo misturado. Cada palavra traz um saber imemorial. Que vem lá da África e liga o passado e o presente. Cada palavra traz uma verdade tão profunda que só o coração pode entender. Seus cuidados, bênçãos e rezas tem o poder de toda a ancestralidade.
Venha! Vamos ouvir a história que Cambinda tem pra contar.
Vem ouvir o que Maria Conga vai dizer.
Vem! As pretas velhas não mentem!
Salve as almas! Adorei as almas!
Autores e autora:
Doutorando Marcus Paulo, Mauro Leite e Doutora Cristina da Conceição Silva