Enredo: “Com a sorte virada pra lua, segundo o testamento da cigana Esmeralda”

Conto, em meio ao carnaval, que uma cigana chamada Esmeralda deixou por escrito um testamento onde constam os ensinamentos para que os sonhos possam ter compreensão, ou a sina de uma pessoa ser revelada. O fato é que esse testamento foi trazido para o Brasil por um grupo de ciganos que, em caravana e ao redor de fogueiras, espalhou festa, música, circo, dança e a crença popular naquilo que o testamento guardava.

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Conto-lhes então que esse testamento parou nas minhas mãos como uma espécie de manual mágico para a interpretação dos delírios de quem dorme; das datas felizes e azaradas, das linhas que cruzam a palma da mão para traçar destinos e dos planetas que se movem. Ao lê-lo, desde então, quero a alegria de adormecer nos braços de Morfeu pra colher um sonho bom, tal qual consta nas linhas escritas pela cigana. Sonhar com cisne pra esperar candura. Com rosa encarnada, pra ser feliz sem demora. De olhos fechados, sonhar com urso ou macaco, para que, de olhos abertos, eu possa botar fé no jogo certo. Ganhar na dezena e na centena. Quebrar a banca quando der doze no milhar e, na véspera, em sonho, eu avistar um elefante. Ciente do que diz o testamento, peço apenas que com pressa me acordem caso, em sonho, o vulto de um sultão vier me visitar.

Sei de cor e salteado (e foi lendo o testamento da cigana que eu aprendi) que há dias nos quais o azar se põe a espreitar. Por isso, malandro que sou, piso manso pra não vacilar. Espero aquilo que não se antecipa nem se atrasa. O que é meu – a cigana me contou – tem data e hora marcada pra chegar. Tá escrito na palma da mão que a linha da fortuna vai fazer valer o meu corre-corre pra não deixar a peteca cair. Que a linha da vida é forte e que a linha do amor é fino traço, quase corda bamba, onde é bom se equilibrar com a expectativa de não cair, enquanto espero que pinte aquele sorriso que vai pintar a vida que eu quero (e que todo mundo quer) de rosa.

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Logomarca: Thiago Santos/Divulgação

Sei que tá na palma da mão o que se ganha e se perde. Que tá no céu o tempo bom e o tempo mau. Nos planetas que mudam de lugar. Conto-lhes o segredo que habita o céu desde o tempo dos faraós: quando os astros se movem, quem erra também pode passar a acertar. A vida embolada pode embalar. Quem chora pode então gargalhar. O de cima descer. O de baixo subir. O zodíaco anunciar que a sorte virá, o sol entrar em peixes, o brilho lunar entrar em aquário, o balanço das marés fazer as coisas mudarem, o calendário marcar fevereiro, quem é bamba bombar, a Escola decolar. E é aí que (foi a cigana quem me antecipou) ninguém segura, amarra ou prende quem nasceu com a sina de ter sorte virada pra lua.

Pesquisa, desenvolvimento e texto: Leandro Vieira