A Rosas de Ouro chega para o carnaval de 2022 com o enredo ‘Sanitatem’, uma palavra em latim que significa ‘cura’. A partir do tema tão atual, a roseira vai cantar rituais de cura e promete grandes surpresas em seu desfile desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Menezes. Campeão do carnaval carioca em 2017 pela Portela, o artista está apenas em seu segundo desafio em São Paulo. No último carnaval em 2020, esteve junto com Paulo Barros na Gaviões da Fiel que terminou na 11ª colocação.
“Costumo dizer que não são diferenças. São características. São Paulo tem suas características, e o Rio de Janeiro tem as suas. Para a gente é bacana, pois é desafiador. Não posso trabalhar aqui em São Paulo pensando no carnaval do Rio de Janeiro”.
Escolha do enredo tem a ver com momento
A cura é algo comum na vida de todas as pessoas, seja para ela própria ou algum parente, amigo e até mesmo animais de estimação. Entretanto, de 2020 para cá, essa palavra ganhou grandes proporções e virou uma situação geral, ou seja, no mundo inteiro, todo mundo queria a cura, afinal a Covid-19 veio abalando qualquer pessoa. E uma saída de muita gente acaba sendo os rituais, de diferentes religiões, com isso a roseira vai trazer esse tema no Anhembi em 2022. Curiosamente, Paulo Menezes foi apresentado na Rosas de Ouro no dia 14 de março de 2020, e poucos dias depois surgiu a primeira quarentena em São Paulo.
“Fui apresentado em um dia e no dia seguinte começou a pandemia. Então aí teve o processo de isolamento. E durante o processo de isolamento, a palavra cura ficou muito presente no meu inconsciente, e tudo que queríamos era a cura para todo mundo. Que o mundo se curasse, aí surgiu a ideia de fazer um enredo sobre isso, mas não queria falar sobre a cura, aí comecei a pesquisar e cheguei nos rituais de cura. Abordamos os rituais de cura desde o início da humanidade, desde a pré-história quando o homem começa a se reconhecer como homem. Então o homem começa sentir o desejo de curar a si e o próximo, e a cura pode ser alma, do corpo, espírito, são vários tipos de cura”.
O desafio de Paulo Menezes é transformar esses rituais de curas mais variados em um desfile de 60 minutos, como o mesmo relatou o desafio, e relata sobre o ‘novo normal’, termo tão usado durante pandemia: “Tem muita gente falando no ‘novo normal’, não acredito no novo normal. O normal é o normal, e o que a gente está tendo hoje é poder abraçar, beijar, fazer tudo que a gente fazia antes. Estamos voltando ao normal. Então entramos na avenida festejando, agradecendo, esse momento que estamos conseguindo superar. O mundo várias vezes passou por momentos assim e várias vezes deu a volta por cima. Então durante nosso desfile, a gente vai mostrar isso, que várias vezes o homem conseguiu superar as adversidades”.
Reflexão sobre coincidências na pesquisa
O enredo ‘Sanitatem’ trouxe um mar de opções para a roseira e o carnavalesco, ainda mais com coincidências encontradas: “Já fiz enredos que tinham enfoque voltados para a religião, religiosidade, neste pesquisando, o que eu senti foi que ninguém é isolado, sozinho, se você pega um ritual na África na pré-história, ela era muito parecida com o ritual de repente da Islândia. As coincidências são muitas, então isso leva você a refletir. São muitas coincidências para a gente ser sozinho, ser dono do universo. Para não ter nada além da gente. Essas coincidências me levaram a questionar isso. Somos areias no universo”.
Roseira está quase pronta, com boas expectativas e ansiedade da ‘estreia’
Durante a entrevista, Paulo Menezes relatou que perguntar sobre suas alegorias, é como perguntar para um pai ‘o que acha sobre seus filhos’, ou seja, gosta de todas as alegorias desenvolvidas. A Rosas de Ouro viu a Fábrica do Samba ser inaugurada completamente, mas só usará para o carnaval de 2023, e relatou esse motivo para não estar 100% pronta.
“Estamos caminhando para a prontidão. Mas tem coisas que eu não posso usar, pois não estamos na Fábrica do Samba, o nosso barracão é metade coberta e metade descoberta. Tem coisas que se colocar agora, a chuva destrói. Coisas estão prontas e guardadas para serem aplicadas a partir do momento que a escola vai para a baía do Anhembi”.
Na Rosas desde 2020, o carnavalesco só vai estrear agora em abril de 2022 pela escola. Ele relatou que já era para estar indo desenvolver seu terceiro carnaval e ainda está ‘preso’ em um projeto iniciado lá atrás. E já mudou até o termo: “Não é nem uma estreia, é um renascimento”.
Desenvolver carnaval em meio a pandemia
O carnaval de São Paulo conta muito com o regulamento e muitas escolas jogam em cima dele, pois é o caminho para a vitória. Mas além do regulamento, é preciso ter trabalho para agradar o povo, no fundo, um julgador que não dá nota e nem troféu, mas é fator essencial para a existência do carnaval. Em tempos de pandemia e crise no mundo, Paulo Menezes relatou dificuldade nos preços para desenvolver o carnaval de 2022: “O que atrapalhou na parte plástica o dólar, os preços, pois o bloco de isopor que pagava 200 e poucos reais, agora é 500 reais. E o valor da subvenção não mudou, então você continua tendo que entregar um carnaval na mesma qualidade de 2020, mas só que com um preço muito maior. Daí você precisa criar o falso luxo. O luxo que as pessoas olham, acham que é luxo, mas no fundo não é. Então acaba sendo um exercício maior para você”.
Fantasias voltando às raízes?
Em relação às fantasias, o carnavalesco da roseira deu spoiler: “Rosas vem bem colorido, vai ter muito azul, rosa, mas não é o azul e rosa, fantasias toda azul e rosa, a escola toda, tem pontos azul e rosa. Mas tem muita cor junto que vai caminhar junto com essas cores. São fantasias que a escola está bastante feliz, pois está voltando às características dela, de fantasias luxuosas, rebuscadas, cheias de detalhes. Então a escola está gostando disso. Tem fantasias bem diferentes, a ala das baianas é uma fantasia bem diferente do que usualmente é. É só esperar o dia”.
Durante a conversa com o site CARNAVALESCO, Paulo Menezes contou que encontrou coincidências e vai trazer isso na avenida através das fantasias: “Em alguns momentos você, por exemplo, tem um setor que falamos de rituais através de magia, mitologia, elementos da natureza, não são rituais específicos, são vários rituais que se utilizam daquele instrumento para fazer o seu. Então essa troca, a gente sempre tem. De na realidade, coincidências e de instrumentos. Às vezes tem máscara, fogo, água, são usadas em vários rituais diferentes em épocas diferentes e de pessoas que nunca tiveram ligação nenhuma”.
Conheça o desfile:
Cheio de mistérios, a Rosas de Ouro promete muitas surpresas e novidades no carnaval paulistano, Paulo Menezes contou um pouco sobre: “A gente vai fazendo esse apanhado, quando você olhar a Rosas na avenida. Vai ter todo o processo de rituais de cura desde o início da humanidade, até os dias de hoje”.
A roseira realmente quer fazer um carnaval bem diferente e o carnavalesco carioca é uma aposta para isso: “O abre alas é uma entrada diferente de tudo que Rosas fez, as pessoas vão estar esperando uma abertura e vão receber outra”, e revelou: “Aprofundamos, entra na religiosidade, na fé, mas também entra na magia, no misticismo, então a cada alegoria a gente vai trazendo um toque”.
Setor 1
“O primeiro setor é o que entramos agradecendo, pedindo benção e proteção, para estar desfilando. Depois a gente mostra os inícios dos rituais desde a pré-história e vai passando pelos rituais das grandes civilizações”.
Setor 2
“Mostramos os rituais que falam de feitiçaria, de magia, mitologia, de elementos da natureza”, sem muitos detalhes, o carnavalesco disse: “O segundo carro é bem diferente do que São Paulo está acostumado também”.
Setor 3
“Os rituais da religiosidade, através da religião, de várias diferentes, não ficamos presos na umbanda, candomblé ou catolicismo. Fazemos um apanhado geral, como as religiões encaram o processo de cura da humanidade”, e disse em outro momento: “O terceiro carro tem uma pegada mais religiosa, mas é uma pegada bem diferente”.
Setor 4
Uma das grandes apostas na emoção é neste carro, onde a escola homenageará componentes que superaram doenças, inclusive um cachorro que virou o mascote do barracão. Neste setor promete ser apresentado: “Mostramos os rituais modernos. Contemporâneos, aí mostramos alquimia, a ciência, o cientista procurando a cura das doenças, que é o ritual moderno. E o último carro tem toque de humor, deboches, a gente sempre brinca com questões diferentes”.
Ficha técnica:
Alegorias: 4
Componentes: 1.800
Alas: 22
Diretor de barracão: Alexandre Vicente
Supervisão de fantasias e ateliê: Comissão de Carnaval