A Unidos do Porto da Pedra é uma escola acostumada com o Grupo Especial, após 10 anos desfilando na Série Ouro, o sentimento de todos é um só: voltar para o lugar que de fato te pertence. A agremiação tem apresentado bons desfiles, ficando na terceira colocação em suas últimas três apresentações na Sapucaí. Para esse ano, o tigre quer voltar a rugir e sonhar com um lugar no Grupo Especial, para isso, conta mais uma vez com a carnavalesca Annik Salmon no desenvolvimento do seu carnaval, única mulher a comandar um escola no grupo. Com o enredo “O Caçador que traz alegrias”, a escola segue a linha de levar temáticas culturais para a avenida, a agremiação de São Gonçalo aposta na história de Mãe Stella de Oxóssi para emocionar a Sapucaí, escritora e yalorixá, ela lutou pelo respeito ao candomblé e marcou seu nome na história.

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Esse é o primeiro enredo afro da história da Porta da Pedra, e nada melhor que começar contando a história de uma mulher, negra, candomblecista e que foi a mensageira dos ensinamentos de fé. O site CARNAVALESCO visitou o barracão da escola e bateu papo com a carnavalesca Annik Salmon, segundo ela, o enredo surgiu naturalmente.

Annik conta que não conhecia a história de Mãe Stella e que a admiração surgiu após pesquisas na realização do último enredo da escola, sobre as baianas quituteiras da Bahia. “O enredo surgiu no carnaval passado, que foi o enredo da baianas quituteiras, quando eu cheguei aqui na escola já tinha esse enredo, que foi feito pelo Alex Varella, eu comecei a estudar a sinopse e fui fazer uma pesquisa pra eu conseguir botar minha cara dentro do enredo, nessas pesquisas sobre baianas lá de Salvador, eu vi o nome de Mãe Stella, comecei a ler sobre ela e fiquei encantada, logo pensei que poderia render um enredo maravilhoso e deixei guardado, ela não era quituteira, ela era uma grande Yalorixá, uma grande líder, passou o carnaval e o presidente pediu pra eu desenvolver um enredo afro, o que foi perfeito, visto que eu já tinha esse achado”, conta Annik.

Annik conta que durante a pesquisa se encantou com os ensinamentos de Mãe Stella,
apesar de não ser feita no candomblé, a carnavalesca diz que admira e respeita muito a religião e que desenvolver esse enredo na Porto da Pedra é um presente, pois a história da Yalorixá tem que ser passada adiante.

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“Esse enredo é maravilhoso e fico feliz que tá todo mundo gostando, tá sendo muito elogiado, é uma história linda, a gente tinha que contar, não podia ser deixado de lado, ela foi uma mulher de frases e de pensamento marcantes, tem uma frase dela que deu norte para eu desenvolver esse enredo foi “o que não se registra, o vento leva”, então eu falei, eu tenho que registrar esse enredo, a história dela não pode ficar ali só dentro dos livros, ou do Ilê Opô Afonjá, temos que botar no nosso carnaval, que é onde a gente transmite e onde a gente tem a oportunidade de mostrar a nossa cultura”, destaca Annik.

Mãe Stella disse uma vez que seu papel era mostrar para o mundo o que é feito dentro dos terreiros. E que era sua tarefa levar o conhecimento que estava a seu alcance para que o povo escute, entenda e aprenda a respeitar o semelhante e a crença dos outros, tudo isso está presente dentro do enredo que Annik levará para avenida e a fez se encantar a cada nova descoberta.

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“Eu fui me encantando com várias coisas, fui me apaixonando, eu nunca fui feita no
candomblé, mas passei a frequentar há pouco tempo, fui estudando, lendo e me aprofundando, não com a religião mas com tudo que ela fez, tem vários ponto interessantes nesse enredo, coisas que o candomblé te passa, o trabalho que ela fez, ela levou todo esse conhecimento para o mundo, a força que ela tinha de conseguir lutar e dentro do seu momento como líder religiosa , a quantidade de pessoas que ela conseguiu alcançar, então isso foi me encantando, ela era uma mulher a frente de seu tempo, nos últimos anos de vida ela começou a se inteirar com a modernidade, procurou saber onde estava o público jovem, criou um canal nas redes sociais e dialogava com eles”, pontua a carnavalesca.

Mensagem de Amor

O enredo da Porta da Pedra é baseado nas entrevistas que Mãe Stella deu, nos vídeos, e nos livros que a baiana escreveu, Annik não teve a oportunidade de conhece-lá pessoalmente, mas sente que a força dela está presente nesse enredo, assim como o amor que ela demonstrava ter pelo próximo, a maior mensagem do enredo é justamente essa, o amor.

“Quero falar de amor, o amor de uma mulher, que tinha um amor não só pelos seus filhos, mas pela cultura dela, pelo seu povo, pelas suas raízes, ultrapassa a região, vinha dos seus
ancestrais, ela conseguiu passar para todos, eu pude observar a força dela, o amor em querer cuidar das pessoas, ouvi um comentário de um repórter que dizia que ela foi uma líder completa, ela cuidado do corpo e da alma, além ser Yalorixá, ela também era uma enfermeira sanitarista, o mais legal é que ela conseguiu deixar tudo isso registrado, através dos livros que ela escreveu, da biblioteca que ela fundou, deixou um conhecimento para o mundo todo”, descreve Annik.

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Mãe Stella de Oxóssi recebeu o título de doutora honoris causa por duas universidades da Bahia e fez parte da Academia de Letras baiana. Ela se dedicou à educação, Annik se diz muito grata por poder levar essa história para a avenida, única mulher a comandar o carnaval de uma escola na Série Ouro, ela se diz feliz e honrada com essa missão. “Nada é por acaso e tudo tem seu tempo e a sua hora, o destino está ali traçado, ela mesmo sempre falou isso, o momento é esse, por eu ser uma mulher esse enredo me traz muita felicidade, falo de uma grande mulher, de suma importância para tantas pessoas, negra, resistiu a tantas coisas, enfrentou tantos preconceitos, mas conseguiu coisas que muitos não conseguiriam, nem homens, nem brancos, ninguém, ela teve uma cadeira na Academia de Letras, a primeira mulher negra a ter essa posição ali dentro, fico feliz em poder retratar isso”, enfatiza Annik.

Tigre de volta ao abre-alas

O tigre é sempre o motivo de maior expectativa por parte dos torcedores da Porto da Pedra, no último ano ele ficou de fora do abre-alas, mas esse ano a promessa é que volte como nos tempos áureos da agremiação no Grupo Especial, cercado pelas matas, ele vem imponente, com movimentos de Parintins e rugindo alto, Annik faz um paralelo entre o tigre e o Orixá Oxóssi, ambos têm a caça como fundamento, além de proteger e garantir a fartura para sua comunidade.

“Ele (o Tigre) vem lindo, maravilhoso, vem imponente, ele vem com a força que ele tem, a figura do tigre tem uma força muito grande, uma representativa enorme dentro de São Gonçalo e da Porto da Pedra, então ele representa essa força que a escola tem, esse símbolo de luta e valentia, tudo que a escola proporciona para a comunidade de São Gonçalo, isso tem muito a ver com o guia espiritual de Mãe Stella, que era Oxóssi, ele é o caçador, aquele que leva toda a caça e fartura para sua comunidade, então o tigre tá ali, lado a lado com ele”, conta a carnavalesca.

Proposta visual do desfile

Diferente dos últimos anos, a Porto da Pedra teve um pré carnaval bem tranquilo, mesmo com as dificuldades naturais que é fazer carnaval na Série Ouro, a escola conseguiu se preparar e organizar para levar um trabalho bonito e competitivo na avenida, Annik está no comando do carnaval da escola pelo segundo ano consecutivo e acredita que isso a deu mais segurança e confiança no trabalho.

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“A gente conseguiu se preparar e se organizar para poder fazer um carnaval bem melhor do que a gente fez no último ano, acredito que o abre-alas será o ponto alto, mas gosto muito do fechamento da escola, das alas, os enredos deu essa possibilidade da gente construir uma plástica mais bonita, acho também que o tempo deu certo, é meu segundo ano na escola, isso facilita, eu já sei onde posso chegar, onde posso pisar, me sinto mais confortável”, destaca Annik.

Entenda o desfile:

A Unidos do Porto da Pedra será a quarta escola a entrar na avenida na primeira noite de desfiles da Série Ouro, quarta-feira, dia 20 de abril. A escola levará para a avenida cerca de dois mil componentes, divididos em 19 alas, três carros alegóricos e um tripé.

Setor 1: “Eu dividi os setores de acordo com os títulos do livro, o primeiro setor da escola chama-se assim aconteceu o encantamento, que mostra o primeiro contato dela com o
candomblé, é quando ela realmente se encanta, é o primeiro contato que ela teve com a religião”.

Setor 2: “O segundo setor é o caçador que chegou com alegrias, é quando Mãe Stella já está no Ilê Axé Opô Afonjá e ela é feita, ela renasce, conta toda a trajetória dela, é a parte que a gente faz bastante menção aos orixás”.

Setor 3: “O terceiro setor chame meu tempo é agora, que também é o título de um livro dela, que mostra ela se formando como enfermeira, que é a ocupação que ela tinha além de ser uma grande líder espiritual, a luta que ela teve para divulgar a cultura do candomblé junto com o povo dele”.

Setor 4: “Finalizamos com um título que me marcou muito, o que não se escreve o tempo leva, que foi tirado da frase o que não se registra, o vento leva. Nele vamos mostrar os livros que ela escreveu, a biblioteca que ela formou, os prêmios que ela ganhou, a última ala é uma homenagem a ela e o último carro é justamente isso”.

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