Desde 2013 longe do Grupo Especial, a Inocentes de Belford Roxo esse ano aposta em exaltar a força feminina com o enredo “Mulheres de barro”. O carnavalesco Lucas Milato está desenvolvendo um desfile contando a história e a rotina de trabalho da Associação das Paneleiras de Goiabeiras, grupo de mulheres artesãs em Vitória no Espírito Santo. Lucas está em seu segundo ano no cargo, a intenção do carnavalesco é fazer um desfile com alegorias maiores em relação a 2022.
Da gaveta de Lucas Milato, passando por Goiabeiras e chegando na Sapucaí
A equipe de carnaval estava trabalhando em outro tema antes de adotar “Mulheres de barro” como enredo oficial. No entanto, o presidente Reginaldo Gomes manifestou a vontade de exaltar a força feminina na avenida. Vendo esse desejo de Reginaldo, Lucas apresentou a história das paneleiras de goiabeiras para a diretoria. Semanas depois, após uma viagem da escola ao bairro de Goiabeiras em Vitória para conhecer o trabalho e a história das artesãs, o presidente se encantou e oficializou o enredo.
“As Paneleiras de Goiabeiras são mulheres que constroem as suas próprias bases de sustento, são os grandes pilares financeiro e psicológico das suas famílias. Assim que ele (Reginaldo Gomes) veio falar comigo sobre essa ideia, eu imediatamente apresentei o enredo para ele (…) Quando a gente conheceu de perto a história das Paneleiras, o processo de feitura da panela de barro, ele ficou encantado, e optamos por fazer ‘Mulheres de barro’, disse Lucas.
Apesar do projeto da prefeitura de Vitória e do governo do estado do Espírito Santo para ajudar Paneleiras, elas ainda trabalham em condições insalubres. Mesmo assim as artesãs têm força de vontade para estar todo dia de cabeça erguida. Essa garra impressionou a equipe de carnaval. Segundo Lucas Milato, a sinopse do enredo foi produzida com base nas vozes das mulheres de barro.
“A gente elaborou a nossa sinopse, e consequentemente todo desenvolvimento do desfile, com base nas vozes das Paneleiras. Tudo que estará presente no nosso desfile, e esteve presente na nossa sinopse foi baseado nas próprias falas das Paneleiras”, enfatizou Lucas.
Inocentes de Belford Roxo promete um desfile com alegorias volumosas
Lucas Milato está em seu segundo ano como carnavalesco da Inocentes de Belford Roxo. No ano passado, Lucas pôde conhecer a fundo toda estrutura de trabalho da escola. Nesse carnaval, o artista já conhece bem suas ferramentas e pretende levar alegorias mais volumosas em relação às do ano passado para a Marquês de Sapucaí.
“Levando em consideração o que a Inocentes vinha fazendo nos últimos carnavais, vai ser uma abertura bem grandiosa. A logística da divisão de alas e carros na abertura é um pouco diferente. A escola como um todo está bem grande, bem volumosa. É um carnaval que o diferencial são as formas das alegorias. Porque ano passado eu fui um pouco mais sucinto, afinal era o meu primeiro ano na Inocentes, eu ainda estava conhecendo a escola e a estrutura dela. Esse ano estou ousando um pouco mais na volumetria das alegorias. Esse pode ser um dos trunfos”, revelou Lucas.
Samba participativo
O presidente Reginaldo Gomes já vem há alguns anos encomendando sambas-enredo da parceria encabeçada por Cláudio Russo. No processo da composição do samba, os compositores trocaram muito com a equipe de carnaval. Isso enriqueceu a qualidade da obra no final do processo.
“O Russo e a equipe são muito abertos. A gente participou de todo o processo de feitura do samba. Ele (Cláudio Russo) sempre muito solícito atendendo todos os pedidos. Esse ano nós trouxemos o Leandro Thomaz, um dos autores do enredo, também está na composição. A gente fez o mais adequado possível para o que vai ser apresentado na avenida”.
Conheça o desfile da Inocentes de Belford Roxo
A Inocentes de Belford Roxo irá fechar os desfiles da Série Ouro no sábado, dia 18 de fevereiro. A escola vem com 20 alas, três alegorias, dois tripés, um elemento cenográfico na comissão de frente e em torno de 2200 componentes.
Setor 1: “A gente disserta sobre ancestralidade índigena na arte de moldar através do barro. Segundo dados e os próprios relatos das paneleiras, elas adquiriram essa arte das tribos Tupi-Guarani e Una que habitavam a região de Goiabeiras, onde as Paneleiras residem. O primeiro setor da escola é todo dedicado a essa ancestralidade muito presente na vivência das Paneleiras. Elas são muito gratas a essas tribos os ensinamentos dados pelos indígenas. A gente faz uma breve menção ao povo preto que também teve influência nessa arte. Hoje inclusive as Paneleiras se intitulam 86% pretas”.
Setor 2: “A gente começa a desvendar os processos de feitura da panela de barro. De forma bem lúdica, elas adquiriram esse conhecimento das índias. Nós destrinchamos todos os passos de feitura da panela de barro nesse segundo setor. Desde a extração do barro na barreira do Vale do Mulembá, até o último processo: o processo de queima, quando a panela ganha rigidez. A gente vai mostrar a extração, a modelagem, a secagem, o poliment. Tudo isso de forma carnavalizada. A gente se apropriou de elementos da natureza da região de Goiabeiras, fizemos menções a fauna e a flora para conseguir explicar isso”.
Setor 3: “Uma homenagem à região de Goiabeiras. Para isso, a gente exalta a cultura da região. Nós falamos de festejos e expressões culturais presentes em Goiabeiras. É um setor que tem a Folia de Reis, uma menção muito honrosa à Banda de Congo Panela de Barro, ao próprio Boi Estrela. Festejos típicos e tradicionais da região de Goiabeiras”.
Setor 4: “A gente encerra o desfile ampliando a nossa homenagem. Além de homenagear as Paneleiras de Goiabeiras, nós ampliamos essa homenagem a outras artesãs do Brasil. A gente faz uma grande ode às artesãs. Nós buscamos de alguma forma artesãs que tivessem alguma ligação com as Paneleiras, seja por moldar peças também com barro, seja por ser uma arte familiar. Uma grande homenagem a outras artesãs tendo como fio condutor as Paneleiras”.