Desde 2020 desfilando na Marquês de Sapucaí pela Série Ouro, a Acadêmicos de Vigário Geral surpreendeu o público com o seu último carnaval. O desfile, que foi carregado de críticas políticas ao governo, teve uma grande repercussão. Com o enredo, “O conto do vigário”, desenvolvido pelos carnavalescos Alexandre Costa, Marcus do Val e Lino Sales, a escola ficou na 11ª colocação. Para o carnaval de 2022, os carnavalescos optaram por um enredo afro em que falam sobre a região da Pequena África. Com o enredo “Pequena África: Da Escravidão ao Pertencimento – Camadas de Memórias entre o Mar e o Morro”, desenvolvido também pelo trio, a escola pretende levar para a avenida a história dessa região e também falar sobre a chegada dos negros africanos no Rio e tudo o que foi surgindo a partir disso na região da zona portuária carioca.

A ideia de fazer essa temática surgiu a partir de uma curiosidade sobre a Pedra do Sal e a partir disso escolheram fazer sobre a Pequena África. Durante a pesquisa dessa temática eles descobriram coisas que não sabiam que existia ali pela região. “Exemplo disso é o cemitério dos Pretos Novos, um lugar super legal das pessoas conhecerem, mas que poucas sabem que existe”, conta Alexandre.

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Um detalhe importante também que eles encontraram durante a pesquisa foi sobre o Sindicato dos Estivadores, que foi o primeiro sindicato negro do Brasil. Algo que é novidade, pois não é muito falado. Mas na avenida os carnavalescos da Vigário vão fazer ser conhecido.

No Rio de Janeiro teve uma política de embranquecimento na história, de apagar tudo o que o negro construiu. Na mensagem do enredo, os carnavalescos pretendem deixar isso bem explicado.

“Queremos recontar essa história. Contar que existia um cais, onde os negros escravizados desembarcavam. Ele foi soterrado para dar lugar ao cais da imperatriz, que também acabou soterrado para dar início às obras de reestruturação da cidade do Rio. Queremos mostrar que o negro faz parte dessa sociedade e do desenvolvimento da cidade, apesar do embranquecimento”, explica Marcus.

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O grande trunfo do desfile da Vigário Geral para esse carnaval são duas apostas. A plástica da escola que será completamente diferente do último desfile, utilizando materiais alternativos e simples. Os artistas também apostam nas alegorias.

“Temos carros que estão bem legais. O segundo carro é uma grande aposta, pois estamos trazendo os orixás de maneira diferente. As minhas esculturas são mais fortes, não tem quase roupa, fui mais na ancestralidade. Quero mostrar os orixás na sua ancestralidade e nos seus elementos. Por isso é uma grande aposta”, relata o carnavalesco Alexandre.

Fazer um carnaval na Série Ouro é o maior desafio de muitos carnavalescos. Sem a verba adequada e uma boa estrutura nos barracões, torna tudo mais complicado e acabam fazendo um verdadeiro milagre nesse trabalho. Para dois dos três carnavalescos da escola, Alexandre e Marcus, a maior dificuldade é: “Estamos dividindo um barracão com outra escola. Tem laje, mas aqui chove. É difícil quando tenho que colar algo no carro, pintar e bordar, pois como está molhado acaba tendo que ser feito em outra hora”, diz Alexandre.

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Já na parte do ateliê, um dos maiores desafios foi encontrar o material adequado no mercado. “Fizemos um protótipo, compramos o material. Quando fomos comprar os mesmos utilizados naquela ocasião, já não tinha mais. Cerca de um ano depois estava em falta ou tinham parado de fornecer”, relata Marcus.

Entenda o desfile

A Vigário Geral vai levar para a Sapucaí um enredo afro, fugindo totalmente do que foi a proposta do carnaval de 2020. No deste ano, ela decidiu contar sobre a Pequena África, que ficava localizada na zona portuária do Rio de Janeiro, e também falar sobre o povo negro que ali vivia. Tudo o que trouxeram com eles de cultura, ancestralidade e a própria história. Na temática também será possível encontrar os lugares em que eles passavam. A agremiação será a sexta escola do dia 21 de abril a desfilar na Sapucaí pela Série Ouro.

Primeiro setor: “A gente fala da origem do negro e a travessia do africano para o Brasil. Com a chegada no Cais do Valongo e no Píer Mauá. O abre-alas representa o navio negreiro”.

Segundo setor: “É a ocupação da Pequena África. Como o negro ocupou aquele espaço, vindo com a sua mão de obra, escravos de ganho. O cemitério dos Pretos Novos, que ficava os negros que não sobreviviam a travessia. Tem as baianas, com a diáspora baiana que trouxe a Tia Ciata para o Rio e a ancestralidade”.

Terceiro setor: “As instituições que os negros trouxeram e fundaram. O carnaval, a estiva, a música, o samba e a cultura. Tudo o que o negro trouxe e formou para a Pequena África”.

Ficha técnica
Número de alegorias: 3 alegorias
Número de alas: 20 alas
Número de componentes: 1.700
Carnavalescos: Alexandre Costa, Marcus do Val e Lino Sales
Diretor de barracão: Maycon
Pintor e escultor: Alan
Ferreiro: Pedro
Assistente: Karila
Iluminação: Wagner (Iluminashow)
Decoração: Klebberson, Cíntia e Débora

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