O Paraíso do Tuiuti realizou, na noite da última segunda-feira, o terceiro ensaio de rua da temporada para 2024. A azul e amarela ocupou o Campo de São Cristóvão e fez o seu treino em aproximadamente uma hora e vinte minutos. A agremiação teve de driblar uma série de desfalques entre os seus principais segmentos, sendo o maior deles a ausência do intérprete oficial Pixulé. A falta do cantor, que teve problemas de agenda, impactou o rendimento do samba-enredo e a performance da harmonia, que foi marcada por um canto pouco empolgante da comunidade. Em meio a esse cenário adverso, a bateria “Super Som” acabou se destacando de forma positiva e proporcionou mais uma apresentação de altíssimo nível, sendo responsável pelos momentos de maior êxtase durante a passagem da escola. O diretor de Carnaval do Tuiuti, André Gonçalves, conversou com a reportagem do site CARNAVALESCO e comentou os efeitos gerados pelo não comparecimento do comandante do microfone principal, fazendo questão de enaltecer o time de apoio, em especial o intérprete Hudson Luiz.
“O cantor oficial da escola faz a diferença, a ausência dele não deixa de ter um certo impacto. Porém, tivemos um número um pouco reduzido de componentes também. A verdade é que a gente tem que trabalhar mais e mais. Pode acontecer uma falha? Pode acontecer. É normal até ocorrer erros, mas a gente tem que consertar o quanto antes, não podemos deixar o problema se esticar, prolongar. Hoje, tivemos o Hudson Luiz que assumiu o microfone no lugar do Pixulé nesse ensaio. Ele é cantor oficial em São Paulo, já comandou carro de som aqui no Rio de Janeiro no Salgueiro, teve passagens também pela Mangueira e por outras grandes escolas. Ou seja, é um profissional mais do que capacitado para estar à frente de um microfone como primeiro. Então a gente escolheu ele, escolheu certo, mas é aquele lance, não é que assumiu o primeiro, todos são um time. Aqui na Paraíso do Tuiuti é assim. Eu não sou sozinho, a direção de harmonia não é sozinha, a comissão de frente não é sozinha, todo mundo é um time. A gente acha que todos nós estamos capacitados a quando não tiver um, o outro assumir e assumir fazendo algo bem feito”, ponderou o diretor.
No ano que vem, a Paraíso do Tuiuti será a quinta agremiação a cruzar o Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda-feira de Carnaval, dia 12 de fevereiro, pelo Grupo Especial. Na ocasião, a escola do bairro de São Cristóvão apresentará o enredo “Glória ao Almirante Negro!”, uma homenagem ao marinheiro João Cândido, que atuou na liderança da Revolta da Chibata. O desenvolvimento do tema é do carnavalesco Jack Vasconcelos, que está de volta a azul e amarela para sua terceira passagem por lá.
Comissão de frente
Os coreógrafos Cláudia Mota e Edifranc Alves trouxeram novamente uma apresentação especialmente elaborada para os ensaios de rua no Campo de São Cristóvão. A performance foi a mesma das últimas duas semanas, marcada por uma teatralização em cima da letra do samba e passos bem definidos. O ponto alto, mais uma vez, ocorreu quando uma das integrantes foi erguida para o alto e, durante os versos “Glória aos humildes pescadores/Yemanjá com suas flores/E o cais da luta ancestral”, simulava todo um gestual representando a orixá, para em seguida se jogar de costas e ser amparada por outros componentes. A novidade deste terceiro treino a céu aberto ficou por conta da coreografia ter sido executada por um outro grupo de membros da comissão, também formado por 11 pessoas, sendo três mulheres e oito homens.
“Hoje a gente ensaiou com um grupo novo, que é o segundo grupo da comissão, e assim demos um descanso para os outros integrantes. Como a gente teve a vantagem de ter o samba mais cedo, já montamos essa estrutura que não tem nada haver com o que a gente vai levar para Avenida. É até importante deixar isso bem claro, não estamos fazendo nada da coreografia oficial no ensaio, os grupos estão misturados, então a gente vem mesmo para ter esse contato com a comunidade. Para nós da comissão, os ensaios de rua são uma oportunidade da gente já se acostumar com o som da bateria, o ritmo do samba, o andamento adotado pela escola. Além disso, é algo que ajuda no condicionamento físico, até porque aqui a gente tem um percurso mais longo. E para os integrantes é ótimo. A gente vê o lado bom de ter um ensaio segunda-feira, porque a gente se organiza durante a semana pra ter os outros ensaios. Então, a gente deixa a segunda-feira para trabalhar dentro do barracão e a noite está com um grupo aqui. Não deixa de ser um ensaio”, relatou Cláudia Mota.
Samba-enredo
Um dos quesitos que mais “sentiu” a ausência do intérprete Pixulé foi o samba-enredo. A obra composta por Cláudio Russo, Moacyr Luz, Gustavo Clarão, Júlio Alves, Alessandro Falcão, Pier Ubertini e W Correia teve um desempenho abaixo no comparativo aos dois primeiros ensaios de rua e por pouco não arrastou. O time de cantores da agremiação, conduzido por Hudson Luiz neste treino, ainda tentou manter o bom rendimento apresentado nas semanas anteriores, porém não conseguiu impedir que a obra sofresse com uma queda perceptível de performance ao longo de pouco mais de uma hora e vinte minutos de ensaio. Os dois refrões ainda funcionaram muito bem durante toda a passagem da escola, porém as demais partes foram pouco cantadas ou entoadas com menos vigor. As caídas mais bruscas aconteceram especialmente na segunda estrofe do samba, em que era possível observar diversos componentes parando de cantar logo assim que acabava o refrão do meio. O canto só voltava a crescer próximo à subida para o refrão principal.
Harmonia
Após despontar com um dos pontos altos da Paraíso do Tuiuti nesse começo de temporada na rua, a harmonia acabou sendo o quesito com mais problemas neste terceiro ensaio. A comunidade, que anteriormente tinha mostrado estar com o samba na ponta da língua, apresentou um canto mais comedido, que só explodia nos refrões. Outros trechos como a subida para o refrão principal, “Salve o Almirante Negro/Que faz de um samba enredo/Imortal!”, e o falso refrão que antecedia o do meio, “Ôôô A Casa Grande não sustenta temporais/Ôôô Veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais”, até foram bem entoados, mas com menos força. Em relação às alas em si, o destaque positivo ficou por conta do canto mais aguerrido das baianas e das passistas. Já alas como a que vinha atrás do terceiro casal e a que antecedia a bateria chamaram a atenção negativamente pelo canto mais fraco, apesar dos esforços dos diretores de harmonia que as acompanhavam e que tentaram incentivar os componentes a soltar mais a voz.
Ao ser questionado sobre esse menor rendimento no canto da comunidade de um ensaio para o outro, o diretor de Carnaval da Paraíso do Tuiuti, André Gonçalves, fez questão de negar que tenha ocorrido uma queda e justificou: “Não teve caída de canto. O que aconteceu é que existem alguns concertos e algumas colocações de notas que a gente tem que botar para a comunidade. Como já disse em outras oportunidades, temos que trabalhar muito em cima do samba ao longo dos ensaios. É um samba fácil, de letra acessível, só que a comunidade tem que estar com a gente acertando em notas. Parece que foi aquela coisa que não teve o desenvolvimento em algumas alas, mas não. Tem algumas alas que realmente dão uma parada de cantar para gente poder acertar isso aí, mas vamos acertar”. “Temos um chão muito forte, uma comunidade grande e participativa. E assim como todo mundo, a gente depende hoje de muito ensaio para conseguir atingir uma excelência no trabalho. Estamos em uma reta final, esse ano temos poucas datas na rua, o Carnaval é no início de fevereiro, então vai ser uma coisa muito rápida e a gente tem que trabalhar mais”, completou André.
Evolução
O rendimento mais fraco do samba-enredo, com a comunidade cantando com menos força, impactou de certa forma a evolução da agremiação. Apesar de desfilarem soltos, sem amarras ou fileiras rígidas, alguns componentes passaram com desânimo, sem cantar e nem sambar. A temperatura acima do normal, registrada na noite de segunda-feira no Rio de Janeiro, também contribuiu para esse cenário, sendo possível observar desfilantes reclamando do calor e sentindo mal-estar. Mesmo assim, como ponto positivo, não houve a abertura de clarões e nem embolamentos. O ritmo da escola foi um pouco mais lento, porém as paradas ficaram restritas aos momentos de apresentação dos segmentos nas cabines simuladas de jurados.
Bateria
Em um ensaio marcado por problemas de canto e um carro de som desfalcado, a bateria “Super Som” se sobressaiu positivamente e promoveu um verdadeiro espetáculo. Os ritmistas, liderados pelo mestre Marcão, executaram diversas bossas e exploraram diferentes desenhos em cima da melodia do samba, que enriqueceram a apresentação e animaram o público que compareceu ao Campo de São Cristóvão. Um dos momentos de maior destaque foi a sequência realizada no refrão principal, na qual a batida de um coração era reproduzida no primeiro verso, seguida do toque que simulava uma marcha militar durante o trecho da letra “O dragão de João e Aldir”. Quanto ao andamento, a mesma pegada adotada nas semanas anteriores foi mantida, prezando assim por um ritmo mais cadenciado, sem correrias.
Outros destaques
A rainha Mayara Lima segue sendo uma atração à parte nos ensaios de rua da azul e amarela do bairro de São Cristóvão. A beldade, que veio com um conjunto nas cores da escola e que tinha o brasão estampado no peito, mais uma vez esbanjou simpatia, além de muito samba no pé. Extremamente participativa, ela buscou em vários momentos interagir com os ritmistas da “Super Som”, assim como atender os apelos e retribuir o carinho do público que assistia a apresentação da agremiação. Em um dado momento, a majestade ainda fez questão de ir para o meio da ala que desfilava à frente da bateria para incentivar o canto mais forte dos componentes.
“Ser rainha de bateria é um cargo que eu sempre sonhei, não é novidade para ninguém, e o Tuiuti é uma escola que sempre me deu oportunidade. Hoje eu estou aqui como rainha de bateria e acho que nada mais justo do que essa minha entrega diante de uma escola que sempre me devolveu o reconhecimento, através do meu amor pelo samba. Então, o que eu faço aqui é isso. É uma coisa que eu sempre falo também, mas é bom repetir e frisar: tudo que faço é por amor. Amo o samba, amo transmitir as minhas emoções através dele e amo transmitir a energia para a minha comunidade. Eu sei que é cansativo essa maratona que a gente faz, então eu acho que a melhor energia é a positiva. É isso que eu troco com a minha comunidade, com meus ritmistas. E quanto ao ensaio de rua em si, é algo maravilhoso. É bom para treinar o canto, obviamente, mas a gente ganha aquela resistência, que aí quando passamos na Sapucaí é tanta emoção que nem sentimos. Então, acho que eles são importantes para isso: ajudar no canto da escola, na energia da comunidade e no meu caso em específico na minha evolução como rainha de bateria”, afirmou Mayara Lima em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, logo após a conclusão do treino.
Além da beldade, outro ponto alto deste terceiro ensaio de rua da Paraíso do Tuiuti foi a passagem do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira da agremiação, Leonardo Thomé e Rebeca Tito. Por conta das ausências de Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane, coube à dupla a missão de vir conduzindo o pavilhão da escola logo na abertura, atrás da comissão de frente. Os dois deram conta do recado e apresentaram um bailado mais tradicional. Com um gestual elegante, eles tiveram movimentos precisos e mostraram ter bastante sincronia um com o outro.